Valença
de Ontem e de Hoje
Tema musical ao fundo: "Yosaku" de Kiminori Nanasawa
- por James Last & Orchestra -<
CAPÍTULO 1
VALENÇA
SERTÃO
“Cada
região
da terra tem uma alma sua, raio criado que
lhe
imprime o
cunho da originalidade”.
José de Alencar - “O Gaúcho”.
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Os primeiros habitantes do sertão
Quem era Inácio de Souza Werneck
Sesmarias e as primeiras fazendas
Documentos relativos às sesmarias no
Cartório de Valença
O homem civilizado, transbordante de ideal, descortinara, nos horizontes de
suas cogitações, o grande futuro... E deixando a Guanabara, subira a Serra, de
machado em punho...
Um sonho mais alto o impelira a deixar o litoral, após o despontar do sol
da nacionalidade, em direção à gigantesca Serra do Mar, para demandar a
sedutora Mantiqueira, na conquista destemida dos sertões inviolados.
O homem branco, que deixara a faixa litorânea, atraído pelas imensas riquezas
do solo virgem, em cujas matas as “bandeiras" da catequese se propunham à
luta de domínio dos indígenas incultos e animais ferozes — galga, agora, a
intermInável montanha, onde, na aurora de tantas esperanças, iria
alcandorar-se a Civilização nacional.
Aspecto da densa e secular Serra do Mar, antes de ser devastada pelo homem (Des. de Debret)
Após vencer os infindáveis pantanais da Baixada fluminense, em busca do
desconhecido quase insondável, o desbravador põe-se em marcha e se “embrenha
no emaranhado das matas seculares” onde a zoologia surpreende o civilizador
com os mais variados espécimes que o empolgam, fazendo-o estacar em êxtase,
para meditar, ante os segredos atraentes da Natureza, na jornada de grandes aventuras.
Caminhos foram projetados para a penetração evolutiva, na conquista do
vale do Paraíba (*)
(*) Germano Stradelli, em sua “Gramática Nheengatu”, págs. 281 e 591, nos ensina: “PARAIBA =Parayua”, “PARAYUA=Parahyba”, que quer dizer: “Mar ruim, mar máu”. Mar máu aí tem mentido de rio (paraná), ou rio-mar, pela impressão que dava aos silvícolas de braço de mar; e máu significa ruim para a navegação, em conseqüência dos encontradiços Iagedos e corredeiras.
Ao desbravador não intimidavam as feras indomáveis, o mistério das densas matas e o silvícola valente que, um dia, lhe seria o fiel companheiro-guia nas arrancadas colonizadoras.
A civilização brasileira tinha, no poder ascensional da Guanabara, a sua
ânsia de vencer a Serra, enquanto que, no coração da velha Minas Gerais, o
minério seduzia e esplendia assombrosamente.
Era preciso transpor a muralha fluminense e dominar o Paraiba. Era preciso que a penetração do homem branco se efetivasse
imediatamente, sem demora, porque o exigiam o conforto e o luxo guanabarinos.
A Serra do Mar, com as suas subidas “menos ásperas que a de São Vicente
a Piratininga”, era o estímulo de novos ideais de conquista dos
colonizadores, seduzidos pela terra virgem, farta e dadivosa.
A Serra e a mata quase impenetrável eram “um colossal obstáculo isolando
as
vilas marítimas da nascente civilização mineira, encarcerada no
planalto’’.
O pioneiro estrangeiro, destemido e herói, ergue-se à majestade da Natureza,
que o deslumbra com as cenas edificantes, acolhedoras e impressionantes de suas
florestas exalando essências odorosas, emanadas das flores multicores e da
infinidade de frutos saborosos até então nunca experimentados. A fauna impressionara
o branco extasiado ante os cicios e os gorgeios da passarada saltitante e os
guinchos e a algazarra dos macacos irrequietos que completavam aquela magnífica
“confusão melodiosa” que tanto interesse despertara em Saint Hilaire, o botânico
francês que se maravilhara com os riquíssimos dotes naturais da terra brasílica.
Século XVIII.
Valença, um sertão desconhecido e ignorado. Sertão bruto de maravilhosos
aspectos, cenários deslumbrantes e natureza virgem. Com os seus arvoredos imponentes,
transudando vida na exuberância da seiva e da clorofila, em sorrisos verdes,
sob o céu fluminense, o sertão de Valença canta o poema cósmico das grandes
forças da Natureza...
