Valença de Ontem e de Hoje

CAPÍTULO 3 

VALENÇA VILA 

(1801-1857)

   Neste capítulo estão enunciados, em síntese, por ordem cronológica, os fatos e   empreendimentos mais importantes verificados em Valença, quando ainda Vila. 

PARTE 3 (1837 a 1842)

 CLICAR SOBRE OS ANOS:

1837   OBRAS DA IGREJA MATRIZ

          PLANO DE ARRUAMENTO DA VILA

          DESENVOLVIMENTO DO ENSINO PRIMÁRIO 

                O PROGRESSO DAS CONSTRUÇÕES URBANAS

 

1838 – EXPLORAÇÃO DAS PEDREIRAS 

               UM ENGENHEIRO PARA MEDIÇÕES DA TERRA

               DOAÇÕES PARA CONSTRUÇÃO DO SEGUNDO CHAFARIZ NA VILA 

               INSTALAÇÃO DA IRMANDADE DA SANTA CASA DE VALENÇA

               O PRIMEIRO MATADOURO PÚBLICO DA VILA

               PLANTA DO SEGUNDO CHAFARIZ DA VILA

               DENOMINAÇÃO DOS LOGRADOUROS PÚBLICOS 

               REGIMENTO INTERNO DA CÂMARA MUNICIPAL

               TÉRMINO DO SERVIÇO DE NIVELAMENTO DA VILA

               INAUGURAÇÃO DO HOSPITAL DA SANTA CASA

 

 1839 – APROVAÇÃO DAS OBRAS DO SEGUNDO CHAFARIZ DA VILA 

                AS SESSÕES DA IRMANDADE DA SANTA CASA NA MATRIZ

 

 1840 - CONSTRUÇÃO DE NOVO CEMITÉRIO 

               PATRIMÔNIO PARA A SANTA CASA 

               MATADOURO PÚBLICO DA VILA

               CANALIZAÇÃO D’ÁGUA PARA O CHAFARIZ

               EXTRAÇÃO DA LOTERIA EM FAVOR DA MATRIZ

 

1841 – MOÇÃO À S. M.  D. PEDRO II PELA INSTALAÇÃO DA CÂMARA

               CONSTRUÇÃO DO MATADOURO DA VILA

               NIVELAMENTO DA ANTIGA PRAÇA DA CÂMARA

               PROJETO DE CONTRUÇÃO DE UMA ESTRADA DE FERRO 

               ABASTECIMENTO D’AGUA DA VILA

               OBRIGATORIEDADE DE ABATE DE GADO NO MATADOURO 

               ESCOLHA DO LOCAL PARA O NOVO CEMITÉRIO

               REPRESENTAÇÃO DA CÂMARA NA SAGRAÇÃO DE S. M. O IMPERADOR

 

1842 – O MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO DE MINAS GERAIS

               PROJETO DA CAPELA N. S. DO ROSÁRIO

 

 

 

 

1837 - Concluiam-se, nessa época, as obras de carpintaria e de pedreiro do corpo da Matriz; e, em virtude da concessão de loterias feita pelo governo da Província do Rio de Janeiro, construiu-se o consistório e efetivou-se a obra de talha da respectiva capela. Até essa data nenhum auxílio financeiro tinha recebido do governo a Irmandade de Nossa Senhora da Glória, para as obras da Matriz, tanto assim que, na sessão da Câmara, de 14 de janeiro, a Irmandade solicitava, por intermédio da Municipalidade, ao governo da Província, auxílio para o término das obras do templo. Uma portaria foi lida na Câmara, em 28 de fevereiro, a qual deliberava sobre proceder ao orçamento das obras da capela-mor da igreja. Três pedreiros e três carpinteiros constituíram a comissão avaliadora. A essa avaliação assistiram o vigário, o procurador da Irmandade e o encarregado de Obras da Municipalidade.

 

Na sessão de 5 de junho, leu-se na Câmara uma portaria do governo da Província em que se declarava ficar entregue ao Visconde de Baependí a importância de 3:000$000 para as obras da Matriz e que uma consignação mensal seria destinada à Irmandade pelo governo provincial.

