Valença
de Ontem e de Hoje
CAPÍTULO 7
ASPECTOS SOCIAIS
CULTOS RELIGIOSOS E FESTAS POPULARES
A Tradicional Festa da Glória
Santo Antônio do Carambita e a Devoção de D. Maria Romana
N. S. do Rosário e o Devoto Miguel Tomáz
Diocese de Valença e seus Titulares
PARÓQUIA
DE N. S. DA GLÓRIA — Quando a civilização bateu às portas do povoado de
Valença, em 1813, as terras valencianas eram, apenas, um núcleo de índios —
os chamados “Coroados” — que tinham sôbre a pequena colina, onde hoje se
ergue a Catedral, a sua minúscula capela, sob a invocação de Nossa Senhora da
Glória, graças aos catequizadores José Rodrigues da Cruz e padre Manuel Gomes
Leal, que lançaram os fundamentos da aldeia. A paróquia de N. S. da
Glória de Valença foi criada por D. José Caetano, aos 15 de agôsto de 1813,
ato êsse confirmado pela Côrte, aos 19 de agôsto de 1819.
A pequena
capela era, então, um conjunto de “toscos esteios de madeira, com paredes de
palmito e ripas, ligadas por cipó imbé, emboçadas de ligeiras camadas de
barro e cobertas com ramos de palmeira”. Circundava-a urna cêrca, ao lado
da qual existia um pequeno cemitério onde eram enterrados os índios (em
terreno onde se encontram a caixa d’água e os prédios então pertencentes ao
finado comendador Nicoláu Leoni, à rua Domingos Mariano), em cujo centro se
erguia uma grande cruz de madeira.
Algumas
choupanas, de aspecto tôsco, se espalhavam, aqui e ali, nas imediações da
capelinha.
Curiosamente
a História de Valença” (1924) — de Luiz Damasceno, nos relata que o
primeiro livro de batizados, que data de 1809, encontrado no arquivo da paróquia,
traz o assentamento de 59 pessoas batizadas, das quais 42 índios e o do cacique Tanguára que,
ao ser batizado, recebeu o nome de Hipólito. Infelizmente, por um descuido
imperdoável, o precioso livro de registro de batizados não é mais encontrado
no arquivo da Catedral de Vaiença .
Em 1820
teve início a construção da igreja quando, então, vigário da freguesia, o
padre Joaquim Cláudio de Mendonça. Sob os auspícios dêsse vigário e do barão
de Aiuruoca (major Custódio Ferreira Leite), foi aberta, entre os fazendeiros
e moradores da freguesia, uma subscrição popular, para a construção da
capela-mor, coberta e assoalhada, depois, em 1825.
Desta
data em diante, teve início a celebração dos atos religiosos.
Entre
as lendas da região, uma há — o “Cêrro da Coroa” — que é, por excelência,
a lenda valenciana, porisso que
nasce dos alhores do aldeiamento local e mostra a origem da primitiva imagem de
N. S. da Glória imperando no alto da colina, como Padroeira de Valença. Não
é preciso pôr em reIêvo a sensibilidade e
a imaginação do selvícola que, com o elemento português e italiano,
caldeou nos valencianos, em muitos, o sangue, e, em todos, o espírito.
Ao
fundo, uma serra (que havia de chamar-se um dia — a dos Mascates), aos lados, montes mais baixos, e defronte, bem mais
longe, a outra serra (mais tarde - a das Cobras) . O “Coroado”, de certo
ponto da serra, contempla o extenso tapête da mata virgem que cobre, ondulante,
serras, montes e vales.
De
repente, em baixo da primeira serra, parece que o veludo verde das franças
luxuriantes se move e se ondeia, criando umas elevaçõezinhas arredondadas,
como se fossem pequenos tumores que crescessem na epiderme terráquea.
Igreja Catedral de Valença - 1917
O
fenômeno desperta atenção, surpreende. O selvícola observa-o, dias e dias,
receioso, à distância, incansàvelmente. O aspecto, porém, se fixa. Depois,
perdido o temor, chegando com cautela, vê que entre as meias-laranjas, uma
difere das demais, dir-se-ia uma puira de
pai-tucura (coroa de frade capucho),
com um ponto escuro num dos lados mais altos. Chega perto, enfim. E’ um cêrro
quase escampo, circundado por uma grinalda de árvores pequenas, troncos
esbranquiçados e esguios, pouca folhagem, mas cheios de parasitas em flor. E a
mancha de um lado, ao alto, é uma frondosa “árvore que chora”. De fato,
quem sob ela se encontra, em certas ocasiões, vê cair lágrimas, que não são
de chuva, porque não chove; nem são de orvalho, porque o momento não é próprio
dêle.
Surpreso
e encantado, o grupo de pesquizadores selvagens se retira para o seu
acampamento, levando o resultado maravilhoso da sua descoberta; e, ao longe,
sob a beleza de um anoitecer colorido e encantador, vê ainda que, inclinado
para a serra dos Mascates, desce do céu um comprido filete de luz que se abre sôbre
a elevação.
Não
há, pois, mais dúvida. O Juyteraipuira
(o “Cêrro da Coroa”, é um Sarakena +
oca = lugar famoso ou da glória),
para o qual se transferem e onde estabelecem, ao lado da “árvore que
chora”, a sua capela
(tupaoca-miri).
A
chegada do elemento civilizador não destrói a lenda, antes sofre-lhe a influência,
alterando-lhe embora o aspecto. Dando-lhe novo sentido, por observá-la de acôrdo
com a sua tendência, a santidade local, primeiro devia provir de uma santa, e
logo depois essa santa seria Nossa Senhora da Glória, para, dentro em
pouco, de simples hipótese, passar à verdade incontestável, em face de um
milagre...
“Quando
por aqui aportaram os portuguêses, isto lá pelo ano de 1817, um dêles se
apaixonou por uma índia bonita e sedutora, talvez a mais linda entre os
“Coroados” da redondeza. Casou-se o estrangeiro com ela. E do matrimônio
veio um pimpolho, seis meses depois vítima de moléstia gravíssima que levou
os pais ao desespêro. Mas, o português, devoto de Nossa Senhora da Glória,
vendo que o pequeno não melhorava e faltando-lhe os recursos da metrópole, fez
uma promessa àquela santa: mandaria vir de Portugal uma imagem de N. S.
da Glória, si o menino se salvasse. Operado o milagre, cumpriu-se a promessa,
instalando-se, então, um oratório na capelinha (dos índios), onde a imagem
foi posta à veneração da população portuguêsa e indígena, a qual, há
mais de cem anos, é levada em procissão, em rico andor, pelas ruas da cidade,
na data tradicional de 15 de agôsto — o dia
dos valencianos”
O
poeta valenciano Arnaldo Nunes imortalizou a lenda, compondo os seguintes versos
que se intitulam “O Cêrro da
Coroa”:
“O ouro dilucular o oriente borda;
O
sol desponta; a terra inteira acorda
Por
muitas léguas ao redor fulgura
Um imenso tapête de verdura,
E tudo que antes era mudo e quêdo.
Desperta
agora e canta — no arvoredo,
Nas
clareiras e no ar, ao movimento,
Que
se acentua — perfumado o vento!
E
o Coroado, chegando à culminância,
Da
Serra dos Mascates, à distância,
Do
Sopé à outra serra ao longe erguida,
Distende
o olhar e, de alma comovida.
Cheio de encantamento e de surprêsa
Embriaga-se de sonho e de beleza;
Em vórtice descendo lá da altura
Sôbre o lindo tapête de verdura,
-
Cachoeiras de luz e de harmonia
Contradansa de côr e de
estesia!
E
o formoso tapête de
altas franças,
Soltando lá
em baixo as amplas tranças
À carícia
dos ventos
e das côres
Ao selvícola espanta, pois parece
Que da crosta terráquea pronto cresce
Uma esquisita série de tumores!
Dias e dias, sonda e estuda, atento.
E
dos cêrros cessado o
"crescimento"
Provocador de célere alarido
Por todo o bosque em derredor ouvido,
Eis
que já agora o selvagem sem receio
Se
aproximando a pouco e pouco, cheio
De admiração e de curiosidade
Por
tão maravilhosa novidade!
Chega, afinal, em baixo, a passo lento,
Sob
o grande esplendor do firmamento.
Beleza
se destaca e mais encanta:
O próximo
da serra — escampo, ao lado
De
uma “Árvore-Chorona”, circundado
De
ramagem que em flor desabotoa,
Na
configuração de uma coroa!
Vai-se
afundando o
sol no incêndio que arde
No ocidente e devora a linda
tarde.
Volta o índio para o seu acampamento
E
já distante, que deslumbramento!
Do
rubro céu partindo, reclinado
Na
Serra dos Mascates, um doirado
Estilete
de luz santa se côa
Aberto
sôbre o “Cêrro da Coroa”!...
Que
tarde olímpica, maravilhosa!
Tudo canta, sorri e sonha, e goza
Que
tarde olímpica, maravilhosa!
Em
bailados, requebros e torneios,
Em
suspiros, arruIos e gorgeios
E’
Tupã que ao Coroado enfim descerra,
Do alto, o "Sarakenoca" aqui na terra!
— Glória
a “Tuixáua” pela grande nova!
E
no tôpo do cêrro, então, singela,
O
indígena constrói sua capela!
Capela
à sombra da “Árvore-Chorona”
Na
qual o
português depois entrona,
Por
um milagre célebre operado,
Nossa
Senhora da Glória,
Entre
o cerimonial mais requintado,
Como
no dia da maior vitória!
E
ei-la no alto do “Cêrro da Coroa”,
No resplendor da sua glória imensa,
—
Secular Padroeiro que abençoa
A
bendita Cidade de Valença!
Em
1832, o cidadão Joaquim Pinheiro de
Souza promoveu uma subscrição e, com recursos próprios, deu andamento à
construção do corpo da igreja.
VEN.
IRMANDADE DE N. S. DA GLÓRIA — Em 1836 criou-se e foi instalada a Venerável
Irmandade de N. S. da Glória. E’ do teor seguinte a ata de sua fundação e
instalação.
— “Acta da creação e installação da Irmandade de N. S. da Gloria da
Igreja Parochial de Valença. Aos vinte dias do mez de Abril do ano de Nosso
Senhor Jesus Christo, de mil oitocentos e trinta e seis, reunidos na Igreja
Parochial de Valença, os devotos abaixo assignados, sob a presidencia do Revmo.
Parocho da Freguesia Joaquim Claudio Vianna das Chagas, deliberarão crear e
installar a Irmandade de Nossa Senhora da Glória, Padroeira desta Igreja
Parochial e sendo lido o compromisso da mesma Irmandade foi ele approvado e
adaptado; deliberando-se que sendo posto em limpo e organizado pela meza subisse
à aprovação do Governo Imperial e do Ordinario. Foram eleitos para comporem a
mesa que deve servir no corrente anno de mil oitocentos e trinta e seis: —
Juiz — Exmo. Visconde de Baependy; Secretario — Major José Indefonso de
Sousa Ramos; Thesoureiro — José da Silveira Vargas; Procurador — Major João
Antonio da Silva Péres. Consultores: — D. Manoel da Assis Mascarenhas, Revmo.