Saint Hilaire, o futuro professor de botânica da Faculdade de Ciências de Paris, em sua segunda viagem, chegara à Encruzilhada (Paraíba do Sul) e descera para Pati do Alferes, a fim de percorrer o vale do Paraíba, com destino à Minas Gerais.
Atravessando os rios Paraíba e Preto, (1819) o botânico francês Saint-Hilaire teve seus olhos fixados na grandeza da vegetação impressionante da região, admiração que o levou a estudá-la, caprichosa e detalhadamente, tendo-se em conta o seu intuito de fazer raras coleções fitológica.
“Sáint-Hilaire
partiu do Rio de Janeiro em 26 de Janeiro de 1819 e fez a travessia marítima do
Rio de Janeiro até o porto fluvial da Estrella, de onde seguiu por terra pela
Serra da Estrella. Ao chegar à Encruzilhada (Parahyba do Sul), desceu para Paty
e foi ter à fazenda de Ubá, de onde atravessou o Parahyba para percorrer a
zona, hoje de Valença, compreendida entre êsse rio e o Preto, da qual passou
para Minas Geraes “, — segundo informações de Matoso Maia Forte em “Viagens
pela Província do Rio de Janeiro” - pág. 5.
Embevecido, deixava-se levar pelo entusiasmo,
frente à soberania caprichosa da vegetação incomum desse pedaço da gleba
fluminense, em sua natureza pródiga e esbanjadora de viço, onde tudo respirava
um rítmo solene de originalidade e de luxúria no recesso das riquezas
inexploradas.
A região teve sobre si uma predestinacão
admirável: as bênçãos dadivosas da terra de berço, a amenidade do clima, as
graças do Alto. Os brindes recebidos pela natureza farta cercaram-nos de um
halo de circunstâncias propícias, admiradas pelo naturalista francês, amigo
de Jessieu e Cambessedes.
Saint-Hilaire era o cientista que se tornava
poeta pelos imperativos mesológicos, realizando a sua marcha triunfal pelo
sertão fluminense.
Extasiava-se ante a harmonia buliçosa dos
imensos bosques feitos de estranhas árvores que atestavam, na suavidade da
temperatura, a uberdade do solo opulento. Do que ele viu e estudou, fala-nos
eloqüentemente a sua obra “Voyage dans les
Provinces de Rio de Janeiro et Minas Geraes”.
Viu, o cientista,
em cada árvore de porte peculiar, na multiplicidade dos ramos que se entrelaçavam
espetacularmente, no amplexo das folhagens abundantes e na variedade das espécies
animais, como no sussurro das quedas e dos riachos serpenteantes, o grande e
lindo motivo das páginas que escreveu:
“Árvores
gigantescas, de variadas espécies, enriquecem o solo; as dicotiledôneas de
cinco fôlhas crescem ao lado das cesalpinea,
e as doiradas folhas da cássIa espalham-se sobre as samambaias
arborecentes. Os galhos multidivididos das murtas e das eugênia
realçam a elegante simplicidade das palmeiras; e, entre as mimosas de
delicados folíolos, a cecrópia espalma
suas largas folhas e seus ramos que se assemelham a enormes candelabros.”
E prosseguindo, o
botânico escreve:
“..... da cássia
pendem longos cachos doirados; as vochysias
alinham tirsos de flores bizarras; as corolas, ora amarelas, ora purpúreas...
cobrem profusamente as begoniáceas; as chorisias (paineiras) enchem-se de flores.., as gramíneas mostram
a maior diversidade de vegetação...”
E observando os
grandes cipós, descreve:
“Os cipós dão
pitoresca beleza às florestas e oferecem os mais variados aspectos. Uma aróide
parasita, chamada cipó imbé, cinge,
em grande altura, o tronco das grandes árvores; as marcas das antigas folhas
que se desenham sobre sua haste, em forma de losango, dão-lhe a semelhança da
pele de cobra. Desta haste brotam largas folhas de um verde luzidio e, na parte
inferior do tronco, nascem raízes delgadas que descem até o solo, retas como
fios de arame.
