PROJETO DE OBSERVAÇÃO DO ECLIPSE SOLAR
TOTAL
DE 29 DE MARÇO DE 2006 NO BRASIL (REA/BRASIL)
Helio C. Vital
Motivação
Considerado o mais emocionante dentre todos os fenômenos
astronômicos, um eclipse solar total é sem dúvida um espetáculo inesquecível,
que deslumbra tanto o observador leigo, quanto o astrônomo experiente.
Em 29 de março próximo, os privilegiados habitantes de uma região
que inclui várias cidades situadas no Leste e Sudeste do Rio Grande do Norte e
no Nordeste da Paraíba, terão a raríssima oportunidade de contemplar o Sol
nascer na forma de um fino crescente que, poucos minutos depois, será
totalmente ocultado pelo disco lunar, dando lugar à belíssima visão da coroa
solar.
Esse fascinante evento, em particular, se reveste de uma
importância especial e única, considerando-se que incluirá a bela cidade de
Natal, além de várias praias agradabilíssimas do litoral sul do Rio Grande do
Norte, as quais constituirão os locais mais favoráveis para sua observação.
Fundamentos sobre Eclipses
Solares
Configurações Fortuitas
Em sua revolução de aproximadamente um mês ao redor da Terra, a
Lua lança continuamente sua sombra no espaço. Na maioria das Luas Novas a
sombra lunar passa ao Norte ou ao Sul do nosso planeta, porque o plano da
órbita da Lua é inclinado 5 graus em relação ao da Terra. No entanto, em duas
épocas especiais do ano, ela passa pela interseção desses dois planos, criando
condições favoráveis para que sua sombra se projete sobre a superfície do nosso
planeta e produza um eclipse do Sol.
Na verdade, é surpreendente o fato de que a Lua consiga encobrir
totalmente o Sol, considerando-se que o diâmetro dela é cerca de 400 vezes
menor que o do astro-rei. Ocorre, no entanto, que coincidentemente, nosso
satélite está cerca de 400 vezes mais próximo da Terra. Bastaria, portanto que
a Lua estivesse um pouco mais afastada de nós para que nunca observássemos
eclipses solares totais.
Umbra e Penumbra
É também interessante ressaltar que, devido ao fato de observamos
o Sol como um disco e não apenas um ponto, duas regiões distintas compõem a
sombra lunar: a penumbra e a umbra. Um observador que está dentro da umbra, que
é a região mais interna e escura da sombra, vê o disco solar completamente
obscurecido pelo lunar. Por outro lado, o observador imerso na penumbra vê o
Sol apenas parcialmente eclipsado.
Tipos de Eclipses Solares
Dependendo da posição relativa do Sol, da Lua e da Terra, podem
acontecer diferentes tipos de eclipses solares. Dessa forma, quando o eixo da
sombra lunar toca algum ponto da superfície terrestre, diz-se que um eclipse
central ocorre. Eles podem ser anulares, totais ou híbridos.
Por outro lado, nos eclipses não centrais, apenas a penumbra lunar se projeta sobre
a superfície do nosso planeta. Eles são denominados parciais e constituem 35%
dos eclipses solares.
Dentre os eclipses centrais, os mais freqüentes são os anulares
(33% do total), nos quais o disco lunar apresenta-se menor que o solar. Ocorre
então que, no meio do fenômeno, a parte mais externa do disco solar permanece
visível na forma de um anel. Nesse caso, diz-se que o observador está imerso na
anti-umbra
da Lua.
Nos eclipses totais (27% do total), o disco lunar, sendo maior
que o solar, o oculta totalmente. Observa-se então que a região encoberta pela
umbra é muito menor que aquela correspondente à penumbra, ou seja, a região
onde o eclipse é visto como parcial é muito maior que aquela correspondente à
estreita faixa de totalidade.
Uma situação interessante surge quando as dimensões aparentes da
Lua e do Sol se aproximam muito, como no caso dos eclipses anulares-totais, ou híbridos, que constituem
apenas 5% do total de eclipses solares. Esses eventos geralmente se iniciam
como eclipses anulares, horas depois se transformando em totais, à medida que o
disco aparente da Lua cresce em relação ao solar, em virtude da maior altura
dos dois astros sobre o horizonte. Posteriormente, voltam a se tornar anulares,
enquanto o par Lua-Sol aproxima-se novamente do horizonte, já observado do
outro lado do planeta.