 

— Na sessão de 7 de julho, por proposta do presidente Baependí, foi aprovado o plano de arruamento da Vila, apresentado pelo engenheiro Frederico Carneiro de Campos.

 

— Mais tarde, com o desenvolvimento do ensino primário, a Câmara nomeava para as funções de inspetor escolar o bacharel Ildefonso de Souza Ramos, o que se verificou a 30 de março.

 

— Com o progresso que se verificava nas construções, que já se elevavam a regular número de edifícios, a Câmara deliberou, em sua sessão de 6 de setembro, autorizar o fiscal municipal a demarcar as pedreiras, bem como os necessários lugares para depósito de pedras, abrindo-se os indispensáveis caminhos para os carros e para a serventia pública.

 

1838 - Na sessão de treze de janeiro, o vereaador João Batista de Araujo Leite propunha se reservassem duas pedreiras para as obras em logradouros públicos, sendo uma, o rochedo que faz frente para a Vila, a conhecida “Pedreira da Glória”, e a outra, existente na estrada da serra que segue para Quirino, localizada entre a penúltima e a última grotas, existentes na referida serra. Uma outra pedreira situada quase no mesmo local, do lado de baixo da estrada, também ficou reservada.

 

— A esse tempo, isto é, em 1 de fevereiro, chegava à vila de Valença o engenheiro major Cezar Cadolino, incumbido de fazer a medição das terras pertencentes ao patrimônio da Câmara, e de proceder ao arruamento, com o ordenado de 10$000, por dia. Pelo presidente Baependí foi aprovado o imposto de $200 sobre cada carro de pedras que se extraissem das pedreiras, destinadas às construções particulares.

 

— Em 18 de junho, Baependí fazia oferta à Câmara de seus subsídios e dos do deputado João Pereira Darrigue Faro, relativos a esse ano, na importância total de 981$600, para serem aplicados na construção do 2o chafariz.

 

— Em 2 de julho, foi lido, na Câmara, um ofício do presidente Baependí, que participava a instalação, nesse mesmo dia, da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Valença, fundada com o “louvável intuito de curar, no seu hospital, os enfermos necessitados, tratar da criação dos expostos, socorrer os pobres encarcerados e dotar os órfãos pobres”. Nesse ofício em que o ilustre titular do Império remetia a lista dos componentes da Mesa constituída, um fervoroso apelo era feito à Câmara, no sentido de que a auxiliasse nessa humanitária campanha, tendo a Câmara cedido uma de suas salas para as sessões da Mesa Administrativa da Santa Casa, até que a Irmandade tivesse prédio adequado.

 

— O primeiro matadouro público da Vila estava instalado do lado esquerdo de quem desce a antiga ladeira do Barrozo, hoje Visconde de Jaguarí, em terreno pertencente a João Jorge Malta. A comissão de Obras Públicas, examinando a proposta do engenheiro Cadolino, na sessão da Câmara, de 7 de julho, reconheceu ser impróprio o local para matadouro, e aceitando a proposta de substituição por outro que oferecesse maiores comodidades, a comissão autorizava o referido engenheiro a demarcar outro terreno, à beira da estrada que conduz a Rio Preto, apresentando planta do respectivo edifício.

 

— Na sessão de 3 de novembro, foram apresentados pelo governo da Província a planta do 2o chafariz da Vila e os planos de construção organizados pela Diretoria de Obras Públicas. Uma portaria do governo instruía sobre a construção do aludido chafariz, por meio de concurrência pública. Executada a obra, em terreno onde se ergue o atual edifício da Câmara Municipal, tratou-se de abastecer êsse chafariz com água potável, de modo que pudesse a população dela se servir. Essa água que foi canalizada por meio de telhões, pela importância de 2$719 a braça, tinha a sua origem no manancial denominado “Machado”, também conhecido vulgarmente pelo nome de “José Alves”. Realizou o serviço, por contrato, assinado em 1o de dezembro, pela quantia de 1:200$000, o engenheiro Cadolino. Devido a falta de recursos suficientes, a Câmara teve que pedir o dinheiro necessário, para a compra dos telhões, à Santa Casa.

