Valença
de Ontem e de Hoje
CAPÍTULO 5
ASPECTOS ECONÔMICOS
ESPLENDOR, DECADÊNCIA E RESSURGIMENTO
Abolição
– a Derrocada do Café
O
Escravo que Viu Surgir Valença
A
Imigração Italiana e Japonesa
Valença
na Palavra do Escritor Afrânio Peixoto
Como
Surgiu a Indústria Têxtil
Vem
depois a decadência da lavoura cafeeira.
O
13 de Maio assinala a liberdade dos escravos. E acentua Araujo Guimarães:
“Os
proprietários rurais, com a fortuna a sorrir-lhe fàcilmente, cercaram-se de
todo luxo e conforto. Esse foi, em parte, o germe do mal fluminense e a causa da
derrocada. Chegados ao ápice da escala social, cercados pela respeitabilidade
que lhes dava a esplêndida consonância de títulos nobiliárquicos, foram-se
afastando, aos poucos, da administração de suas fazendas. Com o aumento de
fortuna, faziam novas aquisições de terras. Não eram raros os que possuíam
mais de duas ou três vastas fazendas. Não podiam, portanto, superintender,
facilmente, os seus negócios que ficavam entregues a feitores mais ou menos boçais,
portadores de açoite para a disciplina da grande massa negra que constituía a
mola-primeira do sucesso do cafezal...
“A
lei áurea veio, portanto, produzir a escorva do sifão. Os negros, estonteados
pela libertação, gozando, a plenos pulmões, o ar livre, correndo livremente
pela terra, livres do chicote, do tronco, dos senhores e das humilhações,
abandonaram os cafezais... Entretanto, a opulência dos senhores dos grandes
cafezais, embora tenha sido uma das causas da decadência da Província, trouxe,
também benefícios. As sedes dos municípios cafeeiros, pela liberalidade dos
fidalgos, tiveram o necessário banho de civilização. E não deixa de ser
emocionante a abnegação de todos esses aristocratas do cafezal nas obras de
benemerência que souberam realizar.”
E,
sôbre a decadência do café em Valença, escreve Taunay:
“Para
se avaliar a decadência do café em Va]ença, basta citar como escreve o
dr Gilberto Fonseca - “...em
1928, Valença produziu 34.180 sacas ou ao todo 136.720 arrobas, apenas. Menos
do que uma de suas velhas fazendas de antanho.
Havia,
em 1927, 79 cafeicultores no município, dispondo de 7.949.000 árvores que
produziram perto de 157.000 arrobas, ou seja, quase vinte arrobas por mil pés,
colheita muito baixa para as condições atuais da lavoura cafeeira.”
Em
1910, Eloy de Andrade escrevia: “O
viandante que percorre hoje o Estado do Rio de Janeiro, além da Serra do Mar,
vendo à margem dos grandes rios Paraíba
e Prêto,
fazendas em abandono, casas apalaçadas, palácios em ruína, só existindo,
às vezes, montões de pedras e caliça, não pode imaginar o que eram os
grandes centros agrícolas outrora ali florescentes. A vida rumorosa dos
terreiros, o perfume dos jardins, o aroma capitoso das frutas dos pomares! Tudo
desapareceu! Os imensos canaviais e lindos cafezais vestindo as abas dos morros
substituídos por vegetação rasteira! Um grande manto de capim gordura cobre o
túmulo da grandeza de outrora.
“Avaliemos, pois, os efeitos que o 13 de Maio de 1888 causou à vida econômica de Valença, precisamente no ano de suas maiores colheitas: o acontecimento da abolição do elemento servil provocou, desde logo, o abandono das fazendas pelos libertos. Alguns, muito poucos, ficaram com os seus senhores. Os senhores, impotentes e desolados, não puderam impedir o despovoamento de suas propriedades. Uma carga enorme de café precisava de braços para colhê-la. Daí, o declínio da lavoura cafeeira no Rio de Janeiro, ainda que os altos preços do café nos primeiros anos do regime republicano, no célebre período de “ensilhamento”, especialmente, lhe haviam dado uma aparência de alento”.
Os
escravos mais vivos, atraídos pelas construções dos grandes centros, deixaram
as fazendas; os que ficaram, tornaram-se colonos, parceiros. Mas, faltavam-lhes
as aptidões do homem livre e autônomo. O cativeiro os atrofiara...
E
a lavoura valenciana, desaparelhada, caía ante a crise resultante da Abolição.
E dêste modo os antigos e belos cafezais das margens do “Paraíba”
transformaram-se em vastas pastagens, com sacrifício das rendas e da riqueza pública.
Já
um escritor dissera que “a
vida do fazendeiro era uma pastoral, mas o desenvolvimento da produção do café
merece o nome de drama”. Em
1883. o café caiu. Primeira crise: “Era
o prelúdio do drama, cujo primeiro ato se passou em 1888. Antes, o júbilo;
depois, a consternação. Os fazendeiros pareciam estar arruinados. Desânimo
geral. O trabalho do negro era barato, mas medíocre. O trabalho do branco devia
ser melhor e compensar a diferença entre a manutenção do escravo e o
pagamento dos salários”.
Entre os que ficaram nas fazendas, havia o escravo Leandro, que era um preto dócil e venerado. Com 16 anos de idade, foi o rapazola, ativo e diligente, que ajudou a conduzir, sobre os ombros, as pedras com que foi construído, em 1836, o corpo da antiga Matriz de Valença.
O escravo Leandro
Nos
seus últimos anos de vida, morava o velho colono na fazenda do “Paraíso”,
de propriedade da sra. d. Itália L. Pentagna. Enquanto suas forças permitiam,
ele vinha, aos domingos, à cidade, para assistir à missa, na Santa Casa,
recebendo habitualmente a comunhão.
Com a idade de 114 anos e assistido pela generosidade dos que jamais o abandonaram, faleceu, em 1944, o ex-escravo Leandro, que tantas coisas bonitas e tristes sabia contar, relembrando o passado fidalgo de Valença...
“O
fazendeiro queria plantar café mas, o café era a sua própria desgraça”.
O
governo, por intermédio do Ministro da Agricultura, atendia, com
interesse, aos pedidos dos fazendeiros. Assim é que, em 1887 e 1888, enviava a
Carvalho & Faro, fazendeiros em Ipiabas, 50 famílias de agricultores
italianos, para a sua fazenda “Ibitira”; ao Barão de Souza Lima, 30 famílias
de lavradores, também europeus, para a sua fazenda “São José”; ao
fazendeiro José Leite de Souza, para a sua fazenda “Forquilha”, em Santa
Izabel do Rio Prêto, 3 famílias
italianas, e a João Batista Drumond & Filhos, para a sua fazenda “Santo
Antônio”, na freguesia da Glória, 10 famílias italianas. Presentemente
encontram-se, no município, cerca de oito famílias japonesas.
