Valença de Ontem e de Hoje

CAPÍTULO 4 

VALENÇA CIDADE 

(1857-1952)

PARTE 3

  Clicar sobre os títulos a seguir para ir direto ao assunto:

Luar, Querosene e Eletricidade

Água

Esgoto

Calçamento Urbano

Cadeia Pública

Matadouro Municipal

Cemitérios da Cidade

LUAR, QUEROSENE E ELETRICIDADE

Até 1874, a cidade de Valença não possuía qualquer espécie de iluminação pública. Vivia às escuras, na expectativa de um poético luar, que inspirasse deliciosas serenatas...

 

Somente em 14 de agosto desse ano, por deliberação da Câmara, sob a presidência do comendador José Gonçalves de Morais, é que ficou assentada a instalação de postes de ferro, com lampeões, para iluminação a querosene, de modo a servirem, de futuro, para iluminação a gás.

 

                                   O acendedor de lampeões contra as trevas da noite

 

As colunas de lampeões a querosene eram em número de 100 e custaram 5:510$585, tendo a Câmara pago pelo seu assentamento a importância de 1:162$860 serviço executado pela firma Faria, Anosa, Vilaronga & Cia. Mais tarde elevou-se para 150 o número de postes. A municipalidade dispendia, anualmente, com o serviço de iluminação pública, a querozene, cêrca de 7:000$000. Era costume acender os lampeões às 18 horas. O aspecto da cidade era triste, à noite. Os lampeões, assaz distantes uns dos outros, distribuíam uma luz muito fraca, e, quando o relógio da Matriz soava meia-noite, escasseava o querozene, e toda a cidade se mergulhava na treva, ficando apenas um lampeão ou outro a resistir por mais alguns minutos. Quando, por qualquer imprevisto, o acendedor de Iampeões atrasava, notava-se, na cidade, certa agitação: vozes, gritos, assobios e correrias enchiam a noite escura. Eram os garotos, que seguiam o vulto de um homem baixo, que surgia, de repente, na escuridão...

 

— O´ seu Nicolau! Ande com isso... Vamos,com essa luz!...

E o preto velho Nicolau Tolentino, vulgo Nicolau “Profeta”, carregando a sua escada, mostrava-se indiferente àquele vozerio, e, calmamente, ia acendendo os lampeões, orgulhoso de sua missão cotidiana, para fazer jus aos esmirrados “cobres”, que lhe pagavam os cofres publicos.

Certa administração, porém, após decisão unânime, resolveu não acender os lampeões em noites de luar, dado que a cidade com esta luz natural ficaria suficientemente clara, havendo, com tal medida, apreciável economia. Embora com isso nada perdesse, até ganhasse, nas serenatas, o som romântico das flautas, violões e modinhas, os vates crivavam de ironia a novidade, circulando mesmo, com sucesso, publicada nas folhas locais, a seguinte quadrinha:

 

“"A lua anda zangada,

Ora aparece, ora não.

Também já esta cansada        

De servir de lampeão.”    

 

Pouco depois, entretanto, com a chegada do progresso, o popular Nicolau “Profeta” ficou sem lampeões para acender.

 

A propósito do “Profeta” de sua terra, Jorge de Lima escreveu o soneto “O acendedor de lampeões”, que termina assim:

 

“Triste ironia atroz que ao senso humano irrita:

Êle, que doira a noite e ilumina a cidade,

Talvez não tenha luz na choupana em que habita

Tanta gente também nos outros insinua

Crenças, religiões, amor, felicidade,

Como êste acendedor de lampeões da rua !“

Era, com se vê, a sorte comum aos da classe, em toda parte. Com relação ao acendedor de lampeões de Valença, porém, o poeta teria que acrescentar alguma coisa, pois ele, que também talvez não tivesse luz na choupana, acabou perdendo o emprego, arrebatado pela eletricidade...

Igualmente, a iluminação particular era a querosene: os famosos “lampeões belgas” para os granfinos, lamparinas, a pavio de algodão, enchendo de fumo os casebres dos menos protegidos da sorte, e só um ou outro solar ou fazenda na pompa do gás a carbureto.

 

Em 1906, o desejo de se ativarem as indústrias tomava vulto nos meios sociais de Valença. Assim é que, na sessão da Câmara, em 18 de maio dêsse ano, sob a presidência do coronel Frederico de la Vega, deliberou-se sobre uma proposta feita à Câmara pela Cia. Industrial de Valença, que, nessa época, se fundara com o fim de explorar a indústria de tecidos de algodão, oferecendo a energia elétrica da antiga Usina de “João Bonito”, para o serviço de iluminação pública e particular, por preço pouco mais elevado, que o orçado antes pela municipalidade. Firmado o contrato, em 22 de dezembro de 1906, por concorrência pública, iniciou a Cía. Industrial a instalação dos postes e lâmpadas nas ruas principais da cidade. Avalie-se o regozijo da população ao ser inaugurada a luz elétrica em Valença: em 9 de março de 1907, inaugurou-se esse tão útil empreendimento, que lhe abrira assim as portas do progresso e da civilização! A iluminação das ruas, que era, nessa ocasião, de 150 lâmpadas de 32 velas, se fazia das 18 às 6 horas. Os dois maiores jardins da cidade eram apenas iluminados das 18 às 22 horas, por meio de lâmpadas de arco-voltáico de 1.000 velas. O preço mensal da iluminação particular era de $200 a vela. Em 1914, porém, a Cia. Industrial de Valença comunicava à Câmara que, em 1 de abril, havia passado a administração de sua seção de eletricidade à Cia. Industrial de Eletricidade, cuja transferência de contrato fora firmada, com a Câmara, em 27 de dezembro de 1915.