Vigario Joaquim Claudio Vianna das Chagas, Revmo. João Baptista Soares de
Meirelles, Padre João Joaquim Ferreira de Aguiar, Cap. João Pinheiro de
Souza, Major Genuíno Antonio da Silva Peres, Joaquim Pinheiro de Sousa, o
Sargento-mór João Francisco Leal, Cap. Bernardo Vieira Machado, José Alvares
Pinto, o cirurgião Casemiro Lucio d’Azevedo Coutinho Rangel, o
alferes Pedro Gomes Pereira de Moraes. Juíza: — a lIma. D. Brandina
Eufrozina de Vasconcellos Faro. Ayas: — as Exmas. Marquesa de Baependy,
Condessa de Valença, Viscondessa dc Baependy e as Ilmas. donas Francisca Maria
Valle da Gama, Anna Rita de Faro, Isabel Maria da Visitação, Claudina
Felisminda da Silva, Joanna Maria da Conceição, Theodósia Candida Vieira
Maia, Francisca Joaquina Ermelinda, Anna Joaquina de São José e Maria Joaquina
da Silveira. Resolveu a mesa que houvesse sessão no dia seguinte, para a posse;
e levantou-se a sessão. E eu, Genuíno
Antônio da Silva Peres, secretário interino, que a escrevi e assignei.”
Essa
ata foi assinada por todos os presentes.
Em
1837, a Ven. Irmandade de N. S. da Glória, prosseguindo nas obras da igreja e
como não havia, até aquela data, recebido nenhum auxílio do govêrno da Província
do Rio de Janeiro, enviou à Câmara Municipal um ofício pedindo sua intervenção,
no sentido de obter-se imediato auxílio financeiro, para a ultimação das
obras da Matriz. Em 5 de junho dêsse ano foi lida em sessão da Câmara uma
portaria do govêrno da Província, declarando que “ficava entregue ao
Visconde de Baependy a quantia de 3:000$000 para as referidas obras e que, no
ano seguinte, expediria ordens ao Tesoureiro Provincial para entregar,
adantadamente, uma consignação mensal para aquelas obras e que se comunicasse
a Irmandade”.
Pelo
decreto N. 182, de 25 de abril de 1840, ficava a Irmandade de N. S.
da Glória autorizada a mandar extrair uma loteria em benefício das
obras da igreja. Essa loteria produziu 11:520$000, que o Visconde de Baependí,
por ordem do Juiz da Irmandade, cap. Peregrino José da América Pinheiro
(Visconde de Ipiabas), pôs a juro de 10% ao ano. Nova loteria se fez extrair em
1845, também autorizada pelo Govêrno.
Em
1857, o major Antônio Leite Pinto, por meio de uma subscrição popular
promoveu o douramento e a forração do corpo da igreja.
Os
quatro altares laterais foram construidos naquêle ano; um sob o patrocínio do
Visconde de Baependi; outro, por iniciativa do então deputado provincial João
Pereira Darrigue Faro que, para isso, fez
doação de seu subsidio anual de deputado. Os outros dois altares foram construídos
à custa do então vigário Joaquim Cláudio Viana das Chagas e do cidadão
Reginaldo de Sousa Werneck. O trono e o altar-mor
foram custeados pelo cap. Manoel Vieira Machado.
Além
da imagem menor, já citada anteriormente, há, desde 1862, uma outra imagem de
N. S. da Glória, no trono da capela-mor da Catedral, a qual constitui artístico
monumento em madeira, oferta do major José da Silveira Vargas, que a adquiriu
pela importância de 700$000. Em 1870, por duas vezes, em maio e novembro, o govêrno
da Província estendeu a sua mão benemérita, seu auxilio às obras da igreja,
concedendo pelo decreto N. 1517, de 28 de novembro dêsse ano, a
quantia 6:000$000.
Até 1871 -— segundo reza a “História de Valença”, da Luis Damasceno, — o templo era despido de tôrres, existindo, apenas, uma única, em miniatura, ao lado esquerdo da igreja onde, mais tarde, foi assentado e “batizado” o seu maior sino, fundido na própria cidade de Valença, pelo industrial francês Larivoir — o qual recebeu, então, o nome de Joaquim, em homenagem ao grande tribuno, seu paraninfo, dr. Joaquim Saldanha Marinho, mais tarde Senador da República. Êste sino tem a seguinte inscrição:
“Ao Santíssimo Sacramento, doação feita por Silvério José Pereira. 1855.” |
O seu pêso é de 83 arrobas e 8 libras.
Nêsse
mesmo ano, o govêrno da Província decretava que se consignasse nas verbas
legais a quantia de 30:000$000 para a conclusão das obras da igreja. Foi,
nessa ocasião, que a Irmandade da Glória nomeou uma comissão composta dos
mesários dr. Ernesto Frederico da Cunha, Antônio José da Silva Nogueira e Antônio
Furtado de Mendonça — para se fazer representar junto ao Govêrno, no sentido
de receber aquelas quantias destinadas às obras da Matriz. Data, portanto, de
1871, o início da construção das duas primitivas tôrres — serviço êsse
realizado às expensas do Govêrno da Província. Muito concorreram para a
efetivação dessas obras o Visconde do Rio Prêto e o cidadão João Marques de
Faria.
Terminada
a construção dessas tôrres — o que se verificou em 1874 — Manoel José
Vieira, negociante na cidade de Valença, fazia doação à igreja de um relógio
que até hoje vem prestando relevante serviço à população. E, assim, há
76 anos, o relógio da Catedral vem marcando o tempo que passa, assistindo à
passagem das geraçôes que vão e vêm, ao som das compassadas badaladas que
ecoam pelo ambiente ameno e silencioso da terra valenciana!...
Em
1888, em face dos constantes reparos a que estavam sujeitas as tôrres, o Govêrno
da Província autorizava a despender a quantia de 10.000$000, destinada ao
revestimento de suas cúpulas, tendo a Câmara Municipal concedido, em 1893, a
pedido do vigário Ladisláu Adolfo de SaIes e Silva, a verba de 2:000$000 para
aquêle fim. O mesmo vigário, por subscrição entre os paroquianos, promoveu,
em 1909, o consêrto de uma das tôrres.
Já
em 1911 se acentuava o estado de ruínas dessas tôrres, principalmente a do
lado esquerdo, que ameaçava cair. Foi, então, que o novo vigário da
Freguesia, padre Antônio Corrêa Lima, mandou demolí-la. Demolida a tôrre,
tratou o pároco de promover, não só a sua reconstrução, como também voltar
as suas vistas para a outra tôrre (a do lado direito) , ameaçada pelo mesmo
destino. Ouvidas, para isso, várias pessoas de influência social e muitas
tentativas foram infrutíferas, quando, em 1912, os srs. Luiz Damasceno Ferreira
e dr. Eugênio de Souza Nunes concordaram em abrir uma subscrição para essa
construção. Em uma reunião, realizada a 9 de março de 1913, sob a presidência
do dr. Eugênio de Sousa Nunes, a ela comparecendo grande número de
subscritores, ficou assentado constituir-se uma comissão para examinar, dar
parecer e promover a realização daquelas obras, tendo o cidadão Nicolau Leoni
proposto se comunicasse o fato ao vigário Antônio Corrêa Lima, bem como ao sr. Bispo de
Niteróí. A comissão se compunha dos cidadãos: Cel. Frederico de Ia Vega,
Lourenço Jannuzzi, Manoel Antônio Arêas, Francisco Ielpo, dr. José Hipólito
de Oliveira Ramos Filho, Luiz Damasceno Ferreira, José Lopes Domingues da
Silva, Nicolau Leoni, dr. Mario Castilho do Espírito Santo, major Heliodoro A.
de Oliveira Duboc e dr. Nicolau Abramo. Essa comissão, mais tarde, por
conveniência
administrativa, ficou reduzida aos membros seguintes: Francisco Ielpo, Luis
Damasceno Ferreira, Lourenço Jannuzzi e Nicolau Leoni.
Em
virtude de desentendimento havido entre essa comissão e o vigário Corrêa
Lima, aquela foi dissolvida e, por designação do aludido pároco, coube ao
cidadão Nicolau Leoni a incumbência de reorganizar a Irmandade de N. S. da Glória
que, há dez anos, se achava inativa, à qual foi, então, confiada a
responsabilidade
da reconstrução das duas tôrres.
Em
21 de setembro do mesmo ano foram pelo Juiz da Irmandade, engenheiro Mário
Castilho do E. Santo, apresentadas duas plantas para a projetada fachada da
igreja. Em 20 de outubro do mesmo ano, em nova reunião, o vigário Corrêa Lima
propôs se confiassem aquelas obras ao construtor Luiz Klots, residente em
Minas, tendo sido nomeada a comissão definitiva constituída dos cidadãos:
engenheiro Mário Castilho do Espírito Santo, Nicolau Leoni, dr. Nicolau Abramo,
Luis Damasceno Ferreira e Alfredo de Sousa Gomes, sendo êste último substituído pelo cidadão Francisco
Ielpo.
Com
a boa vontade do povo e das classes conservadoras do município, que acorriam
aos apelos, auxiliando com donativos valiosos, viu a “Comissão das Obras da
Igreja Matriz” terminadas as obras de reerguimento das duas tôrres.
A Ven. Irmandade homenageou ao dr. Mário Castilho, inaugurando no interior da Catedral uma placa com os seguintes dizeres:
Ao seu benemérito Juiz Dr. Mário Castilho do Espírito Santo, a Irmandade de N. S. da Glória de Valença agradecida. 15-8-1917. |
Os serviços das tôrres
importaram em 30:000$000.
Resolveu
a Irmandade construir, ao lado da Catedral, um espaçoso pavilhão destinado aos
tradicionais leilões, em substituição ao antigo barracão de zinco que se
levantava, na pequena praça, por ocasião das festas religiosas. O terreno em
que se ergue o pavilhão foi doado pela municipalidade e mede cêrca de 500
m2, tendo sido, mais tarde, adaptado para casa de espetáculos. Consta da
“História de Valença” que: “A 16 de agôsto de 1920 e, por ocasião
dos festejos do centenário da fundação da Igreja Matriz, teve lugar a inauguração do pavilhão, e que, naquêle dia
e nos três seguintes, se realizaram ali os primeiros espetáculos em
beneficio do seu acabamento. No aludido dia 16 inaugurou-se, também, a placa
comemorativa do centenário da Igreja, sendo ambas as cerimônias presididas por S. Excia. D. Agostinho Benassi, Bispo de Niterói.
A irmandade deliberou que denominasse aquêle edifício Pavilhão Leoni, em
homenagem ao infatigável membro da “Comissão de Obras da Igreja Matriz”,
sr. Nicolau Leoni.”
