DE MULHER PARA MULHER
Finalmente o dia chegara! A expectativa era grande. Aquela mulher, após anos
de dor e sofrimento em diferentes crises, iria ter a oportunidade de eliminá-las
através de mãos competentes, e grandemente pesquisadas.
Os últimos vinte dias não tinham sido fáceis para ela. Quase chegara a
enlouquecer de dor. E sem contar com a peregrinação para o levantamento físico
real: ressonância magnética, tomografia, eletrocardiograma, os inúmeros exames
de sangue etc. etc. etc. Estava calma, estava segura, estava contida.
Seu companheiro tinha sido incansável no acompanhamento e sustentação de que era
amada. Seus familiares também. Seus amigos também. A espera para a chamada
cirúrgica transcorreu normalmente.
Meio dia e trinta e cinco minutos (12:35h) ela foi colocada na maca. Previsão:
três horas de cirurgia. Sua filha aproximou-se então e disse: - Mãezinha, fiz um
acordo com Nossa Senhora. Ela colocar seu manto sobre a mesa cirúrgica e guiará
as mãos dos médicos. Acredite nisso! Disso ela já tinha certeza! Havia se
formado uma corrente de oração entre familiares, amigos, clientes. Ela estava
tremendamente amparada.
Chegou na sala cirúrgica, sendo alegremente acolhida por todos que lá estavam.
Permaneceu ainda alguns minutos na maca para os procedimentos normais. Quando
foi passada para a mesa, ainda conseguiu observar as metragens, números, cores,
riscos pintados sobre ela. Então ela viu!!! Um imenso manto, vagarosamente,
estava sendo estendido. Um manto vermelho encarnado, com bordados em ouro, sobre
a mesa. E ela “apagou”. Acordou no quarto, já operada. Seis horas haviam sido
gasta na cirurgia, bem maior o tempo que os médicos haviam previsto.
A sua recuperação cirúrgica evoluiu normalmente. Afinal, os “Anjos do Hospital”
estavam atentos a tudo, dia e noite. E ainda os “Anjos Amigos” ainda continuavam
a rezar por ela, numa imensa corrente de oração contínua. Mas aconteceu uma
complicação estomacal que não escolhia hora para se manifestar de formas
diferentes de dores.. Nada parava em seu estômago, nem a água gelada. Mesmo
assim, ela conseguiu dormir bem, recuperando as forças através do sono.
Sua relação com Deus sempre aconteceu, embora de maneira muito individual, e
masculina. Não freqüentava igrejas habitualmente, só de forma social. Quando
reza, seja para pedir ou agradecer, é para Deus, diretamente ou para o Menino
Jesus ou para o “Anjo da Guarda”, dependendo da súplica ou agradecimento.
Num dia, quando estava sentindo-se bem, sem as habituais náuseas, sua filha
novamente se aproximou e perguntou: Mãezinha, você tem rezado? Não filhinha,
nenhuma vez...e deu aquela desculpa: Não consigo sentir-me bem ainda. Naquela
noite após vomitar nada mais que cinqüenta vezes e ser medicada, ela não
conseguia dormir. Não sabia o motivo, pois aparentemente o estômago havia-lhe
dado uma trégua. Virava-se para cá a para lá na cama, mas o sono não vinha.
Então resolveu rezar e iniciou: “Ave Maria cheia de graça...e as palavras foram
fluindo, uma após a outra, passando por sua mente como se fora uma água corrente
deslizando sobre uma superfície lisa. Inúmeras vezes foi repetindo a oração.
Perdeu a conta da quantidade. Foi aos poucos sendo envolvida por uma paz seguida
de muita emoção.
E aí o acontecimento!!! Viu claramente, uma mão suave de dedos longos e magros,
puxar de cima de si, o mesmo manto encarnado, bordado a ouro que havia visto na
mesa de cirurgia. E ouviu silenciosamente, essas palavras:“Minha amiga ,este
manto agora cobrirá outra pessoa que necessitará dela mais do que você”
A emoção tomou-lhe conta de todo o corpo. Os espasmos que agora sentia não eram
mais de dor, mas sim causados pela emoção que acompanhava um choro silencioso.
Continuou então a rezar até o amanhecer.
Quando a outra filha que a acompanhava aproximou-se para atendê-la
habitualmente, perguntou-lhe: dormiu bem? Ela respondeu: Passei a noite em
claro, mas acabo de pagar uma dívida para com uma grande Amiga.
Texto composto por DIRCE SILVA MACHADO, por ocasião de sua cirurgia de coluna em
Curitiba, no dia 29 de abril de 2.002.