Perdia-se
o trabalhador, que era convidado para outros centros onde se lhe ofereciam
maiores vantagens. Maior oferta, pouca procura. E, conseqüentemente, a baixa do
preço do produto. Um dos fatores de dispersão do trabalhador fluminense foi,
praticamente, a exploração do ouro em Minas, como afirma o professor Agache.
E, ainda, escreve José Duarte: “Lá foram levas e mais levas, atraidas pelas
ilusões fagueiras de enriquecimento fácil. Até que caíssem em si, da falacidade
da empresa encetada, ocasionaram sérios distúrbios à situação econômica do
Estado do Rio.
O êxodo da
população rural é um grave fenômeno social, merecedor da mais decidida
assistência dos governos. E’ bem possível que, através de uma série de
medidas eficazes, como o alargamento de crédito agrícola e industrial, a fundação
de núcleos coloniais, o fomento de culturas diversas, a proteção do trabalho
agrário, a assistência técnica à lavoura, bem como às indústrias rurais, o
combate decisivo e inteligente ao analfabetismo, enfim a valorização da terra
e do homem rural, para cativá-lo e prendê-lo à gleba outrora fecunda e defendê-lo
das efêmeras seduções urbanas —
possam
reerguer as fontes econômicas do município, tão anêmicas nos dias que
correm.
Em relatório,
apresentado ao govêrno fluminense, em 1942, pelo prefeito dr. Osvaldo da Cunha
Fonseca, referindo-se à lavoura de Valença, foram estas as suas palavras:
“A
lavoura que, no Império, fizera do município um dos mais florescentes da velha
Província, tem hoje importância reduzida na vida econômica de Valença. O café,
que trouxe a riqueza, determinou também o empobrecimento da terra, já que não
era, com o ainda não o é, praticado o método da rotação das culturas.
Atualmente, explora-se uma outra lavoura de café, mas, nova; o milho, o feijão,
o arroz, o fumo, são plantados mais para o gasto e manutenção da colônia que
para o comércio... A grande lavoura mecanizada não existe; e nem poderá
existir, dada a topografia acidentada do terreno. Assim, os métodos de cultivar
o solos são primitivos e rotineiros, A “saúva”, é o mal nacional. Embora,
em Valença, alguns proprietários rurais combatam o flagelo, a lavoura é
decadente. A formicida é pouca e relativamente cara. Nem todos os lavradores
podem adquiri-la em maior quantidade. Daí, o quase abandono do solo. O que
existe em Valença é a pequena lavoura. O regime da parceria é a regra,
recebendo o trabalhador rural a metade da colheita; o regime do salariado é
raramente praticado. Não há no município campos experimentais nem
estabelecimentos de assistência à agricultura. Recentemente, instalou-se, na
cidade de Valença, a Escola Típica Rural do Carambita, que está
educando regular número de crianças e tentando introduzir novas culturas, como
a do algodão, considerando-se que Valença é principalmente industrial”.
O escritor Afrânio
Peixoto, num dos seus artigos, nos dá em Dois
aspectos do Brasil: Vassouras e Valença,
publicado
no “O Jornal”, de 15 de outubro de 1927, as seguintes impressões:
“À uma hora de
distância, mais alto, além do Paraíba, é Valença... também num regaço da
serra, a Serra Velha ou do Mascate, nome regional da Cordilheira do Mar, que lá
vai acima, a entestar com o céu, numa escalada gigante. Vassouras dorme; Valença
acordou. Passou a escravidão, passou o café; veio a criação, os lacticínios
rendem, as indústrias são os pendores da República e, se, Ezaú ainda moureja
na lavoura, Jacob, industrioso e industrial, aproveita as tarifas e ainda toma
ao outro os direitos de primogenitura...
“Vassouras seria
uma oligarquia feudal, próspera, liberal, progressista e, dirigida por poucos,
capaz de muita coisa. Valença evitaria o feudo, teria a liberdade das eleições
ruidosas, uma influência limitada por subdividido o prestígio, um ar democrático,
que se definiria no seu deputado predileto, Joaquim Saldanha Marinho, maçon e
republicano, duas rebeldias que o Império tolerava por jactância liberal, mas
que enfezariam aos ricos conservadores agrários, que eram o sustentáculo da
dinastia...
O contraste irônico
do destino das duas cidades rivais é que Vassouras, de nome rasteiro e humilde,
é aristocrata, como um feudo.. domina e tem vassalagem. Valença, cujo nome é
invocação fidalga, essa é democrática, popular, rebelde e não prepondera,
porque desconhece a dominação. No que eram parecidas é que, no momento de sua
grandeza, cegas como o resto do Brasil, faziam do café a sua prosperidade, à
custa do trabalho escravo. Também as democracias antigas exploraram a servidão:
o parasitismo é lei cruel da natureza. Os liberais e conservadores do Brasil não
foram homens de governo e não souberam prever e prover... uns não podiam
siquer pensar em dispensar o negro servil, outros não souberam preparar o
advento do trabalho livre e remunerado.
Contemporizaram até
à undécima hora, até que a agitação frenética das ruas, coincidindo com o
romantismo piedoso de uma mulher, impôs a Abolição ao Brasil estarrecido...
Foi a ruína: a lei 13 de Maio coincidiu até com o começo da safra do café e,
imediatamente, dois terços da produção nacional se perderam logo nesse ano,
por falta de braços para a colheita. Em Valença, como em toda a Província do
Rio de Janeiro, norte de S. Paulo, parte de Minas, foi o irreparável desastre.
A falta de braços começou, o esgotamento da terra concluiu.
“Sic transit...
O
café passou. Muitas cidades morreram; Vassouras adormeceu; S. Paulo, com o
imigrante, deixou o norte e foi para o noroeste; Minas trocou a mata pelo sul;
Valença retrocedeu à criação e aos lacticínios, e fêz-se industrial,
acompanhando a nova orientação econômica do país, outrora essencialmente
rural e agrícola, agora cidadão e fabril, graças ao protecionismo das
tarifas; ainda um avatar daquele parasitismo natural, tão de nossa índole.