 

Com essa transferência, a cidade teve a sua iluminação melhorada, sendo, nessa ocasião, substituidas as lâmpadas de arco-voltáico dos jardins públicos por 24 lâmpadas de 200 velas, e as lâmpadas de 32, em algumas ruas, foram substituidas por focos de 50 velas. Em 6 de setembro de 1920, a Câmara reconhecia a idoneidade da antiga “The Rio de Janeiro Tramway Light and Power Company Limited”, à qual a Cia. Industrial de Eletricidade transferia o serviço de iluminação pública e particular da cidade.

 

Em 4 de setembro de 1928, depois de ouvida a população, em grande e memorável assembléia, realizada no velho Teatro da Glória, sob a presidência do então prefeito dr. Humberto de Castro Pentagna, foi renovado o contrato com a Light, em escritura pública lavrada no tabelião Heitor Luz, no Rio. Essa renovação vigora pelo prazo de 30 anos. A taxa por kwh. da iluminação domicilIária está subordinada a uma tabela em que se verificam as variações de $250, $300, $400 e $500 mensajs, proporcionais ao número de kwhs. consumidos. A iluminação urbana atingia, em 1940, a 48 logradouros públicos, e a iluminação particular a 1.198 prédios, considerando-se que, nessa ocasião, o número de prédios existentes na cidade era de 1.809.

 

A cidade de Valença é também servida pela Usina Hidro-Elétrica “Vito Pentagna”, de propriedade da Cia. Fiação e Tecidos Santa Rosa S/A. Essa companhia fornece apenas luz e energia a particulares, e força às oficinas locais.

                         

 

                                         Antiga represa da Usina Hidro-Etétrica “Vito Pentagna”, 

                                         no rio das Flores, com a sua barragem, hoje, ampliada.

            Damos abaixo o quadro demonstrativo do movimento do consumo particular de luz e força, na cidade, relativo às duas empresas, verificado durante os anos de 1940 a 1950:

                                 ILUMINAÇÃO PÚBLICA E PARTICULAR E CONSUMO DE LUZ E FORÇA

ANOS

ILUM. PÚBLICA

 ILUM. PARTICULAR

FORÇA

N. de Focos KWHS PRÉDIOS KWHS LIGAÇÕES KWHS
1940 404 112.151 1.198 391.591 29 2.376.959
1941 405 113.368 1.254 281.581 36 2.473.548
1942 411 115.314 1.325 457.717 32 2.910.787
1943 411 116.857 1.379 425.157 33 2.613.610
1944 415 117.984 1.415 479.253 39 2.693.410
1945 446 120.915 1.412 645.184 34 2.818.242
1946 453 127.299 1.416 718.718 76 2.929.178
1947 481 131.436 1.690 1.038.709 93 3.185.077
1948 518 142.229 1.711 1.013.196 98 2.841.940
1949 577 170.740 1.816 1.176.646 110 2.956.267
1950 635 201.730 1.970 1.242.261 126 3.059.310

   

            ÁGUA

Com relação ao serviço de água na cidade, devemos considerar todos os movimentos, que se fizeram em favor do saneamento urbano.

 

O benemérito Visconde do Rio Preto, à sua própria custa, conseguiu captar o manancial das Laranjeiras, e como a cidade não possuísse rede de encanamento, doou à municipalidade, em 1863, canos e torneiras, ficando apenas com direito a uma pena d’água gratuita para o seu palacete, na praça que hoje lhe tem o nome. Em 1864, João Marques Faria firmava contrato com a Câmara para a construção de uma caixa d’água, na cidade, coberta com grade de ferro, bem como para a substituição do encanamento existente. Em 1879, construiu-se um reservatório d’água, que ainda se encontra no morro do Benfica, por detrás do edifício da Prefeitura. Esse reservatório, que está situado a uma altitude de 56m,517,5, de seção otogonal, com a capacidade para 97.440 litros, recebia, até há bem pouco tempo, o suplemento de dois pequenos mananciais situados em terrenos da família Pentagna. O primeiro dêsses mananciais fornecia, apenas, em 24 horas, 9.504 litros, que eram conduzidos em manilha; o segundo, constituido de dois veios, fornecia 254.016 litros em 24 horas, também conduzidos por meio de manilha. Desses mananciais, no seu percurso, perdiam-se 115.776 litros, devido ao escapamento das juntas, e só chegavam àquele reservatório, reduzidamente, 75.168 litros. Os mananciais, conhecidos pelos nomes de “Machado” ou “José Alves”, e o reservatório da Prefeitura custaram à municipalidade 14:960$000, e forneciam durante a seca 40.000 litros diários.

 

Os encanamentos, que partiam desse reservatório, levavam água para a Prefeitura, Santa Casa, para os chafarizes existentes nas praças e para as ruas Vito Pentagna e Visconde de Ipiabas. Em 1870, foram estudados novos problemas da água para a cidade, tendo o comendador Araújo Leite apresentado um projeto para o serviço de abastecimento, orçado em 24:000$000, com a captação das águas das Laranjeiras. Em 1873, Faria, Rosa, Vilaronga & Cia. contratavam o serviço pela importância de 29:869$212. Essa obra, entretanto, pelo aumento de preço do material de construção, importou em mais de 50:000$000. Sabe-se que o percurso do manancial da serra do Mascate, até ao reservatório existente, era feito em manilha de barro, em 2 quilômetros de distância. Desse reservatórío a água era conduzida por meio de canos de 0,08 de diâmetro interno, que se reuniam depois num só e seguiam pelas antigas ruas Boa Vista (Tangua­ra), e Formosa (Silva Jardim) e dr. Ernesto Cunha, até à praça Municipal. Aí, dividia-se em dois ramais: um, que descia pela antiga rua da Polícia até a praça da Alegria (Conde de Baependi); e outro, que se dirigia pela antiga rua Uruguaiana (Saldanha Marinho), praça Visconde do Rio Preto e rua do Riachuelo (Cel. João Rufino), saindo uma derivação na esquina da rua Dr. Figueiredo, que voltava pela antiga rua de S. Leopoldo (Cel. Benjamin Guimarães) até à esquina da de S. José (Nilo Peçanha). Êsses encanamentos constituíam a rêde de distribuição urbana, que serviam às torneiras públicas, sustentadas por frades de pedra, existentes em algumas esquinas, e, também, às residências.

