Hsu Yu encontrou-se com um amigo, quando deixava a capital, na estrada principal que conduzia à fronteira mais próxima. "__ Aonde vai?, perguntou o amigo.

__ Estou me afastando do Rei Yao. Ele está tão obsecado com idéias sobre benevolência que tenho medo de que algo de ridículo resulte de tudo isso. De qualquer maneira, seja isso engraçado ou não, esse tipo de coisa terminará com cada qual de entredevorando.

No momento presente, existe uma grande onda de solidariedade. As pessoas acham que são amadas e reagem com intusiasmo. Estão todas elas atrás do soberano, porque acham que ele está fazendo com que fiquem ricas. O elogio é barato e todos competem para obter favores. Mas, dentro em pouco, terão de aceitar alque que não é de seu agrado e tudo isso irá pelos ares.

Quando a justiça e a benevolência estão em jogo, pouca gente se preocupa realmente com o bem alheio, mas a maioria sabe que isto é bom, pronto a ser explorado. Aproveitam-se da situação. Para eles, a benevolência e a justiça são arapucas para pegar passarinhos. Assim, a benevolência e a justiça rapidamente se confundem com a fraude e a hipocrisia. Depois, todos começam a duvidar. E aí, então, começa realmente o problema.

O Rei Yao sabe como os assessores corretos, e cumpridores dos deveres proporcionam o bem à nação, mas não sabe o mal que surge dessa correção: é a fronteira atrás da qual os larápios agem mais facilmente. Mas só vendo a situação objetivamente é que poderá verificar o que lhe estou dizendo.

Existem três tipos de pessoas que devem ser consideradas: os joguetes, os sanguessugas e os manipuladores.

Os primeiros adotam a linha de algum líder político e repetem seus pronunciamentos de cor, acreditando que sabem alguma coisa, confiantes que estão progredindo bastante e muito satisfeitos com o som de suas próprias vozes. São uns tolos completos. E, sendo tolos, submetem-se, assim, à linha de conduta do próximo.

Os sanguessuagas são como piolhos no corpo de uma porca. Correm rapidamente aonde as cerdas são finas, e isto se converte no seu palácio e no seu parque. Deliciam-se nas juntas, entre os dedos dos pés da porca, à volta das articulações e das tetas, ou debaixo da cauda. Aqui, nesse lugar, entrincheiram-se, e imaginam que dali não vão sair haja o que houver. Mas nunca podem imaginar que, um dia, o açougueiro virá com um facão e a machadinha. Reunirá a palha seca e acenderá, a fim de chamuscar as cerdas, e queimar os piolhos. Êsses parasitas aparecem quando a porca aparece e desaparecem quando a porca morre.

Enfim, os manipuladores, são homens como Shun.

O carneiro não é atraído pelas formigas, mas estas são atraídas ao carneiro, porque ele é alto e cheira mal. Dessa maneira, Shun era o manipulador vigoroso e afortunado e as pessoas, por isso, gostavam dele. Três vezes se locomoveu de uma cidade para outra, e cada vez que assim o fazia a sua residência se transformava em capital. Por fim, ele se mudava para a selva e cem mil famílias iam com ele a fim de colonizar o local.

Finalmente, Yao levantou a idéia de que Shun deveria ir para o deserto para ver se poderia fazer alguma coisa lá. Embora Shun, nessa época, estivesse mais velho e a sua cabeça estivesse ficando fraca, não podia recusar-se a fazer isso. Não podia pensar em se aposentar. Esquecera-se de como parar a sua carroça. Era um manipulador, e nada mais!

O homem de espírito, por outro lado, odeia ver as pessoas reunidas a seu redor. Evita a multidão. Pois, onde existem muitos homens, há também muitas opiniões e pouca concórdia. Nada há a ganhar quando apoiamos esses cabeças-ocas, que se destinam a acabar brigando uns contra os outros.

O homem de espírito não é nem muito íntimo de ninguem, nem muito distante. Interiormente, permanece atento e mantém o equilíbrio para não entrar em conflito com ninguém. Este é o homem verdadeiro. Ele deixa as formigas serem inteligentes. Deixa o carneiro agitar-se até ficar cheirando mal. Por sua própria vontade, ele imita os peixes que nadam despreocupados, ladeados por um elemento amigo e preocupando-se apenas com o que é seu.

O homem verdadeiro vê o que seu olho vê e nada acrescenta do que ali não se encontra. Ouve o que o ouvido escuta e não percebe coisas imaginárias, exagerando ou subtraindo a realidade. Compreende as coisas como devem ser entendidas e não se preocupa, nem com os significados obscuros, nem com os mistérios. O seu curso, portanto, é uma linha reta. Ainda assim, pode modificar a sua direção toda vez que as circunstâncias assim o exigirem.

do livro A via de Chuang Tzu

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