 

— A Câmara aprovou, nessa mesma data, a proposta do presidente Baependí sôbre denominações de praças, ruas e travessas da vila de Valença, as quais figuram na planta levantada pelo engenheiro Cadolino.

 

— Aprovou-se, em 10 de novembro, após leitura e debate, o Regimento Interno da Câmara, projeto apresentado por Baependí.

 

— O engenheiro Cezar Cadolino comunicou, em 1o. de dezembro, à Câmara, o término do serviço de nivelamento da Vila.

 

Primeiro prédio em que funcionou, em 1838, o hospital da 

Santa Casa de Misericórdia, à rua Conde de Valença.

 

— Em comemoração à data do aniversário natalício do Imperador D. Pedro II, teve lugar, no dia 2 de dezembro, a inauguração do hospital da Santa Casa, em um prédio alugado, hoje dividido em duas moradias, existente no fim da rua Conde de Valença. Principiou a funcionar esse hospital, sem nenhum auxilio, senão o da caridade pública, amparado e animado pelo zelo permanente dos mesários. Prestaram seus serviços médicos, gratuitamente, ao hospital, em seus primeiros dias de existência, o cirurgião Casemiro Lúcio de Azevedo e o médico José Leopoldino Gamard. Fornecia-lhe medicamentos, também gratuitamente, o boticário Josué Antônio de Queiroz.

 

     

1839 - O Chefe da Seção de Obras Públicas comunicava à Câmara, em 1o  de agosto, ter o presidente da Província aprovado as obras do 2o. chafariz da Vila. Nessa comunicação mostrava a conveniência de ter o referido chafariz um pequeno adro de cantaria guarnecido de frades de pedra. O chafariz era abastecido pelo manancial “Machado”, e estava assentado no local onde atualmente se acha edificada a Prefeitura Municipal.

 

— Nesse ano, as sessões da Mesa Administrativa da Irmandade da Santa Casa passaram a ter lugar no consistório da igreja Matriz.

 

1840 - Em virtude de desvio de dinheiro, só mmais tarde é que foi recolhida aos cofres da Câmara a importância de 575$000, que se destinava à construção de um novo cemitério, a qual não se realizou. Estava frustrada, assim, a primeira tentativa da construção do atual cemitério do Riachuelo.

 

— Nessa ocasião a Irmandade da Santa Casa empregava ingentes esforços para conseguir junto ao governo, tendo-lhe solicitado a légua de terreno, em Conservatória, a qual fora cedida aos índios. Comprometia-se a Irmandade a dar aos selvagens toda assistência hospitalar, e, também, instrução.

 

— Como não havia, na Vila, matadouro público, José Paulino Pereira e outros requereram à Câmara, em 30 de janeiro, isenção do imposto de $500 por talho, e que se lhes concedesse licença para construir um telheiro que servisse de matadouro. A Câmara indeferiu a primeira parte do pedido, consentindo, no entanto, que construíssem um matadouro.

 

— Na sessão de 6 de abril, leu-se um parecer da Comissão de Obras Municipais, aprovando o serviço, já terminado, da canalização d’água para o chafariz, realizado pelo engenheiro Cezar Cadolino. Opinava a Comissão que deviam ser cobertas as caixas d’água com lages de pedra, a fim de não ficarem expostas às intempéries, servindo, assim, convenientemente, às necessidades da população.

 

— Nêsse ano, pelo Decreto n. 182, de 23 de abril, ficava a Irmandade de N. S. da Glória autorizada a promover a extração de uma loteria em benefício das obras internas e alfaias da Matriz. Essa loteria prqduziu 11:520$000 que o Visconde de Baependi, por ordem do Juiz da Irmandade, cap. Peregrino José da América Pinheiro, mais tarde Visconde de Ipiabas, colocou a juros de 10% ao ano.