“A árvore,
vulgarmente conhecida por “cipó matador “, tem um tronco tão reto como o
dos álamos europeus... mais delgada, porém, para sustentar-se por si mesma,
apoia-se na árvore mais próxima e mais robusta do que ela. Firma-se, dêsse
modo, e desafia as mais furiosas tormentas. Alguns cipós parecem fitas
onduladas; outros se contorcem, descrevendo longas espirais; caem em festões,
serpenteiam por entre o arvoredo, ligam-se uns aos outros, entrelaçam-se e
formam
massas de ramagens, de folhas e flores, entre as quais o observador teria de
esforçar-se para distinguir o que pertence a cada vegetal”.
E referindo-se aos
arbustos, Saint Hilaire continua:
“Milhares de
arbustos, melostomáceas, borragináceas, piperáceas, acontonáceas, nascem
junto das árvores majestosas, cobrem o espaço que as separa, apresentando suas
flores ao naturalista, consolando-os por não poderem atingir as das gigantescas
árvores que se erguem muito acima de sua cabeça, formando um cimo impenetrável
ao sol.”
O botânico observa
que “se as florestas virgens servem de
esconderijo a alguns animais perigosos, tais como a onça e as serpentes, etc.,
abrigam, também, em seu seio, considerável número de espécies absolutamente
inofensivas: veados, antas, roedores, macacos diversos, não se falando nas
variadas espécies de pássaros e lindas borboletas...”
E o escritor,
extasiado, escreve com encantamento:
“..... os gritos
dos macacos barbados, repetidos pelo
eco, parecem o sibilar de uma impetuosa ventania que se interrompesse a espaços,
amortecendo pouco a pouco.”
“... Milhares de
aves, cuja plumagem é tão variada como seus costumes, fazem ouvir seu gorjeio
confuso; os batráquios misturam seu coaxar variado e bizarro ao fratenir das
cigarras. E’ assim que se compõe a voz do sertão, e que outra coisa não
é, senão, um misto de modulações, de temores, de dor e de prazer, expressos
de modos vários e por seres também diversos. No meio dêsse rumor, rompe o
espaço um som estridente: ressoa pela floresta e impressiona o viajante, que
supõe ouvir os golpes de um martelo sonoro que caísse sôbre a bigorna,
seguindo-se o som estrídulo de uma lima a passar pelo ferro. Sons tão agudos são
produzidos por um pássaro do porte do melro, o qual, imóvel sobre um tronco
seco, canta, pára e espera, antes de recomeçar, que outra ave da sua espécie
lhe responda. Os mineiros chamam-no ferrador,
por causa do seu canto, e, nas províncias do Rio de Janeiro e Espírito
Santo — araponga, nome evidentemente
indígena.”
Sobre a múltipla
variedade de insetos, Saint-Hilaire acrescenta:
“Miríades de
insetos habitam as matas virgens e despertam admiração, quer pela
singularidade de suas formas, quer pela variedade de suas cores. Bandos de
borboletas abeiram-se das margens dos regatos; comprimem-se umas contra as
outras. Vistas de longe, parecem flores, juncando o solo...”
E, ao chilreio da
passarada festiva, no augusto movimento sinfônico da natureza alegre,
junta-se o sussurro das cachoeíras e das quedas trepidantes que Saint-Hilaire
evoca, observando que “numerosos riachos correm pelas matas virgens,
refrescando o ambiente, oferecem ao viajor sedento uma água límpida e
deliciosa, e são marginados por tapêtes de musgos, de Iicopódios, de
samambaias, por entre as quais, surgem as begônias de hastes delicadas e
suculentas, de fôlhas desiguais e flores cor de carne.
Saint
Hilaire,
depois de tecer um hino à natureza valenciana, exclama:
"As matas dos arredores do Rio de Janeiro têm mais imponência do que tôdas que vi em outros lugares do Brasil!..."
E, assim, a região,
onde hoje se assenta o município de Marquês de Valença (ex-Valença),
emocionara profundamente o naturalista francês, ao sair de dentro de tão
densas matas como se saísse de um “escuro porão para a claridade do
sol.”
E, assim, da Baixada Fluminense sobem a Serra os denodados pioneiros, animados por incontidas ambições. Mineiros e paulistas dão-lhes as mãos e os ajudam a dominar a mata bravia, que cobre os morros, os serrotes e as serras, para, então, do alto da montanha, comandarem o retalhamento em picadas; na formação das sesmarias de onde haveria de surgir, em futuro não remoto, com a derrubada das florestas, o poderio rural — fonte inesgotável de imensas riquezas de um grande Império.