Pavilhão Leoni -
1920
Pelos
seus relevantes serviços prestados à causa religiosa em Valença, o comendador
Nicolau Leoni foi, mais tarde, agraciado com a comenda papal, tendo sido depois,
em sua homenagem, perpetuando-lhe a memória, inaugurado, à entrada da
Catedral, uma placa de mármore com expressiva legenda de gratidão.
Também
a Luis Damasceno, excelente católico, a antiga Irmandade de Nosso Senhor dos
Passos prestou-lhe significativa homenagem, com que se solidarizou a Ven.
Irmandade de N. S. da Glória, inaugurando, na capela do Santíssimo, na
Catedral, uma placa de mármore.
Na
paróquia de Nossa Senhora da Glória, foram vigários de Valença: padre
Joaquim Cláudio de Mendonça — de 1817 a 1825; padre Joaquim Cláudio das
Chagas — de 1826 a 1865; padre Luis Alves dos Santos — de 1866 a 1887; padre
Ladislau Adolfo Sales e Silva — de 1888 a 1910; padre Antônio Corrêa Lima
— de 1911 a 1926; padre Antônio Salerno (cura interino da Catedral) — de
1927 a 1929; padre Francisco de Luna — de 1930 a 1938; padre Isidoro Fernandes
de 1938 a 1939; padre Nelson Farias — de 1939 a 1941; padre Francisco de Luna
— de 1942 a 1947 e de 1947 até à presente data — padre Natanael de Varas
Alcântara (cura da Catedral).
Com
relação às igrejas e capelas existentes na paróquia de N. S.da Glória
(distrito de Marquês de
Valença) são as seguintes as invocações: Nossa
Senhora da Glória de Valença, (Catedral) Nossa Senhora
do Rosário (igreja), na praça Visconde do Rio Prêto: Nossa Senhora Aparecida (igreja) no bairro do mesmo nome; Santo
Antônio do Carambita (igreja), no bairro do mesmo nome; Nossa
Senhora das Mercês (igreja), no Lar Balbina Fonseca; São
Sebastião (igreja), no bairro do Montedouro; São
Benedito do Rancho Novo (igreja), no arraial de Rancho Novo; Nossa Senhora da Conceição (capela), no Palácio Episcopal; São
José (capela), no Colégio Valenciano S. José; São José (capela), no “Lar José Fonseca”; Sagrado Coração de Jesus (capela), no Colégio Sagrado Coração
de Jesus; São Luiz (capela), no
Hospital Alzira Vargas; Santa Isabel (capela),
na Santa Casa da Misericórdia;
Santa Luzia (capela),
na rua Conde de Valença (serra); Santa
Rosa, na fazenda de Santa Rosa; e Santo
Antônio (capela), na fazenda de Santo
Antônio, em Esteves, e mais duas pequenas capelas em Chacrinha.
Nos
bairros Montedouro e Benfica, em suas capelas, recentemente inauguradas, presta-se culto
a S. Sebastião e à Santa Rosa, respectivamente.
No ano de 1836, pela primeira vez, com grande solenidade,
realizou-se, a 15 de agôsto, a festa de Nossa Senhora da Glória de Valença,
cujas despesas importaram em 1:200S000.
Há,
digamos de passagem, quem repila a versão de que os índios não tinham religião
e que, portanto, seria absurdo admitir-se que tivessem qualquer coisa parecida
com capela. O argumento parece forte, à primeira vista; mas, se atentarmos para
o fato de que os selvícolas, habitantes de Valença, vinham fugindo do
litoral onde já haviam estado em contacto com as missões catequistas — o
reparo perde logo de intensidade.
De
qualquer modo, o que importa aqui acentuar é que, a antiga aldeia de Valença
alvoreceu sob à invocação de Nossa Senhora da Glória e de tal sorte se
integrou no seu culto que, até hoje, a sua festa é um dos maiores
acontecimentos sociais do Estado do Rio de Janeiro. O dia 15 de agôsto, feriado
municipal. é considerado o “Dia dos Valencianos”, assim como, também, o
seu pomposo novenário, que tem início no dia 5 até o dia 13 de agôsto, é
considerado “Festa Municipal” pela Deliberação N. 153, de 21-7-1950.
A
festa da Glória tornou-se uma tradição e é, sem dúvida, uma das mais
tradicionais do Brasil. Mesmo no período triste da decadência do município,
que abrange os primeiros vinte anos da República, não desmereceram essas
festividades que, presentemente, de ano para ano, se apresentam com maior
brilho.
Durante
o novenário que tem início a 5 de agôsto, a Catedral se engalana e as novenas
são presididas pelo bispo diocesano e animadas por grande orquestra que, após
seu encerramento, executa, tôdas as noites, em grande côro, o hino oficial da
festa — Nossa Senhora da Glória de Valença
— letra e música dos valencianos, poeta Arnaldo Nunes e maestro Luis
Seabra.
No
dia 14 de agôsto — “Dia da Boa Morte” — tem lugar a procissão de N.
S. da Boa Morte, que percorre as ruas centrais da cidade.
No
dia 15 de agôsto — “Dia da Padroeira” — a cidade é despertada por
animada alvorada em que se fazem ouvir o repicar alegre dos sinos, o espoucar
de foguetes e a música em passeata pelas ruas. Às 10:30 da manhã, na
Catedral, com a presença das autoridades locais e de grande número de fiéis
e forasteiros de tôda a parte, realiza-se a solene “Missa
Pontifical de N. S. da G!ória de Valença”, pontificada pelo
bispo diocesano, durante a qual são executadas as partes móveis e fixas da
missa, cuja música oficial, aprovada pela autoridade eclesiástica, é da
autoria do maestro valenciano Agnelo França, ex-diretor do Instituto Nacional
de Música.
Ao
Evangelho, antes da palavra do pregador, é cantada a “Ave Maria”, de Agnelo
França, acompanhada de grande orquestra.
À
tarde, a imagem de Nossa Senhora da Glória (a pequena) é conduzida em
grandiosa procissão, presidida pelo bispo diocesano, pelas ruas centrais da
cidade. O desfile, de cêrca de 10.000 fiéis, constitui um lindo espetáculo de
fé e tradição cristã. Ao recolher-se a procissão à Catedral, é entoado
pelo clero diocesano, grande orquestra e côro, o
solene Te Deum.
Terminadas
as festividades religiosas, após o grande
leilão da noite, é queimado, na Praça da Bandeira, diante de enorme multidão,
o tradicional e Vistoso fogo de artifício.
Imagem de N. S. da
Glória, venerada na Catedral de Valença.
E’
de ver como os valencianos ausentes, mesmo os mais distantes e de tôdas as
idades, preferem sempre essa ocasião para reverem sua terra natal. Sabendo-se
como são bairristas, fácil será imaginar-se o que significa para êles —
mesmo para os acatólicos — êsse dia memorável de encontros felizes e de confraternidade
geral. E’ notável o grande número de forasteiros que acorrem, anualmente,
para assistir à tradicional Festa da Glória, a ponto da E. F. Central do
Brasil haver deliberado fazer correr, no dia 15 e na madrugada de 16 de agôsto,
trens extraordinários nos ramais de Santa Rita do Jacutinga, Afonso Arinos e
Governador Portela, com destino à cidade de Marquês de Valença. Entre esta e
a cidade de Barra do Piraí, naquêles dias, intensifica-se, também, o
movimento de ônibus e de automóveis de praça e particulares.
E é assim que, de ano para ano, a tradicional Festa da Glória constitui o maior acontecimento social de Valença. E’ por tudo isto que a Padroeira dos valencianos se tornou a sua Santa querida e que o imperecível encanto daquêle lendário “Cêrro da Coroa’ vem transmitindo, de geração em geração, a unidade dos que tiveram a ventura de nascer ou viver sob a sua graça tão cheia de esplendor e de beleza.
São
do poeta Arnaldo Nunes estas palavras: — “A Senhora da Glória é um símbolo! A
melhor das místicas, que une e estimula, irmana e iguala, congrega e conforta,
perdoa e eleva, sem exceção, quaisquer que sejam as divergênclas, nunca
extremadas nem insanáveis, acaso reinantes fora da sua égide”.
“E’
dêste fato evidente, um paralelo, para nós outros, desvanecedor: — Também
o mais belo dia para o grego antigo
era aquêle em que, à luz da ladeira de DeIfos, todos se irmanavam numa só
multidão. Doze povos de todos os recantos da Grécia, cidades inteiras, ainda
que adversárias, lá iam pacificas e amigas, coroadas dos célebres ramos de
louro, cantando o hino comum, pela subida da montanha, até o templo de Apoio,
o seu deus da harmonia, da beleza, e
da paz. Assim, para os valencianos de todos os tempos, o 15 de agôsto é um dia
tão lindo como aquêle dos gregos — um dia que iguala e irmana, conforta e
congrega, na paz e no perdão.”
Dos últimos Coroados
que ficaram em Valença, à aproximação do elemento civilizador, um velho
feio e bom, que adotara ou a quem deram o nome de Antônio, foi residir, só, a
certa distância da cidade, próximo do então caminho que, pelo Barroso,
infletia para Minas Gerais.
Estabeleceu-se
ao lado de urna pequena descida do caminho, numa grota, em meio a grandes
pedras. Como todo selvícola, pouco propenso ao trabalho e gostando muito do álcool
e do fumo, que nem sempre obtinha de graça, ocorreu-lhe um expediente: —
colhia, entre as pedras do seu
reduto,
o cará nativo, e ia vendê-lo na cidade.
Bom,
ordeiro e prestativo, era muito estimado, Samburá no braço, apregoava a sua
mercadoria: “Carambita!”
— que quer dizer: cará do buraco da pedra, isto é
-— cará + mbi + ita.
Ninguém
entendia o pregão, mas todos o achavam muito engraçado. Daí o lhe completarem
o nome — Antônio Carambita.
O
produto da sua mercância era todo convertido em aguardente e fumo. Regressava
sempre à choça embriagado.
Capela de Santo Antônio do Carambita
Um
dia — contam-nos antigos valencianos, rememorando o que ouviam dizer na infância
— um dia, caiu num valo que havia por detrás da atual capela de Santo Antônio
do Carambita. Uma tempestade
inundou tôda a região e o valo transbordou, morrendo afogado o pobre
“Carambita”. Nêsse local foi plantada uma cruz de madeira, que alma
generosa ali fez erguer para assinalar o passamento triste do popular e querido
velho caboclo. Mas, passados longos anos, a parda Maria Romana, devota de Santo
Antônio e moradora daquelas paragens, impressionada com a morte trágica do
“Carambita”, resolveu levantar ali, no mesmo local da cruz de madeira, uma
pequena capela, com a Invocação do santo que, ainda, por tradição, é
festejado até hoje. Essa capela de Santo Antônio do Carambita foi construída
à custa de esmolas por ela conseguidas e inaugurada em 1888.