Freqüência de Eclipses Solares
Totais
As estatísticas informam que ocorrem em média 64 eclipses solares
totais por século, ou seja, um a cada 1,6 anos. Admitindo-se que a faixa de
totalidade tipicamente cubra apenas 0,4% da área da Terra, é fácil calcular que
um eclipse solar total visitará um mesmo local a cada (1,6/0,004) anos em
média, ou seja, a cada 400 anos, valor muito próximo daquele encontrado por
Jean Meeus (375 anos) de forma rigorosa. No
entanto, esse valor é apenas uma média global ao longo de vários séculos e, na
prática, um mesmo local pode ser visitado por 2
eclipses solares totais consecutivos em períodos de apenas alguns anos.
Próximos Eclipses Solares
Observáveis do Nordeste
Tomando como exemplo essa mesma região do Nordeste, já em 22 de setembro de 2006, ela
será visitada pela penumbra de um eclipse cuja faixa de anularidade cruzará o
Atlântico e que será observado como parcial de uma vasta extensão do território
brasileiro. Além disso, por um grande golpe de sorte dos habitantes locais, na
tarde de 14 de outubro de 2023, essa
mesma região poderá contemplar um interessante eclipse anular e em 12 de agosto de 2045 um
outro eclipse solar total.
Circunstâncias Globais
Uma rápida inspeção das circunstâncias globais do
eclipse solar total de 29 de março de 2006 permite concluir que ele terá início
no Nordeste do Brasil.
Às 7h37m TU, o extremo oriental da penumbra lunar tocará o limbo
terrestre num ponto do Atlântico a Leste do Brasil e às 8h35mTU (correspondente
às 5h35m, hora local), será a vez do pequenino cone da umbra projetar-se sobre
o interior do Rio Grande do Norte, ao nascer do Sol local, iniciando o seu
longo percurso sobre o globo terrestre. Ao cruzar o litoral do estado a 9 km/s, rumo à África, a umbra estará traçando uma faixa com
largura de
Pouco mais de meia hora depois, a umbra lunar, já bem mais lenta
(0,96 km/s) em virtude da menor inclinação de incidência do cone de sombra,
atingirá Gana (às 9h08m), percorrendo em seguida os seguintes países africanos:
Togo (9h14m), Benin (9h16m), Nigéria (9h21m), Níger (9h37m), Chade e Líbia.
Às 10h11m18s, quando o centro da umbra alcançar as coordenadas 23o09`
N e 16o 45` E, ocorrerá o instante de maior
eclipse, quando o eixo da sombra lunar mais se aproximará do centro do nosso
planeta (uma distância igual a 38,4% do raio equatorial terrestre). Nesse
instante, a altura do Sol (67o); a duração de totalidade (4m07s) e a
largura da faixa de totalidade (
Após o máximo, a umbra continuará rumando em direção a Nordeste e
terminará sua passagem pela Líbia. Em seguida, percorrerá uma pequena extensão
do Egito, chegando à costa do Mediterrâneo às 10h40m. Às 10h54m, ela atingirá a
costa da Turquia e, em seguida, a Geórgia (11h06m); o Cazaquistão; a Rússia, e
novamente o Cazaquistão, deixando finalmente de tocar a superfície terrestre ao
por do Sol junto à fronteira setentrional da Mongólia às 11h48m TU.
Num período de 3h12m, a umbra lunar terá percorrido uma distância
total de
Em contraste, a penumbra lunar terá varrido uma
área bem maior do planeta com um eclipse parcial que terá sido observado do
extremo Leste do Brasil, África, Europa e Ásia central.