OS PRIMEIROS HABITANTES DO SERTÃO
Os únicos habitantes do Certâo do Rio Preto, antes, muito antes mesmo de 1789, eram sem dúvida,
os índios Coroados, “resultantes do cruzamento dos Coropós com os temíveis Goitacás
de Campos, que os venceram em batalha e os assimilaram” (Rugendas), os quais se haviam instalado em terras da futura
região
valenciana, em data muito anterior à da penetração do homem branco nos sertões
fluminenses.
E no
sertão de Valença, o hino da Natureza era a melodia
Os índios Coroados —
mais tarde conhecidos pela denominação de Coroados
de Valença — se estabeleceram na margem superior do rio Paraíba,
forçados pelas lutas constantes, dada a perseguição que lhes moviam os
seus perigosos parentes - os Puris -
que, segundo informa Príncipe Maximiliano (1) que com eles mantivera contato
pessoal, eram “selvagens e vagueantes”, vivendo “entre o mar e a margem
norte do Paraíba”.
(1) - Viagem
ao Brasil.
Os Coroados eram
constituidos de galhos denominados Purus e
Araris, aqueles em pequeno número,
representando os indígenas de Valença, e estes, pouco mesclados, vivendo em
Rio Bonito (Conservatória).
Os Puris, debandados
em virtude da invasão lusa, viviam nas proximidades da futura Aldeia
de Valença e, com os Coroados e
os Coropós, empenhavam-se em árduas lutas que terminavam pela quase
total dizimação destes, com quem chegavam eles a ser confundidos por sua
flagrante semelhança.
Escreve Debret: “Confundem-se eles (os Coroados) muitas
vezes com os Coropós e essas duas
nações semelhantes, fragmentos da grande raça dos Tapuios, unem-se para fazer guerra aos Puris, que os perseguem sem
cessar, embora sejam de origem comum”.
Rodolfo Garcia nos
revela que os Coroados eram “parentes de origem comum com Paris e os Coropós”.
O explorador e artista francês, Jean Batiste Debret - Des. do próprio
Debret ainda nos
informa da existência, na região, de duas outras tribos selvagens mestiças:
a dos Tampruns e Sazaricons, igualmente chamados Coroados (2), dispersos em
pequenos bandos, em quase todo o vale do Paraíba,
e ligados aos Paris que viviam,
aquí e ali, em grande número, e eram muito mesclados, segundo a classificação
de Martius.
(2) Viagem
Pitoresca — págs. 21 e 32 —
tomo 1.
Sobre as tribos do sertão
de Valença, o historiador Alberto Lamego (3) escreve: — “Designavam-nas pelo nome geral de Coroados, pela maneira de cortar o cabelo, não nos parecendo porém,
que, esses índios tenham ligação com os Coroados
de Campos, oriundos da união entre Goitacás
e Coropós. Mais provável é que
a maioria pertencesse à nação Pari,
reconhecida nos matagais do Muriaé, do Pomba e de Cantagalo, cujos vestígios
foram também anotados em Resende e Areias, no limite oposto e ocidental da
Serra Fluminense.
(3) O Homem e a Serra — págs. 126 e 127.
Indios Corados à margem do Rio Paraíba (Des. de Debret)
E’ bem possível
mesmo que, “toda essa multidão de Xumetós,
Pitás, Araris e outros, denominados geralmente Coroados”, de que nos fala Joaquim
Norberto, nada mais sejam que restos de tribos Puris acuadas na floresta pela invasão dos colonizadores, ou
fragmentos étnicos de mais antigas nações como a dos Tamoios e Saruçus, dizimados
na Baixada, nos primeiros séculos, e que tenham escolhido a Serra como um refúgio.
O Paraíba
deve ter sempre sido um caminho para os aborígenes, e por isso, não é de
estranhar que o último reduto dessas raças primitivas tenha, justamente,
sido a zona central da Serra onde se acoitaram “.
Enquanto os políticos da metrópole procuravam
dificultar a abertura de caminhos, pois receiavam o perigo da evasão de ouro da
velha capitania de Minas Gerais, entravando e retardando, dêsse modo, o
progresso dos sertões próximos ao litoral, — o encontro do homem civilizado
com os selvagens se dava em seu próprio habitat.
Era a interferência de domínio do conquistador “bem mais destruidor do
que os seus semelhantes conservadores dos bens naturais...