Esta
lenda não deixou de impressionar também o poeta valenciano Arnaldo Nunes, a
quem devemos os seguintes versos:
CARAMBITA
(Lenda valenciana)
“Velho e bom, mas de ríspida carranca
É talvez, dizem, o último “coroado”
Dos muitos que ficaram no povoado,
Depois da aparição da gente branca.
Só, em sua palhoça, a vida passa:
Ora a Tupan... quer fumo, quer cachaça,
Tupan revê em tudo, a simples gesto
Mas, e o resto?
E ei-lo que, pela rua, forte, grita
Grita e ginga.
De balaio no braço – “carambita”!
Ninguém compreende a significação
Daquele engraçadíssimo pregão;
Mas ele vai vendendo o seu cará
Cará da pedra onde morando está
Para ter, com o produto, fumo e pinga.
Muito querida e popular figura,
Passa a chamar-se Antônio “Carambita”.
Um dia, cambaleando, rumo à choça,
Rola, despenha numa vala escura.
A ventania tudo em tôrno acossa;
Um temporal desaba E na maldita
Cova, morre, afogado,
O infeliz “coroado”!
E uma cruz no local. E depois dela,
Uma capela
Cheia de tradição, na paz bendita
Do arrabalde paupérrimo e orgulhoso
Do seu milagroso
Santo Antônio do Carambita.”
Curiosas
como a própria lenda que, alás, é a verdadeira história da capela de Santo
Antônio do Carambita, eram as festividades a êsse Santo, naquêle bairro longínquo,
acêrca de 2 quilômetros da cidade, que vieram num crescendo de animação,
desde a sua origem até o comêço do século atual.
Escreve
Francisco Tiago (João da Terra), no “O
Valenciano” de 11-1-49: — “Nos últimos lampejos do século findo,
e no alvorecer dêste, ai se faziam as “trezenas” de Santo Antônio, o santo
privilegiado que goza sempre de mais quatro dias de novenas
que os outros. Pontificava
uma mulata velha, já velha a êsse tempo, — a Maiia Romana, ajudada por
outros fiéis, rezando ladainhas desde 1o até 13 de junho... Antes,
as “trezenas” eram rezadas na casa da própria Maria Romana e já não se
sabia quando começaram. Dizia-se que vinha do tempo do companheiro de Maria
Romana, remanescente da tribo Tanguára e
que se chamava Carambita, indigenamente, e Antônio, civilmente, por ser
grande devoto do frade portugues”.
Verdadeira
romaria afluía ao bairro, vinda de todos os cantos da cidade, a começar da
primeira novena. Antes de chegar-se à capela, já a uns 500 metros desta,
pela estrada de rodagem, com algumas casas ou casebres, aqui e acolá,
costeando a colina, estendiam-se as barraquinhas de jogos vários, bugigangas,
doces, bebidas, frutas e até restaurantes
de baianas, onde se encontravam deliciosos vatapás, canjas, regados à
boa pinga, sem faltar o círculo de
cavalinhos de páu e outras diversões...
À
proporção que se aproximava a festa, crescia a ornamentação de bandeirinhas
de papel, lanternas e lamparinas a querosene, com pavios de algodão, feitas
em gomos de bambú, espetados no chão, estrada em fora.
A
banda de música vinha da cidade, já executando os seus dobrados, o que mais
ainda elevava o gráu do entusiasmo popular. Em realidade, um passeio lindo e de
sabor original, raramente sem luar.
No
local do leilão de prendas, em frente à capela, na margem oposta da estrada, aí
espaçosa, postava-se a banda. Terminada a ladainha, começava o pregão das
prendas, por leiloeiros que eram tipos escolhidos e adequados, sob o barracão
coberto de zinco e cercado de tecido de algodão.
A
sociedade valenciana ali comparecia, pois, em realidade, a nota simples de tal
sorte se ajustava à ordem e à original beleza das noites enluaradas, que não
poderia haver quem se furtasse à admiração daquêles instantes de fé e de
encantamento caipira. Era a festa triunfal e admirada do elemento roceiro local
e circunvizinho. As raparigas com os seus vestidos de chita e flôres no cabelo,
e os mancebos pelo estilo equivalente. Não consta que nenhuma das moças da
cidade se houvesse enfeitiçado por algum dêsses rapazes: mas, sabe-se que
algumas perderam os seus dândis, arrebatados
pela frescura daquelas flôres agrestes, puras, vivas e saltitantes, na graça
irresistível de sua simplicidade.
No
dia da festa, a então E. F. União Valenciana, hoje Central do Brasil, fazia circular, de cinco em cinco minutos,
trens especiais, à
maneira de subúrbíos, parando nos fundos da capela, desde manhã até à
madrugada, cuja passagem, ida e volta, custava Cr$ 1,00.
O
dia começava, já dos seus albores, com alvorada pela banda de música, que
percorria a cidade, ao espoucar de foguetes.
Ao
lado de fora da capela, junto à sua porta, erguia-se, no dia da festa, um
pequeno coreto improvisado, à guisa de púlpito, que teve, nas missas, a honra
de famosos pregadores, como padres Júlio Maria, Olímpio de Castra, monsenhor
Eurípedes Calmon Nogueira da Gama Pedrinha e outros.
E,
finalmente, a alguns passos adiante da capela, extremo onde chegava o término
do formigueiro humano, ao repicar o sino, dando por finda a última cerimônia
religiosa, punha-se fogo a uma alta “fogueira”, de grossas tocas de lenha,
que ardia até ao amanhecer, soltando-se, ao fim do leilão de prendas, balões
e vistoso fogo de artifício.
Conquanto,
na atualidade, continua o mito a Santo Antônio, no bairro do Carambita, nunca
mais, com a morte de D. Romana, tivera aquela festa o relêvo de outras épocas.
CULTO À NOSSA SENHORA APARECIDA
—
Diz-nos a “História de Valença”, de Luis Damasceno: — “O
terreno onde se acha erecta a atual capela e que fazia parte da fazenda
denominada — “Santa Cruz” — era outrora ocupado por casebres cobertos de
sapé e habitados por lázaros, por consentimento de seu proprietário, o
cidadão Domingos Lopes de Oliveira Guimarães, por alcunha — “Domingos de
Santa Cruz”.
Aos
sábados, êsses lázaros esmolavam, nesta cidade, porém, com o aumento
progressivo de tão cruel enfermidade, ficavam êles privados de recorrer à
caridade pública, já não podendo caminhar, a ponto de alguns serem
encontrados mortos, à míngua, em suas pobres choupanas. Outros foram
acometidos
da epidemia da varíola, que, em 1872, assolou esta cidade, vindo a falecer, e
os poucos restantes se retiraram para outros lugares. À vista disto, o cidadão
Francisco de Medeiros Furtado, como devoto de São Lázaro, aventou a idéia
de levantar ali uma capela do dito Santo: porém, mais tarde, em virtude de uma
graça que sua senhora recebêra da Virgem Aparecida de Guaratinguetá, em São
Paulo, mudou de idéia, tratando, desde logo, de angariar esmolas e material
necessário para construção de uma capela, sob a invocação de Nossa Senhora
Aparecida, a qual teve início no final do ano de 1893.
Para
êsse fim conseguiu êle do cidadão Manoel Tristão de Sant’Anna, a oferta de
uma casa que, desmanchada, com o seu material serviu para iniciar-se a obra.
A
convite de Francisco Medeiros e auxiliado por êste, o prêto de nome Sebastião
Pires prestava-se, tôdas as noites, a rezar têrços, em louvor à dita Virgem,
no atual outeiro, para o supra mencionado fim.
Nessa
ocasião, e a pedido de Medeiros, o cidadão Domingos Lopes de Oliveira Guimarães
e sua senhora, por meio de uma escritura pública, fizeram doação do terreno
à Nossa Senhora Aparecida.
Capela de N. S. Aparecida
Dando
comêço às obras da aludida capela, constituiu-se, desde logo, uma comissão
para administrá-las, composta dos cidadãos -— Domingos Romano, presidente;
Salvador Carelli, vice-presidente; Heliodoro Antônio
de
Oliveira Duboc, secretário; Francisco de Medeiros Furtado, tesoureiro; e Domingos Ferreira Ariosa Junior, procurador.
A
bênção dessa capela e a primeira missa, ali celebrada, tiveram lugar,
festivamente, no dia 10 de junho de 1900, havendo pregado ao Evangelho o orador
sacro, padre Ernesto Benevides. Houve novenas, leilões, procissões, e
fogos.”
N. SENHORA DO ROSÁRIO E MIGUEL TOMAZ
Ainda, da “História de Valença”, de L. Damasceno,
extraímos os seguintes dados sôbre a igreja de Nossa Senhora do Rosário, sita
à praça Visconde do Rio Prêto:
“Desde
que começou a afluir para a povoação da Aldeia de Valença a população
cristã, apareceu entre os prêtos escravos a devoção de se construir uma
capela, dedicada a Nossa Senhora do Rosário.
Aos
domingos e dias santificados reuniam-se êles na Aldeia, onde esmolavam e faziam
certas festividades a que davam o nome de “Congado”, com o fim de
agenciarem dinheiro, para a construção da dita capela.
Nomeavam
entre êles tesoureiros, que recebiam as esmolas e chegaram a possuir, contíguo
à povoação, um bom e apropriado terreno, para a edificação do templo.
Porém,
o tempo, que tudo consome, consumiu, também, com esse terreno e com as esmolas
arrecadadas, bem assim a idéia da edificação da capela desapareceu por
muitos anos, até que, em 1842, aqui veio residir na Vila, com sua família, um
prêto liberto por nome Miguel Tomaz, o qual, avivando a devoção dos prêtos e
de alguns brancos, tratou de adquirir um novo terreno.
Para
êsse fim êle e outros devotos da mesma Santa dirigiram uma petição à Câmara
Municipal, em sua sessao de 6 de outubro de 1846, pedindo-lhe a designação de
um terreno, onde pudessem erigir um templo à dita Santa.
A
Câmara, deferindo essa petição, designou um terreno em uma das faces laterais
da então praça da Câmara, hoje Praça Visconde do Rio Prêto, e na sessão
seguinte, foi sustada essa designação, a pedido de Manoel Jacinto Soares
Vivas, por pertencer-lhe o dito terreno, comprometendo-se a fazer nêle edificações
dentro do prazo de quatro anos, estipulado pela Câmara, sob pena de pagar uma
multa de cem mil réis, de cada mês, que o excedesse, pelo que lavrou-se o
respectivo contrato.
Êsses
prédios pertencem, atualmente, ao cidadão José Antônio Nogueira de Barros.
Não
desanimou, porém, Miguel Tomas, tanto que, logo depois, conseguiu o terreno desejado por parte dos cidadãos Vicente João Barreto e
João Batista de Araujo Leite, que fizeram doação do mesmo.
Em
1848, com o auxilio de alguns cidadãos e esmolas, dava êle comêço à construção
da dita capela, porém, foi infeliz, pois, apenas iniciadas as obras da mesma,
falecia.
