Valença
de Ontem e de Hoje
CAPÍTULO 4
VALENÇA CIDADE
(1857-1952)
Já
em 1885, na sessão da Câmara Municipal, em 24 de julho, cogitou-se de
estabelecer, na cidade de Valença, uma rede telefônica, tendo como centro a estação
da antiga Estrada de Ferro União Valenciana.
Valença
teve, efetivamente, pela primeira vez, em 1888, o seu serviço telefônico,
quando da decretação da lei da Abolição, pois, temendo-se qualquer levante
dos ex-escravos nas fazendas do município, os quais eram em avultado número,
tornava-se
necessário o imediato socorro da vizinha cidade de Barra do Piraí, centro de
maior força policial.
Deliberou,
então, a Câmara, em sua sessão de 6 de julho de 1888, mandar fazer a ligação
das freguesias do município, por meio de uma rede telefônica, cujo centro era
no próprio edifício municipal, tendo, para isso, a administração entrado num
acordo com as estradas de ferro “União Valenciana”, “Santa Izabel” e
“Rio das Flores”, que aceitaram a exploração e manutenção da rede. Essa
rêde telefônica foi construida por Antônio Fernandes Neto, serviço que
importou em Cr$ 5.605,00.
Nessa
ocasião, o comendador Nicolau Pentagna conseguia de diversos fazendeiros da
antiga freguesia da Glória a ligação de suas fazendas com a cidade, por meio
de uma outra rêde, cuja estação central estava instalada no antigo estabelecimento
comercial “Casa Sampaío”.
Em
1925, os cidadãos dr. Savério Vito Pentagna e Vicente Ielpo idealizaram
instalar, na cidade, um serviço completo de telefones urbanos e interurbanos. E
em 1926, fundava-se, então, a Companhia Telefônica de Valença 5. A., cujo
capital subscrito fora de Cr$ 60.000,00 e os seus maiores acionistas são a Cia.
Fiação e Tecidos Santa Rosa, com Cr$ 15.000,00; dr. Savério Pentagna, com
Cr$.. 12.000,00; sr. José Siqueira Silva da Fonseca, com Cr$ 5.000,00; e a
firma Ferreira Guimarães & Cia., com Cr$ 3.000,00.
A
inauguração do serviço telefônico urbano efetivou-se a 20 de setembro de
1926 e, em 19 de dezembro desse mesmo ano, inaugurava-se o serviço interurbano.
As ligações interurbanas, conquanto ainda falhas, prestam relevante serviço
à população local que se utiliza de suas comunicações com Rio de Janeiro, São
Paulo, Juiz de Fora, por intermédio da Cía. Telefônica Brasileira, a que se
acha ligada, em tráfego mútuo, na cidade de Vassouras, até onde vai a linha
da Cia. Telefônica de Valença S. A.
A
Companhia Telefônica de Valença S. A. inaugurou, em 1948, o serviço telefônico
interurbano entre Marquês de Valença e a cidade de Rio das Flores, estando já
em funcionamento os postos telefônicos das vilas de Juparanã, Conservatória,
Santa Izabel do Rio Preto e dos povoados de Quirino, Esteves e Pedro Carlos. Na
cidade de Rio das Flores funcionam 11 aparelhos e foram inaugurados os postos
das vilas de Tabôas, Cachoeira do Funil e de Manoel Duarte.
A
Companhia possuía, na cidade de Valença, em 1950, 189 aparelhos ligados e a
extensão de suas linhas duplas, no perímetro urbano, era de 245.000 metros e
de 328.000 metros as linhas duplas no serviço interurbano. Registram-se, em média,
tanto nas linhas da empresa, como em tráfego mútuo, cêrca de 64 ligações diárias.
A
Companhia possuia, nos municípios de Marquês de Valença e Rio das Flôres, em
1950, 229 aparelhos ligados.
Há,
tamém, redes telefônicas, de uso privativo, como as das fazendas de “Santa
Rosa” e de “Chacrinha” e a da Cia. de Carris, Luz e Força do Rio de
Janeiro, entre Valença, Quiríno, Desengano e Barra do Píraí.
Na
repartição dos Correios e Telégrafos de Valença há um serviço recente de
telefone para a cidade de Rio das Flores (ex-Santa Teresa). Igualmente, possui a
Central do Brasil telefones privativos em comunicação com várias estações
dos ramais locais.