 

1841 - Na sessão de 7 de janeiro, foi aprovadda a seguinte moção, apresentada pelo vereador João Batista de Araujo Leite: 

 

  -“Cabendo a esta Câmara a glória de ser a primeira eleita e instalada, nesta Vila, no feliz reinado de S. M. Imperial, o senhor D. Pedro II, é conveniente que, por intermédio do exmo. Ministro do Império, se leve este fato à presença de S. Majestade, manifestando, ao mesmo tempo, os sentimentos do mais respeitoso amor e veneração que vota à Augusta pessoa de S. M. Imperial e da maior e decidida confiança no Governo do mesmo Augusto Senhor; outrossim, é conveniente que, levando-se o mesmo fato ao conhecimento do exmo. Presidente da Província, se patenteie a confiança que a Câmara deposita em S. Excia., como delegado do Patriótico e Ilustrado Governo de S. M. Imperial”.

 

— A 3 de fevereiro, firmava-se, entre a Câmara e Antônio José Barbosa, contrato para a construção do matadouro da Vila, recebendo o contratante em pagamento o que se fosse arrecadando do imposto de talho de gado.

 

— Na mesma data, foi lido, na Câmara, um parecer referente às obras de nivelamento da praça da Câmara, atual praça Visconde do Rio Preto, onde se achavam instaladas a Câmara e a Cadeia. Orçada a obra em 4:000$000, a comissão nomeada, considerando a impossibilidade financeira da Câmara, deliberou entregar a referida obra ao patrocínio dos moradores da Vila, convidados, para isso, a contribuir com um dia de serviço de seus escravos, além da subscrição popular, concorrendo, de início, a municipalidade com 600$000.

 

— Na sessão de 16 de fevereiro, leu-se um parecer sobre o projeto do engenheiro Cezar Cadolino acerca da construção de uma estrada de ferro que, partindo da Capital do Império, se dirigisse a S. João d’El Rei, passando por Valença.

 

— A 15 de abril, lia-se, na Câmara, um requerimento de Graciano Antônio de Carvalho, propondo construir um tanque de pedra e tijolos, em uma nascente, nos fundos do quintal do Conde de Valença, de cuja água se servia quase toda a população. O fim da construção dessa caixa era proteger a nascente contra as enxurradas e enchentes do córrego próximo. Foi, então, nesse ano, que se construiu o primeiro chafariz da Vila, que ficava no cruzamento das atuais ruas Conde de Valença e D. André Arcoverde, conforme se verifica na planta, levantada em 1835, pelo engenheiro Luiz Abrahão Jumot.

 

— Na sessão de 3 de julho, o vereador Eleutério Delfim da Silva requeria à Câmara, em virtude de estar concluído o matadouro, se tornasse pública a obrigatoriedade dos marchantes e demais pessoas que abatem gado, de somente faze-lo no matadouro público.

 

— Fracassada a primeira tentativa da construção do atual cemitério do Riachuelo, o vereador José Teixeira da Silva requeria à Câmara, a 5 de outubro, que as comissões de Saúde e Obras Públicas, ouvidos o médico e o vigário da freguesia, deliberassem designar outro local para a construção do cemitério, visto não oferecer o existente, comodidade, nem ter capacidade para enterramentos, considerando-se, ainda, a sua situação, no centro da Vila, prejudicial pelas exalações que dele se desprendiam. Essas comissões deliberaram, então, que fosse construído o cemitério num terreno que ficava à margem da estrada que conduz à Santa Tereza. O terreno, em questão, situava-se na atual rua Vito Pentagna. Constituiu-se uma comissão que teria de cuidar da construção do novo cemitério, de cujo local o vereador Eleutério Delfim requerera imediata demarcação. Sabe-se que o lugar demarcado para o segundo cemitério da Vila foi um terreno situado no fim da rua Conde de Valença, no local denominado “Cova da Onça”.

 

— Por ocasião da sagração de S. M. o Imperador D. Pedro II, a Câmara se fez representar, na Corte, durante as solenidades, pelos vereadores José Ildefon­so de Souza Ramos e coronel Joaquim José Pereira de Faro.

 

1842 - Nesse ano, em junho, a Câmara foi forççada a tomar medidas severas em prol da manutenção da ordem pública, pois, nessa época, estalara na Província de Minas Gerais um movimento revolucionário com reflexos muito acentuados na vila de Valença, devido aos boatos que afetavam a tranquilidade dos habitantes. A Câmara, como era natural, fez publicar expressiva proclamação ao povo do município de Valença, exortando-o a colaborar com o Governo na manutenção da ordem.  