 

  Numa esquina... um frade de pedra para servir à população

 

Além dêsses encanamentos, havia um outro na rua Formosa, que ia até a rua Nilo Peçanha, e, entrando pelo palacete da Baronesa da Vista Alegre, terminava no palacete do Visconde do Rio Preto. Em 1889, o ribeirão de Sant’Ana, distante 11 quilômetros, era, segundo relatório da época, o indicado para abastecer a cidade. O serviço importaria em 99:000$000.

 

Em 1894, continuava deficiente o serviço de águas na cidade. As águas captadas não bastavam para as necessidades da população. O engenheiro Ernesto C. de Araujo Viana, chefe da Comissão do Saneamento de Valença, em seu relatório publicado nesse ano, mediu o volume dos mananciais da serra do “Mascate” e dos denominados “José Alves” ou “Machado”, o que foi feito após demorada estiagem, chegando ao seguinte resultado: o primeiro manancial dava, em 24 horas, um fornecimento de 98.000 litros, e o segundo, 40.000 litros. A esse tempo, para uma população de cerca de 4.000 almas, cabia, apenas, a cada habitante, a insignificante percentagem de 34,5 litros. O engenheiro Araujo Viana faz a seguinte referência: “Assisti, e, por experiência própria, tive oportunidade de sofrer as consequências da falta d’água em Valença. Depois das 9 horas da manhã as torneiras de minha casa não deitavam uma gota.”

 

Um novo reservatório foi construido na rua da Polícia, atual Domingos Mariano, esquina com a rua Dr. Ernesto Cunha. Essa caixa, de construção frágil, e com capacidade para 77.481 litros, está colocada a uma altitude de 560ms,526,5. Os mananciais da serra das Laranjeiras, a uma altitude de 624ms,718,5, davam, em 1928, 246.240 litros, em 24 horas. Apenas um deles é atualmente aproveitado para o abastecimento de uma parte da cidade, e é recebido no reservatório da rua Dr. Ernesto Cunha. A Caixa da antiga chácara do dr. Júlio Xavier, no morro de Santa Cruz, abandonada há mais de 30 anos, tem capacidade para 56.376 litros, e está situada a 586ms,039,5 de altitude. Destinava-se a receber as águas do ma­nancial das Laranjeiras. A Câmara Municipal, em 29 de novembro de 1889, autorizou a canalização de água potável no lugar denominado Benfica, com o fim de aumentar o abastecimento urbano.

 

Mais tarde foi também construida uma caixa suspensa nos terrenos do palacete Visconde do Rio Preto (hoje “Lar José Fonseca”), a qual nunca foi aproveitada. Como o manancial “José Alves”, devido à. notável seca verificada em 1914, passasse a fornecer 10.000 litros d’água por 24 horas, irrompera, na cidade, violentamente, a epidemia do tifo, ficando a população, que naquela época era de cerca de 5.000 almas, apenas com 90.000 litros. Alarmadas com a epidemia, trataram as autoridades locais de obter mais três nascentes em terras de Vito Pentagna, que as cedeu gratuitamente. Forneciam 200.000 litros diários. Faltava, entretanto, recursos à Câmara para adquirir novos canos para o reforço do abastecimento. Mas, a diretoria da Central do Brasil, que, nessa ocasião, necessitava de água para suas oficinas, cedia à Câmara 3.500 metros de cano de ferro, sob a condição de lhe serem fornecidos gratuitamente 60.000 litros, que, mais tarde, passaram a 100.000 litros diários. E, assim, com esse melhoramento, que importou em 54:000$000, o engenheiro Mário Castilhos do Espírito Santo contribuia para o abastecimento da cidade, dirigindo, em 1915, tal serviço. Quando presidente da Câmara, nesse ano, o coronel Frederico de la Vega, foram captadas as águas que nascem nos terrenos pertencentes aos herdeiros de Vito Pentagna, importando tal serviço em 53:086$000. Desprezado o manancial “José Alves”, a, Câmara mandou arrancar, em 1918, o respectivo encanamento, que, mais tarde, foi aplicado na rua Saldanha Marinho, com o fim de melhorar o abastecimento da praça Visconde do R. Preto e adjacências. A cidade se abasteceu por muitos anos com as águas das “Laranjeiras”, que, por fim, não atendiam às necessidades urbanas.

 

                        

                 1a Comissão do Saneamento de Valença. constituída dos seguintes cidadãos:

1)dr. Ernesto C. de Araujo Viana (chefe da Comissão); 2) dr. Dario Furtado de Mendonça (vice-presidente da Câmara); 3) dr. Ernesto Frederico da Cunha (presidente da Câmara,); 4) sr. Lucio Martins Esteves (vereador); 5) sr. Afonso Mariano Alvares; 6) sr. Augusto Pinheiro; 7) sr. Vitor H. Arauto Viana, e 8) sr. Felisberto de Oliveira (auxiliares técnicos).