Data
de algum tempo o serviço postal-telegráfico em Valença. Antigamente o serviço
era feito por meio de mensageiros especiais, que executavam viagens juntamente
com tropas de mulas, que demandavam a capital do Império. Muitas vezes, o
mensageiro, para atender a serviço de urgência, cobrava Cr$ 8,00 para ir, a pé,
de Valença à Corte.
Desde
1829, já havia, na vila de Valença, o serviço postal dirigido por João
Batista Reis Mota, que exercia, gratuitamente, as funções de agente.
O
serviço postal oficial só começou a funcionar em 1886, como se depreende da
sessão da Câmara Municipal, realizada em 24 de julho dêsse ano, ao tomar
conhecimento de um ofício da Diretoria Geral dos Correios, remetendo cópia do
ofício da gerência da antiga Estrada de Ferro União Valenciana que propunha a
criação de uma agência postal na estação local.
O
telégrafo não é muito antigo em Valença. Conquanto, antes de 1910, tenha a
cidade se utilizado por muito tempo do telégrafo da estrada de ferro local, só
em 5 de maio de 1910 se verificou a inauguração de uma estação do Telégrafo
Nacional, instalada à rua Saldanha Marinho. Foi seu primeiro telegrafista o
funcionário Carolino Gomes de Carvalho.
Agentes postais: — João Batista dos Reis Mota (1829); Josué Antônio de Queiroz (1833); José da Silveira Vargas (1833); José Teixeíra da Silva (1838); Martiniano José da Costa Viana (1842); Joaquim Pereira da Silva Junior (1845); José Francisco de Araujo Silva (1846): José Augusto Escobar (1848); Nicolau Tolentino Menezes d’Almada (1853); Domingos Tertulíano da Fonseca (1857); João Nepomuceno Vieira Machado (1868); Manoel Dupré (1888); José Gualberto da Silva (1889); Arnaldo José Alves Ferreira (1892): Arnaldo da Cunha Ferreira (1911); José Joaquim Veloso Guimarães (1913); Pedro José Fagundes (1931); Antenor Barboza de Matos Çorrêa (1932); Alcides Jorge (1936-51) e, atualmente, Benjamin Morais.
Por
ocasião da inauguração, na Delegacia de Polícia de Marquês de Valença, do
retrato do então Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de
Janeiro, dr. Luiz de Almeida Pinto, verificou-se, também, a inauguração do
serviço policial de rádio-telegrafia, cujas solenidades tiveram lugar no dia 1
de agôsto de 1948.
A
cidade, de ruas mais ou menos largas, com um traçado regularmente orientado, tão
diferente do Rio colonial nas suas ruas estreitas e vielas tortuosas, nunca teve
arborização propriamente dita. Aos dardejos da canícula forte, o transeunte
se movimenta sem a proteção das sombras...
O
trânsito, outrora dificultado pelo lamaçal nos dias de chuva, tinha as suas
surpresas: ou era a roda de uma carroça afundando na lama e respingando de
barro amarelo as calças brancas do que transitava tranqüilamente; ou era a
queda de alguma matrona respeitável, apressada, numa poça d’água escondida
nas trevas da noite, já sem a luz dos velhos lampeões a querozene.
No
tempo da seca, a poeira infernal decepcionava o provinciano...
Os
meios de condução se reduziam ao animal arreado. A égua viageira
era o meio adequado de condução para os que residiam na roça.
O
tradicional carro de bois, que ainda impera no interior municipal e que,
raramente, atravessa as ruas da cidade, é o veículo que salva situações... O
característico chiado do seu eixo besuntado de graxa, enche, ainda, com o seu
eco monótono, as várzeas e as sinuosas
quebradas, que escondem destinos incertos para a gente do campo...
As
tropas de mulas espertas, despejando, na cidade, mercadorias e mais mercadorias,
faziam o movimento da época.
Viajar
a cavalo e mesmo a pé, ninguém estranhava. De Valença ou da província de
Minas Gerais à Corte, era um “pulo”. Muito comum era ver-se a mulher do
fazendeiro, nos trilhos da serra Velha ou do Mascate, cavalgando uma égua
magra, em demanda à capital do Império, em busca de uma consulta médica. Nos
dias de eleição e de festa da Padroeira enchiam-se as ruas da cidade de veIhos
e moços, fazendeiros e sitiantes, de lenço de chita ao pescoço servindo de
gravata, calçando enormes botas e montados em fogosos animais. Era a multidão
rural, na cidade, em dia de festa, que ali gastava, sem pena, todo o dinheiro
que ajuntara e que trazia amarrado no seu lenço branco... E o comércio, na véspera,
se agitava, até altas horas da madrugada, vendendo enxovais ou calçados para pés
que nunca sentiram aperturas...
