O Homem e a sua Obra

 

Manuel Cavaleiro de Ferreira, Santana, Ilha da Madeira, Portugal, 1986

Manuel Cavaleiro de Ferreira, Santana, Ilha da Madeira, 1986. Foto de Pe. Basílio Gonçalves, Parada, Bragança

 

A - O Homem

I - O Homem e a Ideia

1. "Uma obra define-se e só se compreende pela ideia que a gerou, pelo homem que a fez."

2. "A ideia criadora é a verdade de toda a obra humana na qual transluz a marca individualizadora da visão da inteligência, do esforço da personalidade do seu autor."

II - A verdade e o bem

3. "A verdade é aquilo que corresponde à realidade: à realidade natural e à realidade sobrenatural."

4. "Para dirigir a vontade, e a acção na prática do bem importa primeiramente conhecer as coisas como elas são e não como queremos que sejam; e tanto conhecer as verdades da fé, como a realidade exterior em que se situa e intervém o homem. Só desta maneira, e porque corresponde à realidade das coisas pode ser justa a nossa actividade."

5. "A verdade e o bem são uma tarefa."

III- Um modo especial de conhecimento

6. "O sentimento não produz a beleza. Sente-a e transmite-a."

7. "O nada não é susceptível de ser objecto de pensamento, de vontade ou de sentido estético. A beleza não pertence ao artista; este apenas lhe dá forma, porque previamente a sente e compreende. Esta compreensão, esta correspondência subjectiva à beleza das coisas, constitui, se é lícito exprimir-me assim, um modo especial de conhecimento que nos ajuda a vislumbrar a riqueza da alma que possui."

8. "Só a beleza se revela e se recebe como numa comunhão do espírito com a eternidade. Aparece como uma visão e como uma visão se contempla. Semelha assim aquela apreensão directa das coisas que na inteligência humana só surge como um fogo fátuo a bruxulear intermitente e inseguro, - e no entanto é fugaz e fugidia participação no entendimento angélico."

9. "A razão dos homens é muito inclinada ao esforço da descoberta, ao artificialismo da construção, ao narcisismo de se rever no que lhe parece ser obra sua, e menos apta a partir da contemplação de verdades evidentes para a sua justificação lógica."

10. "A arte é o testemunho do espírito."

11. "A verdade ontológica só se abeira com humildade, só se vislumbra com prudência."

12. "Só sabe como proceder rectamente aquele que vê e considera a realidade, como ela é efectivamente. E um tal conhecimento pressupõe o desinteresse na apreciação, pressupõe silêncio interior, desapego de interesse próprio, isto é, alma aberta e límpida depurada de considerações e sofismas egocêntricos, numa palavra, simplicidade de espírito."

13. "Há verdades que só o sentimento alcança."

IV - Justiça

14. "Viver na verdade com o próximo é o sentido profundo de justiça. "

15. "E na justiça se resume a forma mais elevada da moral. É dos justos, no seu significado próprio que fala o Evangelho quando se refere aos eleitos."

16. "A justiça é em toda a sua plenitude a virtude que dirige e serve o próximo considerado individual e colectivamente."

17. "Na justiça, se revela a interdependência e a integralidade da organização cristã. Ainda que naturalmente a virtude seja própria da pessoa em sentido estrito, pode dizer-se que o portador da justiça não é tanto o indivíduo, como a sociedade. Por outras palavras o "eu" com referência à justiça é de considerar como elemento do "nós". Este aspecto social da justiça explica-se pela solidariedade que é fruto da organização unitária da Igreja, como corpo místico de Jesus."

18. "A construção deste "nós" colectivo assenta em três estruturas fundamentais que conjuntamente são de considerar na noção de justiça: a relação entre os indivíduos, como componentes ou partes do todo social; relação do todo ou seja da sociedade com as partes ou indivíduos, e a relação das partes com o todo. A estas diferentes espécies de relações correspondem a chamada justiça comutativa, justiça distributiva e justiça legal."

19. "Toda a sociedade é uma unidade viva no espírito e na actuação, no destino e na responsabilidade. Não se funda ou caminha por si; não surge acabada dos confins do tempo; constrói-se pela projecção recíproca de todos os que amam o mesmo objecto, se dedicam a similar tarefa, dão e recebem, participando nos mesmos valores e obras e objectivos. A realidade que ela representa traduz uma verdade; o esforço do homem para realizar essa verdade pela acção, denomina-se moralidade. A moralidade é a submissão da actividade ao espírito; só desta dependência recebe toda a espécie de actividade o seu mérito e a sua dignidade (na família, na acção, nas estruturas sociais)."

