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DIÁRIO DE VIAGEM DE D. PEDRO II

"Na Cidade de Castro"

 

"Chegada à uma hora. Casa do Juiz de Direito Vasconcellos onde está a livraria pública, mas cujos livros se lêem fora, por pedido escrito. Tem já boas obra. Conversei com o francês José Bailly que parece conhecedor de agricultura. Ofereceu-me uma bandeira cuja haste, etc., é formada dos produtos vegetais de sua plantação e da Província. Centeio, cevada, trigo, aveia, vinha, batata, etc. Deu-me duas garrafas de vinho feito por ele com dois cachos de uva americana. Talvez Bailly seja aproveitável, mandei-o ao ministro.

O vigário é italiano. Já aqui há banda de música, bem como a havia em Campo Largo, Palmeira e Ponta Grossa. Um Firmino deu-me algumas velas de cera muito bem feitas. Cria abelhas.

29 de maio (sábado). Cinco horas. Acordei. Vou continuar o diário de ontem. Às três, jantar. Igreja que se repara, antiga matriz, grande e ficará muito decente. Igreja como está agora o Sacramento - pequena, porém decente.

Câmara Municipal, sobrado com cadeia embaixo. Não é má. Os livros da cadeia não estão em regra. Padrões métricos, quase como os dos outros municípios. Renda 3 a 4 contos, 800$000 de ordenados. Passeio até o rio Iapó, afluente do Tibagi. Ponte longa de madeira, em mau estado e é caminho de São Paulo. Bonita vista da ponte para ambos os lados e do alto de além. O rio com a cheia cobriu uma das margens, ficando um cercado dentro d'água. O rio é piscoso e ao jantar serviram tubarana. A Câmara proibiu certos meios de pescar e vedou-a nos meses de outubro, novembro, dezembro e janeiro.

Conversei no passeio com o Manuel Inácio do Canto e Silva, que disse-me ter dividido as fazendas entre os filhos e possuírem todas de 7 a 8.000 reses. Murici fala de 12.000. Pareceu-me pelo que ouvi a diversos que não cuidam de melhorar a criação. Canto e Silva atribui a diminuição do gado a fazer mais conta alugar os pastos aos criadores de mulas de São Paulo.

No passeio, entrei no jardim onde vi uma bela figueira do antigo vigário Dâmaso, primo do senador Correia, que foi atacado de paralisia. Numa casa térrea junto ao jardim habitou o bispo D. Mateus. À volta, conversei sobretudo com a viúva Ericksen, irmã da marquesa de São Vicente e mãe do juiz municipal Araldo e juiz de Direito Conrado. Uma filha é casada com o juiz municipal daqui, fulano Bless, filho de colono. É senhora inteligente, e que esteve na Europa com o marido dinamarquês. Residiam em Santos quando lá estive em 1846. Nasceu em Mato Grosso e seu irmão foi o tenente-coronel Faria e Albuquerque. É professora da aula pública de meninas.

Às 7 horas estava na aula noturna de adultos. O mais velho tem 60 anos e o mais moço, 13 anos. Notei que o professor que também o é da diurna de meninos não tinha já ensinado o indispensável da doutrina religiosa. O que interroguei somente sabia ler mal e somar como recitar muito mal o Credo e o Padre Nosso. Não tinha escrita na aula. Animei o inspetor juiz de Direito Vasconcelos a agenciar a subscrição para a casa de aulas. Ouvi-lhe que são duas as bandas de música da cidade.

As ruas são largas e direitas as que correm ao comprimento da colina. Durante meu trajeto de Ponta Grossa até cá, li o relatório de Tefé sobre o porto de Antonina, que encerra bastante idéias dignas de estudo. Disseram-me que cai bastante geada aqui, mas o dia de ontem só teve manhã fresca. O presidente informou-me do Bailly. Esquecia-me dizer que da cidade vieram três grupos de cavaleiros em diversos pontos a meu encontro e a cavalgada sobre as colinas produzia bonito efeito.

30 de maio (domingo). Às sete horas de ontem fui à propriedade de Bailly que veio com outros encontrar-me ao caminho que é mau nalguns lugares. Mostrou-me a aveia que colheu, e a plantada está bem verdinha. Possui vacas e cento e tantos carneiros. Disse-me que são necessários 150 para estrumarem um are. Quer vender a terra. Faz selas. Tem três filhos.

Vi uma mulher de papo, e outras pessoas de papo tenho encontrado na Província. Aulas. Dona Emília Ericksen parece-me muito boa professora, contudo não explicou ainda a doutrina às meninas. O netinho dela leu bem, o que estava preparado aliás, apesar de muito vivo. Os meninos mostraram pouco adiantamento; um contudo, resolveu um problema de juros simples." (Vol. I do Boletim do IHGeParanaense, transcrito em Os Iapoenses de Oney Borba)

 

 

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