 

Em 1929, finalmente, o ilustre valenciano e engenheiro militar, sr. José Vicente de Araújo e Silva, em relatório, que dirigiu ao Diretor de Obras Públicas no Estado do Rio, apresentou minucioso estudo de abastecimento d’água e de serviço de esgoto, acompanhado de projetos das novas instalações, que, por ordem do governo Manuel Duarte, viriam dotar a cidade de Valença de abundância do precioso líquido, já tão escasso para uma população, que aumentava de ano para ano. No relatório, examina e descreve os mananciais do “Benfica” e das “Laranjeiras”, únicos existentes no perímetro urbano, e sugere as modificações necessárias para seu melhor aproveitamento. Estuda ainda o grande açude da Concórdia, situado no 2o distrito. As águas desse açude foram analisadas no Laboratório Nacional de Análises, que atestou a sua potabilidade. Os mananciais estudados no relatório poderiam fornecer, então, à cidade, o seguinte volume d’água, em 24 horas:

 

                           Conceição............................................................ 54.027 litros

                           Laranjeiras......................................................... 246.240 litros

                        Benfica................................................................ 189.420 litros                                 Concórdia....................................................... 4.501.400 litros

               

                                       TOTAL................................................ 5.091.087 litros

 

O serviço de abastecimento d’água e o rudimentar sistema de esgotos, então existentes, comprometiam o estado sanitário da cidade. Comentava, no relatório, o dr. José Vicente: “...já podemos fazer idéia do modo precário por que são atualmente tratados esses dois serviços. Não fossem excepcionais as condições de salubridade desse clima invejável, poder-se-ia classificar de inabitável uma cidade, que outrora fora cabeça de um dos mais prósperos municípios do Império, rica de suas imensas fazendas de café e residências de titulares de grande destaque no segundo reinado”. E, mais adiante, escreve:“ Pode-se afirmar que é de absoluta penúria o estado de Valença, relativamente ao serviço de águas; de esgôto nada existe que possa merecer esse nome”.

 

 

                                  Vista parcial do açude da “Concórdia” - 2003 - Foto: Ricardo Reis

 

Do plano apresentado pelo engenheiro valenciano, ressalta o aproveitamento dos mananciais, dividindo a cidade em três zonas alimentadas por três reservatórios. O primeiro, antigo reservatório, de construção sólida, situado em terrenos por detrás da Prefeitura, uma vez reformado, alimentaria a rede de média pressão. Com capacidade para 97.440 litros, esse reservatório, situado a 567ms,517,5 acima do nível do mar, abasteceria a uma das zonas baixas da cidade. O segundo seria construido, aproveitando uma antiga construção interrompida, existente na colina de Santa Cruz, e serviria à zona de baixa pressão. O terceiro, antigo reservatório, outrora existente nos terrenos do “Lar José Fonseca”, abasteceria a zona de alta pressão, isto é, a parte alta da cidade. Por estas três rêdes ligadas entre si, os tres reservatórios seriam alimentados, o primeiro pelos mananciais do “Benfica”, que sofreriam novo método de captação; o segundo, pelas águas do sítio “Conceição”, e o terceiro, pelos mananciais das “Laranjeiras”, que seriam represados e filtrados. Os mesmos cuidados seriam tomados no aproveitamento das águas do sítio “Conceicão”.

 

O reservatório da rua Dr. Ernesto Cunha, que ainda recebe as águas das “Laranjeiras”, seria exclusivamente destinado ao abastecimento das oficinas e estação da Central do Brasil, num fornecimento diário de 200.000 litros.

 

Foram também estudados pelo engenheiro José Vicente os mananciais existentes no município: o de “Chacrinha”, o do ribeirão “Sant’Ana”, o do “Figueira”, e os do açude da “Concórdia”.

Considerando que “só em último recurso devemos recorrer aos rios para abas­tecimento de uma cidade, pelo fato de suas águas serem forçosamente suspeitas...” foram, desde logo, afastados de qualquer cogitação, com exceção dos últimos mananciais que o governo Manuel Duarte adquiriu a Alcides de Souza, pela importância de Cr$ 65.000,00, graças aos esforços do engenheiro José Vicente e do então prefeito dr. Humberto Pentagna.

 

O açude da “Concórdia”, construido nos áureos tempos do Barão de Santa Mônica, encontra-se no centro da fazenda da “Concórdia”, a uma altitude de 800 metros acima do nível do mar, portanto a 236 metros acima do nível da sede municipal. Vários mananciais das vertentes alimentam-no e a estabilidade da represa está firmada pelo tempo, pois sua construção data de mais de 60 anos.

 

Medidas as sobras e a nascente aproveitada, tem-se uma produção de 4.501.400 litros em 24 horas, de que uma parte apenas é dirigida para a cidade.

 

Calcula-se que o volume diário que entra, atualmente, no reservatório da Aparecida, cuja capacidade é de 770.000 litros, seja de 1.328.000 litros para 10.000 habitantes, num volume total per cápita de 132,8, considerando-se que só as oficinas da Central do Brasil consomem, diariamente, cerca de 200.000 litros.

 

O  açude da Concórdia dista da cidade de Valença 18 quilômetros, por estrada de rodagem, atualmente em péssimas condições, e a sua linha adutora mede 13km,600. A profundidade máxima do açude é de 14 metros, e a mínima de 6 metros, sendo que o seu contorno, inteiramente irregular, é de cerca de 4 quilômetros, dentro de uma linda paisagem digna de aproveitamento turístico.