Outrora, o trabalho servil do negro dava a abastança civil do branco; agora os
consumidores de todo o país enriquecem algumas fábricas dos núcleos
povoados... Vendo hoje, em Valença, traços do seu gosto antigo — seu belo e confortável hospital, com retratos a óleo,
alguns pintados em Paris, de seus patrícios benfeitores que, à expensa própria,
mantinham uma beneficência sem patrimônio, mas, nem por isso, sem continuidade
—
sua
nobre e respeitável edilidade, onde, logo ao nos aproximarmos, vimos na
biblioteca, uma coleção rica da “Revista dos Dois Mundos”, denunciando um
Brasil interior amoroso, de nobre cultura, seus solares discretos, seus bonitos
parques, seus cemitérios, onde, melancolicamente, florescem obras de arte e
descançam memórias veneráveis — sente-se, imediatamente, que o passado morto enterrou os
seus mortos, e as novas fábricas, e os trens afanosos, favores de Frontin e de
Jannuzzi, a labuta da vida nova, leva-a a outros destinos. Vassouras espera quem
a desperte, um Siegfried, homem de ação ou de indústria, de política ou de
inteligência, que faça o milagre. Valença sofreu, resistiu, e mudando de
rumo, recuperou...
O café, que
conseguira manter o seu prestígio até 1928, não pode manter-se firme e, a sua
queda concorreu muitíssimo para a diminuição da população rural,
notadamente, nas fazendas do Coronel Manuel Joaquim Cardoso, o maior produtor de
café que, ultimamente, pontificava no município de Valença.
Valença
não produz cereais em quantidade suficiente para o seu próprio consumo.
Geralmente são importados os principais produtos de lavoura. Cresce o número
de pequenas propriedades, em virtude de partilhas e vendas. Não há,
propriamente, latifúndios no município. As grandes fazendas, que são em
pequeno número, estão sendo conservadas. Verifica-se a divisão de terras, não
existindo nenhuma fazenda abandonada. Não há imigração, propriamente.
Constata-se,
ultimamente, a entrada, no município, de proprietários mineiros que nele se
instalam e passam a residir com suas famílias, dedicando-se em geral ao serviço
misto de fazenda. Segundo alguns observadores, a atual situação da
lavoura
decorre, com efeito, ora da falta de braços, ora da migração dos colonos que,
atraídos por ofertas vantajosas, se dirigem para S. Paulo ou para Nova Iguaçu,
ou, ainda, para Volta Redonda. Um dos fatores da migração é a falta de
lavouras desenvolvidas, dentro das normas técnicas, que seriam o atrativo... Não
é fácil conservar trabalhadores na lavoura, conquanto haja no município de
Valença colonos que, há muitos anos, residem nas fazendas. E’ comum
observar-se que, após o serviço militar, passam a radicar-se nas cidades, o
que, habitualmente, se verifica em Valença.
Não
são todas as fazendas que estão sob a direção de administradores: em geral,
as fazendas estão sob a orientação direta dos seus proprietários. Calcula-se
que 85% dos proprietários moram nas próprias fazendas; 5%, na sede municipal;
2%, em outros municípios e 8% nas grandes cidades.
O
sistema de crédito para os fazendeiros é o do empréstimo, a juro de 1 % ao mês,
e, excepcionalmente, a 10% ao ano. Sabe-se que, em Valença, a percentagem
aproximada dos agricultores, que recebem auxílio financeiro dos bancos, não
atinge a 15%.
Devido
à extensão territorial do município, mais transformado em pasto que em
lavoura, esta se apresenta esparsa e muito falha, sem nenhuma orientação técnica,
não revelando expressão econômica, depois que a pecuária foi introduzida com
o retalhamento das velhas e grandes propriedades.
A
área cultivada, em 1943, era estimada em cerca de 2.700 alqueires geométricos,
observando-se que é a seguinte percentagem, assim distribuída: café
——2,50%; milho — 2,35%; feijão —
1,5%; arroz — 1,50%; cana
de açúcar —1,26%; mandioca —
0,42%; laranja — 0,22%; e outras
culturas — 0,10%.
As áreas cobertas e não aproveitadas do município de Marquês de Valença, expressas em alqueires geométricos, apresentavam, em 1943, a seguinte estimativa:
DISTRITOS |
ÁREAS EM ALQUEIRES GEOMÉTRICOS DE CADA DISTRITO |
|||||
EM CAFÉ | EM CEREAIS | EM PASTOS | EM MATAS | TERRAS NÃO APROVEITADAS | TOTAL | |
VALENÇA | 424 | 325 | 2.269 | 321 | 787 | 4.126 |
DESENGANO | 70 | 101 | 1.862 | 159 | 107 | 2.299 |
CONSERVATÓRIA | 992 | 340 | 4.756 | 383 | 256 | 6.727 |
IPIABAS | 71 | 102 | 619 | 122 | 148 | 1.062 |
SANTA IZABEL | 241 | 401 | 4.398 | 653 | 341 | 6.034 |
PENTAGNA | 93 | 119 | 2.380 | 157 | 237 | 2.986 |
PARAPEÚNA | 304 | 393 | 3.260 | 309 | 207 | 4.473 |
TOTAL | 2.195 | 1.781 | 19.544 | 2.104 | 2.083 | 27.707 |
As fazendas e sítios que atingiam, em 1943, a soma total de 1.064, estão assim compreendidos, segundo a estimativa que apresentamos no quadro abaixo:
DISTRITOS |
NÚMERO DE PROPRIEDADES E ÁREAS EM ALQUEIRES E VALOR |
||||||
MENOS DE 50ALQ. | DE 50 ATÉ 100 ALQ. | DE 100 ATÉ 200 ALQ. |
DE 200 ATÉ 500 ALQ.
|
DE MAIS DE 500 ALQ. | ÁREA TOTAL | VALOR DAS PROPRIEDADES | |
VALENÇA | 188 | 6 | 1 | 3 | 2 | 4.126 | 7.118.000,00 |
DESENGANO | 123 | 11 | 4 | 1 | - | 2.299 | 6.507.000,00 |
CONSERVATÓRIA | 102 | 11 | 14 | 3 | 1 | 6.727 | 10.663.850,00 |
IPIABAS | 39 | 1 | 6 | - | - | 1.062 | 1.356.000,00 |
SANTA IZABEL | 181 | 31 | 9 | 1 | - | 6.034 | 10.748.000,00 |
PENTAGNA | 128 | 12 | 6 | 4 | 1 | 2.986 | 7.653.100,00 |
PARAPEÚNA | 150 | 14 | 5 | 5 | 1 | 4.473 | 9.951.750,00 |
TOTAL | 911 | 86 | 45 | 17 | 5 | 27.707 | 53.998.300,00 |
Relativamente
à produção agrícola, a plantação da cana-de-açúcar ainda merece algum
destaque na economia do município. A indústria da aguardente, conquanto tenha
sofrido sensível baixa nestes últimos anos, não deixa de revelar um futuro
promissor.
