Helio
C. Vital
GEOMETRIA
O que é um eclipse da
Lua? É o alinhamento do Sol, da Terra e da Lua, tal
que alguma região da Lua atravessa a sombra da Terra. Eclipses da Lua somente
podem ocorrer na Lua cheia, quando a Lua se encontra na posição oposta à do Sol
no céu.
Como se apresenta a
sombra da Terra?
A sombra da Terra é
composta de 2 partes: a externa, denominada penumbra, menos escura (um observador situado nela
veria o disco solar parcialmente ocultado pela Terra) e a interna, mais
escura, denominada umbra
(dentro da qual, a Terra seria vista ocultando totalmente o Sol).
Por que o aspecto da
Lua varia muito de um eclipse para outro? Porque ele
depende principalmente da trajetória que a Lua descreve dentro da sombra, a
qual pode variar de um eclipse para outro. Além disso, a Lua descreve uma
órbita elíptica em torno da Terra, se apresentando 12% maior em diâmetro, quando
se encontra mais próxima (perigeu), do que quando está mais afastada.
Por sua vez, a órbita elíptica que a Terra descreve em torno do Sol faz com que
o disco solar aparente se apresente 3% maior em janeiro do que
Quais são os tipos de
eclipses lunares ?
Eclipses Penumbrais
Quando a Lua passa
pela penumbra, mas não cruza a umbra, diz-se que o eclipse é penumbral. Esse
tipo de eclipse passa despercebido na maioria das vezes. Somente quando a Lua
fica com mais de 60% do seu disco imerso na penumbra, é que um leve
escurecimento do seu disco se torna perceptível a olho nu.
Eclipses Umbrais
Os eclipses lunares
umbrais são aqueles, nos quais, uma parte do disco lunar cruza a umbra. Eles
podem ser parciais ou totais, dependendo se a Lua fica parcial ou
totalmente imersa na umbra. Além disso, se algum ponto do disco lunar passar
pelo eixo (centro) da sombra, diz-se que o eclipse é central. Somente
eclipses totais podem ser centrais, porque o raio da umbra é sempre maior que o
diâmetro aparente da Lua.
Além do tipo, quais são
os outros parâmetros que descrevem um eclipse lunar?
É comum usar-se a expressão “magnitude do eclipse” (Mag),
que é a fração máxima do diâmetro da Lua que fica obscurecida. Se ela for igual
ou superior a 1, o eclipse será total, sendo que a
diferença (Mag – 1) informa a distância mínima no
meio do eclipse entre a borda lunar mais externa e a borda da umbra, expressa
em termos do diâmetro aparente da Lua. Um valor Mag=1,2
indica que, no meio do eclipse, a borda da Lua mais próxima da borda da umbra
distará dessa última 20% do diâmetro lunar aparente.
FREQÜÊNCIA
Por que não ocorre um
eclipse lunar a cada Lua cheia? O tempo que separa 2
Luas cheias consecutivas é de 29,5 dias, contudo os eclipses lunares não
ocorrem todo mês. Por que? Isso somente aconteceria se
a órbita da Lua ao redor da Terra estivesse no mesmo plano da órbita da Terra
ao redor do Sol. Contudo, como a órbita da Lua está inclinada um pouco mais de
5 graus em relação à da Terra, o satélite natural da Terra somente cruza a
órbita do nosso planeta 2 vezes por mês em dois pontos
denominados “nodos”. Todo o resto do tempo, a Lua fica acima ou abaixo do plano
de órbita da Terra. Dessa forma, a condição para a ocorrência de um eclipse
lunar é que a Lua cheia aconteça próxima a um dos nodos. Essas épocas
favoráveis à ocorrência de eclipses ocorrem duas vezes por ano e são espaçadas
de quase 6 meses.
Quais eclipses
ocorrem com maior freqüência, os solares ou os lunares? Na segunda figura,
vemos que o segmento de arco onde podem ocorrer eclipses é mais extenso do lado
da órbita lunar mais próximo ao Sol que do lado oposto. Essa configuração
geométrica favorece a ocorrência de um número maior de eclipses solares do que
lunares, na mesma proporção da extensão dos arcos. Dessa forma, de cada 8 eclipses 5 são solares.
