ATO DE FÉ (Homilia, na Missa de Corpo presente).
Santa Cruz do Rio Pardo, 29 de julho d e 1.98l.
Amigos, o ato de fé que tantas vezes preguei para vocês, hoje é a minha vez de
fazê-lo, e o faço com tranqüilidade e absoluta certeza. Eu creio na vida eterna.
Eu creio que mamãe está viva e mais do que nunca presente , mais do que nunca
rezando por mim e pela irmã Rosária, pela Elza e pelo Zezinho, porque está no
seio de Deus e Deus está aqui. Em qualquer lugar onde eu esteja, Deus está, e
mamãe também.
Eu sei que essa vida inteira de sofrimento que ela levou, teve um sentido,
porque desembocou direta na visão de Deus. Mamãe não precisa de purificação,
purificou-se a vida inteira no caminho do seu calvário, que ela subiu na
paciência e na paz, sempre, todos os dias. O terço que estava continuamente
enrolado em suas mãos, e ela rezava sem parar, e a comunhão cotidiana, até mesmo
ontem, arrastaram-na direto para o céu.
Desde o dia em que eu entrei na Escola Apostólica ela rezou por mim, e foi por
isso que eu pude celebrar meus 25 anos de sacerdócio, sem ficar parado pelo meio
do caminho. A última missa que celebrei para ela foi a fios 25 anos, e na hora
do ofertório, entregando- me uma rosa, ela disse: acompanhei você até hoje, vou
acompanhar até a eternidade. Durante a missa eu pensei: papai me esperou
sacerdote , esperou os votos perpétuos da irmã Rosaria, depois foi para Deus.
Será que mamãe também esperou esta festa?
Clima de festa, aqui, no sábado; em São Paulo, no domingo . Irmã Rosária pede
para que ela durma: "pra que dormir? Não é festa?”. É ela foi fazer a festa
maior lá no céu. No mesmo sábado à tarde, piorou . Quando parti, disse-me:
quando você voltar, vai me achar na eternidade . "Deixa disso, mamãe; Deus é
quem sabe". No domingo ainda disse : "a Missa já terminou, agora estou pronta".
Faz 23 anos que papai faleceu; nos últimos 15 dias quantas vezes ela falou: "que
saudades do meu companheiro!" Agora já se reencontraram.
Terça-feira voltei, e ainda deu tempo: "a benção, mamãe!" E com uma dificuldade
enorme, apenas movendo os lábios: "Deus te abençoe ". Pedi a Deus que esperasse
mais um pouco, que não a levasse assim tão perto da festa. Pai nosso que estais
nos; céus, seja feita a Vossa Vontade, assim na terra como no céu. Deus já fez
muito deixando-a esperar essa Missa dos 25 anos de padre.
As duas lembranças estarão agora tão amarradas que isso vai marcar
definitivamente minha vida de sacerdote. Ele certamente isso que Deus quis;
tenho que procurar ser fiel, não poderei decepcionar mamãe, nunca. Em todo lugar
e todo momento, estará sempre comigo, lembrando meu compromisso e rezando por
mim. Foi até hoje, e agora mais ainda, a minha intercessora, a minha santa
protetora.
Arrumei a igreja com carinho para a minha missa, e não sabia que a estava
arrumando também para ela. Hoje estava marcado para ela ir à Santa Casa e depois
passar aqui para ver a igreja. Veio sim, mas para vê-la com outros olhos. E aí
está, é a Missa que continua, com a mesma ornamentação, as mesmas flores; é a
consumação do sacrifício.
É, a festa que continua, agora lá no céu, na companhia do papai, dos três
anjinhos que se foram cedo, das irmãs Maria e Aracy. A surpresa: “Oh! vocês já
por aqui? Porque não me falaram nada?”
Obrigado, Deus, por esta mãe, por sua vida, pelos seus sofrimentos, pelas suas
orações. Obrigado, mamãe. A benção, mamãe! Quando a senhora quiser levar-me,
estou pronto também.
Frei Estêvão Nunes (Pároco da Paróquia de Santo Antônio em Curitiba/PR/2004)