Circunstâncias para os Estados
do Rio Grande do Norte e Paraíba
A observação do eclipse de 29 de março de 2006 no Brasil será
dificultada em todo o território brasileiro pelo fato de que o eclipse já
estará numa fase avançada quando o Sol nascer. Portanto, o primeiro contato,
correspondente ao início do evento, não poderá ser observado, pois o Sol ainda
estará a mais de 11 graus abaixo do horizonte. A região Nordeste oferecerá as
melhores condições de visibilidade, seguida da região Sudeste, sendo que em
vários estados do Leste brasileiro, o eclipse será observado apenas em sua fase
parcial. Nas demais regiões brasileiras, o fenômeno já terá praticamente
terminado quando o Sol surgir no horizonte.
Faixa de Totalidade
Em território brasileiro, a totalidade poderá ser observada
apenas dentro de uma estreita faixa que se estenderá pelo centro e Sudeste do
Rio Grande do Norte e Nordeste da Paraíba, desde a longitude oeste de 38 graus,
onde o Sol estará nascendo no meio do eclipse, até o seu encontro com o
Atlântico, próximo à longitude de 35 graus Oeste. Com forma muito alongada, a
umbra percorrerá cerca de
Linha Central
Seguindo velozmente para Leste, a umbra passará
próximo às cidades de Brejinho e Senador Georgino
Avelino, cruzando o litoral do Rio Grande do Norte às 8h35m31s, num ponto com
coordenadas geográficas 6o08`56” Sul e
35o 05`51” Oeste,
As circunstâncias para a linha central da faixa de totalidade no
Rio Grande do Norte foram calculadas para cada minuto de longitude, com um
programa desenvolvido pelo autor, que usa algoritmos desenvolvidos por Meeus (os quais levam em
conta os efeitos de refração atmosférica devido à baixa altura do Sol) e elementos
besselianos de alta precisão gerados por Espenak. A
Figura abaixo ilustra a posição da faixa de totalidade em um mapa do DNIT.
Linha Central da Faixa de Totalidade (Long. 35o – 36o Oeste)
Limites ao Sul e ao Norte da
Faixa de Totalidade
O limite meridional da
faixa de totalidade atravessa o Norte da Paraíba (e uma pequena região do Rio
Grande do Norte), passa próximo às cidades de Pirpirituba;
Sertãozinho; Marcação; Solânea e Rio Tinto e cruza o
litoral da Paraíba no ponto com coordenadas 6o43`51” Sul e
34o 56`00” Oeste, situado a
O limite setentrional da
faixa de totalidade cruza o Rio Grande do Norte, aproxima-se de João Câmara e
encontra o litoral do estado nas coordenadas 5o33`46”
Sul e 35o14`23” Oeste,
Erros típicos estimados para as previsões das linhas limítrofes
da faixa de totalidade são da ordem de algumas centenas de metros (geralmente
inferiores a
Circunstâncias Locais
A proximidade do Sol em relação ao horizonte (alturas de 0, no início da faixa de totalidade, a 2,5 graus.
no litoral, deverá constituir um sério obstáculo para a observação da fase
total, principalmente em cidades do interior, onde é fato raro ver-se o Sol a
menos de dois graus de altura, devido a freqüente presença de elevações ou
construções que impedem a visão do horizonte. Por outro lado, as cidades
litorâneas do Rio Grande do Norte ao Sul da latitude 5,6o S e as da
Paraíba ao Norte da latitude 6,7o S deverão propiciar melhores
condições para a observação da fase total do eclipse, obviamente, se as condições
meteorológicas forem favoráveis.
Circunstâncias para Cidades do
Litoral do Rio Grande do Norte e da Paraíba
Circunstâncias para várias cidades litorâneas
desses dois estados foram calculadas pelo autor. Todos as
previsões são baseadas no limbo lunar médio e foram obtidas segundo algoritmos
de Meeus e elementos besselianos divulgados por Espenak. Particularmente, locais elevados com vista
para o mar, como mirantes sobre falésias localizadas no litoral Sul do Rio
Grande do Norte, como por exemplo, Tibaú do Sul e
Barra de Tabatinga (veja uma simulação do eclipse para esses locais,
realizada pelo autor com o Redshift 3), deverão constituir as primeiras opções daqueles que
pretendem observar o evento nas circunstâncias teoricamente mais favoráveis no
Brasil, pois além de apresentarem o Leste desobstruído (devido à presença do
mar), e uma maior proximidade da linha central, proporcionarão alguns segundos
adicionais de observação em virtude do efeito de depressão do horizonte. Nesses locais, o nascer do Sol ocorrerá às
5h24m (hora local) e a altura do Sol no meio da totalidade será de 2,5o.