Com a sobra da subscrição, na importância de 3:593$760, promovida, na Vila, para manutenção das tropas destinadas a sufocar a rebelião em Minas, a qual fora cedida à Irmandade da Santa Casa, adquiriu esta, dois prédios a João Batista de Araujo Leite, pela importância de 5:700$000, existentes na atual rua D. André Arcoverde, próximo à Cadeia, onde passou, então, a funcionar o hospital, até a sua definitiva instalação no atual prédio da praça Balbina Fonseca.

 

“Valença e a revolução de 1842”, título de artigo publicado no “O Clarim”, de Santa Izabel do Rio Prêto, da autoria de José Marinho de Araújo, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, que, em seguida, vai transcrito:  

“A 18 de junho de 1842, um movimento desusado corria pela Vila de Valença, pois a sua Câmara Municipal ia reunir-se em sessão extraordinária, a fim de tratar de um assunto oportuno e de grande importância”.  

“A sessão se realizou dentro de um ambiente de apreensões, sob a presidência de José Ildefonso de Souza Ramos, secretariado por José Joaquim do Carmo”.  

“Achavam-se presentes os vereadores Eleutério Delfim da Silva, Manuel da Silva Ferreira, Herculano Furtado de Mendonça, Antônio Carlos Ferreira, Manuel Jacinto Soares Vivas e João Batista de Araújo Leite”.  

“O presidente declarou que chegando a notícia de haver surgido um movimento revolucionário na província de Minas Gerais, mesmo em municípios vizinhos, de modo que até a segurança dêste município era ameaçada, convinha que a Câmara desse providências ao seu alcance, para o que havia sido convocada extraordinàriamente”.  

“Pôsto o assunto em discussão, resolveu, unânimemente, que, por uma proclamação se convidasse o povo do município a concorrer com suas fôrças, para a manutenção da ordem pública e que, por ofício ao govêrno da província, se manifestasse os sentimentos de ordem dos habitantes do município de Valença, fazendo acompanhar da cópia da dita proclamação”.  

“E noutra sessão, convocada extraordinàriamente, cinco dias após, a de 23 de junho, foram postas em discussão severas medidas para que não fôsse alterada a ordem pública.  

“Secundou tal gesto, a Câmara Municipal de Vassouras, de que era presidente Francisco José Teixeira Leite”.  

“O comandante da 8a e 13a Legião da Guarda Nacional da Província do Rio de Janeiro, Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, no mesmo dia em que a Câmara de Valença reunia-se extraordinàriamente, 18 de junho, recebeu um ofício do Juiz de Direito de Vassouras, e algumas cartas de pessoas influentes, requisitando fôrças da Guarda Nacional da legião a ele entregue e, também, a sua presença no Presídio do Rio Prêto”.  

“Francisco Peixoto de Lacerda Werneck montou a cavalo, em sua casa, às 10 horas do dia 19. Sua residência se transformou, então, em ponto central das fôrças que deviam marchar”.  

“Dali partiu, também, o 3o Corpo de Cavalaria, acompanhado da 4a Companhia do 2o, sito em Pati do Alferes. Dirigiu para a vila de Paraíba do Sul, onde devia estar o chefe da 8a  Legião”.  

“Werneck deu todas as providências que estavam a seu alcance, reunindo oitenta praças da Guarda Nacional, de ambas as armas”.  

“Ao cair da tarde, a fôrça se pôs a marchar em direção ao ponto de Rio Prêto, onde se achavam o chefe da 2a região de Barbacena, Nicolau Antônio Nogueira Vale da Gama e o Visconde de Baependi, que o acompanhava”.  

“Com êstes se encontravam alguns oficiais, com as fôrças de Valença, e da dita 2a  Legião, reunidos devido aos esforços dos mencionados chefes, Vale da Gama, Werneck e Visconde”.  

