Entrevista com Brian Weiss - Pioneiro da Terapia de Vidas Passadas
O Dr. Brian Weiss é médico diplomado pela Universidade de Yale, com
especialização em Psiquiatria na Universidade de Columbia. Foi professor de
Medicina em várias faculdades americanas e publicou mais de quarenta ensaios
científicos nas áreas de psicofarmacologia, química cerebral, distúrbios do
sono, depressão, ansiedade, distúrbios causados pelo abuso de drogas e mal de
Alzheimer.Diretor emérito do
Departamento de Psiquiatria do Mount Sinai Hospital, em Miami, Dr. Weiss viaja
constantemente para promover palestras e workshops sobre seu trabalho. Contribui
para diversas publicações acadêmicas, jornais e revistas, como The Boston
Globe, The Miami Herald, The Chicago Tribune e The
Philadelphia Inquirer, entre outros.
Além disso, ele é diretor de uma clínica
particular em Miami que conta com psicólogos e assistentes sociais altamente
capacitados e treinados para aplicar a Terapia de Vidas Passadas (TVP).
Dr. Weiss foi responsável pela popularização
da TVP, embora ela já fosse utilizada por alguns psicanalistas na tentativa de
curar pacientes com problemas psicológicos mais graves. A publicação do livro
Muitas Vidas, Muitos Mestres foi decisiva para este processo.
Há 15 anos, o
psiquiatra americano Brian Weiss começou a tratar uma paciente que mudaria o
rumo de seu trabalho. Formado pela Universidade de Yale, com especialização na
Universidade de Columbia, em Nova York, Weiss trabalhava com psicanálise e usava
o método da hipnose com seus clientes. Durante uma sessão, Catherine, uma mulher
perturbada e deprimida, pulou da infância para uma vida passada. A história foi
relatada no livro Muitas vidas, muitos mestres, publicado no Brasil pela Editora
Salamandra. O episódio aconteceu a quatro paredes, no consultório de Weiss, em
Miami. O médico ainda resistia em acreditar na regressão de Catherine, até que
ela relatou a morte do filho dele, com detalhes que só o psiquiatra e sua mulher
conheciam. "Parece que esse tipo de informação veio para provar que a Catherine
dizia a verdade. Até então eu era absolutamente cético", conta Weiss. Depois de
Catherine, Weiss, com 51 anos neste corpo, passou a trabalhar com a terapia de
vidas passadas, técnica que divulga por todo o mundo. O psiquiatra afirma que
tratou mais de 1,3 mil
pacientes e os
resultados são surpreendentes. Ele esteve no Brasil para uma série de palestras
em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e também para autografar seu
segundo título, Só o amor é real. O livro, sucesso editorial no Brasil com mais
de 100 mil exemplares vendidos, conta a história de outros dois pacientes,
Elizabeth e Pedro, duas almas gêmeas que se encontram nesta vida após
relembrarem muitas outras passagens de amor.
ISTOÉ - Como o sr. começou com a terapia de vidas passadas?
Brian Weiss - Eu não acreditava neste tipo de trabalho, mas a história de
Catherine me fez mudar de idéia. Ela é a personagem principal do livro Muitas
vidas, muitos mestres. Eu era catedrático de psiquiatria do Hospital Mount
Sinai, em Miami, quando a conheci, em 1981, e ela se tornou minha paciente.
Comecei a tratá-la por meio da hipnose para que ela se lembrasse de fases da
infância. Ela primeiro resistiu, porque estava com medo de se entregar
inteiramente e perder o controle da situação. Mas na hipnose isso não acontece.
Enfim, ela aceitou o tratamento e passou a se lembrar de traumas e problemas
acontecidos na infância. No entanto, os sintomas não desapareciam. Até que um
dia eu pedi a ela que regredisse, que voltasse à época em que os sintomas
começaram. Eu imaginava que ela fosse voltar para uma idade muito jovem. Em vez
disso, Catherine entrou numa outra era.
ISTOÉ - Isso o convenceu da seriedade do método?
Weiss - Não foi só isso. Depois desse episódio eu ainda tive 1,3 mil pacientes
com os quais desenvolvi esse trabalho.
ISTOÉ - O sr. trabalhava com hipnose antes da terapia de vidas passadas?
Weiss - Eu tinha aprendido a técnica da hipnose muitos anos antes, quando estava
fazendo a formação médica. Verifiquei que essa técnica era muito útil pois
permitia às pessoas voltarem bem cedo na vida. Mas, até surgir a Catherine,
nenhum paciente havia entrado em outras eras.
