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Carlos Scliar

Carlos Scliar







Scliar, Auto-retrato, 1940 (detalhe)

CARLOS SCLIAR - 1920-2001


"Pinto porque gosto. Pintar é minha preocupação constante, inclusive quando não estou pintando. Todos os dias descubro algo. Gosto de mostrar meus quadros e me surpreendo, permanentemente, com a reação das pessoas. Pinto porque gosto e porque quero me comunicar". O pintor é um homem dentro do mundo, com suas responsabilidades acrescidas da responsabilidade especial de comunicação e atuação. É pela pintura que o pintor melhor se entende com o público e, se não for o caso, que faça outra coisa. Cada um diz o que sabe e como pode.
"Não gosto de falar sozinho. Considero-me um homem rico da experiência de todos os homens, de todos os tempos. Se puder transmitir esse calor não será inútil minha presença. Transformo minhas estadas em Ouro Preto e Cabo Frio em laboratórios de liberdade. Tento pôr a nú tudo o que, ao longo do ano, dos contatos com as pessoas e com as coisas, me espicaçou. Utilizo todos os meios para pôr meus quadros em contato com o público: exposições, reproduções, televisão, cinema, tudo o que permite sentir esse calor que destrói o isolamento."

(Trechos de Scliar para o catálogo da retrospectiva A PERSISTÊNCIA DA PAISAGEM, em 1991, no MAM/Rio).








Scliar nasceu em Santa Maria. Criou-se em Porto Alegre e, em 1940, em São Paulo, fez sua primeira exposição individual. "É um rapazola louro, tímido e orgulhoso, brasileiro, filho de uns excelentes judeus de Porto Alegre. Está sofrendo da febre da pintura e veio parar em São Paulo. Chegou há dois dias e se chama Carlos Scliar. Guardem logo este nome para evitar trabalhos mais tarde. Vocês vão ouvir falar muito nele." Desta forma, Rubem Fonseca iniciou seu texto Scliar publicado no jornal Folha da Noite, de São Paulo, em 1º de fevereiro de 1940. O "rapazola" Scliar estava então com 19 anos, embora afirmasse ter 20. Em pouco tempo, o garoto conquistava respeito, admiração e até mesmo uma exposição individual, sobre a qual Oswald de Andrade escrevia em 6 de agosto de 1940: "Há em São Paulo, um clima propício às artes desde a célebre Semana de 1922. Os pintores, principalmente, estão realizando trabalhos interessantíssimos. Agora mesmo, um menino gaúcho acaba de inaugurar sua exposição de pinturas com grande sucesso. Esse menino é uma vocação verdadeira. Seu nome? Carlos Scliar".
A acolhida colorosa e a convivência com o borbulhante meio artístico paulista fomentaram a energia do rapaz, que se embrenhou visceralmente produzindo, ao longo de mais de 60 anos, centenas de desenhos, gravuras, colagens, pinturas, assegurando-se como um dos nomes mais importantes da arte brasileira. Uma extensa, rica e lírica trajetória que terminou em 28 de abril de 2001, quando, aos 80 anos de idade, Scliar morreu no Rio de Janeiro. No início de março já doente, ainda acompanhou algumas exposições comemorativas aos seus 80 anos. Na ocasião comentou: "Quero mostrar que aos 80 anos, estou renovando a pintura. Em qualquer idade você é outro, enriquecido". Segundo Paula Ramos, de quem é o texto que estou transcrevendo, não se pode dizer que ele tenha renovado a pintura. O tratamento dessas obras dialoga com seus trabalhos anteriores: forte inspiração cubista (representada pelas colagens e sobreposições de ângulos de uma mesma figura; o uso livre e sereno de um colorido tonalista; sombras discretas; a inserção de elementos gráficos como letras, partituras musicais e números. Os elementos formais também denunciam a marca de Carlos Scliar: lampiões, garrafas, bules, xícaras, frutas, todos compondo atemporais naturezas mortas. Estamos, portanto, diante de um artista que tem uma poética própria e que jamais a abandonou. Ao contrário, incrementou-a. Aí está a renovação de Scliar.
O refinamento técnico sempre acompanhou o trabalho de Scliar, seja nas gravuras ou pinturas. Segundo a Professora do Instituto de Artes do RGS, Ana Albani de Carvalho, "outra noção mais sutil também parece perpassar o conjunto de sua obra. Algo como um ensaio poético sobre a noção do tempo, um tempo congelado, desdobrado quadro a quadro, dentro de uma mesma obra".

Fonte bibliográfica: Paula Ramos,texto publicado na Revista APLAUSO - Cultura em Revista - Ano4 nº28 2001.



Fonte: Revista APLAUSO Ano4 nº28 2001.


Alguns sites sobre Sclair:
http://www.galeriandre.com.br/scliar.html
http://www.galeriandre.com.br/obscing.html
http://www.redelitoral.com.br/jornal/scliar2.htm

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