As
principais firmas produtoras de aguardente, atualmente, existentes no município,
são as seguintes: Gabriel Vilela Sobrinho; Viúva Vito Pentagna & Filhos
(espólio); Cardoso, Magalhães & Cia. Ltda.; Vieira, Monteiro & Cia.
Ltda; Joaquim Feliciano da Silva.
A pecuária
constitui hoje a principal fonte de riqueza rural do município.
A criação
de gado se faz, em geral, à solta; entretanto, há fazendas em que, a preocupação
é selecionar os reprodutores para cruzá-los racionalmente. Preferentemente, são
cuidadas as raças “Crioula” e “Caracu” — nacionais; “Holandesa”,
“Zebu”, “Suíço”, “Normando” e “Jersey” — estrangeiras.
Nestes últimos
anos, os rebanhos têm sido, grandemente, prejudicados pela aftosa e pela pneumo-enterite,
disseminadas, no município, pelos animais que, procedentes do Estado de Minas
Gerais, atravessam, por Via terrestre, o território valenciano, em demanda aos
frigoríficos de Mendes e de Nova Iguaçú. Observa-se em Marquês de Valença
uma acentuada diversidade de valores entre o gado leiteiro e o gado destinado ao
corte. Sendo o município um grande exportador de leite, o gado próprio para
criação alcança, em geral, preço 100% mais elevado que o destinado ao corte.
Assim, em 1943, o preço médio de uma vaca leiteira era de Cr$ 800$000,
enquanto que a vaca para corte não valia, em média, Cr$ 400,00.
A criação
do gado se faz, ordinariamente, em pastos mais ou menos cuidados, sendo a planta
forrageira preferida o capim “elefante”.
Já se vai
generalizando o uso de silos e banheiras carrapaticidas. No 2o
distrito, isto é, na sede de Barão de Juparanã, está localizada a fazenda
experimental de “Santa Mônica”, estabelecimento federal que mantém assistência
à pecuária.
Os rebanhos
do município de Valença atingiram, em 1948, aproximadamente, acerca de 50.000
bovinos, 20.000 ovinos, 10.000 suínos, 5.000 equinos, 2.000 muares, 1.000
caprinos e 1.000 lanígeros.
A indústria
de laticínios é uma das maiores fontes de renda do município. Calcula-se em
mais de 16.000.000 de litros de leite a produção anual.
Existem,
atualmente, no município, em funcionamento, 17 fábricas de queijo e manteiga,
e, em franca prosperidade, 4 cooperativas agro-pecuárias e 1 de laticínios,
exclusivamente.
A firma Th.
Nielsen & Cia. Ltda., a mais importante, estava instalada na antiga fazenda
da “Vista Alegre”, em Esteves. Essa fábrica, denominada “Usina Trevo”,
fundada em 1932, produzia variados tipos de queijos, tais como o “prato”, o
“suíço”, o “roquefort” e o “gruyére”, bem como especial manteiga,
produtos de grande aceitação, registrados com a marca “Dana“. A “Usina
Trevo” recebia, anualmente, em média, 2.200.000 litros de leite e exportava
mais de 800.000 litros de leite beneficiado.
Cardoso,
Magalhães & Cia. Ltda., em Coronel Cardoso, no 5o distrito;
Vieira, Monteiro & Cia. Ltda., em Alberto Furtado, no 5o
distrito; Antônio Fiuza, na sede do 5o distrito; D. Vilela & Irmãos,
em Fernandes Figueira, no 5o distrito; Osvaldo Pinho Guimarães, Honório
Fagundes, José Aquino Vaz e Corrêa & Cia. Ltda., todos no 3o
distrito; Augusto Alves Pereira e Gustavo Monteiro de Carvalho, na sede do 5o
distrito; Viúva Mário da Silva Nogueira, em Santa Inácia; Eliziário Ventura
de Oliveira, Bento Gomes Arieira, Antônio Gonçalves Diniz e Manoel Macedo, em
Vila Pentagna, todos no 4o distrito; e, finalmente, Dácio Basileu Machado, na sede do 1o
distrito — possuem desenvolvida indústria de produtos de laticínios,
tais como manteiga, queijo e creme.
Relativamente às cooperativas, no município de Valença, destaca-se a “Cooperativa de Laticínios S.S. do Rio Bonito”, com sede em vila Pentagna. Organizada em 5 de abril de 1936, essa Cooperativa demonstra, através seus relatórios, os magníficos resultados obtidos desde sua fundação.
Vista
da sede da “Cooperativa de Laticínios
S.S.
do Rio Bonito”, à margem do rio Bonito
Contando
com 13 sócios em 1940, passou a 29 em 1941, tendo atingido, em dezembro de
1942, a 50 cooperados, congregando assim, a quase totalidade dos criadores de
gado vacum do 4o distrito.
A “Cooperativa de Laticínios S.S. do Rio Bonito” é a mais antiga entre as
suas congêneres, no Estado do Rio e, vem dando belos exemplos de magnífico espírito
cooperativista..
A
referida Cooperativa recebeu, em 1942, 1.691.004 litros de leite, tendo
exportado 1.255.866 litros. Fabricou 25.302 quilos de manteiga e 11.916 quilos
de caseína.
A
“Sociedade Cooperativa AgroPecuária Santa Izabel Ltda.”, fundada em 9 de
maio de 1940, com sede em Santa Izabel do Rio Preto, destina-se a congregar
lavradores e criadores, e obedecendo a esse mesmo programa de cooperativismo estão
as sociedades: “Cooperativa Agro-Pecuária S. Fernando “, fundada em 27
de fevereiro de 1943, em Coronel Cardoso; “Cooperativa Agro-Pecuária de
Esteves “, fundada em 11 de janeiro de 1942, com sede em Esteves e
“Cooperativa Agro-Pecuária de Rio Preto Resp. Ltda. “, fundada em 9 de
fevereiro de 1941, em Parapeúna (ex-Rio Preto).
Acha-se,
em início, a produção de caseína, lactose, creme e requeijão, cuja indústria
promete desenvolver-se, graças aos esforços da “Cooperativa de Laticínios
S. S. do Rio Bonito”, da “Cooperativa Agro-Pecuária de Rio Preto, Resp.
Ltda.”, e das firmas D. Vilela & Irmãos, Correa & Cia. Ltda. e Antônio
Fiuza.