O
cidadão abastado tinha também o seu veículo — tróli
ou caleche, para vir à cidade.
Raros
eram os carros de aluguel. Nos albores do século, naqueles tempos recuados da
nossa memória, quando Valença era ainda a pequenina cidade de 4.000 almas nas
colinas da Glória e do Barroso e nos bairros do Carambíta, Larangeiras, Santa
Cruz, Benfica e na rua da Palha, rincões afastados, aos quais se ia a cavalo ou
nas caleches
ou vitórias do Zé Pedro, um
velho português, dono de uma
ferraria e carpintaria, existente ainda na rua do Barroso — os três trólis
do velho Chíco Medeiros atendiam aos raros chamados de um casamento ou de
um batizado de gente chic.
Lá ia para a igreja matriz, risonho e indiferente, aos solavancos, e sob os olhares indiscretos das famílias que se acotovelavam nas janelas e nas esquinas, o par de noivos, no tróli puxado por duas bestas sem porte, aos estalos do chicote do cocheiro que “se empertigava, cauteloso, sobre a boléia trepidante de estofo sem recheio...” E, na sua carreira furiosa sobre o calçamento de pés-de-moleque, o tróli marcou uma época... sem deixar saudades.
Um “tróli”, aos solavancos, num dia de
casamento, pelas ruas da cidade
As
mercadorias eram carreadas da antiga estação da “União Valenciana” para
as casas comerciais pelo velho Chico Medeiros e pelo popular Anastácio Cardoso,
dois concorrentes leais que viviam na mais íntima harmonia como bons amigos e
vizinhos que eram.
Mais
tarde, alguém sonhou instalar bondes elétricos em Valença. Pensara-se, com
efeito, um dia, em dotar a cidade de linhas de bondes. Mas, a Câmara, indeferindo,
em sua sessão de 6 de setembro de 1920, um requerimento da Cia. Fiação e
Tecidos Santa Rosa, que se propunha a instalar linhas de bondes em Valença,
chamou, por edital, em concorrência pública, êsse serviço, com o prazo dc 60
dias.
Infelizmente,
decorrido o prazo, nunca se soube porque deixaram morrer no nascedouro a... idéia.
E à cidade, que apenas sonhou com bondes elétricos um dia, resta um tal
consolo!...
Em 1922, introduzia-se
em Valença o primeiro carro de praça, a gasolina. Um Ford, modelo 1921,
adquirido em Juiz de Fora onde se achava matriculado sob o número 134, na época
em que a gasolina custava apenas Cr$ 0,60 o litro. Esse carro apareceu em Valença
numa tarde de Carnaval, graças ao primeiro chauffeur
valenciano, José Maria Pereira, atual funcionário da Prefeitura. José
Maria trabalhou com esse automóvel até 1925. À noite, quando viajava pelas
estradas, os seus faróis eram simples lanternas a carbureto, por faltar instalação
elétrica naquele tipo de carro.
O primeiro automóvel de praça
que surgiu em Valença
Com o decorrer dos
tempos, viu-se a cidade enriquecida de maior número de automóveis de praça,
como também dos do tipo de passeio, preocupados que estavam os proprietários
de possuirem os tipos mais modernos. Formaram-se, mais tarde, empresas de
transporte, e a indústria local passou logo a utilizar-se de caminhões-gigantes
que, hoje, em número apreciável, trafegam pelas estradas, levando a produção
e trazendo para a sede municipal as mercadorias de importação.
Em 17 de abril de 1947, fundou-se na cidade de Marquês de Valença, a “Viação Valenciana Limitada”, sociedade, por cotas, com o capital integralmente realizado de Cr$250.000,00. Essa empresa, que está registrada sob o número 443, no Registro de Comércio, executa o serviço de ônibus entre as cidades de Marquês de Valença e Barra do Pirai e o povoado de Manuel Duarte, passando pela cidade de Rio das Flores.
Pretende estabelecer
linhas de comunicações com Afonso Arinos, Santa Izabel do Rio Preto, passando
por Conservatória, Desengano e Parapeúna, tão logo estejam as respectivas
estradas de rodagem em condições favoráveis ao tráfego.