Circunstâncias Corrigidas dos
Efeitos de Irregularidades no Perfil Lunar
Caso as condições meteorológicas assim o permitirem, observadores
privilegiados, localizados no litoral sul do Rio Grande do Norte, deverão
contemplar entre 1,5 e 2 minutos de totalidade. Esse período pode ser
rigorosamente calculado, corrigindo-se as previsões para o limbo lunar médio,
listadas na tabela das circunstâncias para cidades litorâneas (RN e PB), dos
efeitos oriundos de irregularidades no perfil lunar. Tais correções também
dependerão das coordenadas locais porque a posição dos contatos, e
conseqüentemente o perfil do limbo lunar correspondente, variarão de acordo com
a posição do observador.
A tabela abaixo lista as correções dos instantes dos contatos 2 (ΔU1) e 3 (ΔU4),
seus valores corrigidos (U1
e U4) e a duração
corrigida da totalidade (Dur) para algumas das localidades litorâneas mais indicadas
para a observação da fase total do eclipse. Conclui-se que, para a maioria das
localidades consideradas, o segundo e terceiro contato parecerão se antecipar
em (2±1) segundos em relação às previsões baseadas apenas no limbo lunar médio,
indicando que ocorrerão acima dele no segundo contato e abaixo dele no
terceiro.
Correções dos Instantes de
Início e Fim da Totalidade das Irregularidades no Perfil Lunar para Locais
Próximos da Linha Central
Local |
ΔU1 (s) |
U1 (h:mm:ss) |
ΔU4 (s) |
U4 (h:mm:ss) |
ΔDur (s) |
Dur (m:ss) |
Tibaú do Sul |
-3,0 |
5::34:27,5 |
-0,1 |
5:36:27,6 |
+2,9 |
2:00,1 |
Linha Central |
-2,5 |
5:34:29,7 |
-1,5 |
5:36:28,1 |
+1,0 |
1:58,5 |
Barra de Tabatinga |
-1,4 |
5:34:36,2 |
-3,7 |
5:36:29,6 |
-2,3 |
1:53,5 |
Baía Formosa |
-1,8 |
5:34:25,0 |
-1,4 |
5:36:13,9 |
+0,4 |
1:48,9 |
Barreira do Inferno |
-0,9 |
5:34:46,0 |
-4,9 |
5:36:30,3 |
-4,0 |
1:44,3 |
Natal (Praia) |
-0,5 |
5:35:0,4 |
+0,6 |
5:36:34,0 |
+1,1 |
1:33,5 |
Estatísticas Meteorológicas
Além da pequena altura do Sol durante a totalidade, outra fonte
de preocupação é a baixa freqüência de céus limpos na região no final de março.
As estatísticas meteorológicas
indicam uma probabilidade de sucesso na observação da totalidade de apenas 39%,
principalmente devido à presença de freqüentes formações de nuvens dos tipos
cúmulos, cirros e estratos, as quais tendem a se concentrar junto à linha do
horizonte por efeito de ilusão óptica e aparentam se deslocar com lentidão. Jay Anderson e Fred Espenak
recomendam aos grupos de observadores sérios que tenham outras opções de sítios
ao longo da costa e que, se necessário, façam deslocamentos de última hora para
driblar a nebulosidade.
Circunstâncias para Cidades do
Interior do Rio Grande do Norte e da Paraíba
Circunstâncias para as cidades interioranas do
Rio Grande do Norte e da Paraíba também foram calculadas pelo autor usando a
mesma metodologia. Para cidades no interior da faixa de totalidade, a altura do
Sol pode ser obtida de forma aproximada (erro de ±0,3o) usando-se a
relação: Alt (o) = 2,7o –
(λ– 35o), onde λ é a longitude do observador, expressa
em graus. De forma análoga, para cálculo aproximado (±1 min) do instante do
nascer do Sol nesses locais, deve-se somar 4.(λ-35o) minutos a 5h24m (correspondente à hora do nascer no litoral, λ≈35o).