As
principais produções agro-pecuárias, no município, estão representadas pela
seguinte demonstração estatística:
ANOS |
AGUARDENTE | MANTEIGA | QUEIJO | |||
LITROS | VALOR (CR$) | QUILO | VALOR (CR$) | QUILO | VALOR (CR$) | |
1937 | 33.028 | 26.442,40 | 122.286 | 611.430,00 | 226.481 | 1.358.886,00 |
1938 | 76.412 | 137.541,60 | 256.928 | 1.798.496,00 | 362.115 | 2.896.920,00 |
1939 | 63.862 | 108.565,40 | 235.397 | 1.294.683,00 | 314.467 | 1.415.101,50 |
1940 | 87.560 | 157.608,00 | 263.733 | 2.109.864,00 | 385.293 | 2.697.051,00 |
1941 | 89.974 | 161.953,20 | 339.528 | 3.395.280 | 369.186 | 2.438.262,00 |
1942 | 115.077 | 180.173,00 | 289.100 | 2.023.444,50 | 362.186 | 1.565.821,90 |
1943 | 81.355 | 230.254,20 | 203.500 | 2.442.000,00 | 192.719 | 1.541.752,00 |
1944 | 24.842 | 84.462,80 | 188.057 | 3.385.025,00 | 157.663 | 1.024.809,50 |
1945 | 50.692 | 177.421,00 | 182.077 | 3.277.389,40 | 286.195 | 1.860.265,30 |
1946 | 33.741 | 135.165,00 | 245.217 | 4.904.345,00 | 152.853 | 1.375.677,40 |
1957 | 50.626 | 227.818,00 | 273.720 | 6.842.992,80 | 263.528 | 2.503.519,10 |
1948 | 35.000 | 105.000,00 | 250.000 | 6.000.000,00 | 200.000 | 2.400.000,00 |
1949 | 48.000 | 144.000,00 | 265.000 | 6.625.000,00 | 210.000 | 2.730.000,00 |
1950 | 45.000 | 135.000,00 | 280.000 | 7.840.000,00 | 210.000 | 2.730.000,00 |
Contam-se,
no município, as indústrias de produtos suínos, como banha, toucinho,
salsicharia, orientadas pelos industriais A. Garcia de Melo, Dantas & Filho
e outros. A indústria de calçados desenvolve-se promissoramente. Há, na sede
municipal, uma fábrica de gelo, de propriedade da Cia. Fiação e Tecidos Santa
Rosa S.A. A indústria de tijolos (olarias) é animada pelos srs. Manoel Duboc,
Alicácio de Oliveira Machado e Felipe Neri Maia.
O
beneficiamento de arroz se faz, em pequena escala, pela firma Haroldo Gomes da
Silva. Há, também, a indústria de beneficiamento de café, situada em algumas
fazendas onde o processo é ainda rotineiro. Na cidade, a firma Dário Dias
Ferreira se dedica à indústria de torrefação de café. Existem ainda
pequenas fábricas de panificação, biscoitos, doces e macarrão, bem como a
indústria de fogos de artifício. Registra-se, também, a indústria de móveis,
cujas firmas são: Eduardo Pina e Souza, Resende & Cia. Ltda.
A
indústria de carvão, lenha e dormente é controlada pelo Conselho Florestal
Municipal.
Desde
1891 era alimentada, em Valença, a idéia da indústria fabril de tecidos de
algodão. A Câmara Municipal deferia, a 6 de outubro daquele ano, urna petição
em que os drs. João de Carvalho Borges Júnior, João Francisco Barcelos e
Ernesto Frederico da Cunha, e os cidadãos Vito Pentagna, João Marques Faria
e Manoel Ferreira de Sampaio pediam, em aforamento, o terreno da extinta praça
Cel. Leite Pinto (da antiga estação), para nele instalarem diversas
indústrias,
pelo que foi lavrada a respectiva carta foreira sob o número 567.
Chegaram mesmo a organizar uma empresa que passou a denominar-se “Empresa Industrial de Valença”. Com o produto da primeira chamada de prestações de capital, construiu-se, na referida praça, um edifício com uma área de 900 m2. Sem que se soubesse a que espécie de indústria estaria mais tarde destinado o edifício, ficou o prédio abandonado por espaço de mais de 12 anos. Diziam que apenas esperavam a melhora do câmbio, e passada a crise, tentariam adquirir, no estrangeiro, o maquinismo necessário.
Comendador José Fonseca
Em
1905, o benemérito valenciano José Siqueira Silva da Fonseca, mantendo
estreitas relações com o cel. Benjamin Ferreira Guimarães, então comerciante
em Bonsucesso, em Minas, propôs a este, a fundação, em Valença, de uma fábrica
de tecidos de algodão. As vantagens que o sr. José Fonseca conseguira para
a efetivação dessa iniciativa eram as seguintes: compra do edifício da antiga
praça Cel. Leite Pinto pela importância de Cr$ 4.000,00; transporte gratuito
de todo o material e maquinismo na antiga estrada de ferro “União
Valenciana”; abatimento de 50% nos fretes das matérias primas e produtos
manufaturados; doação de metade da queda d’água sôbre o rio das Flores,
pelo sr. José Praxedes Figueira; e contrato com a Câmara, para fornecimento
de energia elétrica, pública e particular, na cidade, com isenção de
impostos aduaneiros para o maquinário e material elétrico.
CIA.
INDUSTRIAL DE VALENÇA — Organizada a empresa, recebeu então a denominação
de “Companhia Industrial de Valença”, com o capital de Cr$250.000,00, dividido
em 1.250 ações, de Cr$ 200,00. Não foi fácil ao sr. José Fonseca realizar
o capital, pois, com a pobreza e a decadência da cidade, notava-se geral. desânimo
nos negócios, ainda com o fracasso da primeira tentativa de uma indústria em
Valença.
A
“Companhia Industrial de Valença” foi fundada em 1906, ficando a sua
primeira diretoria constituída dos referidos cidadãos
que a incorporaram. Sem o concurso coronel Benjamin Guimarães, a
tentativa não teria logrado êxito. A cidade, nessa ocasião, agonizava com
paupérrima população. Muitas casas eram dadas para morar e os aluguéis
variavam de Cr$ 5,00 a Cr$ 40,00.
E foi
nesse ambiente de boa vontade que nasceu a indústria têxtil em Valença, graças
ao decidido e incomparável esforço de amigos da terra valenciana.