A
cidade de Valença estava, em 1909, em franca decadência.
Um
grande peso oprimia em longos anos a marcha de seu progresso: Valença
atravessava o seu mais angustioso período que só começou a desaparecer com a
vinda do comendador Antônio Jannuzzi, antigo construtor na capital da República.
Graças
ao prestígio político e social do coronel Frederico de la Vega, foi o
comendador Jannuzzi cercado das mais entusiásticas provas de distinção por
parte da população, em cujo seio se tornou logo o elemento decisivo de
animadas iniciativas.
Devemos
bendizer o interesse revelado pelo comendador Nicolau Pentagna, antigo morador
em Valença, que, fazendo parte, nessa ocasião, da conhecida firma construtora
Antônio Jannuzzi, Filhos & Cia., do Rio de Janeiro, empenhou-se, vivamente,
em trazer para Valença o seu velho amigo comendador Antônio Jannuzzi.
Comendador Antônio Januzzi
Em
pouco tempo Jannuzzi conquistara as simpatias de toda a população, à vista de
suas atitudes de benemerência e desprendimento, e
de seus gestos de altruismo, ao lado de sua esposa, D. Ana Jannuzzi — dama
de caridade que enchia de esmolas e alegria os lares pobres de Valença.
O
construtor, auscultando as necessidades da cidade de Valença principalmente no
que dizia respeito à assistência social, abria a
sua bolsa generosa e socorria os indigentes da Santa Casa,
distribuindo-lhes, periodicamente, alimentos, roupas e dinheiro.
A
cidade, reconhecida, se exaltava com o casal benvindo.
Um
dos fatores primordiais do ressurgimento de Valença, foi, sem dúvida, a
encampação da antiga estrada de ferro “União Valenciana” à Central do
Brasil, fato ocorrido em 1910.
A
instalação das oficinas e, mais tarde, do 10o Depósito da Central
do Brasil, com a construção da variante de Esteves e dos trechos ferroviários
entre Valença e Taboas, e de Rio Preto à Santa Rita do Jacutinga, veio,
indubitavelmente, aumentar a população, enriquecer o comércio e ativar as indústrias,
passando a cidade, com efeito, a desfrutar uma situação de inegável
prosperidade, situação que Valença ficou devendo ao então presidente da República
marechal Hermes da Fonseca e ao dr. Paulo de Frontin, então diretor da Central,
de quem Jannuzzi era amigo.
Os melhoramentos que o
construtor Jannuzzi introduziu na velha e centenária Santa Casa da Misericórdia
marcaram uma época de fulgor social. A festas de caridade ali levadas a efeito,
tendo à frente sua família, foram excepcionalmente brilhantes, tal a importância
de que se revestiam as memoráveis quermesses em benefício da indigência.
A aquisição da antiga
chácara do dr. Souza Nunes, doada à Sociedade Presbiteriana de Valença, pelo
comendador Jannuzzi, abriu novos horizontes para a mocidade valenciana: o velho
casarão, transformou-o Jannuzzi em um colégio — o Ateneu
Valenciano.
O
comendador sentia, emocionado, que a cidade o acolhia fraternalmente; e
resolveu, por isso, fixar residência em Valença, com sua famiia. Assim é que,
em 1911, adquiria à viúva José Joaquim Faceira, pela importância de Cr$
11.000,00, o maior e o mais belo edifício da cidade — o velho solar do
Visconde do Rio Preto. Remodelou-o a gosto, gastando cerca de Cr$ 120.000,00.
Era, então, na sua “Vila Adélia” que, dava a família Jannuzzi, as magníficas
recepções à sociedade valenciana, em elegantes soirées
que ficaram memoráveis.
Jannuzzi, cada vez mais
apegado às coisas de Valença, movimentava-se, de corpo e alma, em favor do
progresso urbano, realizando construções de alto valor. Em 1912, a diretoria
da Central do Brasil confiava-lhe a construção do atual edifício da estação
ferroviária local.
Em homenagem ao dr.
Paulo de Frontin, fundou e inaugurou, na cidade, em 1913, a “Cia. de Rendas e
Tiras Bordadas Dr. Frontin”, com o capital de Cr$400.000,00.
Em 8 de dezembro de
1919, inaugurou-se o belo edifício do Hotel Valenciano, também por ele
construido. Esse hotel foi um dos maiores empreendimentos da época, cuja
construção importou em Cr$ 360.000,00.