Recomenda-se que, nesses locais, a observação seja feita de pontos elevados
(como colinas, terraços de edifícios etc), que ofereçam uma visão desobstruída
do horizonte leste. É provável que, se não houver nebulosidade, muitas pessoas
desinformadas estranhem o aparente atraso do dia em clarear, ou se impressionem
com a intensidade anormalmente baixa da luz solar.
Circunstâncias para Cidades de
Outros Estados
Circunstâncias para cidades de outros estados, onde, salvo
indicado ao contrário, o Sol nascerá após o meio do eclipse, são dadas na
tabela abaixo. O nascer do Sol está expresso em hora local. *Nestas cidades, a ocultação máxima do disco
solar será observada após o nascer do Sol, ao contrário do que acontecerá nas
demais.
Circunstâncias do Eclipse de 29/Mar/2006
para Cidades de Outros Estados
Cidade |
Nascer Máximo (h:mm)(TL) |
Magnitude |
Obscurecimento |
Fim |
Aracajú |
5:34 |
0,875 |
0,850 |
6:29:11 |
Belém |
6:17 |
0,311 |
0,200 |
6:34:22 |
Belo Horizonte |
6:03 |
0,253 |
0,148 |
6:19:09 |
Brasília |
6:18 |
0,092 |
0,033 |
6:23:28 |
Campos |
5:53 |
0,347 |
0,235 |
6:16:59 |
Fortaleza |
5:38 |
0,938 |
0,930 |
6:34:55 |
Maceió* |
5:28 5:33 |
0,878 0,913 |
0,854 0,898 |
6:30:47 |
Palmas |
6:19 |
0,176 |
0,087 |
6:28:15 |
Recife* |
5:24 5:34 |
0,826 0,960 |
0,788 0,958 |
6:32:37 |
Rio de Janeiro |
6:01 |
0,215 |
0,117 |
6:15:33 |
Salvador |
5:40 |
0,759 |
0,704 |
6:26:52 |
São Luís |
6:01 |
0,594 |
0,503 |
6:34:12 |
Teresina |
5:55 |
0,672 |
0,596 |
6:32:40 |
Vitória |
5:49 |
0,440 |
0,329 |
6:18:46 |
.
Eventos e Atividades
Observacionais Sugeridas
Escolha do Sítio e do
Equipamento para Observação
Recomenda-se que os observadores optem por um instrumental
simples e leve, que facilite a logística e viabilize deslocamentos de última
hora. Na escolha dos sítios, deve pesar, além da visibilidade ampla do
horizonte leste, a facilidade de acesso, a existência de hotéis e mirantes
próximos, donde se possa observar o evento com segurança e tranqüilidade e se
tenha acesso a um mínimo de infra-estrutura, em especial, energia elétrica. Não
é recomendável trocar um sítio com uma razoável infra-estrutura por outro, mais
próximo da linha central, mas sem recurso algum, somente para se obter alguns
segundos extras de totalidade.
Treinamento e Testes
Preliminares
Logo após o término da fase total, é provável que a maioria dos
observadores fique com a impressão que o período desde o nascer do Sol até o
desaparecimento da coroa solar tenha sido muitíssimo curto, como “um piscar de
olhos”. Portanto, com antecedência razoável, todos já deverão estar preparados
para a observação do eclipse. Recomenda-se que sejam testados todos os
equipamentos nos dias anteriores, de acordo com um planejamento meticuloso dos procedimentos
a serem seguidos durante a observação, de forma a evitar surpresas
desagradáveis de última hora.
Instrumentos
Os instrumentos deverão possibilitar a monitoração de toda a
evolução do eclipse e obtenção de imagens de boa resolução, com preciso registro
simultâneo da hora (melhor que ±0,2s, se possível), seja ela gravada nas
próprias imagens ou na forma de sinais horários ou fala do observador,
identificando os eventos em andamento. O uso de pequenos telescópios, câmaras
digitais ou filmadoras (focadas manualmente no infinito), com aumentos
superiores a 20x e objetivas cobertas com folhas de mylar, por exemplo, deverão
permitir a obtenção de interessantes imagens que mostrem as várias fases e
principais características do eclipse, além dos instantes dos três últimos
contatos. A monitoração por binóculos ou sem o uso de instrumentos, com
proteção de um filtro adequado, também deverão ser experimentada.
