ECLIPSE LUNAR TOTAL DE 4 DE MAIO DE 2004

 

Helio C. Vital

 

Circunstâncias Globais

 

Na noite de 4 de maio próximo, a Lua cruzará a metade Sul da sombra terrestre, indo de Oeste para Sudeste, num evento cuja visibilidade será melhor no Oriente Médio, na África e no Leste europeu. O eclipse terá magnitude 1,308, sendo portanto profundo e quase central e ocorrerá apenas 1,3 dia antes do perigeu. No meio do evento, às 20h30m TU, a metade setentrional do disco lunar estará bem mais escura que a meridional, por estar mergulhada mais profundamente na umbra. Os observadores do Leste da América do Sul somente verão a segunda metade do eclipse, tendo em vista que o nascer da Lua praticamente coincidirá com o meio do fenômeno. A Figura 1 ilustra a geometria e a visibilidade global do eclipse (cortesia de Fred Espenak/NASA/GSFC), enquanto a Tabela 1 lista os horários previstos (em Tempo Universal = Hora de Brasília + 3 h) para as várias fases do evento (cálculos do autor).

 

Figura 1: Geometria e Visibilidade do Eclipse (Cortesia de F. Espenak/NASA)

 

 

Tabela 1 - Horários Previstos para os Contatos

Contato

Hora (TU)

Fim do Eclipse Total (U3)

21:08:15

Fim do Eclipse Parcial (U4)

22:12:12

Fim do Eclipse Penumbral (P4)

23:09:35

 

 

Visibilidade no Brasil

 

Somente a segunda metade desse eclipse poderá ser observada na América do Sul. Além disso, a observação do disco lunar durante a totalidade constituirá um verdadeiro desafio, pois terá que ser realizada ainda sob forte luz crepuscular e com a Lua a poucos graus acima do horizonte. A Tabela 2 fornece as circunstâncias para algumas cidades, visando facilitar a localização do disco lunar durante a segunda metade da fase total, a qual se desenvolverá em aproximadamente 38 minutos (semi-duração). Em virtude da intensa extinção atmosférica a menos de 3º sobre o horizonte, acrescida da forte interferência da luz crepuscular e da drástica redução do brilho da Lua (»11 magnitudes), estima-se que não haverá contraste suficiente para distinguir-se a Lua do fundo do céu durante os primeiros minutos após o seu nascer, mesmo ao telescópio. Em virtude disso, a tabela 2 lista as circunstâncias para que o observador possa buscá-la telescopicamente a partir do momento em que ela atinge 4º acima do horizonte.

 

Tabela 2 - Circunstâncias para Algumas Cidades

 

 

Cidade

Altura 4o

Az≈ 107o Hora (TU)

Fim. Tot. (U3)

Az≈ 105o

Altura (o)

Fim Parc (U4)

 

Altura (o)

Belo Horizonte

20:49

08

22

Brasília

21:11

03

18

Buenos Aires

21:29

00

12

Campinas

20:58

06

20

Campos

20:36

11

25

Curitiba

21:05

05

18

Florianópolis

20:59

06

19

Fortaleza

20:47

09

24

Montevidéu

21:19

02

14

Porto Alegre

21:06

04

17

Recife

20:26

13

28

Rio de Janeiro

20:42

09

23

Salvador

20:35

11

26

São Paulo

20:56

06

20

Vitória

20:34

11

26

 

 

Atividades Observacionais Sugeridas

 

O reduzidíssimo contraste entre a imagem da Lua e o fundo do céu deverá dificultar bastante, ou mesmo inviabilizar em alguns casos, a observação do disco lunar durante a totalidade. As condições de visibilidade serão muito precárias durante essa fase inteira, porque o céu ainda estará escurecendo e o disco lunar, já profundamente imerso na sombra da Terra, estará a poucos graus acima do horizonte E-SE. É provável que esses fatores prejudiquem bastante a qualidade das observações e inviabilize algumas das atividades observacionais normalmente sugeridas para essa fase (estimativas da magnitude da Lua e do Número de Danjon; fotografia ou filmagem e registros das configurações de cor e brilho do disco lunar), as quais deverão ser encaradas como parte de uma seqüência de desafios para os observadores mais experientes.

Visibilidade da Lua Totalmente Eclipsada

O primeiro desafio será localizar a Lua pouco depois de seu nascer. Os observadores deverão observar a Lua nas noites anteriores à do eclipse para se familiarizarem com a posição aproximada dela em relação ao horizonte onde ela deverá nascer, e com o reconhecimento das crateras cujas emersões serão cronometradas. Esse procedimento poderá ajudar a evitar-se a decepção de se encontrar um obstáculo que impeça a observação da segunda metade da totalidade, ou ainda, dificuldades na identificação das crateras que, dessa vez, não poderá ser treinada nas horas que antecederão o eclipse. Outra sugestão para aqueles que dispõem de um telescópio com montagem equatorial alinhada seria localizar Júpiter, que deve se tornar visível a meia altura sobre o horizonte leste a partir do ocaso do Sol e usa-lo para calibrar os círculos graduados do telescópio. Em seguida, o observador redirecionaria seu instrumento para as coordenadas da Lua usando as escalas das coordenadas, já corrigidas, e as posições topocêntricas da Lua e de Júpiter listadas na Tabela 3.