Sucederam-lhe,
então, em zêlo e devoção nessa construção o prêto de nome Antônio Mendes
e o padre José Alves Fragoso, que conseguiram dá-la por concluída no ano de
1853.
Por
último foi essa capela forrada e retocada pelos cofres da respectiva
Irmandade e por meio de esmolas, no que primou pelo zêlo e devoção o então
tesoureiro João Batista Vieira. A construção era de adôbos sôbre alicerces
dc pedra, o seu frontespicio era medíocre, sem arquitetura e possuia ao lado
uma pequena tôrre.
Em
1896 e por escritura pública, Dona Bárbara Maria da Silveira Andrade fazia doação
à respectiva Irmandade, do terreno que fica ao lado da Capela, o qual é
foreiro à Municipalidade, sob a carta N. 598, cujo terreno foi desmembrado do
da carta N.112, lugar êsse destinado à barraca para os leilões, nas
festividades que ali se realizam.
Em
1920, pelo seu estado de ruína, foi essa capela demolida, estando sendo
reconstruida atualmente (1924) por subscrição popular, no que muito se tem
empenhado o Comendador Nicolau Pentagna e principalmente sua digna consorte,
D. Maria Clara de Castro Pentagna, que, dotada de espírito altamente
religioso, ainda conserva a grata recordação da época, em que, residindo próximo
à dita capela, de preferência, ali assistia aos atos divinos, que nela se
celebravam, pelo que abriram suas bolsas em benefício do desejado fim.
Abraçaram
essa louvável idéia, subscrevendo, desde logo, avultadas quantias, a Viúva
Vito Pentagna & Filhos, Coronel Manoel Joaquim Cardoso, José de Siqueira
Silva da Fonseca, Companhia Fiação Santa Rosa e outros.
Em
13 de junho de 1920, às 14 horas, no consistório da Irmandade de Nossa Senhora
da Glória, na Igreja Matriz, desta cidade e em sessão presidida por Monsenhor
Dom Agostinho Francisco Benassi, Bispo de Niterói, era dada à posse comissão, nomeada por Sua Excelência e
indicada pelo nosso vigário Antônio Corrêa Lima, para tratar da reconstrução
desse capela, cuja comissão ficou assim constituida: presidente, Vigário Antônio
Corrêa Lima; vice-presidente, Comendador Nicolau Pentagna; tesoureiro, Lourenço
Jannuzzi: procurador, Nicolau Leoni, e secretário, dr. Francisco Hosanah
Cordeiro, que, por se haver retirado da localidade, foi substituido por
Nicolino Ielpo”.
Diz-nos
Luis Damasceno em sua “História de Valença”:
— “Ainda eco um dos últimos anos de prosperidade, por que passou a nossa
terra, tivemos ocasião de assistir a uma festa religiosa, qual a da Nossa
Senhora do Rosário, promovida por dona Maria Bibiana de Lellis e Silva,
ex-Baronesa do Rio Prêto, em a qual tomou parte a excelente banda de música,
composta de escravos de sua fazenda denominarla — “Paraíso” —— e
que se compunha de 70 figuras, corretamente uniformizadas, sob a regência do
maestro Manoel Cortês de Medeiros Serra.”
“Ficou-nos
gravada — continua o sr. Damasceno
— na memória, essa festividade, pela sua originalidade, pois os solos da
missa foram cantados por escravas da dita fazenda”.
“Marujadas”
e “congadas” eram festas populares, inspiradas em costumes africanos. Nos
dias da festa de N. S. do Rosário e São Benedito eram
elas o complemento que atraía a atenção da sociedade valenciana. Em desfile
pelas ruas de Valença, “a seus componentes se trajavam a caráter,
distinguindo-se pelas suas singulares e berrantes vestimentas em que
predominavam as côres vermelho-escarlate, prêta e amarela. Tais vestimentas
consistiam em calções e mantos longos que desciam por sôbre as espáduas,
completando-se com um gorro de côres vivas sôbre a cabeça.
A
passagem das “marujadas” impressionava pelo seu aparato. Na vanguarda do
cortejo iam o rei e a rainha, vestidos
a rigor, ostentando a rainha vistosa
coroa. O personagem do rei foi vivido,
por muitos anos, por Modesto — velho escravo da tradicional família dr.
Ernesto Cunha e, posteriormente, pelo fula Raimundo, — o “Bronze” -—
de porte desenvolvido. A rainha era,
incontestàvelemente, insubstituível, de vez que sempre esteve a cargo da
velha prêta Benedita “Gorda”, moradora no Montedouro, cuja compleição física
era quase descomunal e, ainda, porque se compenetrava do grave papel que
desempenhava.
As
“marujadas” em Valença possuíam outros elementos como: Antônio Pires, Macário
e João da Fulô, também conhecido
por João “Macaco”, Sebastiana (doceira) e Felipe e Elvira da Silveira.
Durante
o cortejo pelos ruas da cidade, reproduziam cenas africanas em que se fazia
sentir o julgamento do rei aos cânticos
e toadas exóticos.
Tôda
a vez que as “marujadas” deixavam o local em demanda a outros pontos da
cidade, faziam suas despedidas, cantando a quadrinha:
“Adeus,
senhores,
e
senhoras também:
até
para o ano,
para
o ano que vem”.
Francisco
Tiago (João da Terra), jornalista valenciano, sôbre “Marujadas e
Congadas”, escreveu no “O Valenciano”, de 28-11-48:
— “O regime da escravidão, abolido em 88, e a consequente caçada de prêtos
nos portos da África, para abastecer de braço trabalhador barato a lavoura,
trouxe-nos de várias regiões e núcleos yorubanos e bantús, de Moçambique ou
do Congo, de Benguela e outras tribos negras, vários molecotes que se diziam
filhos de reis. O regime monárquico, na primitiva Núbia, vinha, sem dúvida,
das organizações das clans, e cada patriarca era um rei, cada chefe de núcleo
um soberano.
Quando
o regime do chicote dos feitores e capatazes façanhudos amorteceu com pouco, os
fazendeiros já abastados, as tulhas cheias e os cafezais em franca produção,
tiveram os negros um pouco de liberdade para as suas dansas e os seus ritos
religiosos. Já então o sincretismo religioso se havia operado largamente e então
os orixás da selva africana se haviam transplantado para terras brasílicas com
a nomenclatura do agiológio católico romano, e os fetiches dos pretos
passaram a chamar — São Jorge, São Jerônimo, Santa Bárbara, São Benedito,
Nossa Senhora da Conceição e outros. Desde que se permitiu a alforria de prêtos
e entrou a vigorar a lei do ventre livre, inevitável com o aparecimento de
produtos de tez tisnada, denunciando a origem paterna, começaram também a
surgir os templos católicos e as irmandades dos homens
de côr, rendendo culto a São Benedito e a Nossa Senhora do Rosário, santos
de pele escura.
As
festas religiosas, nêsses templos e irmandades, ainda em virtude da mescla
religiosa, eram uma mistura de ritos diversos, de várias origens, e de fatos
históricos da gleba africana, entre os quais a “coroação do seus
reis”. Poder-se-ia chamar a isto “festas religiosas populares”, se não
devessem ser populares tôdas as festas religiosas. Eram os templos dos santos
brancos para as elites e São Benedito e Nossa Senhora do Rosário para os
remanescentes das senzalas. Essas festas, que tiveram cunho muito evidente,
logo depois da abolição, mesmo na Capital do Império, já estão hoje
esquecidas. E’ que, com a difusão do Espiritismo, voltaram os prêtos e seus
descendentes (e já agora muitos brancos com eles) às grosseiras práticas de
um ritualismo bárbaro, de que conservaram incubada a tradição, e os templos e
irmandades foram substituidos pelos terreiros,
onde, subsistem os “orixás”, agora vestidos e fantasiados, e as
velas, substituiu-se o incensório pela fumaça da pólvora e dos charutos
“quebra-queixo” e a Hóstia pelas vísceras dos galos e bodes prêtos
sacrificados aos pés do altar. Mesmo na igreja do Senhor do Bonfim, na Bahia,
onde as festas afro-católicas revestiam-se de um esplendor jamais visto, o
rumoroso culto está muito atenuado, senão quase extinto. E’ que, lá na Boa
Terra, proliferam hoje os candomblés, que se estendem desde Itaparica e da
Baixa do Sapateiro, por todos os contrafortes, até à cidade alta.
Valença,
centro de um município altamente produtor de café, trabalho do braço escravo,
não poderia deixar de ter o seu “Rei Congo”. Vindo o 13 de maio,
transplantou-se êle para a cidade, ai viveu, ai morreu. Conhecêmo-lo, já
sob a República, morando em um quartinho de terra batida, sob um sobrado
existente no alto do Barroso, num quadrilátero fronteiro à travessa dos
Fonseca — o largo das Mangueiras. Era já velho, franzino, meão de altura.
Usava sempre um gorro vermelho, com borla, espécie de fêz
egípcio, e empunhava o seu urucongo, instrumento
constituído de um arco de cipó flexivel, com uma corda metálica, o
qual tangia com uma varinha de junco, ou semelhante, enquanto cantava as
suas melopéias tristes e incompreensíveis. Dizia-se rei. Príncipe, roubado
pequeno ao seu pai e ao seu reino pelos portuguêses vendedores de escravos.
Mas
não só êsse conhecemos. Havia também o Belmiro, que igualmente tangia a sua
harpa de uma só corda; o Domingos Ramalhete, um negro alto, com o crâneo liso
como bola de bilhar, sem um pêlo, o qual diziam feiticeiro: o José da Benedita e a dita, sua mulher, prêta, gorda e farrista, que
moravam no Montedouro, próximo à “Passagem”, onde havia sempre um motivo
para grandes bailes, com comes e bebes, iniciados imperativamente por um têrço
com ladainhas e quírie-eleisons. Havia
o Benedito Laborão, crioulo ainda novo, já nascido no Brasil; o Raimundo, um
cafuso alto, pernilongo, pacato, e muitos outros que, se não eram príncipes,
infantes colhidos nos selvas africanas, tinham, contudo, a sua linhagem e presunções
a uma possível restauração dos tronos na Guiné ou alhures. O Benedito Laborão
era apenas cantador de desafios, no que se apresentava inspirado e exímio.
Tendo, porém, um temível pavor a cócegas, bastava o adversário esticar o braço
e enristar o dedo para que o cantador fugisse, apavorado, com a viola
no saco!
Transplantados
dos cafezais para as alfurjas da cidade os negros libertos, era fatal que aí
surgissem os seus exóticos folguedos, mistura de religião, glutoneria,
sexualidade, batuque, jongo, e os cultos negros a São Benedito e Nossa
Senhora do Rosário.