Determinação Precisa da
Posição e da Hora
Ressalta-se também que as coordenadas geográficas do sítio
escolhido precisam ser informadas com precisão, daí a necessidade do uso de GPS,
mapas ou outro recurso que permita determinar a posição exata do observador.
Outra recomendação, é que as fontes dos registros de tempo sejam
aferidas pouco antes da observação de forma a assegurar a precisão na
identificação dos instantes dos contatos.
Precariedade das Condições
Atmosféricas
Convém que sejam feitos testes preliminares para verificação dos
melhores ajustes do equipamento e da melhor espessura dos filtros a serem
usados, tendo em vista que a extinção atmosférica terá reduzido em algumas
magnitudes a densidade superficial de brilho do Sol em relação ao normal.
É interessante ressaltar que as precárias condições de
transparência atmosférica e a forte turbulência junto ao horizonte, deverão
limitar significativamente a qualidade das imagens, principalmente aquelas
obtidas com grandes aumentos.
Fase Parcial
O eclipse já estará em fase avançada quando o Sol nascer sobre
território brasileiro, por isso o primeiro contato, correspondente ao início do
evento, não será observado no Brasil. Além disso, somente parte do Nordeste
brasileiro poderá observar alguns minutos da fase parcial anterior ao meio do
eclipse e, mesmo nas localidades mais privilegiadas do litoral do Rio Grande do
Norte e da Paraíba, esse período será de apenas 10 minutos. Imagens da fase
parcial obtidas em intervalos regulares deverão ilustrar claramente a evolução
da ocultação do disco solar pelo lunar.
Quarto Contato (P4)
O final do eclipse, correspondente ao quarto contato, deverá ser
filmado ou fotografado com aumento suficiente que permita a identificação
precisa do momento em que ele ocorre. Irregularidades observadas no limbo lunar
com o uso de grandes aumentos deverão ser também identificadas.
Aqueles que não dispuserem de filtros apropriados (mylar, filtro de
máscara de soldador número 14 ou mais), poderão fazer um pequeno orifício de
alguns milímetros de diâmetro em cartolina e projetar a imagem num anteparo,
dentro de uma espécie de câmara escura. Pode-se usar, por exemplo, uma caixa de
sapato, com um furinho perfurado em um dos lados. De costas para o Sol, observe então a imagem
do Sol projetada sobre o lado oposto da caixa.
Aproximação da Totalidade
Escurecimento da Paisagem
Pouco antes da fase total, vários eventos se sucedem com grande
rapidez. Ao nascer do Sol, a paisagem
locar estará apresentando apenas 1/5 de sua luminosidade normal. Em poucos
minutos, a palidez do astro-rei intensificar-se-á, envolvendo tudo numa
estranha tonalidade “metálica azul-acinzentada”, enquanto, a Oeste, o céu
permanecerá escuro com a aproximação misteriosamente inquietante da umbra
lunar.
Faixas de Sombra
É possível que alguns minutos antes ou depois da totalidade, a
luz solar residual apresente rápidas flutuações de brilho, como sutis
cintilações, visíveis a olho nu, as quais poderão ser filmadas ou fotografadas
por câmeras muito sensíveis, quando projetadas sobre superfícies claras (como
telas ou lençóis brancos), na forma de faixas ou bandas claras e escuras
alternadas, que se deslocam com velocidade de alguns metros por segundo. São as
faixas ou bandas de sombra (shadow bands).
Elas são produzidas por um interessante fenômeno, no qual, os
raios provenientes do fino crescente solar, sob ação da turbulência
atmosférica, são refratados em direções ligeiramente diferentes,
recombinando-se mais tarde em padrões de interferência construtiva ou
destrutiva, que estatisticamente tendem a se tornar regulares, em virtude do grande
número de interações que sofrem ao longo do caminho ótico.