 

O projeto do dr. José Vicente não foi executado, em virtude do movimento revolucionário de 1930. Só mais tarde, isto é, em 15 de fevereiro de 1935, graças ao ex-prefeito Carneiro de Mendonça, interessado junto ao governo do comandante Ari Parreiras, é que se efetivou a inauguração do atual abastecimento d’água da cidade de Valença, serviço executado pela Empresa Mauá S/A, do Rio de Janeiro, que, infelizmente, não aproveitou in totum o projeto do engenheiro José Vicente.

 

Presentemente, com o aumento da população e de novas construções que vão surgindo na cidade, a água que a abastece já é insuficiente para o consumo local. Daí, a necessidade de medidas oficiais que impeçam venha faltar água para a população, num futuro não muito distante.

 

Toda a água fornecida pelo açude, nas 24 horas, é consumida pela população, tornando-se insuficiente, devido à má captação, por ocasião das sêcas.

 

Medidas estão sendo estudadas pelo governo municipal, no sentido da imediata aquisição de todas as vertentes do açude da Concórdia, de modo a evitar que as nascentes fiquem sujeitas à poluição pelos animais, a par do indispensável melhoramento, pela técnica moderna, dos sistemas de captação e filtragem, bem como de melhor distribuição na zona urbana.

 

Atualmente os serviços de abastecimento d’água, que antes eram, em virtude da lei estadual N. 274, de 9-10-1928, executados pelo governo fluminense, se acham transferidos ao governo do município, por força do decreto-lei estadual N. 1.576, de 22-1-1946. Os dois reservatórios existentes na cidade apresentam uma capacidade total de 1.070 m3 e a extensão das linhas de distribuição é de 14.400 metros (1946). A quantidade d’água distribuida diariamente, na zona urbana, é de 1.328 m3.

 

O número de logradouros, na cidade, com abastecimento domiciliar, era de 48, compreendendo cerca de 1.454 prédios abastecidos por penas d’água, em 1946, havendo apenas 7 instalações hidrométricas.

 

O problema da água continua sendo dos mais graves...

   

ESGOTO

 

Falemos, agora, do serviço de esgoto da cidade.

 

A construção do primeiro coletor de matérias fecais foi feita em 1897, na rua Saldanha Marinho, no trecho compreendido entre a praça Visconde do Rio Preto e rua Nilo Peçanha, e daí até à ponte existente no fim desta rua, próximo à rua Comdor. Araújo Leite, serviço que importou em Cr$ 21.835,90. A segunda construção foi efetuada em dezembro daquele mesmo ano, no trecho da rua Saldanha Marinho, desde o início da ladeira da Catedral à esquina da rua Nilo Peçanha, continuando daí até a esquina de Silva Jardim, construção essa realizada pela quantia de Cr$ 15.002,70. A terceira construção foi inaugurada em 1898, compreendendo os seguintes trechos: o primeiro, na rua D. André Arcoverde, desde a esquina de Domingos Mariano até à esquina de Conde de Valença; o segundo na rua Cel. Leite Pinto; e finalmente, o quarto trecho, que partindo do início da rua Domingos Mariano, vai juntar-se ao coletor da rua D. André Arcoverde, próximo à Cadeia Pública. Todas essas obras importaram em Cr$50.027,00. A quarta Construção da rede de esgoto foi feita exclusivamente para servir ao antigo grupo escolar “Alonso Adjuto”, atual “Casemiro de Abreu”; essa rede passa pelo beco da Glória, dirigindo-se pela rua Quintino Bocaiúva, em direção ao coletor da rua Saldanha Marinho, na esquina.

 

Todas essas redes foram construidas com manilhas de barro de 0m,30 de diâmetro interno, com exceção dos trechos do beco da Glória, rua Domingos Mariano e praça D. Pedro II, em cujas rêdes as manilhas são de 0m,165.

 

Em 1933, efetuou-se a construção da rede da rua Nilo Peçanha, no trecho que vai da esquina da Silva Jardim até à ponte existente à entrada do bairro da Aparecida. Naquele mesmo ano verificou-se a construção da rede da rua Dr. Mário Castilho, bem como a de um pequeno trecho da rua 27 de Novembro. Construíram-se, naquele ano, ainda, a da rua Padre Gomes Leal e a da Conde de Valença, no trecho que vai da rua D. André Arcoverde até 350 metros de extensão.

 

Em 1934, foi construída a existente entre a esquina da atual rua Rodrigues da Cruz e a primeira ponte da rua Dr. Júlio Xavier, passando pela antiga praça Conde de Baependi.

 

Em 1936, foram construídas as das ruas João Pereira e Dr. Figueiredo, no trecho compreendido entre as ruas João Pereira e Ana Jannuzzi.

 

Em 1939, construiu-se a rede da rua Carneiro de Mendonça, trecho compreendido entre a rua Cel. João Rufino e a ladeira do Barrozo, atual Barão de Jaguarí. Tôdas essas construções foram efetuadas com manilhas de 0,6 polegadas.

 

Calcula-se ser pouco mais de 719, o número de prédios esgotados, num total de 3.415 metros, mais ou menos, de ruas servidas

                                         

O lançamento das águas é feito in natura, não havendo nenhum tratamento, O esgotamento dos prédios não ligados à rede é feito por meio de tubos de barro (manilhas) aos córregos ou valetas, e por meio de fossas, cêrca de 400, das do tipo de escavação.

 

O serviço de esgoto da cidade de Valença deixa muito a desejar para uma população de mais de 12.000 almas. Esse serviço, como o do abastecimento d’água, estava subordinado à administração estadual, desde 1935.