Não pararam aí as
iniciativas de Antônio Jannuzzi: a construção, em 1921, do antigo edifício
do grupo escolar “Casemiro de Abreu”; os melhoramentos introduzidos na
Cadeia Pública; a construção do lindo edifício da Igreja Evangélica
Presbiteriana, em 1923; os melhoramentos no antigo edifício da Igreja Evangélica
Batista — todos esses empreendimentos assinalaram uma fase de francas
atividades de remarcada importância social, de que resultou grande impulso, que
se vem desdobrando até o presente, ininterruptamente.
Por fim, Jannuzzi
adquiria ao dr. Marciano de Melo a antiga chácara onde, há pouco, esteve
instalado o quartel do 1o Batalhão de Saúde da Força Expedicionária,
transformando-a em agradável moradia, à qual dera a denominação de “Vila
Leonor”. Essa propriedade, mais tarde vendida ao governo federal, foi
destinada à instalação provisória de contingentes militares.
No dia 30 de maio de
1914, por ocasião da inauguração da nova estação ferroviária, autorizado
pela deliberação da Câmara, de 15 de abril de 1913, inaugurou-se, na cidade
de Valença, o monumento em bronze e granito, erigido pela população
valenciana, em homenagem ao dr. Paulo de Frontin, pelos seus relevantes serviços
à cidade e ao município, quando diretor da Estrada de Ferro Central do Brasil,
encampando a antiga estrada de ferro “União Valenciana” àquela ferrovia.
Busto do Dr. Paulo de Frontin
O ato inaugural, que
teve lugar na praça que recebeu o nome do ilustre engenheiro, ao qual esteve
presente o homenageado, acompanhado de grande comitiva, foi uma grande festa
social, e ali esteve reunida toda a população, para, comemorando aquele
acontecimento, prestar ao dr. Paulo de Frontin as mais inequívocas provas de
gratidão de um povo que se sentia feliz pela nova aurora de progresso que
surgia para Valença.
—
“Quis a Providência divina que V. Excia., sr. dr. Paulo de Frontin, se
achasse na Diretoria da Estrada de Ferro Central do Brasil e, com a agudeza notória
do seu alto espírito, V. Excia. tomou a iniciativa de promover, junto ao
eminente sr. dr. Nilo Peçanha, então presidente da República, bem como perante
o sr. Ministro da Viação, o preclaro dr. Francisco de Sá, a promulgação do
decreto de encampação das estradas de ferro “União Valenciana” e “Rio
das Flores”, a sua ligação entre si e as estradas de ferro “Central” e
“Oeste de Minas, incorporando-as à Rede de Viação Fluminense.
Tão
depressa foi decretada essa inestimável medida, deu-lhe V. Excia., auxiliado
sempre pelo governo do benemérito marechal Hermes da Fonseca, imediata execução:
remodelou todas as linhas, na extensão de cêrca de 200 kms, até S. Fernando,
e de 3 Rios até Vassouras, e ligada à “Rio
das Flores”, mediante a construção de mais 12 kms.; construiu a variante de
Esteves com 4 kms.; estendeu as nossas linhas até Barra do Piraí; renovou todo
o trem rodante com material da melhor qualidade; multiplicou os comboios,
animando o tráfego, outrora desfalecido, com tamanho acerto que a produção
respondeu com aumento acelerado que, em pouco tempo, reclamou novos acréscimos;
desbarbarizou as tarifas; mandou construir na cidade o 10o Depósito
e o grandioso edifício que hoje se inaugura para a estação de Valença”.
Busto do Com. Antônio Jannuzzi - Ano 2001 - Foto: Ricardo Reis
Na
sessão da Câmara Municipal de 27 de julho de 1915, foi lido um requerimento de
uma comissão, constituída do dr. Mário Castilhos do Espírito Santo, José de
Síqueira Silva da Fonseca, Vicente Ielpo, dr. Firmino Prisco Rodrigues Silva e
José Antônio Nogueira de Barros, datado de 10 de fevereiro daquele ano — intérprete
que era dos sentimentos do povo valenciano, no qual comunicava havia iniciado
uma subscrição popular, para levantar-se, numa das praças da cidade, o busto
do comendador Antônio Jannuzzi, credor da gratidão do povo pelos inestimáveis
serviços por ele prestados, no sentido do erguimento de Valença; e assim pedia
a referida comissão autorização para tal fim e fosse indicado o local onde se
deveria dar início às respectivas obras. A Câmara aprovou unânimemente o
projeto, designando o parque D. Pedro II para aí ser ereto o monumento em honra
ao grande benfeitor Antônio Jannuzzi.
