FOI MESMO NO DIA 25 DE DEZEMBRO
(Frei Lourenço Maria Papin, OP)
Estamos em pleno
Advento, quatro semanas de preparação espiritual para a celebração da Solenidade
litúrgica do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo no dia 25 de dezembro.
Estudiosos de Liturgia e Bíblia nunca
admitiram o dia 25 de dezembro como data histórica do nascimento de Jesus.
Segundo eles, o papa Libério teria instituído arbitrariamente a Festa do Natal
nesse dia, no ano 354, com o intuito de cristianizar grandes festas pagãs que se
realizavam no mês de dezembro. Nesse dia, por exemplo, no oriente, a religião
persa celebrava o “Nascimento Vitorioso do Sol”. Como ocorre no fim de dezembro
o solstício do inverno, os antigos falavam de um “sol novo” que nessa época se
fortalecia para iniciar um novo ano de vida. Em Roma, comemorava-se a chamada
Saturnália. Os senhores romanos, do dia 17 a 24 de dezembro, tratavam seus
escravos como se fossem livres, dando-lhes presentes, admitindo-os a comer em
suas casas. No dia 25, porém, voltavam à sua condição de escravidão, já
excluídos da mesa dos patrões!
Um jornalista católico italiano,
Vittorio Messori, escreveu um artigo no jornal Corriere della Sera afirmando
que, graças notadamente aos famosos documentos ou manuscritos de Qumran do Mar
Morto, Jesus nasceu mesmo no dia 25 de dezembro. Messori é o único jornalista,
até hoje, que longamente entrevistou um papa, João Paulo II, dando origem ao
livro intitulado: Cruzando o Limiar da Esperança.
Messori fundamenta sua afirmação no
depoimento de um professor judeu, não cristão, da Universidade Hebraica de
Jerusalém, Shemarjahu Talmon.
O ponto de partida da extraordinária
descoberta foi um versículo de São Lucas que, ao narrar a concepção de João
Batista no ventre de Isabel, coloca um detalhe que sempre passou desapercebido:
Seu esposo Zacarias era sacerdote da classe de Abias; quando lhe coube servir no
templo no turno de sua classe, o anjo Gabriel lhe anunciou que Isabel conceberia
um menino. (Cf. Lc 1, 5-19)
O professor Talmon, baseando-se em
textos dos documentos de Qumran, conseguiu precisar que Zacarias, sendo da
classe de Abias, só poderia estar prestando serviço no templo na última semana
de setembro. E aqui cabe lembrar que antigas Igrejas do Oriente (ligadas à
Igreja primitiva-cristã de Jerusalém) celebram uma festa litúrgica, entre 23 e
25 de setembro, comemorando o anúncio do anjo a Zacarias e a concepção de João
Batista.
Observemos agora atentamente as datas das seguintes festas litúrgicas:
- 23 a 25 de setembro: Anúncio e Concepçãoo de João Batista (festa nas antigas
Igrejas do Oriente).
- 25 de março: Anunciação do Senhor e sua Concepção no ventre de Maria, seis
meses após a concepção de João Batista, como narra São Lucas. (Lc 1, 26))
- 24 de junho: Nascimento de João Batista completando os noves meses de sua
gestação.
- 25 de dezembro: Nascimento de Jesus, commpletando os nove meses de sua
gestação.
Diante de tudo isso, estou convicto que o papa Libério, conhecendo certamente a
acima citada festa litúrgica oriental, não teria estabelecido aleatoriamente a
data de Natal. Cristo nasceu mesmo no dia 25 de dezembro, iniciando uma nova
fase da história da humanidade.
E claro que infinitamente mais importante do que essa descoberta histórica é o
mistério inefável de Deus que se fez homem na pessoa de Jesus, por nosso amor e
para nossa salvação.
25 de dezembro, marco divisor da história da humanidade, pode também tornar-se
um marco divisor da história de cada um de nós, indicando o início de uma vida
nova que corresponda ao imenso amor do Senhor para conosco.