Curiosamente, ainda não existe um modelo teórico que explique
satisfatoriamente todas as características desse fenômeno. Portanto,
observadores interessados em contribuir poderão tentar registrar quando as
faixas se tornam visíveis; determinar a direção e velocidade delas e a
distância (cm) e diferença de intensidade luminosa entre uma faixa clara
(brilho máximo) e uma escura (brilho mínimo).
Aparecimento da Coroa Solar,
Colar de Pérolas e Anel de Diamante
Vários segundos antes da totalidade, quando apenas alguns
milésimos do disco solar ainda permanecer visível, a coroa solar deverá se
tornar visível, gradualmente se intensificando em brilho e beleza.
Quando faltarem apenas alguns segundos para o início da
totalidade, apenas alguns pontos muito luminosos ainda restarão sobre o limbo,
criando o efeito de jóias num colar, daí a denominação colar de pérolas, também
conhecido como Baily`s Beads. Eles são produzidos pela chegada dos últimos
raios provenientes da brilhante fotosfera solar e que terão atravessados os
vales e depressões mais profundas do limbo lunar.
Muitas vezes, nos últimos segundos que precedem a totalidade,
essa miríade de pontos luminosos parecem se fundir num só, bastante proeminente
e de coloração diamantina, denominado anel de diamante.
Totalidade
Segundo Contato (U1)
Quando desaparecem todas as formações muito brilhantes e o
possível anel de diamante tiver sido finalmente engolido pelo limbo lunar,
dar-se-á o segundo contato. A fase total do eclipse já terá então começado e a
umbra lunar já terá envolvido totalmente o observador. Somente a partir desse
instante, será totalmente segura a observação do eclipse sem filtros
apropriados e é importante lembrar aos observadores que, na enorme empolgação
do momento, não se esqueçam de retirá-los, para que possam iniciar o registro
da coroa solar com filmadoras ou câmaras.
Além da obtenção de imagens, deverão ser anotadas as posições das pérolas,
do diamante e do segundo contato em relação ao ponto norte ou ao ponto zenital
(mais alto sobre o horizonte) do disco solar.
Cromosfera, Flash Spectrum,
Rubis e Proeminências
Por alguns segundos após o início da totalidade, o disco solar
ainda não terá ocultado a atmosfera inferior do Sol - a cromosfera. Ela poderá
ser facilmente identificada, como uma fina camada com coloração rubra
inconfundível, que permanecerá visível por apenas alguns segundos no limbo
oriental. O espectro do Sol neste instante, conhecido como flash spectrum,
permite a identificação de algumas de suas principais linhas espectrais.
Nesses instantes, é comum a aparição de pontos isolados da
cromosfera que, em virtude da coloração vermelho vivo que apresentam, são
conhecidos por rubis. Além deles, geralmente são observadas algumas
proeminências que se destacam do limbo, projetando-se majestosamente em direção
à coroa. As imagens desses fenômenos em alta resolução são simplesmente
espetaculares. Novamente, deverão ser anotadas as posições dos rubis e das
proeminências para posterior análise do limbo lunar e das características da
cromosfera.
Coroa Interna e Externa
Fotografias da coroa externa, que se estende até 3 graus e da
interna poderão ser obtidas, variando-se o tempo de exposição, sendo que as
exposições mais longas deverão ser reservadas para a coroa externa. Outra opção
é o uso de um filtro de densidade radial que permite capturar os detalhes mais
sutis da coroa externa sem causar superexposição da coroa interna mais
brilhante.
Os cientistas têm estudado a complexa estrutura da coroa solar
durante a totalidade em busca de explicações para os intrincados mecanismos
responsáveis por suas temperaturas elevadíssimas, que chegam até 1 ou 2 milhões de graus, embora já se saiba que o aquecimento
do plasma nessas regiões resulte da interação ressoante dele com o fortíssimo
campo magnético do Sol.
Sabe-se que a forma da coroa solar varia de acordo com a
atividade solar e que ela se apresenta mais simétrica em épocas próximas ao
máximo do ciclo, em contraste com a tendência a se mostrar mais alongada junto
ao equador solar em épocas de mínima atividade, como é a situação atual.