Mas,
os negros, em Valença, foram escasseando, e a igreja do Rosário acabou sem
capelão, a irmandade desunida, e muitos anos se passam sem festividades em
louvor aos padroeiros. Fatal seria também que se tivesse, um dia, o arremêdo
das festas afro-católicas, com cortejo, coroação de reis, dansas, e procissão
a caráter. Dois anos a seguir
realizaram-se essas esdrúxulas pantominas, já então realizadas com os poucos
negros que restavam, o Zé e a
Benedita, o Laborão e um ou outro, até então ignorado, e uns mestiços
cafusos, entre êles o Raimundo, que, ao que parece, tivera a idéia da coisa.
Essa assembléia heterogênea reunia-se em um prédio inacabado, situado no
comêço da rua Nilo Peçanha, onde antes funcionara uma cervejaria —
“Gambrinus” — de duração efêmera, propriedade dos italianos Molinari e
Salvestrini. Aí efetuaram-se os ensaios e daí saiu o cortejo, rumo à igreja
do Rosário; o Zé, de calça branca, fraque e cartola (ainda havia cartolas em
Valença, a êsse tempo), de braço com a galhardona rainha, a sua cara
consorte, metida numas saias berrantes, com muitos laçarotes de fitas, verdes,
vermelhas, azuis e o séquito de molequinhas, açafatas da rainha, conduzindo
abanos, almofadas, as coroas de papelão dourado, e uma cáfila de cortezãos de
todos os matizes, estropiados estropos da Náu Catrineta, que lhes viera por
tradição:
Arriba,
gageiro, arriba
Arriba,
gageiro real:
Vê
se vês terras de Espanha
Ou
reino de Portugal !....
.Mas...
como tudo passa, a marujada passou, os reis congos morreram, os seus príncipes
também...”
Em
1924, logo após a demolição da velha Capela, iniciaram-se as obras; e em
1926, achavam-se construídos as paredes externas e o arcabouço; só em 1928
foi colocado o telhado. Falecendo em 1930 o comendador Nicolau Pentagna, as
obras estiveram paralizadas durante muitos anos e, só em 1935, nova comissão
foi constituida, tendo à frente o comendador Nicolau Leoni, dr. Savério Vito
Pentagna, Licídio Silveira e Raif Tabet.
Iniciou-se,
então, a construção da sacristia, aumentando-se o corpo da nave principal.
A
família Vito Pentagna, tendo à frente d. Urbana de Castro Pentagna, que já
vinha custeando a construção, resolve, em 1941, ativá-la e, assim, em maio de
1945, inaugurava-se solenemente a nova Igreja, um dos mais belos templos da
cidade. O seu estilo gótico, com colunas trabalhadas em estuque, o seu belíssimo
altar em mármore, doado por d. Maria Clara Pentagna, são de grande efeito.
O
custo da edificacâo se elevou a cêrca de Cr$ 380.000,00, dos quais a família
Vito Pentagna despendeu dois terços e o comendador Nicolau Pentagna cêrca de
CrS 40.000,00.
Grandes
festividades para comemorar o primeiro centenário da primitiva capela, no mesmo
local, em honra àquela Santa foram realizadas em 31 de outubro, inclusive a
colocação de uma placa de mármore comemorativa, com os nomes dos grandes
benfeitores d. Urbana de Castro Pentagna, comendador Nicolau Pentagna,
comendador Nicolau Leoni, d. Maria Clara Pentagna e o prêto Miguel Tomaz, o
idealizador, em 1848, daquêle templo.
Outras
festas religiosas sempre tiveram, em Valença, viva repercussão popular, como
as de São João, principalmente a que foi organizada, em 1875, por Maximiano de
Siqueira e Silva da Fonseca e Antônio Maria Cardoso Figueira, negociantes, os
quais, à sua custa, promoviam o enfeite da cidade com vistosos balões
venezianos, galhardetes e bandeiras, de efeito surpreendente. No cruzamento das
atuais ruas dos Mineiros e Nilo Peçanha, erguia-se um coreto, decorado pelo
artista Manuel Lourenço dos Santos. Aí tocava a banda de música dos escravos
do Barão do Pilar e, num outro coreto, também artístico, em forma de
castelo, instalado na Praça Visconde do Rio Prêto, fazia-se ouvir outra banda
de música, uniformizada, constituída de 40 escravos do Visconde de Pimentel.
As
antigas festas do Divino Espírito Santo eram patrocinadas pelo tabelião José
Francisco de Araujo Silva, e, em 1876, d. Íria Umbelina Vieira Guião, proprietária
da antiga fazenda “Santa Rosa” — como
paga de uma promessa — fez realizar, na cidade, pomposa festa em louvor ao
Divino Espírito Santo, tendo como complemento a cavalhadas, diversão de
grande atrativo, levadas a efeito na antiga Praça Cel. Leite Pinto (antiga da
Estação).
Em
tôdas as festas religiosas daquela época, uma bem organizada orquestra e banda
de música de Vassouras, constituídas de professores, realçavam as solenidades
e as festas externas.
Entre
as devoções populares a Sinto Antônio, por meio do “têrço”,
destacavam-se as trezenas promovidas, anualmente, em junho, pela piedosa Ana
Maria de Jesus, conhecida pela alcunha de — Aninha
da Serra — em cuja modesta casinha, existente ao pé da “Cova da Onça”,
situada nas proximidades da chácara de José Alves dos Santos, se celebravam
aquêles atos religiosos, com assistência da elite valenciana que, em
romaria, para ali se dirigia tôdas as noites.
Terminado
o "têrço", que era tirado por
Domiciano Alves dos Santos e rezado em voz alta pela assistência, era servido aos
presentes, pela Aninha da Serra, delicioso café acompanhado de broa e biscoitos
por ela mesma preparados. Pobre e honesta, tôda a cidade a idolatrava pela sua
bondade, e, sem o solicitar, aceitava as esmolas que lhe davam.
A
21 de janeiro de 1894, com mais de 80 anos de idade, falecia, em Valença, a
querida Aninha da Serra, cujo entêrro
foi muito concorrido.
Dignos
de nota foram os festejos comemorativos ao transcurso do sétimo centenário do
nascimento de Santo Antônio, promovidos, em junho de 1895, pelos cidadãos
Francisco Eduardo Gomes Cardim e Antônio Rodrigues de Oliveira, sócios da
firma comercial — Oliveira & Cardim. Em imponente e suntuoso oratório,
instalado na casa comercial da referida firma, foi exposta a imagem do Santo, em
frente à qual tocavam, alternadamente, duas bandas de musica — “7 de
Setembro”, sob a direção do maestro Agnelo França, autor da “Marcha de
Santo Antônio”, e a do Colégio “Cruzeiro do Sul”, dirigida pelo bacharel
José Joaquim Faceira Junior. O encerramento daquelas festas constava de
fogueiras,
balões, fogos de artifícios, sortes, etc. No dia 13 de junho, alvorada pelas
bandas de música e foguetes despertavam a cidade, havendo durante todo o dia
visitação à imagem exposta. À tarde, os promotores da festa ofereciam
farto jantar aos encarcerados na cadeia pública, finalizando as comemorações,
à noite, com jogos, diversões e exibições pirotécnicas.
Na
Catedral, embora destituídas da pompa de outrora, ainda se comemoram
condignamente os atos da Semana Santa e se promove a tradicional festa de São
Sebastião.
Pela deliberação municipal N.137, de 8-12-1949, foram considerados feriados municipais, para efeito da lei federal N. 605, de 5-1-1949: — Sexta-feira da Paixão, São Pedro e São Paulo (29 de junho), Corpo de Deus, Assunção de Nossa Senhora (15 de agôsto), Todos os Santos (1o de novembro) e Finados (2 de novembro).
A população de Valença, cêrca de setenta anos atrás, era
constituída de alguns nativos e mineiros, e representada, também, por duas colônias
estrangeiras: portuguesa e italiana. “Esporàdicamente — escreve o
jornalista valenciano Francisco Tiago — dois irmãos espanhóis, os Vasques,
que tinham uma padaria, e dois franceses, que também foram padeiros, o Benoi e Paulo Casou. O
“Benuá” chamava-se Bento Trouille. O outro, Paulo Casou, no duro. Solteirões,
como os espanhóis, não deixaram descendência. Assim como tudo indica, as duas
colônias estrangeiras influíram nos hábitos da população, adotando-lhe os
costumes, tanto na vida comercial, como no “fervor” religioso. E o folclore
indígena adotou dos portuguêses as práticas das festas do Espírito Santo e
as dos Reis Magos. A diferença existente entre estas duas festas populares é
que, na primeira, reunem-se os abastados, e cotizam-se, para dar aos pobres,
e, na outra, a dos “reisados”, reunem-se foliões aventureiros, violeiros e
tocadores de sanfona, para colher dinheiro, ovos, aves, abóboras e tudo o que
podem, a pretexto de levar para os lares visitados a presença dos Reis Magos e
do Espírito Santo. Na primeira, que poucas vezes se realizou aqui, e que, no
Rio, ainda são levadas a efeito por portuguêses das irmandades do Espírito
Santo, do Estácio e do Maracanã, abatem bois, para distribuir carne aos
pobres, acompanhada de pão e vinho. E’ festa genuinamente portuguêsa. A
outra, a das “bandeiras” de Reis,
vem de tempos imemoriais. Há quem atribua a sua eclosão e adaptação em
Valença a um certo Mazomba, um
jogador
pardavasco, visita e comensal do Custódio Bamba, quando êste bancava roleta
nos baixos do antigo “Hotel Central” (em cima da "Casa Mineira"). Mas, a
verdade é que êsse Mazomba, que por
Valença perambulou, aí por 1890 ou 92, ou mesmo 95, não fez mais que reavivar
a lembrança dae “bandeiras” e o
apetite dos “bandeirantes”.
“No
comêço dêste século era organizador dêsses blocos, todos os anos, o João
Medeiros, morador da antiga rua da Palha (atual Aparecida). João havia sido
“músico” da “banda” do prêto Estanislau e, além de soprar
regularmente no contrabaixo, tocava, também, menos mal, de orelhada, uma
sanfona. Cada dezembro reunia uns crioulos, antigos companheiros da banda do
Estanislau, enrolava um pano vermelho e umas fitas a um cabo de vassoura,
afivelava uma máscara de arame e vestia um velho dominó e ia fazer
a América na roça, pelas fazendas, lavouras, choças de beira rio ou beira
estrada. E a seis de janeiro fazia o bando a sua entrada triunfal na cidade,
cantando trovas às portas, ao som da viola ou da sanfona. Os reis eram pobrissimos. Geralmente descalços, viajavam a pé, pois,
nesta região, não há camelos...”
A
Folia de Reis” é uma tradição de
Valença que vai, aos poucos, perdendo o seu brilho e o interesse da população.