20. "O sentido humano da existência consiste em atentar na obra da criação no momento em que é dado vivê-la e em aceitar, cumprindo-a, a tarefa de procurar naquele mundo em que a vontade de Deus lhe talhou a hora do seu esforço, a sua justiça."

V - O fundamental do Espírito no homem como na sociedade: A fé

21. "O fundamental do Espírito, no homem como na sociedade, é ubersinnlehre, ou seja a fé que não deve ser entendida como crença. O objectivo na fé é religião e filosofia metafísica. Religião e filosofia são aquelas parcelas da sociedade onde se revela a sua totalidade supra social e nas quais se estrutura a própria sociedade. A religião é o "plenário" de toda a vida cultural. Simples fé sem imagem e verbo, sem conceito e acção pode não se realizar no espírito social, porque enquanto simples "Ahnung" não é espírito mas "Vorsein" mudo. Por isso deve a fé verter-se nos escalões restantes do espírito para os preencher e conservar. Esta versão do superior no inferior é a estruturação do superior no inferior. O inferior à religião no espírito objectivo é a ciência."

VI - Como verter a fé no mundo

22. "Com o cristianismo Deus penetra no mundo. Como? Em forma de humildade. Di-lo uma passagem da epístola aos filipenses: Toda a existência de Jesus foi transferência de poder em humildade."

VII - Transferência de poder em humildade: A obediência, o serviço

23. "Toda a existência de Jesus é transferência de poder em humildade, o que se traduz em acto pela obediência à vontade do Pai, tal qual ela se exprime em cada situação dada mas no geral como no particular esta situação é tal que exige sem interrupções a «alienação» de si mesmo. A obediência não é para Jesus um elemento secundário, acessório, mas constitui pelo contrário o centro da sua natureza."

VIII - Servir

24. "Se o poder do homem e a soberania que é a consequência tem a sua raíz na semelhança do homem com Deus, o homem possui o poder não por seu direito e autonomamente mas como feudo. Ele é soberano por mercê e deve exercer a sua soberania carregado de uma responsabilidade para com aquele que é soberano por natureza. Por este lado a soberania torna-se obediência, serviço.
A soberania é por outro lado obediência e serviço no sentido que ela se move no seio da criação divina e tem por tarefa desenvolver numa esfera de liberdade limitada sob forma de história e de cultura o que Deus criou natureza por sua absoluta liberdade. Por sua soberania o homem deve não erigir o seu próprio mundo autonomamente, mas colaborar no mundo divino como mundo da liberdade humana
."

IX - O propósito

25. "Procurei tão somente servir para além do homem." .

X - Servir: O que

26. - "é um dever de colaboração, que importa seja consciente e livre, na obra de Deus."

27. - "é estruturar os objectivos que se contêm nas actividades que importa ordenar e dirigir."

28. - "é dirigir a vontade, ordenar os factos e estruturá-los em instituições."

29. - "é organizar quando se transformam em instituições as directrizes normativas."

30. - "é a encarnação do espírito na sociedade."

XI - Servir: O como

31. "(S. Francisco Xavier) Multiplicava os seus esforços para conhecer e deixar-se conhecer, criando a intimidade de vida para que os demais sentissem como ele o amor do próximo e alcançassem a sua plenitude numa dádiva recíproca."

32. "Os elementos vitais, esses só se conduzem e afeiçoam pela aglutinação num espírito comum. É preciso aproximarmo-nos deles, persuadindo, incitando, acordando nas energias sociais que convém dirigir novos centros criadores.
Importa, numa palavra, impulsionar a vida e estar atento aos seus desvios. O serviço público assim considerado, é uma compenetração do Estado e da sociedade a qual evita a fácil e perigosa confusão de força com comando, de energia com medida que impede a tendência para usar da violência onde se pede direcção, para impor servidão onde se carece de obediência, para permitir arbitrária licença onde se pretende iniciativa. Só se caminha com segurança no solo que é firme; a firmeza das instituições jurídicas não se confia a artigos de lei ou a uma abstracta planificação. Grava-se na vontade de servir dos funcionários, impregna-se na consciência dos homens, e solidifica-se na realidade dos factos
."

XII - O êxito

33. "As forças da personalidade que directamente se dirigem à sua conservação, afirmação e desenvolvimento só logram êxito se derramadas em caridade, em amor, isto é servindo."

XIII - Mais claro só com o silêncio

34. "Talvez ainda conseguisse ser mais claro com o silêncio, se este não fosse uma tão elevada forma de expressão que quase sempre está fora do alcance humano usá-la ou entendê-la."

B - A Obra

A Obra nas linguagens, da fé, jurídica, e antropológica: EM PREPARAÇÃO

 


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