ECLIPSE PENUMBRAL DE 10-11 DE
FEVEREIRO DE 2017
Helio C. Vital
Na noite de 10 para 11 de Fevereiro,
a Lua, já bem alta nos céus brasileiros, cruzará a região mais externa da
sombra da Terra, conhecida como penumbra.
Um observador que estivesse dentro da penumbra veria a Terra encobrir
parcialmente o disco do Sol. Durante este eclipse lunar penumbral,
em nenhum momento a penumbra envolverá toda a Lua. Dessa forma, mesmo no instante
de maior eclipse, 1% do diâmetro lunar continuará recebendo integralmente a luz
solar. Além disso, se nos deslocássemos na direção do eixo da sombra da Terra até
ultrapassar a borda da Lua em 3% do diâmetro do disco, chegaríamos à fronteira
da região mais interna da sombra, a umbra, de dentro da qual, veríamos nosso planeta eclipsando
totalmente o Sol.
Na prática, observadores muito
experientes perceberão um leve obscurecimento da borda norte do disco da Lua somente
cerca de uma hora após o horário previsto para o início do eclipse penumbral, enquanto os menos experientes conseguirão
fazê-lo cerca de 20 minutos depois. Todo esse tempo para que comecemos a
discernir a penumbra se deve ao fato de que o escurecimento produzido pelas
regiões mais externas da sombra terrestre é tão sutil que não pode ser notado a
olho nu. Em virtude disso, somente depois que a borda da penumbra ultrapassa o
centro do disco lunar é que uma sutil redução no brilho da borda lunar mais
interna à sombra torna-se perceptível. No eclipse em questão, como o disco
lunar passará ao Sul do eixo da sombra, então um escurecimento do hemisfério norte
da Lua poderá ser percebido com maior facilidade próximo ao instante de eclipse
máximo: 00:44 de 11 de Fevereiro.
É interessante ressaltar que
ainda existe um significativo grau de imprevisibilidade associado aos eclipses
lunares, ao contrário do que ocorre com os solares. Isso se deve ao fato de que
nossa atmosfera, a qual é responsável pela formação de uma pequena, embora
significativa, fração da sombra da Terra, apresenta consideráveis flutuações em
suas propriedades, que por sua vez, podem impactar de forma imprevisível as dimensões
da sombra que nosso planeta projeta no espaço. Em razão disso, os modelos de
cálculo utilizados na previsão desses fenômenos têm se aprimorado com o passar
dos anos, inclusive buscando levar em conta os dados coletados na observação de
eclipses lunares mais recentes. Um exemplo disso são
as previsões oficiais da NASA referentes a esse eclipse. As primeiras,
publicadas em 1989 no Fifty Year
Canon of Lunar Eclipses: 1986-2035, informam uma
magnitude penumbral (fração do diâmetro lunar
eclipsado pela penumbra) de 1,0141 para este eclipse,
o que corresponderia a um eclipse penumbral total. No
entanto, o mesmo autor, indiscutivelmente a maior autoridade global em eclipses
lunissolares, atualmente exibe em seu portal EclipseWise a figura que
descreve a configuração do eclipse, citando para a magnitude, o valor aperfeiçoado
de 0,9884, o que equivale a uma redução de 0,0257 ou 2,6% do diâmetro da Lua ou
ainda 0,81 minuto de arco entre suas duas previsões. Uma possível motivação para tal redução
talvez encontre fundamentos num interessante episódio que analisamos em nosso
portal, Eclipse Lunar Quase Total de 4 de
Abril de 2015.
Por outro lado, qual seria a
confiabilidade do último dígito dessa previsão mais recente, considerando que a
magnitude já foi alterada por um valor 257/1 vezes maior?
Ou ainda, por que é informado o dígito correspondente aos décimos de milésimo,
induzindo o leitor a acreditar que tal nível de precisão nas previsões
realmente existe? Então, atentando para a definição de algarismos
significativos, aos colegas interessados em nossa previsão para a magnitude penumbral deste eclipse, informaríamos simplesmente: 0,990, valor que tem
2/3 de chance de estar entre 0,989 e 0,991.
Durante a observação deste
eclipse, recomendamos preferencialmente a utilização da vista desarmada, de binóculos
e de câmeras fotográficas com alto zoom. Tente registrar o avanço do
obscurecimento do disco da Lua por vídeos e fotos e busque obter curvas de luz
da Lua, utilizando fotômetros de câmeras; observando-a através de binóculos
invertidos e comparando o brilho observado com o de estrelas próximas; ou ainda,
empregando outro sistema fotométrico simples. Anote também os horários do
início e fim da percepção da penumbra. Isso permitirá aferir a fração da
penumbra que lhe tiver escapado à visão. Não se esqueça de testar seus
instrumentos e procedimentos observacionais nas noites que antecederão o
evento. Use a tabela a seguir como guia. Ela exibe nossas previsões para
observadores com diferentes sensibilidades.
Por favor, envie-nos seus
registros e imagens para análise. Boas observações!
Instantes de Início e Fim da percepção da
penumbra p
Magnitude
Não Observável |
Detecção
(Fração de Observadores que percebem) |
Início
(10/02) TUC Hora
de Brasília+2h |
Fim
(11/02) TUC Hora
de Brasília+2h |
0,00 |
Teórico
(0) |
22:34 |
02:53 |
0,50 |
Fotográfico (0) |
23:17 |
02:10 |
0,60 |
Olho
Nu (1/100) |
23:27 |
02:00 |
0,70 |
Olho
Nu (1/10) |
23:38 |
01:49 |
0,75 |
Olho
Nu (1/3) |
23:44 |
01:43 |
0,80 |
Olho
Nu – (1/2) |
23:51 |
01:36 |
0,85 |
Olho
Nu – (3/4) |
23:58 |
01:29 |
0,90 |
Olho
Nu – (1) |
00:07
(11/02) |
01:21 |