SÃO PAULO
Até o final do
século XIX, São Paulo era a região mais pobre do Brasil, era longe
demais, de difícil acesso e com praticamente nenhuma possibilidade de
crescimento econômico, já que aqui não existia nenhuma riqueza mineral (ouro,
diamantes..) e não conseguiram ter sucesso no plantio da cana-de-açúcar
em larga escala (principal produto do Brasil) mas em poucas décadas,
tornou-se uma das regiões mais ricas de toda a América
Latina, em 500 anos o que o Brasil conseguiu...?
"A pobreza dos tempos coloniais
jamais levaria a imaginar a pujança e o dinamismo econômico, social
e cultural, que são característicos de São Paulo. Quem
construiu toda essa riqueza? "
HISTÓRIA DE SÃO PAULO*
A colonização
de São Paulo começou em 1532 quando, em 21 de janeiro, Martim Afonso de
Souza fundou a vila de São Vicente, uma das mais antigas do Brasil e a
mais remota da Colônia. Continuando com a exploração
da terra e em busca de novos gentios a evangelizar, um grupo de jesuítas,
do qual faziam parte José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, escalou a
serra do mar chegando ao planalto de Piratininga, onde encontraram,
segundo cartas enviadas a Portugal, "uma terra mui sadia, fresca e de
boas águas". Do ponto de vista da segurança, a localização topográfica
de São Paulo era perfeita: situava-se numa colina alta e plana, que
facilitava a defesa contra ataques de índios hostis. Nesse lugar,
fundaram um colégio em 25 de janeiro de 1554, ao redor do qual se iniciou
a construção das primeiras casas de taipa, que dariam origem ao povoado
de São Paulo de Piratininga.
No início, São Paulo
vivia da agricultura de subsistência, aprisionando índios para
trabalharem como escravos na frustrada tentativa de implantação em
escala da lavoura de cana-de-açúcar. Assim, na segunda metade do século começariam as viagens de
reconhecimento ao interior do país, as "bandeiras", expedições
organizadas para aprisionar índios e procurar pedras e metais preciosos
nos sertões distantes, dando início ao desbravamento das Minas Gerais.
Em 1681, São Paulo foi considerada cabeça da Capitania, que incluía então
um território muito mais vasto que o do atual Estado. Embora em 1711 a
vila tenha sido elevada à categoria de cidade, o próprio êxito do
empreendimento bandeirante fez que a Coroa desmembrasse a capitania, para
ter controle exclusivo sobre a região das Minas. Por isso, ao longo de
todo o século XVIII, São Paulo continuava sendo apenas o quartel-general
de onde não cessavam de partir as "bandeiras", responsáveis
pela ampliação do território brasileiro a sul e a sudoeste muito além
da linha de Tordesilhas, na proporção direta do extermínio das nações
indígenas que colocavam resistência a esse empreendimento. Disso tudo
resultou a proverbial pobreza da província de São Paulo na época
colonial, carente de uma atividade econômica lucrativa como a do cultivo
da cana-de-açúcar no Nordeste, contando sobretudo com a mão-de-obra do
indígena e desfalcada de seus homens válidos, que partiam para o sertão
a redesenhar as fronteiras do Brasil.
Durante os três
primeiros séculos de colonização, o número de índios e mamelucos
superou em muito o de europeus. Até meados do século XVIII, predominava
entre a população uma "língua geral" de base tupi-guarani,
sendo essa língua franca a mais falada em toda a região. No período da
união das coroas ibéricas, entre 1580 e 1640, estima-se que o espanhol
fosse a segunda língua da vila de São Paulo. Após a Independência, em
1822, os africanos representavam algo em torno de 25% da população, e,
os mulatos, mais de 40%. Era já então insignificante a presença de índios
nas zonas ocupadas pela colonização, e em especial nas lavouras de açúcar,
implantadas com êxito no litoral norte e na região entre Itu e Sorocaba.
Assim, a grande virada da economia paulista só aconteceria na passagem do
século XVIII para o XIX, quando as plantações de café começaram a
substituir as de cana-de-açúcar e a se preparar para ocupar o primeiro
plano na economia nacional.
O fim da Colônia se
antecipa, no próprio período colonial, com a chegada da família real
portuguesa ao Brasil em 1808, fugindo ao avanço das tropas napoleônicas.
