APRENDIZAGEM OPERATÓRIA DOS NÚMEROS INTEIROS :
História, Obstáculos Epistemológicos e Estratégias Didáticas
O número é um conceito fundamental
em Matemática que tomou forma em um longo desenvolvimento histórico.
A origem e formulação deste conceito ocorreu simultaneamente
com o despontar e desenvolvimento da Matemática.
As atividades práticas do homem, por um lado, e as exigências internas da Matemática, por outro, determinaram a criação e a expansão do conceito de número. A necessidade de contar objetos levou ao aparecimento do conceito de número natural. Todas as nações que produziram formas de escrita introduziram o número natural e promoveram a criação de um sistema de contagem. O progresso subseqüente do conceito de número realizou-se devido ao próprio desenvolvimento da Matemática.
A construção formal dos números inteiros processou-se ao longo de vários séculos. Durante centenas anos, eles foram considerados como
Os matemáticos indianos descobriram os números negativos quando tentavam formular um algoritmo para a resolução de equações quadráticas. Destacam-se os trabalhos de Brahmagupta (628), em que se encontra, pela primeira vez a aritmética sistematizada dos números negativos [Boyer, 1998, p. 150]. Brahmagupta advogava o uso dos números negativos para representar pertences ou dívidas. São curiosas as suas regras para as operações com inteiros:
Nos séculos XVI e XVII, muitos matemáticos europeus não apreciavam os números negativos e, se esses números apareciam nos seus cálculos, eles consideravam-nos falsos ou impossíveis. Michael Stifel (1544) recusou-se a admitir números negativos como raízes de uma equação, chamando-lhes de "numeri absurdi" [Smith, 1958, p. 260] . Já Cardano (1545) considerava a possibilidade de os números negativos serem raízes de uma equação, embora chamando-os de "numeri ficti" [Smith. 1958, p. 260].
Outras contribuições à essa construção formal dos números inteiros encontram-se nos trabalhos de al-Khowarizmi (séc. IX), Fibonacci (séc. XIII), Chuquet (séc. XV), Bombelli (séc. XVI), Viète (séc. XVII), Harriot (séc. XVII), Fermat (séc. XVII) e Hudde (séc. XVII).
A partir do final do século XVII e ao longo do século XVIII, a criação e divulgação do Cálculo Diferencial e Integral passou a exigir uma fundamentação mais rigorosa do conceito e propriedades dos números inteiros. Essa árdua e apaixonante missão foi empreendida por vários matemáticos do século XIX, destacando-se Weierstrass, Cantor, Dedekind, Peano e Haenkel, que estabeleceram as propriedades axiomáticas da caracterização dos números inteiros como um domínio de integridade, quais sejam:
Glaeser [1985] aponta e identifica, nesse percurso de formalização axiomática dos números inteiros, uma série de obstáculos de natureza epistemológica, tais como:
Na perspectiva piagetina do desenvolvimento cognitivo, uma das principais razões para a dificuldade de assimilação dos números inteiros talvez resida no fato de os alunos da sexta série encontrarem-se na transição entre o estágio operatório concreto e o operatório formal.
De maneira apurada, Teixeira [1993, p. 62-67] detalha as operações mentais, do ponto de vista cognitivo, requeridas para a compreensão dos números inteiros. Entre elas, pode-se destacar: a conscientização da existência dos números negativos, que conduz, por abstração reflexiva, à idéia de que são menores que os positivos; a descoberta , por meio de abstrações reflexivas e generalizações indutivas e dedutivas, da existência de um ponto onde positivo e negativo originam-se; a ampliação do significado do zero, a partir da concepção da ausência de quantidade, chegando-se à sua diferenciação na concepção de zero de origem; compreensão de que os números negativos e positivos representam estados e operações; ampliação dos conceitos de adição e subtração, bem como a reconstrução do conceito de operador multiplicativo; concepção dos inteiros com base na negatividade ou realidade reversíveis, a que se chega por abstrações reflexivas e generalizações completivas.
Uma série de estratégias didáticas são utilizadas na superação dos obstáculos apresentados pelos alunos, sejam de natureza ontogenética (internos ao sujeito) ou epistemológica (intrínsecos ao conteúdo). Procura-se, assim, estabelecer uma ponte entre o conhecimento espontâneo e o conhecimento formal, de tal forma que os próprios alunos consigam estabelecer as propriedade operatórias dos números inteiros, encontrando respostas para os quatro maiores problemas da construção dos números inteiros, conforme assinala Baldino [1998, p. 4]:
Modelos ligados a conteúdos de experiências vividas pelo aluno em seu dia-a-dia, podem ser vistos como ponto de partida para a criação de contextos significativos para a aprendizagem operatória dos números inteiros. Nessa perspectiva Brolezzi [1991, p. 8], acentua que
Uma outra estratégia didática que propicia a criação de contextos altamente significativos para a aprendizagem dos números inteiros reside na utilização pedagógica de jogos tradicionais e computadorizados. Os jogos podem ser considerados como um importante meio educacional, pois propiciam um desenvolvimento integral e dinâmico nas áreas cognitiva, afetiva, lingüistica, social, moral e motora, além de contribuir para a construção da autonomia, do espírito crítico, da criatividade e cooperação entre as crianças e adolescentes. Assim, os jogos, através de sucessivas desequilibrações e acomodações, podem contribuir sobremaneira para a construção, pelo aluno, das regras operatórias do conjunto dos números inteiros.
Para justificar a adoção dos jogos como estratégia para construção de conhecimentos matemáticos, Borin [1996, p.9] argumenta sobre a
Desta forma, faz-se necessário adotar estratégias didáticas que permitam o enfrentamento e superação desses obstáculos, através da elaboração uma seqüência didática para o ensino-aprendizagem dos números inteiros que contemple a utilização de de situações problemas relacionadas ao cotidiano dos alunos e jogos didáticos adequadamente selecionados ou por eles mesmos elaborados, propiciando a criação de contextos altamente significativos para a aprendizagem operatória dos números inteiros.
Procedendo-se à introdução das operações
por meio dessa estratégia didática, poderemos fazer com que
os próprios alunos assimilem e construam as regras dos sinais, dos
casos aditivos e multiplicativos, objetivo maior do trabalho com o conjunto
dos números inteiros.
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