De Vênus em Escorpião
X
Não. Não há nenhuma emoção.
Apenas uma folha seca sob a blusa.
E no lugar do sexo uma concha oca.
Prazeres calcinados
Paixão cauterizada
como uterina ferida.
Nenhuma emoção. Nenhuma voz
a sacudir o corpo em fogo ou lágrimas
ternura ou espasmos.
Apenas a esperança muda
de que ninguém pise na folha seca
sob a blusa.
Acaricia
meu rosto com teu rosto
meu sexo com teu sexo
Ondula
meu mar, me salga,
me trespassa, reinaugura
a aurora entre meus seios
Venta em meus cabelos
Chove no meu peito
Semeia e colhe
Acolhe
minhas mãos, meus olhos,
faz-me ser tua
Porque eu desejo o teu desejo
Porque eu só me encontro quando me procuras.
Tua língua
é chama e pétala
na minha boca
Uma orquídea
rósea e fulva
se alastra no meu ventre
Selvagem e pura
no meu corpo
te enraízas.
Pões no meu lábio a cor escura das cerejas
Eu coloco a língua purpúrea nos teus lábios
para colher a fruta oculta no teu ventre
embebedar-me da doçura do seu sumo.
Então derramas vinho em minha boca
depois lambes o rubro dos meus seios
e há um roçar de pétalas vermelhas
transmutando seu perfume em chamas lentas
Até que irrompa o incêndio na penumbra
e suba, incontrolável, um grito ardente.
Depois, tudo serena em meio às cinzas
e mergulhamos no sono oloroso e fundo
com que os deuses presenteiam suas fênix.
Escuto
este silêncio no meu sangue
rio suaviloqüente na noite
azul e brilhante
É assim que
aflui aos lábios:
com delicadeza
E propaga
em longas ondas pela treva
sua música de seda.