De Vênus em Escorpião

X

Não. Não há nenhuma emoção.
Apenas uma folha seca sob a blusa.
E no lugar do sexo uma concha oca.

Prazeres calcinados
Paixão cauterizada
como uterina ferida.

Nenhuma emoção. Nenhuma voz
a sacudir o corpo em fogo ou lágrimas
ternura ou espasmos.

Apenas a esperança muda
de que ninguém pise na folha seca
sob a blusa.

XVI

Acaricia
meu rosto com teu rosto
meu sexo com teu sexo
Ondula
meu mar, me salga,
me trespassa, reinaugura
a aurora entre meus seios

Venta em meus cabelos
Chove no meu peito
Semeia e colhe

Acolhe
minhas mãos, meus olhos,
faz-me ser tua

Porque eu desejo o teu desejo
Porque eu só me encontro quando me procuras.

XXI

Tua língua
é chama e pétala
na minha boca

Uma orquídea
rósea e fulva
se alastra no meu ventre

Selvagem e pura
no meu corpo
te enraízas.

XXIII

Pões no meu lábio a cor escura das cerejas
Eu coloco a língua purpúrea nos teus lábios
para colher a fruta oculta no teu ventre
embebedar-me da doçura do seu sumo.

Então derramas vinho em minha boca
depois lambes o rubro dos meus seios
e há um roçar de pétalas vermelhas
transmutando seu perfume em chamas lentas

Até que irrompa o incêndio na penumbra
e suba, incontrolável, um grito ardente.

Depois, tudo serena em meio às cinzas
e mergulhamos no sono oloroso e fundo
com que os deuses presenteiam suas fênix.

XXIV - ORGASMO

Escuto
este silêncio no meu sangue

rio suaviloqüente na noite
azul e brilhante

É assim que
aflui aos lábios:
com delicadeza

E propaga
em longas ondas pela treva
sua música de seda.

 

voltar à página de entrada

 

Hosted by www.Geocities.ws

1