Homenagem que lhe foi prestada pela Câmara Municipal de Bragança, em 11 de Julho de 1952

 

Senhor Presidente da Câmara Municipal;
Senhores Vereadores;

Ouvi proclamar como minhas virtudes que desejaria possuir e encómios que valeria a pena merecer. Senti, com a presença dos meus concidadãos o regozijo de quem regressa a casa; mas também me senti, contraditoriamente, um forasteiro entre as galas festivas da cidade, como se pudera, na minha terra, suportar a grandeza artificial de uma posição, sem me alhear de mim mesmo.
Recebi, por deliberação da Exm.ª Câmara Municipal, como representante dos meus conterrâneos, de envolta com expressivas manifestações de apreço, a concessão da Medalha de Ouro da cidade de Bragança. E tudo isto porquê? Não interessa perguntá-lo. A minha terra pode ser parcial para ser generosa. As dádivas são um dom gratuito que não carece de justificação. Alinhar razões em tal caso, nunca se confunde com ter razão.
É-me difícil, porém, agradecer. Talvez consiga apenas dizer os motivos da dificuldade.
Bragança é um local de refúgio. Queda sempre em mim algo que sobrevive às asperezas do destino e apela para a calma e repouso da terra natal. O decurso da vida aperta cada vez mais o circulo da minha liberdade interior. Tudo a onera: o estudo, o trabalho, a profissão, as relações criadas, as circunstâncias que não domino, os compromissos tomados e as responsabilidades assumidas. Ambas - recordação e esperança - me prendem a Bragança.
A terra natal costuma ser um local de paz. Para alem do louvor que amolece, desdenhando o artificio das honrarias e a vaidade das posições, ela sabe ter familiarmente, no ameno convívio de todos os dias, o sorriso que encoraja. Alheia à contrariedade dos obstáculos e à dureza das lutas, sabe compreender os erros e sabe desculpar. Nem louvor que oprime, nem vitupério que ofende. Só o conhecimento mútuo, dos méritos e dos defeitos entre membros da mesma grei, que se não iludem e não iludem. É esta paz - a de poder ser igual a mim mesmo, despido dos atributos que qualificam mas também me escondem - é esta paz que costumo procurar aqui. Para quê perturbá-la? E eis que me é difícil assumir perante os meus conterrâneos a atitude de quem os visita. Eu sou da casa. E no entanto tenho de resignar-me a não compreender. Mas como agradecer então? Por bragançano me reconhecem todos. Peço-lhe singelamente, Sr. Presidente , que me conceda a graça de abraçar em V.Ex.ª a minha terra.


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