Monumento a Balbina Fonseca
A sociedade valenciana, sempre grata às iniciativas que têm por objetivo o bem social, prestou significativa homenagem, perpetuando-lhe a memória, à sra. Balbina Mourão da Fonseca, finada esposa do comendador José Fonseca e uma das mais decididas protetoras da criança pobre de Valença. Foi ela a inspiradora de seu marido que, em sua honra, fundou a Associação Balbina Fonseca, construindo, na cidade, os lares “José Fonseca” e “Balbina Fonseca”.
Por
ocasião da inauguração do “Lar José Fonseca”, em 1939, inaugurou-se também,
na praça Visconde do Rio Preto, o monumento em bronze e granito — alegoria à
Proteção à Infâncía — trabalho
artístico da lavra de Alimondo Ciampi, italiano. À solenidade esteve presente
o comandante Amaral Peixoto, então interventor federal no Estado do Rio, além
das autoridades e da população local. A sociedade valenciana fez depositar ao
pé do monumento rica coroa de flores naturais em homenagem àquela que, em
vida, soube ser a devotada e querida protetora da pobreza valenciana.
Monumento
a
Humberto
Pentagna
Em
23 de junho de 1942, na cidade de Valença, a “Comissão Pró-Monumento a
Humberto Pentagna”, constituída dos srs. Benjamin Ielpo, José Leoni Iório e
João José Cosate, por meio de donativos populares, promoveu a inauguração de
uma imponente estátua, representando a figura sempre lembrada do dr. Humberto
Pentagna, grande chefe político e ex-vice-presidente do Estado do Rio de
Janeiro, no governo de Manuel Duarte.
Ao
prestigioso e saudoso político valenciano renderam-se as mais inequívocas
demonstrações de afeto e de saudade, naquele dia que era a data de seu natalício.
Pela
manhã, na igreja de N. S. do Rosário, foi celebrada concorrida missa, por alma
do homenageado, pelo vigário-geral monsenhor A. Salerno. Terminado o ato
religioso, verificou-se, na praça Visconde do Rio Preto, a solene inauguração
do monumento a Humberto Pentagna, cuja família se achava presente.
O
jornalista Leoni Iório fez, em nome da Comissão promotora, o discurso oficial
da entrega do monumento à Municipalidade, tendo o prefeito dr. Oswaldo da Cunha
Fonseca pronunciado um discurso em que exaltou a personalidade de Humberto
Pentagna, como cidadão na política, na sociedade e no lar. Por fim, em nome da
família Pentagna, agradeceu o irmão do homenageado, dr. Savério Vito Pentagna.
A srta. Maria Regina, filha do ilustre morto, descerrou o monumento que se
achava coberto com a bandeira nacional, ao som do hino e ao espoucar de uma
salva de 21 tiros.
Em
seguida, enorme romaria, compareceu ao túmulo do dr. Humberto Pentagna no cemitério
do “Riachuelo”, ai usando da palavra o sr. João José Cosate.
De
novo, junto ao monumento, a massa popular assistiu à solenidade do depósito da
urna, contendo a ata, documentos diversos, jornais do dia e moedas correntes.
—
Na última guerra mundial, Marquês de Valença teve a honra de assistir, entre
os aplausos patrióticos de sua gente, à formação do 1o Batalhão
de Saúde, que integrou a F.E.B., e de ver partirem com ele os expedicionários
valencianos Arlindo dos Santos e cabo Fleury Silva, ambos tombados nos campos de
luta da Itália.
Monumento
ao Expedicionário
Na
praça dos Expedicionários, em Marquês de Valença, erguese, em homenagem
aos valorosos integrantes da F.E.B., um singelo monumento, em bronze e granito,
com que o povo valenciano reverencia a memória dos que tombaram, para
sempre, em defesa dos princípios democráticos.
Na
placa de bronze lê-se a seguinte legenda:
V A L E N Ç A AO
1o BATALHÃO DE SAÚDE integrante da gloriosa F.E.B. 7 de setembro de 1950
|
A
velha Valença oferece-nos interessantes lendas que são, incontestavelmente,
reflexo espiritual do passado, e o poeta conterrâneo Arnaldo Nunes,
interpretando-as em seu livro América, canta-as,
em verso, na sublimidade de uma emocional evocação histórica.