Ainda podemos assinalar, depois do Natal até o dia 6 de janeiro, cenas
interessantes vividas pelos homens da roça. Semelhantes
“blocos carnavalescos” percorrem léguas e léguas dentro e fora do município,
com os palhaços — os reis —
extravagantemente fantasiados, levando às casas mais distantes a alegria de
suas modinhas e de suas pilhérias. Entre êles há o palhaço-chefe ou folião-chefe
a quem todos obedecem. Em geral as “Folias” se compõem de três palhaços
— um branco, um mulato e um prêto, além do grupo de rapazes que executam
diversos instrumentos como a viola, o violão, o “triângulo”, o tambor
surdo, etc., além da infalível sanfona executada, geralmente, pelo chefe da
“Folia”. Diz a superstição do roceiro que o palhaço não pode afastar-se
do bloco dos foIiões, pois se assim o fizer, o Diabo fá-lo desaparecer...
O
estandarte, que traz o retrato da um santo, enfeitado por flôres de papel, é
sempre conduzido por um mocinho de confiança.
A
“Folia” chega à porta da casa e entoa:“O’
de casa! O’ de fora!... Bota mão
nesta bandeira” . E os foliões:
"Senhora
dona da casa.
Com
sua boa união,
Aqui
chegam os Santos Reis
Do
seu bom coração"
Terminado
o canto, palhaços se espalham em piruêtas e rodopios, dansam ao som do tambor
e do “triângulo”, chegando alguns a fazer interessantes acrobacias. A dona
da casa abre a porta e o folião-chefe domina o ambiente, conseguindo que o
estandarte entre no interior da residência para receberem a esmola solicitada.
E,
agradecendo, do lado de fora, cantam a quadra:
“Deus
lhe pague pela esmola,
Dada
de bom coração.
Que
lá do céu terá o prêmio
da
Virgem da Conceição.”
Novamente,
ao som do tambor e do “triângulo”, os palhaços, debaixo de suas máscaras
de couro de boi, em gestos de contentamento, dansam, despedindo-se para novas
visitas.
Um palhaço (“rei”) da Folia de Reis
Se, por acaso, uma “Folia” encontra-se com outra,
principalmente na roça, os foliôes trocam uma saudação cantada, salvando
os estandartes, enquanto que os palhaços passam a servir à “Folia”
vencedora, isto é — a que cantar melhor, ficando com direito de propriedade
sôbre os instrumentos do bloco vencido. No encontro das “Folias”,
verificavam-se, raramente, cenas desagradáveis em suas competições. A
“Catirina”, figura feminina hoje abolida das “Folias de Reis”, era quase
sempre o motivo de “sururús” entre os bandos que se propunham a disputá-la
nos encontros.
No dia 6 de janeiro, à noite, as “Folias” se reunem e
fazem entrega das esmolas coletadas ao folião-chefe. Rezam o “têrço”,
findo o qual é-lhes servida lauta ceia regada a vinho e cachaça.
Por fim, um animado batuque entusiasma os foliões e os
convidados das redondezas dansam até alta madrugada...
Fizeram época, em Valença, as “Folias” chefiadas
pelos irmãos Rosa, antigos fogueteiros, moradores em Souza Barros, atual
Chacrinha; João Medeiros, com o seu inseparável charuto “Palhaço” o velho
Chico Olavo e seu filho Sebastião Olavo foram, por muito anos, famosos por suas
excelentes apresentações.
De ano para ano, as “Folias de Reis” se vão
extinguindo aos poucos.
Quando da criação da Diocese de
Barra do Piraí, não podendo ela ser logo erecta, em virtude da falta de patrimônio
organizado, as autoridades eclesiásticas estudaram, então, a possibilidade de
transferi-la, caso não fosse levantado dinheiro necessário dentro do prazo
concedido pela Santa Sé, para uma cidade próxima, onde fosse imediato o
levantamento do patrimônio indispensável.
Palácio Episcopal
Ao assentar-se, definitivamente, a idéia da permanência
do bispado em Barra do Pirai, graças aos esforços do bispo D. Lara,
conseguiu-se, ao mesmo tempo, em Marquês de Valença, levantar, dentro de 24
horas, por meio de doações e subscrições populares, o patrimônio de Cr$
100.000,00, necessário à criação da Diocese de Valença.
Que viesse o bispado e o patrimônio estaria de pé...
A Diocese de Valença foi criada no dia 27 de março dc
1925, pela Bula Pontifícia “Apostólico Oficio”, de S. Santidade o Papa Pio
XI. Em 21 de agôsto do mesmo ano, foi nomeado, para seu Administrador Apostólico,
monsenhor Alfredo Bastos. Em 18 de setembro dêsse mesmo ano, efetivou-se a erecção
da Diocese de Valença, com a posse do seu Administrador.
Manoel Joaquim
Cardoso
Houve, sem dúvida, provas pessoais de nobilitante
desprendimento na formação do patrimônio da Diocese. Espiritos nobres e
emancipados da avareza terrena mostraram sua larga generosidade, quer no campo
espiritual, quer no campo material. Pelo lado espiritual, destacaram-se os
precursores e patrocinadores da criação do bispado de Valença, — o
saudoso comendador Nicolau Leoni, agraciado pelo Papa Pio XI com a comenda de
honra, pelos relevantes serviços à Igreja Católica, e o então vigário padre
Antônio Corrêa Lima, e, pelo concurso material, os cidadãos Manoel Joaquim
Cardoso — um dos maiores benfeitores da Diocese de Valença concorrendo, além
de apólices, com a doação do prédio onde está instalado o palácio
episcopal e o prédio e chácara onde funciona o Colégio Valenciano S. José;
comendador José de Siqueira Silva da Fonseca, — recentemente agraciado,
pelo Papa Pio XII, com a comenda da Ordem Equestre de São Gregório Magno —
oferecendo 50 apólices da Divida Pública e Cr$ 5.000,00 em dinheiro, além de
um prédio a rua Silveira Vargas; a tradicional família Pentagna, —
representada pela veneranda D. Urbana de Castro Pentagna, Nicolau Pentagna, drs.
Humberto de Castro Pentagna e Savério Vito Pentagna — que concorreu com 50 apólices
da Dívida Pública e CrS 5.000,00 em dinheiro.
A colaboração anônima do povo de Marquês de Valença
foi valiosa para a erecção da Diocese.
O padroeiro da Diocese é São Sebastião e Nossa Senhora
da Glória, — titular da Catedral de Valença — a Padroeira da cidade.
O
monsenhor André Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti foi o primeiro Bispo de
Valença. Nasceu na fazenda do Fundão, em Rio Branco, freguesia de Pesqueira,
no Estado de Pernambuco, em 15 de dezembro de 1878, e é filho de Jerônimo e de
D. Terêsa Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, já falecidos.
D. André Arcoverde, 1o Bispo de
Valença
Fez
seus primeiros estudos no Seminário de São Paulo, de cuja diocese era bispo
seu venerando tio Cardeal Arcoverde; e, em 1896, foi enviado para o Colégio Pio
Latino, em Roma, tendo recebido as ordens de presbítero em 28 de outubro de
1904.
Percorreu
vários países da Europa, onde estudou as obras sociais católicas, das quais
foi, no Rio de Janeiro, o maior propagador. Regressando ao Brasil, em 1906, foi
para São Paulo. De volta ao Rio de Janeiro, foi nomeado pelo Cardeal Arcebispo
coadjutor do vigário de S. João Batista da Lagoa..
Por
provisão de 18 de junho de 1909, foi nomeado vigário da paróquia de S. João
Batista da Lagoa, no Rio de Janeiro. Em 7 de agôsto de
1911, recebeu de Roma
sua nomeação para membro efetivo do Cabido Metropolitano da Arquidiocese do Rio da Janeiro, de cuja
cadeira tomou posse em 25
de outubro do mesmo ano.
Ao
deixar a direção da paróquia, foi nomeado pelo Cardeal Arcoverde, síndico
do Patrimônio do Seminário de S. José e das Fábricas das Paróquias do Rio
de Janeiro. Em 5 de novembro de 1931, foi nomeado presidente da Comissão de
Obras da Catedral Metropolitana e foi sob sua direção que se terminaram as
referidas obras, sendo, no dia 12 do mesmo mês e ano, nomeado Prelado
Doméstico
de S. S. o Papa Pio XI.
D.
André Arcoverde, exerceu, ainda, os cargos de tesoureiro da “Comissão do
Monumento a Cristo Redentor”, de diretor das comissões: “Vocações
Sacerdotais”. “Santificação das Famílias” e “Fé Moral”.
Foi
eleito 1o Bispo de Valença em 1o de maio de 1925, tendo
sido sagrado em 28-X.- 1925. Tomou posse, solenemente, na Catedral de Valença,
em 8 de dezembro de 1925. Foi transferido para a Diocese de Taubaté, em São
Paulo, em 8 de agôsto de 1936, tendo aí renunciado as funções ativas de
Bispo. Atualmente, é o Bispo titular de Limne,
com funções de Capelão, na Tijuca, no Rio de Janeiro.
D.
André Arcoverde foi, em Valença, um dos seus maiores benfeitores. A mocidade
estudiosa deve-lhe os indiscutíveis benefícios que lhe oferecem o Colégio Valenciano S. José e a antiga
Escola Normal Manuel Duarte, atual Colégio Sagrado Coração de Jesus, que o
grande e inesquecível bispo fundou na cidade de Marquês de Valença. Só essas
duas grandiosas obras valem por um nome e uma vida de honra e de trabalho.
D.
Renato Pontes -— filho de Teófilo Pontes e de D. Sarah de Pontes, nasceu, no
Rio de Janeiro, a 28 dc julho de 1902. na paróquia de Inhaúma. Em 11 de
fevereiro de 1916, iniciou o curso do Seminário Metropolitano de São Paulo.
D. Renato
de Pontes 2o
Bispo de Valença
A
1o de março de 1922, passou a frequentar o curso superior teológico,
no Seminário Provincial de São Paulo. Foi ordenado sacerdote a 24 de agôsto
de 1828, tendo celebrado sua primeira missa na matriz de S. Francisco Xavier, no
Rio de Janeiro.
A
1o de março de 1929, foi nomeado professor do Seminário
Arquidiocesano de São José, cargo que ocupou até 23 de dezembro de 1936. A 1o
de março de 1937, foi nomeado capelão da Escola Profissional Santo Adolfo,
servindo como Capelão, ainda, do Convento Noviciado de N. S. de Lourdes do
Colégio Notre Dame de Lion, diretor da “Obra das Vocações Sacerdotais” e
diretor arquidiocesano do ensino religioso nas escolas. Serviu, também, como
capelão da igreja da Lampadosa. Em maio de 1936, tomou parte na Comissão da
Obra Pontificia da Propagação da Fé e, a 28 de dezembro de 1934, foi
nomeado cônego catedrático da Sé Metropolitana.
Foi
eleito 2o Bispo de Valença em 13 de outubro de 1938, tendo sido
sagrado
em 30 de novembro do mesmo ano. A sua posse, na Catedral de Valença, se
verificou, com tôda a solenidade, em 17 de
dezembro de 1938.