D. João VI deu então início a uma série de reformas que, da
arquitetura ao ensino superior, da civilidade urbana aos empreendimentos
artísticos, deveriam adequar o país para sediar o Vice-Reinado que
abrigava a Coroa portuguesa, e que de fato preparariam sua independência.São Paulo também se beneficiaria em muito dessas transformações. Foi
em território paulista que, em 7 de setembro de 1822, o herdeiro do trono
português, o príncipe Dom Pedro, declarou a Independência do Brasil,
sendo aclamado Imperador com o título de Dom Pedro I. Com sua renúncia
nos anos 30, em meio à agitação política contra o domínio português,
seguiu-se o conturbado período da Regência que, na segunda metade do século,
com a ascensão ao trono de D. Pedro II, cederia lugar a um período de
inusitado desenvolvimento e prosperidade do país, sobretudo após a
consolidação da agricultura cafeeira como o principal produto de exportação
brasileiro.
Foi nessa época que São Paulo passou a assumir uma posição de destaque
no cenário nacional, com o avanço dos cafezais, que encontraram na terra
roxa do norte da província o solo ideal. A expansão da cultura do café
exigiu a multiplicação das estradas de ferro, iniciando-se então
(1860-1861) em Santos e São Paulo os trabalhos da construção da Estrada
de Ferro Santos-Jundiaí, a São Paulo Railway, responsável pelo primeiro
trem a ligar as duas cidades. Esse foi um período de grandes transformações,
marcado pela crise do sistema escravocrata, que levaria à Abolição em
1888 e que daria lugar, entre outros fatos, à chegada em massa de
imigrantes, principal alternativa de solução ao problema da mão-de-obra
na lavoura cafeeira.
São Paulo prosperou muito nessa época e a capital da província passou
por uma verdadeira revolução urbanística, resultado da necessidade de
transformar uma cidade acanhada, pouco mais que um entreposto comercial,
em capital da nova elite econômica que se impunha. Em meados de 1860, a
cidade de São Paulo já era bem diferente da antiga cidade colonial. Os
primeiros lampiões de rua queimavam óleo de mamona ou de baleia e a
cidade já contava com um parque público, o Jardim da Luz, que passaria
por extensas reformas no final do século. Nesse período, à medida que a
cidade se expandia em todas as direções, consolidava-se também um núcleo
urbano moderno em torno de alguns marcos simbólicos, como a Estação da
São Paulo Railway e o Jardim da Luz. Ao seu redor instalaram-se bairros
residenciais de elite - os Campos Elíseos -, com seus bulevares ao estilo
parisiense, como a avenida Tiradentes. Mas as estradas de ferro também
permitiram que surgissem novos bairros populares ao lado da Estação da São
Paulo Railway, como o Bom Retiro e o Brás, cujo povoamento foi reforçado
pela instalação, nas proximidades, da Hospedaria dos Imigrantes. Também
os edifícios públicos multiplicaram-se: assembléia, câmara, fórum,
escolas, quartéis, cadeias, abrigos para crianças desamparadas. Dezenas
de igrejas, conventos e mosteiros ainda continuavam, como nos tempos
coloniais, a espalhar-se por toda parte. Na área cultural artistas de
circo, atores de teatro, poetas e cantores começaram a consolidar seu
lugar na cidade, junto com o primeiro jornal periódico.
Mas as transformações no período também assumiram outras facetas. A
chegada de milhares de imigrantes, além de resolver o problema da mão-de-obra
da lavoura cafeeira, permitiu maior ocupação do interior do Estado.
Criaram-se as condições necessárias para que pequenas fábricas,
subsidiárias do café, dessem os primeiros passos em direção à
industrialização. Com o interior já integrado ao cenário do rápido
crescimento da província, começou haver a preocupação com a construção
de novas estradas, prevendo-se a interiorização dos cafezais e a
prosperidade que seria sacramentada com a República.