ISTOÉ - Ela era especial?
Weiss - Sim. E não acho que foi uma coincidência o fato de ela ter regredido,
havia um propósito específico. Catherine foi um meio para que eu pudesse tomar
contato com a existência dos mestres.
ISTOÉ - Quem são esses mestres?
Weiss - Eu não tenho certeza de quem são eles. Mas são certamente espíritos
muito evoluídos e que se dirigiram a mim através da Catherine.
ISTOÉ - O sr. passou a acreditar mais no que Catherine dizia quando ela relatou
a morte de seu filho?
Weiss - Ela não sabia absolutamente nada a respeito. No consultório não havia
nenhuma referência, como fotografias, por exemplo, dessa criança que morreu com
poucos dias de vida. E ela relatou com detalhes como tudo aconteceu. Parece que
esse tipo de informação veio para provar que a Catherine dizia a verdade. Até
então eu era absolutamente cético.
ISTOÉ - Depois que se convenceu da história de Catherine, o sr. passou a estudar
esse tipo de terapia?
Weiss - Comecei a me interessar, fui a bibliotecas, procurei livros a respeito.
Mas existia muito pouca coisa séria e científica sobre o assunto. De 1981 para
cá, isso mudou muito. Mesmo a crença das pessoas passou a ser mais forte. Uma
pesquisa recente do Instituto Gallup mostrou que nos Estados Unidos
27% da população acredita em vidas
passadas. E aqui no
Brasil, um país essencialmente espiritualizado, existem pelo menos três
entidades que trabalham com terapia de regressão.
ISTOÉ - Que sintomas de Catherine foram curados?
Weiss - Catherine tinha problemas de fobias e de depressão. Um dos sintomas dela
era uma sensação de estar se afogando. E ela se curou totalmente quando lembrou
o que ocorreu na outra vida. Ela era um garoto que morreu afogado.
ISTOÉ - Por que ao se lembrar do trauma a pessoa se cura?
Weiss - Esse processo é tipicamente psicanalítico. Freud defendeu que a partir
do momento em que a pessoa se confronta com um trauma muito forte ela faz uma
catarse. E por meio dessa catarse ela encontra cura para estes sintomas. No
fundo a técnica de regressão não é tão diferente da psicanálise. Só é mais ampla
porque entra em outros tempos, com mais possibilidades de encontrar as causas
para os traumas.
ISTOÉ - Uma pessoa que não tem a oportunidade de fazer a terapia de regressão
está fadada a voltar sempre com sintomas ruins?
Weiss - Não. Existem outras formas de curar um trauma. A terapia de regressão
talvez seja o jeito mais rápido. Mas outros tipos de terapia, como a
psicanálise, ajudam. O importante é entender o trauma. Aceitá-lo. Não fugir e
acreditar que aquele sentimento não passa de imaginação. Temos de aprender a
ouvir nosso corpo e nossa mente. Muitas vezes temos lembranças importantes nos
sonhos ou mesmo em lugares. Quantas vezes não temos a sensação de déjà vu e não
nos damos conta de que aquilo é uma lembrança? Entender esses sinais é também
uma maneira de solucionar o trauma.
ISTOÉ - Qual a diferença entre a terapia de vidas passadas e o espiritualismo?
Weiss - A terapia de vidas passadas, como o nome diz, é uma terapia, não uma
religião. Na terapia, os especialistas se atêm a fatos e à observação. Há um
cunho científico no processo. E isso se constata muitas vezes porque na terapia
pessoas com grandes traumas e aflições encontram nas regressões um contato com
uma forma de amor. Isso é uma maneira de curar. As religiões, sobretudo as
avançadas, também encontram no amor uma forma de realização espiritual. Então
existe esta coincidência, ou esta superposição.
ISTOÉ - O título de seu segundo livro é Só o amor é real. O sr. afirma isso em
alguns capítulos. O resto seria então uma ilusão?
Weiss - O amor é a principal forma de energia da qual decorrem todas as outras.
É a partir dele que tudo é criado. Nós não somos o nosso corpo, somos
basicamente uma energia que permanece, que dura mesmo depois da morte. Essa
energia é muito mais forte do que nós, é consciência, é a mente.
ISTOÉ - Carl Jung acreditava em vidas passadas. Mas muitos terapeutas, mesmo
adeptos de Jung, resistem a essa teoria. Por quê?
