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I

...Se vamos levando enganos?
Chegamos. Rostos se apagam,
vão somando semelhanças
com outros rostos já vistos
(Ai de nós, se subtraem
sempre mais tristes, sofridos).
- Ninguém se conhece. E nós
sabemos de cada um:
nascido é um novo sentido,
por isso nos entregara. Que compreendemos
demais.
E nós mesmos, coagidos
a largar-nos sem aviso
de razão: comprazimento.

Tão fora de nós, tão dentro,
andamos quebrando a sede
nos corredores sem água.
Apenas em nós se guarda
a certeza, esta certeza
de tantas portas fechando
em outras portas se abrindo.
Aqui encerra o domínio
nosso mundo repartido. As sombras,
jardim de loucos, protegem esta subida:
são plantas? Respira a noite.
É o vento? Seriam as vestes
bem alvas, mais que tecidas
da enfermeira sem rosto
e braço - no escuro nos conduzindo?

Ah! Existem outras escadas
que subimos mais por dentro.
No balaústre uma estátua
se apóia em nosso receio.
Paramos. Eis uma porta
imensa. Crescemos tanto!

E, passando,
pequeninos. Novos degraus
mas pequenos, sempre mais
nos reduzimos.

A enfermeira, distante,
era negra e para sempre
atrás das portas, da noite,
do jardim, branco vestido.

 

Maria Ângela Alvim

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