“As fôrças de Valença, organizadas por Werneck, juntaram às forças mineiras, no Rio Prêto, justamente à meia-noite do dia 20 para 21 de junho. Achavam-se elas postadas em linha, entregues ao maior entusiasmo, rompendo vivas à Sua Magestade o Imperador e ao seu govêrno legal”.  

“No dia seguinte, 21 de junho, o ponto de Rio Prêto já contava com mais de trezentas praças. Gente sem disciplina militar, mas possuida de grande ardor cívico e decidida dedicação à Sua Magestade e respeito às leis do Império”.  

“O comando achava necessário alguma fôrça de linha que coadjuvasse a Guarda Nacional: armamento e munição e, sobretudo, oficiais hábeis que a disciplinassem e comandassem”.  

“Werneck oficiou ao capitão José Tomaz de Aquino Cabral que se encarregasse da instrução da gente do Rio Preto”.  

“Os cidadãos que residiam no arraial do Rio Prêto muito se esforçam com intuito de auxiliar aos homens que conduziam tropas legalistas”.  

“Werneck, diante do apoio encontrado, prometia levar ao conhecimento de Sua Magestade, o Imperador D. Pedro II, os nomes dos que se tornavam notáveis pela sua dedicação à causa governista”.  

“Eram, amiude, mencionados como homens prestantes à causa, os nomes do dr. Antônio Joaquim Fortes de Bustamante, Antônio José Osórío de Pina Leitão, administrador do Registro do Rio Prêto, o vigário local, padre Antônio Pedro dos Reis, Luiz José de Souza e Silva e cap. Tomé Dias dos Santos Brandão”.  

“O acampamento do Rio Prêto, tornou-se importante. Dêle, deviam partir, como partiram, fôrças que penetraram na província de Minas Gerais, por diversos flancos”.  

“Em ofício dirigido ao ministro da Justiça, Paulino José Soares e Souza, datado de 21 de junho de 1842, Werneck deu conta de tôda a ocorrência no ponto do Rio Prêto”.  

“Nicolau Antônio Nogueira Vale da Gama, residente em São Mateus, localidade encravada nos meios do distrito rebelado, era coronel chefe da 2a legião de Barbacena. Em oficio redigido na fazenda da Independência, destinado ao ministro da Justiça, Paulino José Soares de Souza, dá conta das ocorrências”.  

“Diz que não poude sustentar, na fazenda da Independência, uma resistência capaz, devido a pequena fôrça que conseguiu reunir, pertencente à companhia de São José e São Francisco, da legião de seu comando. A fazenda em apreço se colocava distante do ponto Paraibuna, cêrca de três léguas. E Paraibuna estava ocupada por fôrças rebeldes”.  

“Nicolau Antônio Nogueira Vale da Gama marchou no dia 18 de junho de 1842 para a vila de Valença. Aí soube que uma partida de fôrças rebeldes preparava-se para a ocupação da ponte do Presídio do Rio Prêto, pois a sua população não aderiu ao movimento revolucionário. Havia ali uma fôrça de duzentos homens, bem armados, por ordem do juiz municipal e do delegado de polícia da referida vila do Presídio”.  

“De Valença dirigiram-se a Rio Prêto a fim de juntar-se às fôrças do Presídio, fiéis ao govêrno legal. Ali chegaram à noite. Acamparam na margem direita do rio Prêto, para proteger a povoação, no caso de ser atacada”.  

“O dr. Antônio Joaquim Fortes de Bustamante, de acôrdo com o cidadão Anastácio Leite Ribeiro e com uma fôrça composta de guardas nacionais da freguesia de Santo Antônio do Rio Bonito, do têrmo de Valença, pretendia assaltar o arraial de Santa Rita de Jacutinga, onde se achava reunida uma pequena fôrça rebelde”.  

“De Vassouras chegou à Valença, nêsse mesmo dia, uma fôrça de cêrca de cem praças, onde pernoitou, seguindo, no dia seguinte, para Rio Preto”.  

“O sr. Honório Hermeto Carneiro Leão, presidente da província do Rio de Janeiro, partiu a 1o de julho de 1842, do lugar Paraibuna, para a ponte do Presídio do Rio Prêto, onde pretendia chegar no dia 2. Mas, só às quatro horas da tarde do dia 3 de julho, entrava na vila de Valença. Vinha acompanhado pelo brigadeiro Gabriel Monteiro de Barros”.  