O
maquinIsmo da fábrica foi adquirido na Inglaterra e a Companhia possuía
apenas 60 teares. Em 1912, aumentou-se o edifício da fábrica e elevou-se para
167 o número de teares, duplicando-se, também, o capital. A forca motriz
para o estabelecimento fabril era produzida pela usina que a Companhia possuia
à margem do rio das Flôres, distante da cidade cerca de 4 quilômetros, onde
existia uma represa, cuja muralha de pedras fora construída, há muitos anos,
por escravos de Reginaldo de Souza Werneck, proprietário da antiga fazenda
denominada
“Cachoeira”.
Em fins
de 1912, foi a muralha arrastada pelas enchentes, passando a “Companhia
Industrial de Eletricidade” a fornecer energia elétrica à fábrica de
tecidos.
A Companhia progredia. A produção diária era, em 1924, de 8.000 metros de
tecidos de algodão em cores, e trabalhavam,
nessa época, 300 operários.
Estava assim reservada a Valença, através da audaciosa iniciativa desses dois pioneiros da indústria valenciana, nova e promissora era de progresso em que o ressurgirnento se fazia após longos anos de decadência e desfalecimentos.
Cel. Benjamin Guimarães
O
coronel Benjamin Guimarães, filho da gloriosa Minas Gerais, foi benvindo a
Valença, pois o seu espírito animador e partidário das boas obras, ora impulsionando
o comércio, ora concorrendo para a caridade pública, conquistava a gratidão
dos valencianos, e o seu nome, por isso, figura entre os benfeitores da cidade.
Ferreira Guimarães residiu com sua família na cidade de Valença até 1919,
quando, então, se transferiu para o Rio de Janeiro, mais tarde sede do escritório
central de outras indústrias e negócios que criou. Com a avançada idade de 82
anos, mas com perfeita saúde e lucidez de espírito, o coronel Benjamim
Guimarães
ainda dirigia e orientava diversas empresas, e o animava aquele mesmo sentimento
de benemerência que o caracterizava nas suas atitudes filantrópicas com que se
tem beneficiado Valença. A vinda do coronel Benjamin Guimarães para Valença,
deve-se, indubitavelmente, ao sr. José Fonseca que, com ele, abriu, para a
cidade, as portas do progresso, animando-lhe a indústria.
Dos
antigos servidores, que trabalham, na fábrica da Cia. Industrial de Valença,
hoje “Cia. Têxtil Ferreira Guimarães” — desde sua fundação, ainda lá
se encontram militando os srs. Celso C. Gomes, Pedro Corrêa Vasconcelos, Antônio
Corrêa Fernandes e Vicente Batista Cardoso. E’ seu atual gerente o sr. Celso
Chagas Gomes, que superintende todo o
movimento da fábrica.
CIA.
FIAÇÃO E TECIDOS SANTA ROSA S/A. — O
ressurgimento de Valença se patenteava por novas iniciativas particulares,
movidas por um decidido espírito de cooperação em benefício da coletividade.
Assim
é que o sr. Vito Pentagna, cidadão de origem italiana, vindo para o Brasil e
passando a residir em Valença, em 1881, se estabelecia, à rua Silveira Vargas,
antiga rua do Barroso, com uma grande casa comercial importadora de produtos de
Minas.
Fachada da Fábrica
da Cia. Fiação
e Tecidos Santa Rosa
Era o mais forte negociante da época. No antigo largo da Mangueira (próximo à ladeira Visconde de Jaguarí) estacionavam as tropas que vinham do oeste e sul de Minas, principalmente de Lima Duarte e de S. João d’EIRei. Valença era o ponto inicial da antiga estrada de ferro “União Valenciana”, que se comunicava com a então estrada de ferro “D. Pedro II”, em demanda à Côrte, para onde Vito Pentagna exportava toucinho, queijos, etc., importando do Rio de Janeiro grandes carregamentos de sal, bebidas alcoolicas, bijouterias, etc.
Com
aquele conhecido dinamismo e energia invulgar, tornou-se Vito Pentagna, dentro
em pouco, um dos lavradores mais adiantados do município. Sagaz e inteligente,
mostrou, desde logo, pendores para a lavoura, em sua fazenda denominada “Santa
Rosa”, adquirida em 1888, onde progrediu, constituindo família numerosa.
Amava Valença. E sonhava realizar grandes empreendimentos, tal era o seu
entusiasmo pelo Brasil. Foi Vito Pentagna um grande auxiliar, com inestimável
serviço, dos fundadores da “Cia. Industrial de Valença”.
Animado,
cada vez mais, Vito Pentagna iniciava, em 10 de março de 1912, na fazenda do
“Pau d’Alho”, de sua propriedade, as obras hidráulicas de uma usina elétrica,
aproveitando, para isso, a bela queda d’água de 26 metros de altura,
formada pelo rio das Flores, a conhecida “Usina Vito Pentagna”, distante da
cidade 7 quilômetros. A usina, que fora inaugurada em 15 de setembro de 1914,
constituida de uma represa de 25 metros de comprimento, por 6 de altura, capaz
de represar 800.000 metros cúbicos d’água, possui turbinas de 500 cavalos.
Vito Pentagna
Recentemente,
passou a “Usina Hidro Elétrica Vito Pentagna” por uma série de grandes
melhoramentos, principalmente, no que diz respeito à represagem de maior volume
d’água, sob os rigorosos requisitos da técnica moderna.
Verificando
a “Cia. Fiação e Tecidos Santa Rosa S.A.” que, nos últimos anos, as águas
do rio das Flores, que movimentam a usina, sofreram considerável decréscimo na
sua vazão, tonando-se, portanto, deficientes para alimentar as duas turbinas de
500 HP, cada uma, houve necessidade de formar uma bacia de acumulação para um
armazenamento suficiente, de modo a garantir o pleno rendimento de energia.
Em
1922, a Companhia montou mais um grupo de turbina de 500 H. P. e de alternador
de 400 kwa.
Sabe-se
que, em 1914, a vazão mínima do rio das Flores era 1.708 litros por segundo;
em 1920, verificou-se ser de 1.605 litros, e, em 1943, a vazão foi de 1.340
litros por segundo. Ora, com o aumento do número de horas e de consumidores,
tornava-se necessário o trabalho contínuo de 24 horas por dia, embora o
consumo noturno se reduzisse a 1/4 do consumo diurno, e, em face do decréscimo
da vazão do rio das Flores, a Usina não podia mais atender às necessidades. E
assim duas soluções se impunham: a construção e instalação de nova usina
em outro local; ou a construção de uma represa capaz de armazenar, durante o
período das chuvas, quantidade de água bastante para suprir a deficiência
motivada pela estiagem.