O fim do Império já
estava selado quando foi declarada a Abolição da Escravidão em 1888. A
perda de apoio das elites conservadoras, agravada pelas fricções do
imperador com a Igreja, na chamada "Questão religiosa", e a
crise no Exército após a guerra do Paraguai, origem da "Questão
militar", determinariam a queda de Dom Pedro II. Assim, ele seria
deposto por um movimento militar liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca
em 1889. Teve início então o primeiro período republicano no Brasil. Até
1930, a República é controlada pelas oligarquias agrárias de São
Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A importância econômica do café
produzido em São Paulo e do gado de Minas Gerais sustenta a "política
do café-com-leite", em que paulistas e mineiros se alternam na
presidência da República. Na verdade, São Paulo apenas mantinha o poder
que conquistara com a consolidação das novas bases econômicas do país
nas últimas décadas do Império. A ferrovia puxava a expansão da
cafeicultura, atraía imigrantes e permitia a colonização de novas áreas,
enquanto nas cidades a industrialização avançava, criava novos
contornos urbanos e abria espaço para novas classes sociais, o operariado
e a classe média. Mais próspero do que nunca, e agora um Estado de
verdade dentro da Federação, São Paulo via surgir a cada dia uma
novidade diferente: a eletricidade substituía o lampião a gás; chegavam
os primeiros carros (o primeiro de todos pertenceu ao pai de Santos
Dumont, em 1891); cresciam as linhas de bondes elétricos; construíam-se
na capital grandes obras urbanas, entre elas, o Viaduto do Chá e a
Avenida Paulista.
A singularidade desse período está na forma intensa com que tudo se
multiplica, desde a imigração, que no campo sustenta a cafeicultura, até
o desenvolvimento das cidades, que levam São Paulo a perder suas feições
de província e tornar-se a economia mais dinâmica do país. Todo o
Estado paulista se transforma. Santos, Jundiaí, Itu, Campinas e diversas
outras vilas passam a conviver com o apito das fábricas e com uma nova
classe operária. As greves e as "badernas de rua" tornam-se
assunto cotidiano dos boletins policiais, ao mesmo tempo que começa a
saltar aos olhos a precariedade da infra-estrutura urbana, exigida pela
industrialização. Um dos graves problemas passou a ser a geração de
energia, centro de atenção das autoridades estaduais. Já em 1900, fora
inaugurada a Light, empresa canadense e principal responsável pelo setor
em São Paulo até 1970. O Estado passou a ter uma significativa
capacidade de geração de energia, o que foi decisivo para o grande
desenvolvimento industrial verificado entre 1930 e 1940. Nessa nova
conjuntura, mais de uma dezena de pequenas hidrelétricas começaram a ser
construídas, principalmente com capital estrangeiro.
Nesse período da Primeira República, a aristocracia cafeeira paulista
vive o seu apogeu. Mas a Revolução de 1930 coloca fim à liderança da
oligarquia cafeeira, trazendo para o primeiro plano os Estados menores da
Federação, sob a liderança do Rio Grande do Sul de Getúlio Vargas. As
oligarquias paulistas ainda promovem, contra o movimento de 1930, a Revolução
de 1932, mas são derrotadas, apesar da pujança econômica
demonstrada pelo Estado de São Paulo.
Em 1930, os trilhos de suas ferrovias chegavam às proximidades do rio
Paraná e a colonização ocupava mais de um terço do Estado. As cidades
se multiplicavam. Socialmente, o Estado, com seus mais de um milhão de
imigrantes, tornou-se uma torre de Babel, profundamente marcado pelas
diferentes culturas trazidas de mais de 60 países. Mas na última década
da República Velha, o modelo econômico e político que sustentava o
predomínio de São Paulo mostrava seu esgotamento. Após a Revolução de
1930, o país viveu um período de instabilidade que favoreceu a instalação
da ditadura de Getúlio Vargas, período de oito anos que terminou
juntamente com a Segunda Guerra Mundial, que abriu um período de
redemocratização e a instalação da chamada Segunda República.
Entretanto, no plano econômico, o café superou a crise por que passou no
início da década de 1930 e foi estimulado por bons preços durante a
guerra, favorecendo a recuperação de São Paulo. Mas, agora, era a vez
da indústria despontar, impulsionada, entre outros motivos, pelos
capitais deslocados da lavoura. Logo, outro grande salto seria dado, com a
chegada da indústria automobilística em São Paulo, carro-chefe da
economia nacional desde a década de 1950. A partir daí, o Estado
paulista se transformou no maior parque industrial do país, posição que
continuou a manter, apesar das transformações econômicas e políticas
vividas pelo Brasil.
A pobreza dos tempos coloniais
jamais levaria a imaginar a pujança e o dinamismo econômico,
social e cultural, que são característicos de São Paulo. Quem
construiu toda essa riqueza?