“A demora foi justa, pois devia se organizar, primeiro, a fôrça de Mar de Espanha que se reuniu na vila da Paraíba”.  

“Ao presidente Honório estava entregue grande parte da responsabilidade, por isso já se encontrava em franca atividade a fim de debelar a revolução mineira. Com o sr. José Tomaz Henriques partiu acompanhado ainda de seus oficiais e cento e tantas praças de linha, com destino a Paraíba do Sul. Mas atrás, vinha-lhe o coronel Freitas”.  

“Diante dêsses fatos, a sua chegada a Valença era digna de ser festivamente aguardada”.  

“Hospedou-se na residência do Visconde de Baependí”.  

“A Câmara Municipal, incorporada, visitou-o, bem assim autoridades e pessoas gradas da vila de Valença”.  

 “À noite, tôda a vila se iluminou. Um chôro de música tocou o Hino Nacional, defronte da casa onde hospedara o chefe do govêrno provincial”.  

 “Dizia ser notável, também, o trabalho do Visconde de Baependí, recipiendário do chefe do govêrno provincial fluminense, fazendo-se tornar respeitados o ponto do rio Prêto e adjacências”.  

“Perto de mil homens se achavam reunidos no Rio Prêto. Logo que chegasse o armamento que se organizava, estaria aberta a comunicação com a província de Minas Gerais, fechada pelos revolucionários”.  

“Ignorava-se, em Valença, o número de pessoas que tinham os rebeldes, nos próximos acampamentos de Turvo (Andrelândia) e Rio do Peixe (Lima Duarte). Mas se convencia que seu número era superior ao contingente da Paraíba do Sul”.  

“Comentava-se, em Valença, o montante adquirido, em subscrição, na qual assinaram: Antônio Diniz da Costa Guimarães, um conto de réis; Visconde de Baependí, seiscentos mil réis; Nicolau Antônio Nogueira Vale da Gama, seiscentos mil réis; Francisco Martins Pimentel, quatrocentos mil réis; Carlos Teodoro de Souza Fortes, trezentos mil réis; Sub-delegado Inácio Pinheiro e Souza Werneck, oitenta mil réis; vigário Joaquim Cláudio Viana das Chagas, vinte e cinco mil réis”.  

“Às duas horas da tarde do dia 6 de julho, chegara a Rio Prêto o conselheiro Honório. Acompanhavam-no o brigadeiro Inácio Monteiro de Barros, o Visconde de Baependí e vários vereadores da Câmara Municipal da vila de Valença”.  

“A Guarda Nacional, em número de perto de mil praças, pertencente às freguesias de Rio Prêto, São José e São Francisco de Paula, da província de Minas, e as de Vassouras, Valença e Iguaçu, da do Rio de Janeiro, sob as ordens do coronel Werneck, desde de manhã, aguardava, debaixo de forma, a chegada de S. Excia”.  

“Foi recebido, ainda, em sua província, território do município valenciano, pelo vigário Padre Antônio Pedro dos Reis, diversos oficiais, pelo dr. Firmino, Juiz de direito nomeado para a comarca de Paraibuna, por um piquete de cavalaria que o acompanhou, empregados públicos do arraial do Rio Prêto, por Antônio Osório Pina Leitão, administrador do Registro e outros”.  

“Imediatamente, depois de chegar, passou em revista à fôrca ali formada. Êle a organizara em dois batalhões provisórios e em um esquadrão de cavalaria”.  

“Foi nomeado o brigadeiro Inácio Gabriel Monteiro de Barros para o seu comandante em chefe”.  

“Francisco José Soares, comandante do corpo de cavalaria da Guarda Nacional do município de Iguaçu, da província do Rio de Janeiro, muito auxiliou a campanha pró legalidade, neste município e do município de Rio Prêto, em Minas, onde se registraram alguns encontros entre as fôrças revolucionárias mineiras e fôrças fiéis a Sua Magestade, o Imperador”.  