D. Renato de Pontes, o então bispo mais moço do Brasil, faleceu, no
hospital da Ordem 3a de São Francisco da Penitência, no Rio de
Janeiro, no dia 2 de abril de 1940, tendo sido exposto à vistação pública
na matriz de São Francisco Xavier, no Engenho Velho. D. Renato de Pontes foi
sepultado, no dia seguinte, no cemitério de São João Batista, na Capital
Federal.
D.
Rodolfo Pena,
Bispo de Valença
D. Rodolfo das Mercês de Oliveira Pena, filho de Francisco Fernandes de
Oliveira Pena e de D. Honorita Q. de Lima Pena, nasceu na cidade de Congonhas
do Campo, em Minas Gerais, no dia 24 de setembro de 1890, ordenando-se em 14 de
março de 1914, no Seminário de Mariana, naquêle Estado.
Foi
vigário de Entre-Rios, atual João Ribeiro, no Estado de Minas, quando, então,
foi eleito bispo da diocese de Barra do Rio Grande, no Estado da Bahia.
Sagrou-se
bispo de Barra do Rio Grande em 8 de setembro de 1915.
Por
provisão de S. S. o Papa Pio XII, D. Rodolfo Pena foi transferido para a
Diocese de
Valença,
tendo tomado posse, como seu 3o bispo, no dia 15 de março de 1942,
na Catedral de Valença.
Os
dois últimos bispos de Marquês de Valença receberam a Diocese das mãos do
então Vigário Capitular Monsenhor Antônio Salerno.
Foi
sob a orientação de D. Rodolfo Pena, que se realizou, em outubro de 1944, o 1o
Congresso Eucarístico de Marquês de Valença, honrado com a presença
de Suas Eminências D. Jaime Câmara, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, e sr.
Núncio Apostólico, além dos Revmos. Bispos Diocesanos de Niterói, Belo
Horizonte, Juiz de Fora e Barra do Piraí.
A
Diocese de Marquês de Valença é circunscrita pelas dioceses de Niterói,
Barra do Piraí, Juiz de Fora e Petrópolis e se compõe dos municípios de
Marquês de Valcnça, Vassouras, Três Rios, Rio das Flôres, Sapucáia, Carmo e
Sumidouro.
O
município de Paraíba do Sul também fazia parte da Diocese de Valença, porém, atualmente, pertence à
Diocese de Petrópolis, criada recentemente.
RELAÇÃO
DAS PARÓQUIAS PERTENCENTES À DIOCESE DE VALENÇA EM 1952: |
||
N. DE ORDEM | PARÓQUIAS | ORAGO |
1 | MARQUÊS DE VALENÇA | NOSSA SENHORA DA GLÓRIA |
2 | VASSOURAS | NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO |
3 | TRÊS RIOS | SÃO SEBASTIÃO |
4 | SAPUCAIA | SANTO ANTÔNIO |
5 | SUMIDOURO | NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO |
6 | RIO DAS FLÔRES | SANTA TERESA |
7 | CARMO | NOSSA SENHORA DO CARMO |
8 | SANTA IZABEL DO RIO PRÊTO | SANTA IZABEL |
9 | CONSERVATÓRIA | SANTO ANTÔNIO |
10 | BARÃO DE JUPARANÃ | NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO |
11 | PATI DO ALFERES | NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO |
12 | PARAPEÚNA | SANTA TEREZINHA |
13 | IPIABAS | NOSSA SENHORA DA PIEDADE |
14 | FERREIROS | SÃO SEBASTIÃO |
15 | ENCRUZILHADA | SANTO ANTÔNIO |
16 | APARECIDA | NOSSA SENHORA APARECIDA |
Pertence à paróquia de Parapeúna (Santa Terezinha) a
antiga capela de S. Sebastião do Rio Bonito, atual distrito de Pentagna e cujo
padroeiro é São Sebastião.
Igreja Evangélica Batista —
Segundo a “História de Valença”, a construção do prédio número 6
(atual residência da viúva Moisés Abrahão), sito à rua Nilo Peçanha, onde
se achava em funcionamento a Igreja Evangélica Batista, foi iniciada, há mais
de 60 anos, pelo visconde de Pimentel, que não chegou a concluí-la,
passando, por seu falecimento, a pertencer à sua espôsa, a viscondessa de
Pimentel, prédio êsse que, mais tarde, foi à praça e arrematado pelo major
Higino Gomes de Avelar que, por sua vez, o vendeu ao dr. Emídio Manuel Vitório
da Costa.
Igreja Evangélica Batista
Em
3 de abril de 1909, foi lavrada a escritura de venda do referido prédio,
adquirido pela firma construtora Antônio Jannuzzi, Filhos & Cia. em nome
da Sociedade Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, a qual, por sua vez, fazia
transferência do mesmo à Sociedade Igreja Presbiteriana de Valença que, então,
teve nêle a sua sede, sob a direção do pastor protestante professor Constâncio
Homero Omegna.
Uma vez de posse da Sociedade Igreja Presbiteriana de Valença, a firma Antônio Jannuzzi, Filhos & Cia, o concluiu, às suas expensas, introduzindo-lhe grandes melhoramentos. A reforma de sua adaptação para igreja e escola importou em 35:000$000, cuja conclusão se verificou em 3 de abril de 1910. Em 10 do mesmo mês foi inaugurada, à entrada do prédio, uma placa, tendo a seguinte inscrição:
“Templo erigido para honra de Deus, oferecido ao povo valenciano por Antônio Jannuzzi, Filhos & Cia. — A.D. III.IV.MCMX.” |
O
salão do culto, com capacidade para mais de 150 pessoas, apresentava, na
parede do fundo, a seguinte inscrição: “Ao
Senhor teu Deus adorarás e a Êle só servirás”.
Em
11 de junho de 1923 a Sociedade Igreja Presbiteriana de Valença, no intuito de
levantar, na cidade, novo templo, vendeu o prédio à Sociedade Patrimonial
Batista de Campos, pela quantia de 30:000$000. a qual instalou nêle a Igreja
Evangélica Batista de Valença, tendo como seu pastor o Revmo. Sr. Joaquim
Rosa.
Mais
tarde, essa Igreja foi transferida para a rua Dr. Luiz Pinto N. 43, tendo sido o
novo templo inaugurado em 17 de setembro de 1941.
E’ seu atual ministro o reverendo Manoel Bittencourt.
Igreja Evangélica Presbiteriana de Valença —
E’ um belo edifício, em estilo gótico lombardo, construído pela firma Antônio
Jannuzzi, Filhos & Cia., à rua Cel. Benjamin Guimarães, 124, cuja
construção importou em 200:000$000. O lançamento da pedra fundamental teve
lugar a 20 de setembro de 1921 e a sua inauguração a 18 de março de 1923.
Igreja Evangélica Presbiteriana de Valença
No
interior do templo, ao fundo, lê-se a seguinte
inscrição:
— “Ao Senhor teu Deus adorarás e a Êle só servirás.” Foi seu primeiro pastor o reverendo Constâncio
Homero Omegna,
diretor do então Ateneu Valenciano. E’ seu atual pastor o reverendo Milton de Albuquerque Leitão.
Outros templos: — Há, ainda, na cidade de Marquês de
Valença. as seguintes igrejas protestantes: Igreja
Metodista do
Brasil, à rua Cel.
João Rufino, 98, fundada em 1929, instalada em edifício próprio e tem como
ministro o reverendo sr. Sebastião dos Reis, Assembléia de
Deus, fundada em 1938, em edifício próprio, sito à
rua Comendador Araujo Leite, 497, onde a doutrina religiosa é ministrada
por um ministro, um presbítero e um diácono. E’ seu atual ministro o
reverendo João Batista de Lima.
Centro
Espírita de Valença -—
Fundado em 25 de fevereiro de 1912, por iniciativa de Raul Barboza Giesta e
outros, teve essa, instituição, como seus primeiros diretores, os seguintes
cidadãos: Raul Barbosa Giesta — presidente: Antônio Bernardo Figueira —
vice-presidente; Nicolau de Moura Neves — secretário; Antônio da Costa
Lobo — tesoureiro, e Américo Antônio de Oliveira — procurador.
Centro Espírita de Valença
Após
diversas discussões, em 16 de março daquêle ano, foram aprovados os
estatutos, e a 6 de fevereiro de 1913 fazia o Centro aquisição dos prédios N.
4 e 5 da Praça D. Pedro II. O “Centro Espírita de Valença” mantinha ali,
como mantém até hoje, uma escola primária noturna grátis e publicava,
impresso em tipografia própria, o excelente jornal — “Aurora”, sob a direção
do espírita Raul Barboza Giesta.
A
sala de aulas tem o nome de – “Dr.
Viana de Carvalho”, e a de sessões — “Inácio
Bittencourt” — em cuja parede do fundo se lê: “Tende por Templo — o Universo;
por Altar — a Consciência; por
imagem — Deus; por Lei — a
Caridade; por Fim — a Perfeição.”
Em
sua antiga farmácia homeopática faz-se, diàriamente, distribuição gratuita
de remédios aos pobres e necessitados.
Até
o dia 10 de março de 1940, o “Centro” funcionou nos referidos prédios,
sendo, nessa data, inaugurada sua nova sede, no prédio N. 632, na
mesma praça, prédio êsse adquirido por permuta, por CrS 30.000,00, feita com
a instituição religiosa “The Female
Academy of the Sacred Heart”, cuja escritura foi lavrada em 29 de fevereiro
de 1940, na gestão da diretoria então constituída dos seguintes cidadãos:
Horácio Praxedes Figueira — presidente; Elpidio Gomes Cotrim —
vice-presidente; Cristóvão Barboza Giesta Junior — 1o secretário;
Casemiro Lúcio da Silva — 2o secretário; Noêmia Alvernaz Cotrim
— 1o tesoureiro; Sebastião Alves Ferreira — 2o
tesoureiro; Vicente Riccio —procurador e Sebastião Alves da Silva —
bibliotecário.
O
“Centro Espírita de Valença” é uma instituição de utilidade pública,
mantendo núrnero ilimitado de sócios.
Segue
o “Centro” a orientação da Federaçáo Espírita Brasileira, com sede no
Rio de Janeiro. E’ tradicional a distribuição de esmolas
aos pobres que o “Centro Espírita de Valença” promove, anualmente, na
Sexta-feira Santa.
Até
à presente data tem sido seu presidente o sr. Horário Praxedes Figueira.
Grupo Espírita Amor, Humildade e Caridade
—
Fundado, na cidade, cm 1o de outubro de 1923, por D. Teresa da Silva
Rodrigues e pelo finado Otacilio Rocha, esta associação espírita é uma
instituição
de caridade, dentro de suas finalidades doutrinárias. Mantém, desde 1928, uma
farmácia homeopática que distribui remédios aos pobres necessitados.
Grupo Espírita Antônio José da Silva —
Foi fundado em Marquês de Valença, em 14 de novembro de 1938, e tem por fim
difundir a doutrina de Fraternidade ensinada por Allan Kardec. Distribui
medicamentos aos necessitados.