Saudação proferida na homenagem prestada ao Cón. F. Moreira das Neves, por ocasião da Celebração dos 25 Anos da sua Ordenação Sacerdotal

 

Rev. P. Moreira das Neves

A palavra é falaz. Ilude os outros e ilude aquele que confiadamente se lhe entrega. Ao objectivar uma ideia, escurece-a; ao traduzir um sentimento, enfraquece-o; ao definir uma verdade deforma-a. Prefiro por isso precaver-me contra as traições, que as palavras encerram, sendo breve. Talvez ainda conseguisse ser mais claro com o silêncio, se este não fosse uma tão elevada forma de expressão, que quase sempre está for a do alcance humano usá-la ou entendê-la.
Perfaz hoje 25 anos de vida sacerdotal o P. Moreira das Neves, que a comemorar a data festiva vê junto de si, um grupo de amigos. É muito e não é tudo.
O P. Moreira das Neves, é um sacerdote, um poeta, e um jornalista. Expressões apenas duma mesma alma. Numa época em que a actividade se planifica e se utiliza sem projecção interior e é esmagada a fonte da criação pelas necessidades artificiais soube dar um sentido ao seu labor. O sentido e significado do trabalho não se anota em estatística; está para além, para muito além dele.
Dir-se-ia que há poesia no seu sacerdócio e no seu jornalismo, como há sacerdócio na sua poesia. E no entanto, a definição da sua vida, não é a sua vida; aquela emaranha-se em explicações, que nada nos dizem e esta é simples como a simplicidade que cultiva.
A simplicidade, é recta, clara, directa aos seus fins, corajosa sem se dar conta da sua fortaleza, verdadeira sem deparar com obstáculos rebuscados para os vencer. É talvez a qualidade que, nos tempos correntes, mais falta faz e menos se encontra. A fé numa sabedoria artificiosa e numa dialéctica retorcida, é um luxo da inteligência que afronta a inteligência; a ambição dum acréscimo de necessidades pelo desejo incontido de as satisfazer, é um luxo que espezinha a recta actuação dos homens.
Suprimir o luxo inverídico da inteligência, afastar o luxo supérfluo da vida, é avançar, com simplicidade, na existência.
Este o exemplo, que o complexo de ideias modernas, não favorece, e por isso é mais precioso e salutar. Cristalino, claro, simples. Faz bem senti-lo, para rejuvenescer, no espírito de todos nós, energias gastas, tantas vezes sem que se lhe descubra o significado, e por isso perdidos.

 


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