Artigo em Destaque
Anterior
Próxima
AGNELO QUEIROZ
Acordos de cidadania
Há
séculos as desigualdades sociais e regionais afligem o povo brasileiro. Apesar
de ser um país de natureza exuberante, o Brasil sofre com a exclusão social
que atinge cerca de 21% da sua população. Uma geografia que virou o eixo das
discussões governamentais para a criação de um projeto nacional que resgate
os elementos da cultura política e econômica, em prol do desenvolvimento
humano. Nessa perspectiva, as políticas públicas de inclusão social do
governo Lula ganharam força nacional e formam novos contratos de cidadania.
A pobreza, o desemprego, a violência e o analfabetismo ganharam força mundial
e assolam não só o Brasil e países donos dos menores Índices de
Desenvolvimento Humano mas também países europeus e orientais, desenvolvidos
em sua política econômica.
Os novos caminhos traçados pelo Brasil colocam o esporte como ferramenta para
incrementar a economia, gerando emprego e contribuindo para o desenvolvimento
local, o que levantou interesse e olhares de outros países, até então
voltados exclusivamente para acordos comerciais, em realizar parcerias na área
social. É o Brasil exportando política pública de inclusão social, como os
programas Segundo Tempo e Pintando a Liberdade, gerenciados pelo Ministério do
Esporte. Esses programas trabalham o esporte como meio para melhorar o sistema
educacional e aumentar a geração de emprego e renda.
No Segundo Tempo, mais de 800 mil alunos matriculados na rede oficial de ensino
fundamental e médio, em áreas de vulnerabilidade social, têm oportunidade de
ampliar a permanência na escola, praticando esportes e tendo acesso à alimentação
e ao reforço escolar. Utilizando a estrutura das próprias escolas, clubes
sociais, Exército ou outras entidades parceiras do programa, torna-se possível
manter as crianças em ambiente saudável, com saúde e longe do trabalho
infantil e da violência das ruas.
Não distante, o programa Pintando a Liberdade também trabalha com a reinserção
social, profissionalizando quase 13 mil detentos do sistema carcerário
brasileiro, e essa ação já começa a ser expandida para comunidades de baixa
renda. Além de empregar mão-de-obra e ensinar um novo ofício, o programa
supre a carência de materiais esportivos nas escolas públicas onde o Segundo
Tempo atua.
Isso é a transversalidade dos projetos esportivos para ampliar os resultados
das ações sociais. Já são mais de 900 mil bolas produzidas artesanalmente
para beneficiar 18 milhões de crianças. Não à toa, os olhares internacionais
se voltam aos programas. As bolas com guizo, produzidas pelos detentos e
utilizadas em torneios para deficientes visuais, são referência internacional
nos jogos Paraolímpicos e já foram distribuídas para 108 países, como
Inglaterra, Japão, Itália, China, Estados Unidos, Canadá e França.
Além de serem programas de baixo custo, que envolvem parcerias com ONGs,
sociedade civil e outras entidades, também significam uma economia para o
governo. No caso do Segundo Tempo, as estruturas das Forças Armadas e dos
clubes sociais podem ser palco desse desenvolvimento, o que despertou interesse
da Rússia, mais novo parceiro do governo federal em acordos comerciais e em
intercâmbios de experiências vitoriosas na área esportiva.
Em Moçambique, a implantação do programa Pintando a Liberdade vai significar
uma economia de 90% para o governo local na aquisição de bolas de futebol, que
hoje são importadas da África do Sul ao custo de US$ 55. Com a produção artesanal, o valor não passará de US$ 6. Os acordos bilaterais na área de
esporte começam a atingir novos mercados mundiais e, até o final do ano,
Angola e Haiti também irão instalar os programas em seus países, um sinal de
apoio e solidariedade às nações irmãs.
Segundo relatório das Nações Unidas para a realização das Metas do Milênio,
é preciso cultivar uma parceria global e maximizar o esporte como meio para o
desenvolvimento sustentável e a paz. Todos esses objetivos só podem ser alcançados
com esforços conjuntos para colocar um tema -que, por sua própria natureza,
envolve participação e une indivíduos e comunidades- como meta para um só
acordo: a vitória da tolerância, da cooperação e do respeito.
E, acredito, o esporte é um importante meio para atingir esse grande projeto
nacional contra a exclusão social e a favor do desenvolvimento humano.
_________________________________________________
Agnelo Queiroz, 46, médico, deputado federal (PC do B-DF) licenciado,
é o ministro do Esporte.
|
QUINTA-FEIRA
02/12/2004
Agnelo Queiroz
é ministro do
Esporte, deputado
federal licenciado
(PC do B) e
Médico
|