Data
vênia, transcrevemos os versos do ilustre membro da Academia Fluminense de
Letras, relativos às lendas valencianas que, antes, sintetizamos em prosa.
Cova da Onça — Uma lenda cheia de espiritualidade, como aliás são tôdas as lendas
valencianas.
Numa
garganta, ao sopé da serra dos “Mascates”, havia uma furna de aspecto feio,
habitada por um enorme jaguar, terror da redondeza, de onde a denominação
local: Coiareté — Cova da Onça (de
Co-cova, e Iauareté-jaguar).
Consertava-se
o meio de eliminar aquele perigo, quando um velho e respeitoso Coroado,
indiferente a qualquer risco, porque, como diziam, nunca se vira desamparado
por Tupan, mete-se um dia na furna, com toda naturalidade.
Era
de mais: um suicida, talvez.
À
noite, porém, com surpresa geral, a fera vem chegando, e ao pressentir algo de
estranho, pára perto da furna, enfurece, avança e recua, e, por fim, soltando
um urro doloroso, desaparece na mata, para sempre.
Ante
mais esse fato, não podia restar dúvida: o silvícola tinha poderes sobrenaturais
que o protegiam. E firmou então os seus créditos de guarda tutelar do Bem, a
cuja simples aproximação o Mal se retirava.
Daí,
por diante, generalizou-se a crença de que toda a extensão em frente à furna,
até onde alcançasse o olhar benfazejo do índio, estava livre de espíritos
mal formados.
Arnaldo
Nunes transpõe esta lenda, para os seguintes versos:
“COVA
DA ONÇA”
(lenda) Dizem que ao sopé daquela serra havia, No grande resplendor da natureza, Uma furna tristíssima e sombria, Justo terror de tôda a redondeza. E’ que, mais de uma noite, à luz tranqüila E solene do luar, vira o selvagem O forte reluzir de uma pupila Entre o lindo veludo da folhagem: —Pupila que o jaguar fixa na lua, Quando pela amplidão, régia, flutua. Mesmo assim, ao perigo indiferente, Cena vez, um Coroado -— alma guiada Por
Tupan, como cria tôda gente Faz daquêle covil sua morada. Louco talvez, talvez um suicida Cansado dos rigores desta vida! À noite, entanto, quando sorrateira A fera, regressando, do alto desce: — Algo pressente, em cólera se esgueira, Ventre colado ao chão, chega, recua, Escarva terra, treme, pára, estua, E... num urro brutal, desaparece!... E’ que ali estava a mágica figura Do índio, vindo lá da célica planura! Mal não havia pois que resistisse A presença de tal iluminado... E foi por sua voz que o Céu bendisse O novo aldeiamento então criado!”
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Monte Douro — De onde provém a denominação Monte Douro?
Conta-se
que, naquele local, a dois passos do centro urbano, estabelecera um português o
seu reduto de exploração agrícola. Fez um amplo roçado, da margem do córrego
ao ponto mais elevado do cerro, e, como residisse no centro do atual bairro,
deixou no seu sítio, como zeladora, uma família de coroados, a cujo chefe forneceu uma espingarda para espantar os
inimigos da roça — pacas, capivaras, aves diversas, etc. Certo dia, enorme
bando de tiés-sangue esvoaçava na parte mais alta, e o selvagem decidiu espantá-lo.
Como faltasse chumbo, carregou a arma com pepitas de ouro colhidas no local. Pé
ante pé, fez partir o tiro, e o bando de pássaros ganhou o céu que estava
muito sereno, muito límpido. E, então, pareceu ao selvícola e aos demais que
presenciaram o fato, que aquelas aves de plumagem tão rubra e tão linda
representavam no veludo do azul os orifícios abertos no céu pelos bagos de
ouro — eram lágrimas de sangue choradas pela Altura! ....
Do
fato de carregar a arma com pepitas de ouro, nasceu a falsa impressão de abundância
desse metal ali, e, conseqüentemente, a denominação local — Monte
Douro.