“D. Pedro II, em despacho de19 de outubro de 1842, lhe concedeu a comenda da ordem de Cristo”.  

“Também, foi louvado, em ato ministerial, assim redigido:

 

Ministério da Guerra. — Manda Sua Magestade, o Imperador, pela Secretaria de Estado dos Negócios de Guerra, louvar ao tenente coronel comandante da guarda nacional do município de Iguaçu, Francisco José Soares, a generosidade com que ofereceu para as despesas de guerra, a quantia de 294$000, que despendera em condução de artilharia e armamentos, da província para o Rio Prêto. Paço, em 28 de outubro de 1842. — José Clemente Pereira”.  

“A lista de subscritores para as despesas da revolução, auxílio aos legalistas, organizada no município de Valença, alcançou o montante de 11:384000. Desse número de subscritores, contavam muitas pessoas residentes no arraial do Rio Prêto. Uma lista organizada nos municípios de Vassouras e Iguaçu, rendeu 4:400$000. Produto da venda, em hasta pública, dos gêneros que sobraram: 274$450”.  

“A despesa total atingiu a 16:058$450. Houve, com outras dotações, um saldo de 3 :592$762, líquido. Êste foi entregue à Santa Casa de Vallença”.  

“Das despesas consta uma fatura de pães para os oficiais que se achavam no Rio Prêto, na importância de 53$440”.  

“O Ministério do Império, em despacho publicado, na Côrte, no dia do augusto nome de Sua Magestade, o Imperador — 19 de outubro — pela pacificação das províncias de Minas Gerais e São Paulo, prestou homenagens e concedeu honras àqueles que se puseram ao lado da legalidade”.  

“Conferiu o título de comendador da Ordem de Cristo, ao vigário da paróquia de Rio Prêto, padre Antônio Pedro dos Reis; de cavaleiro, a Francisco Tereziano Fortes, fazendeiro, proprietário da fazenda de Santa Clara; de cavaleiro, a Domiciano José de Souza”.  

“Dignatário da Ordem da Rosa, ao brigadeiro Inácio Gabriel Monteiro de Barros; de comendador, ao comandante superior da Guarda Nacional das 8a e 13a legiões da província do Rio de Janeiro, Francisco Peixoto de Lacerda Werneck e ao capitão Francisco Leite Ribeiro; de oficial, a Nicolau Antônio Nogueira Vale da Gama; de cavaleiro, ao coronel Lucas Antonio Monteiro de Barros, ao major ajudante de ordens do comandante superior das 8a e 13a legiões, Braz Carneiro Belens, ao dr. José Ildefonso de Souza Ramos, a Eleutério Delfim da Silva e a Herculano Furtado de Mendonça.  

“Pela mordomia-mor, teve o fôro de fidalgo cavalheiro, o dr. Antônio Joaquim Fortes de Bustamante”.  

“O sr. Manuel Alves de Moura foi o cirurgião-mor das fôrças em operações no Rio Prêto. Recebeu muitos elegios, em ofícios a êle entregues pelo comandante superior das 8a e 13a legiões, Francisco Peixoto de Lacerda Werneck e Inácio Gabriel Monteiro de Barros”.

 

— A idéia de se erigir uma capela, em honra a Nossa Senhora do Rosário, vem desde que começou a afluir, para a Aldeia de Valença, a população cristã. Entre os pretos escravos, essa devoção tomara vulto. Assim é que, aos domingos, e em dias santificados, reuniam-se os pretos na Aldeia, para esmolar, realizando características festividades, a que davam o nome de “Congado”, com o fim de conseguirem dinheiro para a construção da capela. Chegaram os devotos a possuir, nas imediações da Aldeia, um excelente terreno destinado à edificação do pequeno templo. Mas, com o tempo, que tudo destrói, destruida ficou a idéia da construção da capela de N. S. do Rosário, reavivando-se a devoção dos pretos somente em 1842, quando veio residir, na Vila, com sua família, um preto liberto, de nome Miguel Tomaz que, estimulando os sentimentos de religiosidade dos escravos e reunindo em torno da idéia alguns brancos, tratou de adquirir um novo terreno.

 

 

 

 

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