Mas, a
Companhia achou exeqüível a segunda solução. Feitos os trabalhos
preliminares de medição da bacia a jusante da antiga represa, bem como o
estudo contínuo do volume d’água que o rio fornece durante um ano, o volume necessário para um consumo
normal, verificou-se que se tornava necessária a construção de uma nova
barragem, capaz de armazenar mais de 1.200.000 metros
cúbicos, cuja construção foi confiada ao engenheiro Asdrúbal Teixeira de
Souza, técnico no assunto. A construção dessa barragem teve início em maio
de 1941, verificando-se o seu término em junho de 1943. Construída de
alvenaria ciclópica, ala mede 147m,40 de comprimento e possui um vertedouro de
60 metros, tendo as seguintes espessuras: na base, 7m,20; nos contrafortes,
7m,50; no vertedouro, Om,60, atingindo a sua altura a 9 metros. O volume da
muralha é de 2.272m3.
Aspecto da
“Usina Hidro-Elétrica Vito-Pentagna”,
depois de
novos melhoramentos.
Com
a construção dessa barragem, a bacia de compensação formada no rio das
Flores garante uma potência de 1.089 H.P nos eixos das turbinas, ou
aproximadamente, 721 kw (902 kwa). O custo total da construção da nova
barragem da “Usina Hidro-Elétrica Vito Pentagna” foi de Cr$ 758.867,30.
A
área invadida pelas águas é de 396.832 metros quadrados, ou sejam, pouco mais
de 9 alqueires geométricos, formando um belíssimo açude, de 3 quilômetros de
comprimento e de 500 metros de largura. No centro afloram duas pequenas ilhas
que lhe dão especial encanto panorâmico.
O
volume d’água represado é, atualmente, de 1.286.118 metros cúbicos.
Em
janeiro de 1913, Vito Pentagna realizou o seu grande sonho: promoveu o lançamento
da pedra fundamental da sua fábrica de tecidos, na cidade de Valença, em
terrenos sitos à rua que hoje lhe tem o nome, iniciando, imediatamente, a
construção do edifício, cujas obras ficaram completamente terminadas em
fevereiro de 1914.
Em
7 de setembro de 1913, presidida pelo bacharel Celso Esteves, realizou-se a
assembléia de instalação da Companhia Fiação e Tecidos Santa Rosa, com o
capital de Cr$ 500.000,00, dividido em 2.500 ações do valor nominal de Cr$
200,00 cada uma. Foram seus incorporadores Vito Pentagna e comendador Nicolau
Pentagna, figurando como membros do Conselho Fiscal, os srs. coronel Benjamin
Ferreira Guimarães, Antônio da Costa Lobo e Lourenço Jannuzzi.
Em
30 de setembro de 1914, nas vésperas, portanto, da inauguração da fábrica de
tecidos, falecia, repentinamente, causando profundo pesar à sociedade
valenciana, Vito Pentagna, que deixava viúva a sra. d. Urbana de Castro
Pentagna, que, com os seus filhos drs. Humberto de Castro Pentagna e Savério
Vito Pentagna, assumia a direção de todos os negócios do velho fundador da
“Santa Rosa”.
Os
servidores que ainda trabalham nessa fábrica, desde sua inauguração, ocorrida
em 18 de outubro de 1915, são os srs. Francisco Trócoli, atual mestre geral,
Oscar Ribeiro da Silva, Tomaz Felipe e Clisípio Hipólito Nascimento.
Em
virtude de haver a família Pentagna, seus maiores acionistas, vendido suas ações,
a Cia. Fiação e Tecidos Santa Rosa passou, em 1952, a ter seus escritórios
instalados em Belo Horizonte.
FÁBRICAS
UNIDAS DE TECIDOS, RENDAS E BORDADOS S.A. — Por
influência do comendador Antônio Jannuzzi, instalou-se, na cidade de Valença,
em dezembro de 1913, a “Companhia de Rendas e Tiras Bordadas Dr. Frontin”,
com o capital de Cr$ 400.000,00. Foram seus incorporadores os srs. comendador
Antônio Jannuzzi e Henrique Leuthold. A sua primeira diretoria eleita se
compunha dos seguintes cidadãos: srs. dr. Francisco Sá, presidente; Henrique
Leuthold, diretor-técnico; José Carneiro da Rocha, tesoureiro, e Nicolino
Ielpo, diretor de contabilidade.
Essa
fábrica ocupa uma grande área fronteiriça ao Hotel Valenciano e às oficinas
da E.F.C.B., dando frente para a rua Dr. Figueiredo. Durante alguns anos
funcionou com regularidade, tendo alcançado os seus produtos grandes mercados,
pela excelência de sua qualidade.
Paralizada
por espaço de algum tempo, só em 4 de março de 1932, a antiga “Cia. de
Rendas, Tiras Bordadas Dr. Frontin” passou a ter nova direção, por aquisição
feita à massa falida de “S.A. Tiras Bordadas e Rendas Valencianas”, que,
consequentemente, em 16 de março desse mesmo ano, passou a ter nova denominação
— “Cia. Nacional de Rendas e Bordados S/A”.
Fachada da “Fábrica Unidas de Tecidos, Rendas e Bordados S/A”.
Atualmente,
sob nova razão social, tem a fábrica sofrido modificações em suas instalações,
ora pela aquisição de modernos maquinismos, ora pelo aperfeiçoamento de seus
produtos, principalmente no que se refere a rendas e tiras de filó bordadas,
que se rivalizam com os melhores e os mais finos artigos importados da Suíça.
As
“Fábricas Unidas de Tecidos, Rendas e Bordados S/A” — essa a sua atual
denominação — têm, no Rio de Janeiro, o seu escritório central que
superintende outras fábricas instaladas, uma na Capital Federal e outra em Magé,
no Estado do Rio.
As
afamadas rendas valencianas são vendidas em larga escala, tendo também grande
aceitação as tiras de filó de algodão bordadas, as palas de filó de algodão
bordadas, as tiras de filó de algodão bordadas à rayon, as palas de filó de algodão bordadas à rayon, os lenços de algodão enfeitados com bordados, os tecidos de
algodão bordados e as rendas de algodão.
CIA.
PROGRESSO DE VALENÇA DE FIAÇÃO E TECELAGEM —
Com o início da construção da nova fábrica de tecidos — “Cia. Progresso
de Valença”,— em 1924, novo impulso adquiriu a cidade, aumentando o número
de operários e famílias mineiras que eram atraídos para a cidade que já se
tornava um centro verdadeiramente industrial.