Esta
lenda, Arnaldo Nunes canta nestes brilhantes versos:
O
“MONTE DOURO”
(lenda) —“Ei-lo,
um dos muitos cerros de Valença Que
afinal veio a ser o — “Monte Douro”: Riqueza
imensa, Um
imenso tesouro Ali
foi encontrado Pelo
“Coroado”. Entre tantas belezas infinitas. Em
profusão brilhavam as pepitas Com
as quais o nativo, Imaginoso
e vivo, Pela
falta de chumbo, enche a espingarda que
o português lhe dera para guarda Da
plantação Em
floração. E,
assim, com bagos de ouro, descarrega. Sôbre as franças da mata, a arma num bando De
tiés branco-escarlates, que à refrega Fugindo,
lá se vão, o alto galgando!...
Lá se vão para as alturas Essas
aves tão lindas e tão puras, E
se fixam no céu, emudecidas...
São
lágrimas de sangue desprendidas Do
veludoso azul todo furado Pelo tiro imprudente do Coroado!...”
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Cambota — Conta-se
que, a alguns quilômetros da então Vila de Valença, à margem do caminho
(hoje estrada) que conduz a Tabôas e Santa Teresa, estabelecera-se um colono
— “siô” Loureiro, caboclo já grisalho e alegre — perito na cultura do
fumo e no seu preparo, em corda, para o que, ao lado de sua palhoça, construíra
uma rústica “cambota” (dois paus grossos, de metro e meio, mais ou menos,
fincados no chão4 a um metro e pouco, um do outro. No alto, um furo
em cada, para girar um eixo de madeira, com a manivela na extremidade, e um
cocho de madeira em baixo).
Bom
violeiro e melhor cantador, aí vivia, com uma companheira, do trabalho honesto.
Trabalhava cantando. Quem passasse no caminho, havia de ver e ouvir, a pouca
distância, o caboclo e o seu canto, de mistura com o rinchado da “cambota”!
Em pouco tempo teve o nome mudado para Loureiro
do Cambota, e logo depois simplesmente — Cambota
ou Cambota Cantador. Honesto e
respeitador, era querido de toda a vizinhança e acolhido com simpatia até
mesmo pelas famílias dos fazendeiros, que costumava visitar, principalmente nas
suas maiores folgas, que eram nos períodos entre a plantação e a colheita.
Um
dia, porém, numa tarde linda, ao regressar de um desses passeios, três ladrões,
na suposição que viesse com dinheiro recebido pela venda de fumo, atacam-no,
de emboscada, pelas costas, prostrando-o, ferido mortalmente. Nisto o céu e
revolta e desaba um tremendo vendaval que levanta, em redemoinho, a poeira fina
do caminho, cegando os salteadores. Atira-os uns contra outros, vergasta-os, e
por fim deixa-os estirados ao chão, desfalecidos e sangrando.
O
corpo do “siô” Loureiro, ou melhor, do Cambota,
desapareceu misteriosamente. E ficou a crença de que o vento o levara para
o céu...
Daí
a denominação local — Cambota —
que permanece, e onde mais tarde se ergueu uma venda. E’ esta a lenda que
Arnaldo Nunes nos oferece nos versos abaixo:
CAMBOTA (lenda)
“Caboclo cantador e violeiro, Às
coisas da tristeza pouco dado. Forte,
cheio de vida, o “siô” Loureíro Posto
que pelos anos ja entrado, Era
de vê-lo, à margem do caminho, No
rancho da palhoça, a urdir, sòzinho, Com
a companheira, lépido e contente, A
corda do seu fumo rescendenre. Mestre
na plantação e na “cambota”, Gozava
alguns pequenos intervalos, Em
que, correndo a região remota, Ia
pelos vizinhos, a encantá-los. Não
era mais —— Loureiro, pois agora Chamavam-no
o “Cambota”, mundo em fora. E,
um dia, à hora do derradeiro raio Do
sol no seu olímpico desmaio, Nêsse
instante em que tudo canta e brilha, Cheio
de sonho, luz e maravilha, —
Ao regressar, chegando à encruzilhada Do
caminho com o trilho da morada, Três
larápios o prostram, de surprêsa e
então, muda-se, brusca. a natureza, Como
que revoltada contra o crime: E
num milagre de esplendor sublime, Desaba
um vendaval: e, em cegueira Plena,
deixa no chão desfalecidos E
castigados os brutais bandidos Deixa-os
no chão; porém, desaparece O
corpo do Cambota Cantador E’
que, murmuram todos, numa prece: —
Foi transportado ao reino do Senhor, Foi,
nas asas do vento, para a Altura Alma
tão grande, encantadora e pura, Êle,
lá pelo céu, era preciso, Foi cantar para Deus, no Paraíso !
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