Em primeiro lugar, o que se poderia chamar de "espírito
bandeirante" de São Paulo. O que é notável desde os
primeiros tempos coloniais é que, num território inóspito, uma
população escassa de colonos portugueses intensamente misturada
à populações indígenas nativas e, mais tarde, aos escravos
africanos - para formar este mundo de mamelucos, cafuzos e mulatos
da capitania e depois província colonial - fosse capaz, movida
pelo gosto da aventura e pela ambição, de sustentar um
empreendimento de vulto e tão arrojado como a organização das
"bandeiras", que resultariam na redefinição do território
nacional em suas fronteiras atuais. É essa população cabocla,
essencialmente mestiça, que manteve por três séculos a cultura
tradicional paulista, a cultura "caipira" encontrada
ainda no interior do Estado.
Mas engana-se quem vê nessa cultura uma forma de "atraso".
Feita de lealdade mesclada a uma sossegada e manhosa astúcia,
esta é uma cultura de homens e mulheres que sempre souberam tirar
proveito das circunstâncias, como instrumento de sua própria
sobrevivência, nas condições de penúria proverbial que sempre
foram, até o século XIX, as da província paulista. É sobre
essa cultura tradicional que vem se enxertar, na segunda metade do
século XX, a imigração, que imprimiria à vida de São Paulo
seu dinamismo insuperável.
Qual é a base da mistura cultural do paulista? A resposta correta
é: o Mundo! Afinal, no início da imigração, homens e mulheres
de mais de 60 países se estabeleceram em São Paulo, em busca de
oportunidades. Eles aqui foram acolhidos porque a província
paulista necessitava de mão-de-obra para a lavoura cafeeira e,
hoje, estima-se que São Paulo seja a terceira maior cidade
italiana do mundo, a maior cidade japonesa fora do Japão, a
terceira maior cidade libanesa fora do Líbano, a maior cidade
portuguesa fora de Portugal e a maior cidade espanhola fora da
Espanha. A mistura de raças, etnias e culturas se acentuou com o
correr do tempo e marcou profundamente a vida cultural, social e
econômica da cidade.
O final do século XIX e início do século XX marcaram um período
de transformações mundiais. Guerras e revoluções resultavam em
desemprego e fome na Europa. Populações inteiras rumavam para
longe de suas terras, buscando refúgio às perseguições étnicas,
políticas e religiosas. As informações da existência de uma
terra nova e cheia de oportunidades chegavam em além-mar. Havia
portanto mais que os portugueses, aqui presentes desde o
Descobrimento, os negros africanos, obrigados a cruzar o Atlântico
como escravos, e os índios, a atrair para a colonização do
Brasil.
Numa prudente política migratória, os monarcas brasileiros
trataram de atrair novos imigrantes, oferecendo lotes de terra
para que se estabelecessem como pequenos proprietários agrícolas.
Depois, com a Abolição da Escravatura em 1888, a opção foi a
imigração em massa para substituir o trabalho escravo. Os
imigrantes eram embarcados na terceira classe dos navios e vinham
instalados nos porões dos vapores, onde a superlotação e as
precárias condições favoreciam a proliferação de doenças, de
modo não muito distinto dos antigos navios negreiros. A diferença
era que, agora, já não se tratava de transportar escravos para o
Brasil. Muitos imigrantes morreram pelo trajeto. Da Europa até o
porto de Santos, a viagem demorava até 30 dias. O governo,
apoiando a importação da mão-de-obra, recebia-os em alojamentos
provisórios.
A partir 1887 passaram pelo complexo da Hospedaria do Imigrante
em São Paulo, perto de 3 milhões de pessoas. A Hospedaria tinha
alojamentos, refeitórios, berçário, enfermaria e hospital. O
conjunto abrigava a Agência Oficial de Colonização e Trabalho,
responsável pelo encaminhamento das famílias para as lavouras no
interior. A partir de 1930 a Hospedaria passa a atender também ao
movimento migratório interno. T
Hoje , o complexo abriga o Museu da Imigração que reconstitui a
saga dos imigrantes e presta uma justa homenagem àqueles heróis
anônimos que ajudaram a construir o Estado paulista. Na virada do
século o imigrante constituía o grosso do operariado paulista.
Em 1901 o Estado contava com cerca de 50 mil industriários. Menos
de 10% eram brasileiros. A maioria absoluta era de italianos,
seguidos de portugueses, espanhóis, alemães e poloneses, entre
outros. Cada imigrante tinha um bom motivo para se aventurar nessa,
então, terra desconhecida mas cheia de esperança.
* Conteúdo
encontrado no site do Governo do Estado de São Paulo (www.saopaulo.sp.gov.br)
|
|
Site
sobre os imigrantes
www.memorialdoimigrante.sp.gov.br
|