 

O sistema de esgoto usado não é serviço perfeito. De natureza toda transitória, está muito aquém da boa técnica e das necessidades.

 

O serviço sanitário doméstico, em geral, não atende à higiene. As matérias fecais são lançadas, por meio de manilhas, nos quatro córregos que cortam a cidade, os quais se dirigem para o rio das Flores, distante pouco mais de um quilômetro.

 

“Não é difícil observar, em certas casas, o tubo que sai do vaso sanitário achar-se ligado ao esgoto da pia da cozinha ou ao condutor de águas de um lavatório; o resultado é que os gases do W. C., — segundo observou o engenheiro Araújo Viana, em seu relatório publicado em 1894 — Saneamento de Valença — encontram fácil escapamento pelo tubo da pia e se espalham pela cozinha. A falta de sifões, ou de serpentinas, que funcionem como isoladores hidráulicos pode redundar em maus efeitos”.

 

“Há por toda a cidade — comenta o referido engenheiro, — em alguns quintais, — fossas imperfeitas, sem a técnica precisa, O serviço de esgoto é tão cheio de erros que é para admirar não se desenvolverem moléstias: o que só se explica por proteção quase divina do clima salubérrimo do lugar”.

CALÇAMENTO URBANO

O calçamento da cidade de Valença data de muitos anos.

Com a elevação à categoria de cidade, prosseguiram-se os desaterros da parte central urbana, como sucedeu em 1860, em que se efetuaram grandes obras de nivelamento na antiga rua S. José, atual Nilo Peçanha, tendo concorrido para isso, de maneira entusiástica, o Visconde do Rio Preto e o Barão de Juparanã, contribuindo ambos com a metade das despesas.

 

Em 1863, fez-se o calçamento do antigo trecho da rua Conde de Valença, atual Visconde de Ipiabas. Em 1867, inaugurou-se o calçamento da antiga rua da Misericórdia, atual Cel. Leite Pinto, e o da rua do Imperador, hoje Vito Pentagna, compreendendo a atual praça D. Pedro II até a esquina da rua dos Mineiros.

 

Naquele mesmo ano, calçou-se a antiga rua do Riachuelo, atual Cel. João Rufino, desde a rua dos Mineiros até ao cemitério do “Riachuelo”. Em 1868, executou-se o serviço de calçamento da rua lateral da praça D. Pedro II, entre as esquinas das atuais ruas Cel. Leite Pinto e Dr. Ernesto Cunha.

 

Ainda em 1867, inaugurou-se o calçamento da atual rua D. André Arcoverde, presentemente em remodelação, e também o da rua Saldanha Marinho (rua dos Mineiros), cujo serviço foi custeado por meio de uma subscrição entre os moradores dessa rua. Em 1870, fez-se o desaterro da antiga rua do Barrozo, atual Silveira Vargas. Nessa mesma época, levou-se a efeito o calçamento da antiga ladeira do Rosário, hoje denominada Dr. Bernardo Viana; o da rua Silveira Vargas e o da ladeira do Barrozo; o da antiga rua da Princesa, atual Dr. Figueiredo, até à antiga rua S. Januário, atual João Pereira; o da antiga rua S. Leopoldo, atual Ana Jannuzzi, e o da antiga rua Formosa, atual Silva Jardim, desde a esquina de Nilo Peçanha até à atual Quintino Bocaiúva.

 

Em 1871, inaugurou-se o calçamento do trecho da rua Nilo Peçanha, entre Silva Jardim e dos Mineiros. Em 1872, foi calçada a rua lateral da praça Visconde do Rio Preto, do lado do Cine-Teatro Glória. Em 1876, inaugurou-se o calçamento da rua Silva Jardim, desde Quintino Bocaiúva até à antiga praça Conde de Baependí; o da rua Nilo Peçanha, desde a rua dos Mineiros até à rua Comendador Araújo Leite; o da antiga travessa da Matriz, atual Dr. Ernesto Cunha, e o da antiga rua da Polícia, atual Domingos Mariano. Em 1880, executou-se o rebaixamento do calçamento da rua Saldanha Marinho, no cruzamento da praça D. Pedro II, bem como o recalçamento da ladeira da Catedral. Segundo informa Luiz Damasceno Ferreira, em sua obra intitulada História de Valença, calculam-se, com exatidão, as despesas dessas obras em Cr$ 48.787,44, contribuição de particulares, sendo que só o benemérito Visconde do Rio Preto contribuiu, do seu próprio bolso, com a importância de Cr$ 41.405,90 (bela quantia naquela época!).

 

Até então o calçamento da cidade, realizado por iniciativa particular, com a ajuda dos escravos, era apenas constituído de pedras de alvenaria, espécie de calçamento conhecido pela denominação pitoresca de pé-de-moleque, feito de pedras soltas, quase arredondadas, irregulares e de dimensões diversas, sobre a terra dura, salientes, mostrando-nos, em torno, a fertilidade do solo pela abundância do capim ou da tiririca vicejante. Algumas ruas ainda conservam essa espécie de calçamento.

 

Com o decorrer do tempo, as administrações municipais foram substituindo tal calçamento pelo de paralelepípedos. O primeiro calçamento a paralelepípedos, executado em Valença, foi o da rua Saldanha Marinho, inaugurado em 1921 pela administração Dr. José Hipólito de Oliveira Ramos Filho.

 

Sobre o serviço de pavimentação dos logradouros públicos, devemos considerar que, até 1950, dos 100 logradouros, dez foram calçados a paralelepípedos, doze a alvenaria (pedras irregulares), vinte a paralelepípedos e alvenaria, e os demais em terra batida.

