Semáforos Nada te espera, prosa. Levanta-te e caminha, como fez o outro. As imagens guardam o seu tempo de exaltação. Os sentimentos, não. Não te preocupes com o homenzinho triste que entrava o teu caminho, a porta não adivinhada. O homem dos quarenta anos pede-te boleia. Não olhes, não ligues, resiste aos seus lamentos de cabra desgarrada em cima duma pedra. Ele quer é seduzir-te com a infância, essas crias medrosas que nunca soube orientar e não sabe agora o que fazer com elas. O teu destino é outro. Continua. Se o homenzinho chora, atira-lhe ao olhar toda a imensidão da relva que lhe resta. O que ele quer é seduzir-te com amores, as fátuas labaredas do desterro e de vergonha. O teu futuro és tu. Cresce e aparece. A prosa que se preza não dá ouvidos a gente que traz nas mãos um punhado de víboras afinal tão amestradas. Se o homenzinho implora, indica-lhe o lugar a que tem direito no circo: uma pista feita de memória e toda uma plateia que cansada urra e que o pateia. Nada te espera, prosa. Deixa o homem gritar. O mundo das imagens é só seguir em frente e nunca alcançar a rosa.
|
© 1998 - 2005. Lídia Pereira. Todos os Direitos Reservados. |