 

Tabela 3 - Posições Topocêntricas da Lua e de Júpiter durante a Totalidade

 

Hora (TU)

Lua

Júpiter

Ascenção Reta

Declinação

Ascenção Reta

Declinação

20h31m

14h52,3m

-16o 08'

 

10h44,1m

 

9o 28'

20h45m

14h52,8m

-16o 13''

21h00m

14h53,5m

-16o 17''

21h15m

14h54,0m

-16o 22''

 

Juntamente com as características de seu telescópio e as suas coordenadas geográficas (ou nome de sua cidade), informe também a hora em que passou a distinguir o disco lunar. Tais informações poderão ser posteriormente usadas para determinação do brilho superficial do disco lunar.

Estimativa do Brilho da Lua

A curvas de brilho dos dois eclipses lunares de 2003, obtidas por um grupo de observadores da REA, permitiram concluir que o brilho de ambos eventos foi determinado primariamente pelo grau de penetração do disco lunar na umbra e que ele não sofreu influência significativa de aerossóis de origem vulcânica. Nesse próximo eclipse, se a Lua estivesse bem posicionada no céu, as estimativas da magnitude no meio do evento provavelmente se concentrariam entre -1,0 e -2,0 (a correlação obtida pelo autor entre a magnitude do eclipse e a magnitude visual da Lua prevê -1,7 para o instante de máximo). Contudo, as condições de observação do próximo eclipse, muito desfavoráveis, provavelmente ampliarão bastante a incerteza associada às escassas estimativas de brilho da Lua. Ao telescópio, a imagem lunar deverá se apresentar muito escura e avermelhada, em pálido contraste com o fundo do céu. É possível que a proximidade das estrelas alfa1, 2 Libra, cujas magnitudes são respectivamente 5,7 e 2,8, facilite um pouco a tarefa de estimar-se a magnitude da Lua alguns minutos antes do fim da totalidade. Outros astros que talvez possam ser usados na comparação são Júpiter (m=-2,2) e Arcturus (m=-0,05). Devido à provável necessidade de posterior correção para o intenso efeito da extinção atmosférica, os observadores deverão informar: suas coordenadas geográficas, a hora exata da estimativa, o método e os astros usados na comparação. Além disso, relatos sobre a visibilidade do limbo e das formações lunares, além da estimativa do número de Danjon (veja as tabelas apresentadas para os eclipses do ano passado neste mesmo site) também poderão servir como indicadores indiretos do brilho do eclipse.

Fotografia

Considerando que o evento não será visível na América do Norte, recomenda-se que seja feito um esforço para a obtenção de algumas imagens telescópicas da totalidade, pois elas poderão constituir um importante registro das circunstâncias raras do evento.

Cronometragens de Emersões de Crateras

Centenas de registros de cronometragens de eclipses anteriores têm permitido à REA comprovar variações significativas nas dimensões da sombra produzida pela parte sólida e pela atmosfera da Terra sobre a Lua. Análises preliminares do eclipse de novembro último forneceram indícios de uma assimetria que pode ter sido ocasionada pela depleção da camada de ozônio sobre a Antártida. Por outro lado, o eclipse de 4 de maio permitirá inferir alguns parâmetros representativos das condições atmosféricas presentes em latitudes intermediárias do hemisfério sul. Usando aumentos telescópicos entre 30 e 70 vezes, os observadores deverão registrar, com precisão mínima de 1 décimo de minuto, o instante em que a borda da umbra cruza o centro de cada cratera, deixando-a. Os contatos de limbo U3 e U4 também deverão ser registrados. A Tabela 4 pode servir de guia para o planejamento das observações das emersões de crateras.

 

    Tabela 4 – Previsões para Emersões de Crateras

Emersões de Crateras

Hora (TU)

Grimaldi              

21:16:17

Billy                   

21:18:59    

Tycho            

21:24:21

Kepler           

21:28:56    

Aristarchus

21:29:59    

Copernicus       

21:36:54

Pytheas          

21:39:21 

Timocharis      

21:43:55

Pico

21:48:43    

Plato

21:49:19    

Manilius                

21:51:12    

Dionysius        

21:52:00    

Menelaus         

21:54:34    

Eudoxus        

21:57:08    

Plinius 

21:57:35   

Goclenius                 

21:57:55

Langrenus               

22:02:14

Taruntius                

22:03:37

Proclus                      

22:05:50

Mare Crisium          

22:08:51

 

Não deixem de enviar suas observações cliquando aqui ou remetendo-as para a Reanet. Depois deste, o próximo eclipse lunar total visível no Brasil ocorrerá em 28 de outubro deste ano. Um outro projeto observacional sobre o eclipse lunar de 4 de maio encontra-se nas páginas de eclipses da Sky&Telescope.



Relatório de Observações do Autor
Imagens do Eclipse Obtidas pelo Autor
E as Belas Fotos da Lua Eclipsada Nascendo sobre o Pão de Açúcar

 

E boas observações a todos!

 

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