 

A cidade, que, nêstes últimos tempos, tem recebido dos governos municipais destacada atenção, muito deve, quanto ao seu urbanismo, aos então prefeitos dr. Humberto Pentagna, Osvaldo Fonseca, Benjamin Ielpo e dr. Luiz Pinto, como vai abaixo demonstrado:

 

   

ESPECIFICAÇÃO 

    MELHORAMENTOS URBANOS ATÉ 1952  

LOGRADOUROS PRÉDIOS EXTENSÃO REDE ÁREA CALÇADA
ÁGUA 55 1.890 18.560 -
ESGÔTO 47 879 5.782 -
ILUM. PÚBLICA 71 2.048 - -
CALÇAMENTO 48 - - 57.642

 

CADEIA PÚBLICA

Como ficou registrado no capítulo anterior, a Cadeia Pública, edifício de um único pavimento, foi construído, em 1854, pelo governo da Província. Dispõe de seis compartimentos separados por um corredor, que vai ter a um pátio, fechado por alta muralha de pedra construída em 1870.

                                                                   

Fachada do edifício da Cadeia Pública e Delegacia de Polícia.

 

Em 1921, por iniciativa do governo do Estado, sofreu o edifício sensível reforma, tendo sido construido um pavimento superior, cuja obra, confiada à firma Antônio Jannuzzi & Cia., importou em Cr$ 75.000,00.

  E’ um prédio com vastas salas, tendo boas instalações sanitárias e aposentos para o carcereiro.

 

O pavimento superior é constituido de espaçosas salas onde se instalam a delegacia e o comando, e dois grandes dormitórios destinados às praças.

 

Esse pavimento superior foi inaugurado em 23 de abril de 1921, com a presença do então presidente do Estado do Rio, dr. Raul de Morais Veiga.

                                                                               

 

MATADOURO MUNICIPAL

  O primitivo matadouro público da cidade, construido em 1841, quando ainda vila, esteve instalado ao lado esquerdo da antiga ladeira do Barrozo. O seu construtor, Antônio José Barboza, recebia em pagamento, pela obra que executara, o que fosse arrecadado do imposto de talho de gado.

 

Reconhecendo-se, mais tarde, que esse lugar era impróprio para o serviço de matança de gado, em detrimento, portanto, da saúde pública, resolveu a Câmara, em sua sessão de 14 de fevereiro de 1861, aprovar o parecer da comissão de obras municipais, relativo à construção de um novo matadouro em outro local apropriado, preferentemente onde faziam junção os córregos da cidade, próximo à estrada da Passagem.

 

Em 31 de outubro de 1864, decidia o governo da Província mandar desapropriar 2.500 braças de terreno pertencente a Luiza Maria da Conceição Tavares, que o cedeu gratuitamente à Municipalidade, sob a condição de nele ser edificado o matadouro, cujas obras importaram em Cr$ 3.115,00. Era um predio de 30 palmos em quadro por 20 de altura.

 

Na sessêo da Câmara, em 7 de março de 1881, o vereador João Damasceno Ferreira apresentou uma planta e orçamento para a construção de um novo ma­tadouro público, no mesmo local. Em 25 de abril desse mesmo ano, Faria & Ariosa firmaram contrato para a construção desse novo matadouro pela importância de Cr$ 7.982,73, o qual foi inaugurado em 22 de agosto de 1881.

 

E’ esse o matadouro público que serve à população local; distante da cidade cerca de dois quilômetros, está situado numa das margens do rio das Flôres.

 

Em 11 de março de 1884, foi aprovado o primeiro regulamento do serviço de matança de gado para o consumo público, elaborado pelo então vereador major João Rufíno Furtado de Mendonça.

 

Em 9 de julho de 1895, foi nomeado o farmacêutico Rafael Calmon de Siquei­ra, para proceder ao exame das reses que fossem abatidas.

 

Para termos uma idéia do consumo de carne, na cidade de Valença, em vários anos, damos a seguir o quadro demonstrativo do gado abatido, no matadouro públi­co, no período de 1936 a 1950:

 

ANOS ESPECIFICAÇÃO DA MATANÇA
BOIS VACAS VITELOS PORCOS
1936 58 696 233 520
1937 49 646 182 495
1938 56 682 139 613
1939 98 852 233 485
1940 101 849 241 455
1941 88 879 150 540
1942 118 832 93 698
1943 67 982 66 382
1944 98 1.067 47 589
1945 540 238 14 743
1946 654 318 33 860
1947 774 395 95 818
1948 1.107 673 93 284
1949 1.038 601 343 378
1950 910 671 298 485

 

 

CEMITÉRIOS DA CIDADE

 

A cidade de Valença é servida por dos cemitérios: o do “Riachuelo” (cemitério velho) e o do “Barrozo” (cemitério novo).

 

 

                                                Vista parcial do cemitério do "Riachuelo" - 1943

 

O cemitério do “Riachuelo” é a mais importante necrópole. Inúmeros foram os obstáculos e peripécias que se verificaram na consecução do projeto de construção do cemitério da rua Cel. João Rufino.

 

Valença, quando ainda vila, isto é — de 1830 a 1840 — necessitava de um cemitério espaçoso e condigno e as primeiras tentativas para a sua construção foram infrutíferas.