Weiss - Isso está mudando. Muitos psicanalistas começam a perceber que existe
uma realidade atrás dessa técnica nova. Alguns estão experimentando o método e
constatando que há muita semelhança entre o processo psicanalítico e o método da
terapia de regressão. Ambos procuram fazer uma confrontação e mesmo a lembrança
de determinadas vivências que podem ser também expressas como fantasias, como
coisas simbólicas, que podem ser trabalhadas dentro do processo psicanalítico.
Só resistem aqueles que não conhecem o método.
ISTOÉ - Quer dizer que uma fantasia também pode ajudar a curar os sintomas?
Weiss - Não. Elas podem ser trabalhadas no contexto terapêutico. São uma
ferramenta para o especialista, assim como os sonhos. Mas somente a lembrança
real é capaz de curar por si só. Com Catherine eu percebi isso de maneira muito
clara. Os sintomas eram concretos, reais. Numa fantasia você não tem um
envolvimento emocional tão profundo e nem um processo de catarse. Com a
regressão, há confrontação com o fato. Se bem que às vezes é muito difícil
separar fantasia de um fato real. Sobretudo quando se trata de uma vida muito
antiga da qual não há dados concretos.
ISTOÉ - Como separar o que é fantasia e o que é verdade?
Weiss - Às vezes é fácil. Não raro, uma pessoa começa a falar fluentemente uma
língua que não domina. Ou então quando os pacientes se referem a fatos
históricos, detalhes específicos de determinada época, com os quais não têm
nenhum conhecimento. Mas no processo terapêutico não se dá tanta importância à
realidade absoluta. O importante é trabalhar com o material que o paciente vai
trazendo. Como na psicanálise.
ISTOÉ - Quanto tempo pode durar uma terapia de regressão?
Weiss - Semanas. Ou meses. Mas em geral de três a seis meses são suficientes. Eu
tenho interesse em que o processo seja reduzido. Tanto que eu forneço aos meus
pacientes uma fita cassete para eles levarem para casa. Com isso eles treinam
relaxamento e meditação, que vão facilitar muito o trabalho no consultório.
ISTOÉ - Para quem é indicada a terapia de vidas passadas?
Weiss - Normalmente não uso este tipo de terapia com psicóticos ou pessoas que
têm problemas cerebrais, como mal de Alzheimer. São pessoas que não têm
capacidade de concentração, então o processo fica muito difícil. De um modo
geral, fora essas exceções, normalmente faço a terapia com qualquer outro tipo
de caso. No começo eu só tratava de pessoas com sintomas graves. Mas depois
ampliei o campo por perceber que todo mundo tem problemas que merecem ser
vistos.
ISTOÉ - Na filosofia espiritualista, ao passar de uma vida para outra a pessoa
passa por um aprendizado, uma limpeza. Por que ainda assim as almas voltam
carregadas de traumas?
Weiss - Eu acredito que a vida, aqui na Terra, é como se fosse um enorme campo
de provas. Aprendemos com a lição dos mestres, mas é aqui que vamos provar que
de fato trouxemos a lição no coração. E, de qualquer maneira, trazemos marcas
antigas, os nossos carmas. Isso faz parte do nosso processo de aprendizado.
ISTOÉ - A pessoa tem de aprender com o trauma?
Weiss - Sim. Por isso pergunto sempre aos pacientes: "O que você aprendeu com
isso?" Uma vez que você aprende você é curado. E mais: nem sempre da primeira
vez é suficiente para se incorporar este conhecimento profundamente no coração.
Então muitas vezes você vai ter de passar por mais de um processo.
ISTOÉ - As pessoas que estão na Terra são todas almas velhas?
Weiss - Não posso afirmar com certeza se existem almas virgens. Mas acho que a
Terra é um dos estágios de uma escola e muito difícil para almas novas. Acredito
que existam outras dimensões e muitas almas vêm de lá. Aqui é mais um lugar para
se aprender.
ISTOÉ - O sr. acredita em vida em outros planetas?
Weiss - Sim. Mas essas dimensões podem ser planetas que não enxergamos. Uma
dimensão diferente da nossa.
ISTOÉ - De volta ao trauma. Pedro, por exemplo, personagem do livro Só o amor é
real, sentia dor no pescoço até lembrar que fora esfaqueado naquele lugar. Por
que a lembrança é também física?
Weiss - Tudo faz parte de uma mesma energia. O corpo é como se fosse a impressão
da alma. O trauma fica imprimido e também se manifesta fisicamente. É também
dessa maneira que aparecem muitos sinais inexplicáveis de nascença. Pode ser que
o outro corpo carregasse esses sinais.
ISTOÉ - Todos temos almas gêmeas, como ocorreu com Pedro e Elizabeth, de Só o
amor é real?