No
dia 19 de março de 1926, inaugurava-se, na antiga praça Conde de Baependi, a
“Cia. Progresso de Valença”, outra iniciativa do sr. José Siqueira Silva
da Fonseca. Presentes autoridades e elementos representativos da sociedade local
e do Rio de Janeiro, verificou-se, às 15 horas, com o movimentar das máquinas,
a solenidade da inauguração, falando, ao champagne,
o bacharel Soares Filho, a pedido do então prefeito Cel. Manoel Joaquim
Cardoso, ali presente, congratulando-se o orador com a sociedade valenciana por
aquele surto de progresso industrial, de tão promissora repercussão na vida
econômica da cidade. Em nome da diretoria da Companhia falou o sr. dr.
Teodorico Fonseca, sendo, por fiim, levantados brindes ao casal José
Fonseca-Balbina Fonseca, que, por feliz coincidência, comemorava, naquele dia,
o transcurso do seu 25o aniversário de casamento.
Terminada
a cerimônia inaugural, foram abertas as portas da nova fábrica de tecidos para
a visitação pública. Efetivamente, para comemorar-se o acontecimento social,
o casal José Fonseca ofereceu, no Hotel Valenciano, um lauto banquete à
sociedade valenciana, estando presente o vice-presidente do Estado do Rio. Toda
a cidade festejou as bodas de prata do benemérito casal: nos clubes recreativos
locais efetivaram-se animadíssimas soirées, tendo a empresa do Cine-Glória
aberto seus salões para um grande baile popular, em que tomaram parte as
classes pobres da cidade. No palacete do Visconde do Rio Preto, realizou-se o
elegante baile da noite, onde imperou o que havia de mais fino na sociedade.
Naquela
mesma, noite, o casal José Fonseca recebia das mãos do bispo diocesano D. André
Arcoverde um telegrama em que S. Santidade o Papa lhe concedia bênçãos
especiais.
Até
1946, a diretoria da “Cia. Progresso de Valença de Fiação e Tecelagem”
era constituída dos srs. José Siqueira Silva da Fonseca, Ademar Fonseca, Mário
Fonseca e o engenheiro José Garcia Lopes que superintendia o movimento da fábrica.
Fachada princípaI
da fábrica da
Cia. Progresso de Valença de Fiação e Tecelagem
Atualmente,
essa Companhia tem nova razão social, representada pelo seu diretor-presidente
sr. José Alves da Mota e é seu gerente o sr. Delfim Brutt Filho. Em consequência,
a empresa voltou a ter a denominação antiga — “Cia. Progresso de Valença”.
Mourejam na fábrica, desde sua fundação, os antigos operários Francelino Cruz, Teodorico Palmeira, Ângelo Antunes de Carvalho, Olímpio Vieira da Costa, José Vaz, Manoel Soares de Souza, José Cândido e Pedro Antônio de Oliveira.
Damos abaixo o quadro demonstrativo do movimento de operários e da produção anual de tecidos de algodão, verificado nas três fábricas — Cia. Têxtil Ferreira Guimarães, Cia. Fiação e Tecidos Santa Rosa S/A e Cia. Progresso de Valença de Fiação e Tecelagem, no período de 1930 a 1951:
ANO |
NÚMERO DE OPERÁRIOS |
PRODUÇÃO ANUAL E RESPECTIVO VALOR |
|||
HOMENS | MULHERES | TOTAL | EM METROS | EM CR$ | |
1930 | 407 | 589 | 996 | 6.260.442 | 6.985.089,00 |
1931 | 408 | 592 | 1.000 | 7.714.747 | 8.122.860,00 |
1932 | 429 | 604 | 1.033 | 7.598.038 | 8.346.280,00 |
1933 | 459 | 622 | 1.081 | 8.074.019 | 8.698.069,00 |
1934 | 465 | 631 | 1.096 | 8.415.129 | 9.029.738,00 |
1935 | 493 | 653 | 1.143 | 8.701.361 | 10.132.650,00 |
1936 | 525 | 672 | 1.197 | 8.681.621 | 10.288.052,00 |
1937 | 534 | 667 | 1.201 | 8.575.278 | 10.333.712,00 |
1938 | 543 | 666 | 1.209 | 8.129.646 | 8.876.560,00 |
1939 | 559 | 643 | 1.202 | 7.784.457,5 | 9.230.895,70 |
1940 | 552 | 619 | 1.171 | 7.520.095,5 | 9.580.140,68 |
1941 | 581 | 645 | 1.226 | 7.922.452,6 | 9.641.154,10 |
1942 | 646 | 645 | 1.291 | 8.829.347,5 | 18.292.279,00 |
1943 | 631 | 634 | 1.265 | 9.003.161,7 | 25.406.708,90 |
1944 | 671 | 647 | 1.318 | 9.266.237,9 | 33.023.108,50 |
1945 | 675 | 664 | 1.339 | 8.809.534,7 | 36.698.638,74 |
1946 | 695 | 690 | 1.385 | 9.451.346,3 | 42.685.892,05 |
1947 | 675 | 725 | 1.400 | 8.618.856,9 | 44.318.074,20 |
1948 | 685 | 725 | 1.410 | 7.959.221,7 | 40.313.882,10 |
1949 | 609 | 668 | 1.277 | 7.468.045,6 | 38.887.857,80 |
1950 | 555 | 663 | 1.218 | 7.825.073,6 | 40.941.621,90 |
1951 | 471 | 621 | 1.092 | 8.162.090 | 58.115.093,00 |
SOCIEDADE
ANÓNIMA FIAÇÃO E TECELAGEM ULTRA MODERNA CHUEKE — A Deliberação da Câmara
No. 245, de 18 de fevereiro de 1952, que dispõe sobre doação de terreno, na
cidade de Marquês de Valença, para a fixação de nova indústria têxtil,
autoriza o prefeito municipal a doar uma área de 46.226m2, no bairro do
Carambita, para a construção e instalação de uma fábrica de tecidos
finos, sob a razão social “Sociedade Anônima Fiação e Tecelagem Ultra Moderna
Chueke”, que está isenta, pelo prazo de 30 anos, de todos os impostos e taxas
municipais. A nova indústria entrará em pleno funcionamento dentro de 48
meses.
OUTRAS
INDÚSTRIAS — Próximo às Fábricas Unidas de Tecidos, Rendas e Bordados S/A,
está sendo instalada uma nova indústria, qual seja a de lenços de linho, cuja
firma é representada por Perutz do Brasil Ltda.
Recentemente
entrou em atividade a fábrica de carrocerias para ônibus e de máquinas agrícolas,
pertencente à Sociedade Industrial e Comercial Mecânica Osmach Ltda.