 

Como nos dá notícia o sr. Luiz Damasceno Ferreira, em sua obra intitulada História de Valença, editada em 1924, a Câmara Municipal, em sua sessão de 6 de abril de 1830, depois de haver entrado em entendimento com o então vigário padre Joaquim Cláudio Viana das Chagas, sobre a construção de um novo cemitério na vila, deliberou que fosse ele construído numa chapada, ao lado esquerdo da estrada da “Passagem”, em terreno de Francisco Elizeu Ribeiro que, para esse fim, houvera doado 25 braças de terra. Foram, então, expedidas ordens para a roçada e limpeza do terreno, para se efetivar logo a construção do referido cemitério.                                                                                  

 

Mas, passaram-se os anos, não obstante estarem as obras confiadas a uma comissão composta dos srs. Vigário, como presidente, membros das Irmandades de N. S. da Glória e do Santíssimo Sacramento e Comendador João Batista de Araújo Leite, por parte da Municipalidade, sem que fosse ultimado o projeto de construção, avaliada, em 1834, em Cr$ 2.200,00. E’ que um dos motivos que retardaram a efetivação d’essa obra foi o arrependimento de Elizeu Ribeiro que negava, depois de ceder o terreno, impedindo assim que as irmandades tomassem posse do mesmo.

 

Somente em 1850, graças ao dr. Joaquim Saldanha Marinho, que remetera em 1849, à Câmara, uma planta e novo orçamento, é que entre a Municipalidade e Crispim Corrêa da Silva fora lavrado contrato para a construção do “Riachuelo”, pela importância de Cr$6.500,00.

 

Em 7 de abril de 1851, o presidente da Câmara, Visconde de Baependí, comunicava o término da construção do cemitério, cuja inauguração se verificou no dia seguinte, com a bênção dada pelo Vigário.

 

 

                                                      Mausoléu do Visconde do Rio Preto

 

Precisamente no dia da inauguração, a Câmara aprovava o regulamento do referido cemitério.

     

A construção do cemitério do “Riachuelo” foi realizada com o auxílio direto do povo e da Câmara Municipal, tendo contribuído, também, o Visconde e o Marquês de Baependi, e bem assim o Conde de Valença, que auxiliou com Cr$ 50,00.

 

A construção da capela do cemitério do “Riachuelo” foi efetuada por Vicente Ferreira de Abreu, pela quantia de Cr$ 3.800,00 (contrato municipal em 28-6-1851). O sino foi doado por Joaquim Soares Leite, em 1856, e a banqueta que guarnece o altar foi oferecida pelo major Antônio Leite Pinto.

 

Em 1878, foi esse cemitério aumentado, em sua área total, de mais 10 braças. A primitiva área do terreno foi doada, em 1850, por Antônio José Lopes, e a parte adicionada, pelo dr. Francisco Antônio de Souza Nunes, medindo, até 1878, cerca de 6.480 m2.

 

Em 1878, foi o cemitério do “Riachuelo” dividido com um gradil de ferro, a fim de separar os enterramentos dos acatólicos e suicidas, medida que desaparecera alguns anos depois.

 

O “Riachuelo” é todo cercado de grossa muralha de pedra e cal, apresentando a sua fachada um belo gradil de ferro entre vistosas colunas de granito.

 

À vista do já reduzido espaço para os enterramentos, a Prefeitura Municipal aumentou a área do cemitério, em 1941, de mais 1.372m2, perfazendo assim o total de 7.582m2.

 

Destacam-se nesse cemitério, pela sua expressiva obra de arte, os mausoléus do Visconde do Rio Preto, do Visconde de Ipiabas e da família Pentagna.

                      

                                                  Mausoléu do Visconde de Ipiabas

 

Na entrada principal do “Riachuelo”, ao centro da rua estreita, que vai, em reta, ter à capela, ao fundo, ergue-se, com alguns metros de altura, um velho cruzeiro de granito que, por sobre as sepulturas, abre, aos céus, os braços da fé e do supremo consolo. Assente sobre um grande quadrângulo, também de granito, que se eleva do chão cerca de trinta centímetros, é de ver o respeito que infunde pela majestade do símbolo e pela voz do tempo que ressumbra da sua pátina veneranda.

 

Mas, sobretudo, é de vê-lo nos dias de finados. O quadrângulo enche-se de velas acesas e é cercado de criaturas de todas as classes, de joelho, orando, umas pelos parentes mortos, que não têm sepulturas, outras pela alma do morto desconhecido. Não há quem, no cemitério, em visita no dia de finados, não se detenha ante o Cruzeiro, para deixar-lhe também uma vela, uma oração ou uma flor.

 

Quanta beleza na simplicidade desse hábito tradiciona!

 

O cemitério do “Barrozo” é de construção recente. Por não comportar o “Riachuelo” mais enterramentos, deliberou a Câmara Municipal, em 1895, se construisse outro cemitério na cidade, no bairro denominado Barrozo, numa encosta de colina.

 

Em 7 de março de 1895, foi autorizada a desapropriação do terreno necessário à construção do dito cemitério. Em 30 de maio daquele ano, o presidente da Câmara, dr. Romualdo de Andrade Baena, entrara em entendimento com os proprietários de um sobrado ali existente e do terreno em questão, adquiridos pela Municipalidade pela importância de Cr$6.500,00.

 

A construção desse cemitério, que é todo circundado de um paredão de tijolos, com um gradil de ferro, pela frente, importou em Cr$ 12.507,60, cuja execução esteve a cargo de João Marques de Faria.

 

Esse cemitério sempre foi destinado a enterramentos de indigentes; mas, presentemente, o sepultamento se faz indistintamente. Era, pela sua simplicidade, mais conhecido pelo nome de cemitério dos pobres. A sua área é de 4.224 m2.

 

 

Hosted by www.Geocities.ws

1