Mas, se isso
acontece, como se explica que vemos mais eclipses lunares que solares? Por que,
enquanto um eclipse lunar pode ser visto em todos os lunares da Terra onde a
Lua se encontra acima do horizonte, os solares somente são observáveis de
dentro de uma estreita faixa do hemisfério iluminado.
Quantos eclipses
podem ocorrer por ano? Com relação aos eclipses lunares, podem ocorrer de zero
a 3 eclipses umbrais por ano. Com relação aos solares,
podem ocorrer, no mínimo, 2 e, no máximo, 5 eclipses
por ano. Sendo assim, são esperados anualmente em todo o mundo, 2 eclipses (solares) no mínimo e, no máximo, 7 eclipses
(sendo 5 solares e 2 lunares ou 4 solares e 3 lunares). Em 1982, por exemplo,
houve 7 eclipses, sendo 4 solares e 3 lunares totais.
Os eclipses voltam a
ocorrer com condições parecidas depois de um tempo? Sim, existe uma notável
coincidência que faz com que a Terra e a Lua reproduzam praticamente a mesma
geometria de um dado eclipse a cada 18 anos, 11 dias e 8 horas. Esse período é
chamado Ciclo de Saros. Dois eclipses separados por
esse período ocorrem sob circunstâncias muito parecidas: praticamente na mesma
posição do nodo, quase na mesma distância Terra-Lua e na mesma época do ano.
Porém, não ocorrem no mesmo lugar, porque o intervalo
entre eles não é um número inteiro de dias, de forma que a diferença de 8
horas permite que a Terra gire 1/3 de
volta, causando uma diferença em longitude de aproximadamente 120 graus. Num
dado instante, dezenas de séries de Saros estão
MEDINDO A SOMBRA DA
TERRA
A atmosfera da Terra
também influencia nas dimensões da sombra terrestre?
Em 1702, Pierre de
Podemos medir as
dimensões da umbra durante o eclipse? Sim, usando pequenos telescópios e baixos
aumentos (de
O que os astrônomos
brasileiros estão aprendendo com as cronometragens? A análise de
aproximadamente 1500 cronometragens obtidas por astrônomos amadores da Rede de
Astronomia Observacional (REA) já forneceu interessantes conclusões sobre o
raio e achatamento da umbra. Uma delas é que a camada da nossa atmosfera que
contribui para formar a sombra da Terra alcança
O BRILHO DA LUA DURANTE
O ECLIPSE
Por que conseguimos
ver a Lua, mesmo quando ela está totalmente imersa na sombra da Terra? Porque a
atmosfera da Terra filtra (atenua) e desvia (refrata) os raios solares para o
interior da umbra. A luz que iria direto para a borda da umbra é aquela que é
desviada para o seu interior fazendo-a brilhar debilmente durante a fase total
do eclipse.
Por que a Lua se
apresenta predominantemente avermelhada durante a fase total do eclipse? Porque
a atmosfera da Terra permite que a luz vermelha a atravesse muito mais
facilmente que a azul.
Por que o brilho da
Lua totalmente eclipsada varia de um eclipse para outro? Por que ele depende da
trajetória que a Lua descreve dentro da umbra. Quanto mais profundamente a Lua
mergulha na sombra, mais escura ela fica. É normal que esse brilho se reduza em
dezenas de milhares de vezes durante um eclipse total. Além disso, se houver
grandes quantidades de aerossóis vulcânicos na estratosfera, o eclipse poderá
ser bem mais escuro do que o previsto. Isso aconteceu com os eclipses lunares
de 1992 e 1993 em virtude da violenta explosão do Monte Pinatubo
em Junho de 1991 nas Filipinas. Na verdade, durante a fase total de um eclipse,
a Lua se transforma numa imensa tela muito sensível, que mostra com nitidez o
que ocorre com a nossa atmosfera. Mesmo vastas formações de nuvens ou incêndios
florestais podem escurecer as partes mais internas da umbra. Além disso, os
modelos de computador usados para simular a sombra mostram que mesmo a depleção
da camada de ozônio em altas latitudes pode alterar as dimensões da umbra e a
nitidez de sua borda. Astrônomos brasileiros têm monitorado o brilho da Lua
durante os eclipses para determinar a presença de grandes quantidades de cinzas
vulcânicas na estratosfera e aperfeiçoar as previsões de brilho dos eclipses
lunares.
Boas observações!