Imagens de alta resolução deverão permitir a identificação das suas várias
características, tais quais, a sua aparência geral (alongada no equador, como
se espera, ou não?); a identificação dos pólos e equador solares; a posição e
dimensões (largura e/ou extensão) de buracos coronais (amplas depressões
na coroa), feixes maiores ou jatos (streamers, os
quais se lançam a distâncias do limbo em geral de 0,3o
a 0,5o); plumas (ou feixes menores, que são visíveis às
dezenas); linhas, arcos etc. Todas essas
interessantes estruturas informam-nos sobre a distribuição das linhas do campo
magnético do Sol.
Imagem do Eclipse de Nov
2004 Obtida por
Ilídio Afonso em Foz do Iguaçu
Céu durante a Totalidade
Dispondo de alguns segundos no meio da totalidade, aproveite para
identificar os planetas e estrelas visíveis a olho nu: Vênus, Júpiter e
Mercúrio. Quais estrelas? Tais informações permitirão definir a intensidade da
luz solar residual difundida pelo céu. Essa luz deverá vir predominantemente
dos horizontes Nordeste e Sudeste, correspondentes às regiões circunvizinhas,
onde o eclipse estará sendo visto como parcial.
Outra fonte luminosa será a própria coroa solar, severamente
enfraquecida pela extinção atmosférica (que se somará à contribuição
predominante). É possível que a forte atenuação da luz solar junto ao
horizonte, escureça o céu o suficiente para permitir que estrelas
de magnitude até 2, ou mais débeis, se tornem visíveis a olho nu no meio da
fase total.
Simulação do Aspecto do Céu no meio da
Totalidade
Realizada com o Redshift 3
Outros Experimentos
Outros experimentos que podem ser realizados durante a totalidade
seriam: a monitoração da temperatura do ar; da iluminação do ambiente e do
comportamento de animais e a superexposição fotográfica do disco lunar, com o
objetivo de registrar nele o “Earthshine ”, ou seja, a luz solar refletida pela “Terra
Cheia” (por analogia à Lua Cheia).
Fim da Totalidade (Terceiro
Contato – U4)
O reaparecimento das proeminências; dos rubis e do vermelho rubro
da cromosfera indicarão a aproximação do terceiro contato, o qual, da mesma
forma que o segundo, deverá ser registrado com a maior precisão possível
(preferencialmente ±0,1s). O início do reaparecimento das estruturas
diamantinas (diamante e pérolas ou contas de Baily),
muito mais brilhantes, indicará que ele já aconteceu, encerrando a
totalidade.
Ordem Inversa dos Eventos
Imerso na umbra, o horizonte leste terá escurecido e os eventos
descritos anteriormente estarão então se sucedendo em ordem inversa, ou seja,
após o reaparecimento do colar de pérolas, acontecerão: o desaparecimento da
coroa; o possível retorno das faixas de sombra e a recuperação gradual do disco
solar até o quarto contato, que encerrará o eclipse.
Recomendações Finais
Olhar
para o Sol sem um filtro protetor apropriado pode causar cegueira permanente.
Por isso, nunca olhe para o Sol sem uma proteção adequada. Se você não souber
que filtro usar, simplesmente não o observe enquanto ele não estiver totalmente
obscurecido. Somente durante a totalidade, será segura a observação do eclipse
sem o uso de qualquer proteção.
Referências e/ou Links
Recomendados
F. Espenak;; J. Anderson, Total Solar Eclipse of 2006 March 29 (NASA/TP-2004-212762)
F. Espenak, Fifty Year Canon of Solar Eclipses:1986-2035
(NASA Ref. Publication 1178)
F. Espenak, NASA Eclipse Home Page
F. Espenak, Eclipses During 2006
F. Espenak, Mr.
Eclipse
J. Meeus, Elements
of Solar Eclipses 1951 - 2200
M. Littmann & K. Willcox, Totality
– Eclipses of the Sun
J. Almeida, Eclipse
Solar Total 2006
J. Agustoni, Eclipse Solar Total em 29/03/2006 - Natal - BR