Weiss - Todos nós temos almas gêmeas. Calcula-se que há dez almas gêmeas para
cada pessoa em média. Pode ser um amigo, namorado, irmão, filho. Pode-se
identificar essas almas pelo olhar, pelo toque. Ou quando se conhece alguém e se
tem a sensação de tê-lo visto antes. Trava-se uma intimidade difícil de explicar
em palavras.
ISTOÉ - Durante a terapia todo mundo pode ver os fatos das vidas passadas?
Weiss - Isso varia muito de pessoa para pessoa. Alguns quando estão no processo
profundo de transe conseguem ver ou só ouvir. Outros sentem determinadas
situações e alguns conseguem perceber tudo de uma vez só.
ISTOÉ - Nessa terapia o sr. se depara com pacientes carregados de culpa, como
acontece nas terapias tradicionais?
Weiss - Sem dúvida. E a culpa a rigor é uma emoção absolutamente inútil, que só
provoca desgaste. A culpa na verdade nos é ensinada através das religiões, que
usam isso para controle. Em especial as reli-giões ocidentais nos ensinam culpa.
As verdadeiras religiões espiritualistas ensinam o amor e não a culpa.
ISTOÉ - O sr. segue alguma religião?
Weiss - Nasci judeu nesta vida. E me interesso, particularmente, pela cabala.
ISTOÉ - O sr. se viu em vidas passadas?
Weiss - Eu tive algumas experiências com regressão, com ajuda de minha mulher, Carol, que também é terapeuta. Nessas regressões, descobri que já fui, entre
outras coisas, padre católico e monge budista. É por esse motivo que acredito
que não devemos ter preconceito contra nenhuma religião nem contra nenhuma
pessoa.
ISTOÉ - Durante sua estada no Brasil, algumas pessoas famosas, como a Xuxa, o
procuraram para tentar uma regressão. O sr. tem pacientes famosos?
Weiss - De fato, eu tive um encontro com a Xuxa. Ela é uma ótima pessoa, com
muito amor no coração. Nos Estados Unidos sou muito procurado por pessoas
importantes como artistas e políticos. Mas existe um código de ética e eu não
posso revelar o nome deles a não ser que eles permitam ou falem a respeito.
ISTOÉ - Eles eram pessoas famosas em outras vidas também?
Weiss - Nem sempre. Não foram Napoleão, príncipes ou princesas. Alguns tiveram
naturalmente posições hierárquicas importantes. Mas, de um modo geral, não tenho
encontrado pessoas muito famosas. Na maioria dos casos, são vidas bastante
comuns.
ISTOÉ – Nessas terapias, mães, pais e irmãos aparecem em outras vidas como
maridos e namorados. As pessoas lidam bem com isso?
Weiss – Reconhecer pessoas no passado ou no futuro é muito comum. Nós
trocamos de corpo, de país, de religião para aprender sobre todos os lados. É o
propósito da vida. O que sentimos é amor, não há nada de incestuoso, de
negativo. As pessoas estão conectadas, viajam juntas para aprender.
ISTOÉ – Qual o intervalo entre
vidas?
Weiss – Pode ser de uma semana ou de um século, depende da necessidade.
Pessoas que morrem violentamente costumam voltar logo porque as lições continuam
lá. Eu morri em 1942 ou 1943 na Tchecoslováquia e nasci em 1944. Na Suécia, um
médico pesquisou pessoas que na regressão se viram como vítimas na Segunda
Guerra. Elas lembraram de nomes e números tatuados em seus braços que bateram
com os registros de guerra. Quando me viu, ele me disse, chocado: "Eu morri com
você". Ele me reconheceu.
ISTOÉ – Por que esquecemos das
vidas passadas?
Weiss – Várias culturas acreditam que esquecer é uma forma de proteção.
Acho que cada vida é um novo teste para saber se o aprendizado já faz parte de
nossa natureza, se está no coração e não só na mente. A Terra é a escola, onde
temos que aprender a não-violência, a compaixão, a paciência, a amorosidade.
ISTOÉ – Podemos acertar numa vida
e errar numa posterior?
Weiss – Temos o livre-arbítrio e o destino, os dois coexistem. O destino
é o plano para uma existência, mas o livre-arbítrio lhe permite escolher o que
quer fazer. Por exemplo, há planos de você viver com uma pessoa, você decide não
cumpri-los. Pode ter uma vida produtiva, mas, se naquele compromisso falhou,
procurará outra oportunidade para cumpri-lo. O importante é que nunca morremos e
progredimos sempre.
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