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São Paulo, segunda-feira, 22 de junho de 2009

Visão Crítica


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Espaço livre garantido

A assinatura do termo de concessão por 20 anos do Parque Lage, situado dentro do Parque Nacional da Tijuca, no bairro carioca do Jardim Botânico, ao governo do estado, no último sábado, reuniu o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e as secretárias estaduais de Cultura, Adriana Rattes, e do ambiente, Marilene Ramos, num ato revestido de solenidade e com forte conteúdo emocional. Ali funciona a Escola de Artes Visuais do governo fluminense, criada em 1975 como espaço de criação, reflexão e protesto contra a ditadura militar, em seu período mais duro para a cultura e as artes.

“Esta concessão simboliza a união a cultura com a ecologia”, disse Minc, aplaudido pelas secretárias e pelas dezenas de pessoas ao redor da piscina de pedra celebrizada pela cena da imensa feijoada no filme “Macunaíma”, de Joaquim Pedro de Andrade. O clima era de descontração e sorrisos, “coroando uma luta de um ano e meio contra a burocracia de Brasília”, nas palavras do ministro. Desde sua posse no ministério, há um ano, Minc defendia a concessão do Parque Lage para a EAV, esbarrando em obstáculos da Secretaria de Patrimônio da União, do Ministério do Planejamento.

“Depois de muita conversa com o (ministro do Planejamento) Paulo Bernardo, prevaleceu o entendimento de que a SPU cuida do patrimônio; não da gestão. Assim, esse espaço de cultura, de convívio, de fantasia e loucura, continuará nas mãos da Escola de Artes Visuais pelos próximos 20 anos, prorrogáveis por mais 20 e mais 20, ‘forever’, dentro da Floresta da Tijuca, que é responsabilidade do Instituto Chico Mendes”. O ministro discursou em tom emocionado, refletindo o estado de espírito da maioria dos presentes.

Na noite da sexta-feira, véspera da assinatura do termo de concessão, alunos da escola e artistas participaram de uma performance ao redor da piscina, lembrando exatamente a filmagem de “Macunaíma”, em meados da década de 70. Foi também inaugurada a exposição “O Jardim da Oposição”, com fotos da época da luta libertária contra a censura e a opressão da ditadura, depoimentos gravados em vídeo por protagonistas e participantes daquela luta e impressos variados que circulavam entre os jovens da Escola de Artes Visuais, dirigida por seu idealizador, o artista plástico Rubens Gerchman. A exposição está aberta até 30 de agosto.

A escola de Artes Visuais ocupa o palacete onde viveu a cantora lírica Besanzoni Lage, uma construção sólida erguida em pedra no meio do parque que leva seu nome, aos pés do morro do Corcovado e do Cristo Redentor. Durante os chamados “anos de chumbo” ali se apresentaram sem censura Caetano Veloso, Jards Macalé, Luis Melodia e um dos mais freqüentes, o violinista Jorge Matuner. A escola também foi palco dos concertos de música dodecafônica de Joaquim Koellreuter e ainda sede do Instituto Freudiano do Brasil e do jornal “Lampião da Esquina”, fundado pelo novelista Aguinaldo Silva e primeira publicação homossexual a se firmar no universo da imprensa alternativa.

Com o termo de cessão erguido na mão, o ministro Celso Minc encerrou o discurso de maneira apoteótica, arrancando novos e insistentes aplausos: “Este espaçço da Escola de Artes Visuais está disponível, em caráter oficial, a promover peças de teatro, exibição de filmes, fazer lançamento de livros, exposições, apresentações artísticas e musicais, leilões beneficentes – é para a escola fazer e acontecer. É proibido proibir!”

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Luiz Augusto Gollo é jornalista e escritor, escreve nesta coluna aos sábados e mantém o Blog Visão Crítica
    



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