sex-030726-new york times-pedofilia-na-igreja Catolica

ABUSO SEXUAL

Mais de 780 crian�as foram molestadas por padres e funcion�rios de arquidiocese de Boston



Fox Butterfield
DE BOSTON, Estados Unidos


Desde 1940, 789 crian�as, pelo menos, foram molestadas sexualmente por 250 padres e outros funcion�rios da arquidiocese Cat�lica Romana de Boston. A conclus�o � da investiga��o do promotor geral de Massachusetts, divulgada na quarta-feira (23/07).

O promotor-geral, Thomas F. Reilly, cat�lico, descreveu o esc�ndalo de abuso sexual no clero que abalou Boston desde o in�cio de 2002 como "a maior trag�dia de crian�as na hist�ria do pa�s".

Reilly culpou a lideran�a da arquidiocese de Boston pelo esc�ndalo. Al�m do cardeal Bernard M. Law, que renunciou, sob press�o, em dezembro �ltimo, Reilly culpou tamb�m uma s�rie de assessores do cardeal. Muitos desses se tornaram bispos em outras cidades do pa�s, como Thomas Daily, hoje bispo de Brooklyn.

"Quando tiveram que escolher entre proteger as crian�as e proteger a Igreja, escolheram o sigilo, para proteger a Igreja", disse Reilly em confer�ncia com a imprensa. "Eles sacrificaram as crian�as por muitos e muitos anos."

Reilly disse que existia dentro da arquidiocese "uma cultura institucional" de segredo, que levou os l�deres a proteger os padres e a Igreja, em vez de investigar as acusa��es de abuso sexual das crian�as.

O documento de 76 p�ginas oferece o relato mais completo at� hoje do esc�ndalo de abuso sexual do clero em Boston. Ele se baseou na revis�o de 30.000 p�ginas de documentos da Igreja e 100 horas de testemunhos diante de um grande j�ri. O n�mero de v�timas incluiu somente pessoas que delataram os abusos � arquidiocese, disse Reilly. No entanto, ele disse: "N�o tenho absolutamente nenhuma d�vida de que o n�mero � muito maior", j� que muitas v�timas n�o puderam ou n�o quiseram relatar o que lhes aconteceu.

Assim, disse o relat�rio, o n�mero real de v�timas "provavelmente excede 1.000". N�o h� uma contagem oficial do n�mero de v�timas. As melhores estimativas v�m do n�mero de processos legais por abuso sexual contra a arquidiocese, que atualmente chegam a quase 600. No entanto, Mitchell Garabedian, que representa 114 litigantes, disse acreditar que o n�mero de v�timas em todos esses anos seja de "milhares".

Da mesma forma, n�o h� uma contagem confi�vel do n�mero total de padres que serviram em Boston desde 1940. No entanto, o relat�rio contou reclama��es contra 237, o que representaria uma fra��o significativa da arquidiocese, que hoje conta com 505 padres ativos.

A revis�o do promotor-geral n�o gerou indiciamentos contra Law ou outros membros da arquidiocese, porque a lei de Massachusetts n�o requeria que a Igreja informasse de casos de suspeita de abuso de crian�as at� o ano passado. Al�m disso, disse Reilly, as leis de prote��o � inf�ncia eram fracas.

"Ningu�m est� mais desapontado do que eu e minha equipe, por n�o podermos indiciar os culpados", disse Reilly. "Se fosse poss�vel, o ter�amos feito."

Em tom de raiva contida, Reilly indicou que Law e seus principais assessores estavam perfeitamente cientes de como evitar as leis lenientes da �poca e proteger a Igreja. "Acho que sabiam exatamente o que estavam fazendo, em cada passo do caminho", disse Reilly. "Sabiam que n�o tinham obriga��o legal de informar �s autoridades. Fizeram escolhas deliberadas."

O relat�rio foi divulgado apenas uma semana antes de o bispo Sean P. O'Malley assumir a lideran�a da arquidiocese de Boston. Reilly disse que estava divulgando o relat�rio nesta data para dar a O'Malley a chance de se distinguir da antiga lideran�a.

Reilly disse que sua investiga��o n�o tinha encontrado evid�ncias de atuais abusos de crian�as. No entanto, acrescentou: "� cedo demais para saber se acabou", porque o abuso sexual do clero durou tantos anos que se tornou parte da "cultura institucional" da Igreja.

Reilly e o relat�rio ressaltaram que o principal problema era a hierarquia da Igreja em Boston. "H� uma quantidade impressionante de evid�ncias que, por muitos anos, o cardeal Law e seus principais administradores tiveram conhecimento direto de que n�meros substanciais de crian�as na arquidiocese tinham sido molestadas por n�meros substanciais de padres", concluiu o relat�rio.

Law era t�o bem informado que, de fato, estava ciente do problema em Boston mesmo antes de ter assumido a arquidiocese, em 1984, segundo o relat�rio.

"Os funcion�rios da administra��o do cardeal recebiam as reclama��es de abuso. Eles estipulavam a resposta da arquidiocese e informavam o cardeal. Muitas vezes, pediram sua aprova��o para as recomenda��es", disse o relat�rio.

Em certa altura, Law at� mesmo visitou um hospital psiqui�trico ao qual a Igreja de Boston enviou padres acusados de pedofilia, Saint Luke Institute, em Maryland, segundo o relat�rio.

Mas como Law e seus assistentes "continuavam comprometidos com seus objetivos prim�rios - proteger os padres e a institui��o acima do bem-estar das crian�as e impedir um esc�ndalo", disse o relat�rio, eles n�o informaram as autoridades sobre o abuso sexual infantil. Outra pr�tica rotineira era transferir padres para outras par�quias, sem notificar as pessoas do local sobre seus problemas.


Tradu��o: Deborah Weinberg
Hosted by www.Geocities.ws

1