Mas atrás dessa destruição,
movida pela ânsia da conquista do ouro que abria, então, as portas da
terra brasileira ao Progresso, surgia a Civilização, por força dos desvelos
dos vice-reis e da catequese salutar que transformaria os seIvícolas em
mansos e apurados elementos auxiliares, no rumo de novos surtos, para novas
arrancadas econômico-sociais.
O ouro era o objetivo do homem branco, que demandava a
longínqua Mantiqueira. Em meio as duras jornadas na Serra do Mar, o
desbravador estrangeiro não se desanimava ante as impressionantes condições
geográficas do terreno palmilhado e intensificava a devastação das
florestas, no vale do Paraíba.
Diz Daniel de Carvalho, citado no “Kilômetro Zero”
(1934), de Moacir Silva: — “... nos tempos coloniais o anelo pela abertura
de novas estradas, que o despotismo proibia para evitar o extravio de ouro e de
diamantes, confundia-se, na alma dos habitantes da Capitania, com os anseios de
liberdade”.
Não era fácil a obtenção de licença para abrir
caminhos...
Informa-nos Afonso de E. Taunay (4), transcrevendo Basílio de Magalhães:
“Garcia Rodrigues Paes, mediante licença que, em 1698,
obteve de Artur de Sá Menezes, placitada pelo Soberano Português, tendo-se
estabelecido à margem do rio Paraíba, no
ponto, onde surgiu, a hoje cidade de Paraíba do Sul, atacou imediatamente o
serviço tanto para o hinterland aurífero,
quanto em demanda do Rio de Janeiro; de sorte que, em fins de 1699, já era
praticável por pedestres a “picada” entre a bacia Guanabara, em estrada
larga, onde passassem tropas, trabalhou seis anos, consumindo nisso, todos os
recursos de que dispunha, pois a obra foi feita à sua própria custa.”
(4)
- História do Café no Brasil - tomo 4 -- pág. 381
Segundo afirma F. A. Noronha Santos (5) — “Sabe-se, com segurança, que o primeiro caminho regular de comunicação
aberto pelos selvícolas no Rio de Janeiro e mantido pelo homem civilizado, foi o
que partia de Parati, numa das faldas da Serra do Mar. Por ele se fazia, ainda
no comêço do século XVIII, a viagem para o norte de São Paulo e Sul de
Minas.”
(5)
- Conservatória dos Indios - pág. 36
Revela-nos, ainda, Basílio de Magalhães que “nos últimos anos do século XVII ou no princípio do século XVIII,
entrou em tráfego o caminho novo, aberto
por Garcia Rodrigues Paes, filho e companheiro de bandeira de Fernão Dias Paes Leme...” Supôe-se que êsse caminho seja o mesmo assinalado na carta geográfica
de Inácio de Souza Werneck, datada de 1808 — o mais antigo mapa do Certão do Rio Preto, que se encontra na Biblioteca Nacional. Nesse mapa, como se vê
na gravura, notam-se vários caminhos, assinalados por pontos, destacando-se o Caminho da Aldêa (Valença), entre os rios das Flores e Paraiba, ao lado
da Estrada Geral.
Cópia do autógrafo do Capitão de Ordenanças Inácio de Souza Werneck,
do ano de 1808, existente na
secção de manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (Anexo aos
apontamentos sobre sua biografia , organizada pelo seu descendente, dr. André
Werneck). Neste mapa, o município de Valença está compreendido entre os rios
Paraíba e Preto, e onde se lê “Caminho para a Aldeia” está situada a
cidade de Valença, antiga aldeia dos Índios Coroados.
Era, pois, pelo Caminho
da Aldêa, aberto pelo desbravador Inácio de Souza Werneck, que se fazia
ligação do sertão de Valença com a aldeia dos Araris,
em Rio Bonito (Conservatória), através do rio das Flores, e, por outro lado, punha-se em contacto com a Estrada
Geral para Minas, e os caminhos auxiliares do Pilar,
do Azevedo e do Tinguá (Freguesia de Sacra Família do Tinguá).
Segundo Matoso Maia Forte, conforme se lê na transcrição
por Afonso de E. Taunay: (6) — “Era o curso do ribeirão das Mortes,
que orientava as “tropas vindas de N. S. da Glória de Valença para a
Sacra Família do Tinguá, ganhando daí as antigas estradas, na direção de
Iguaçú, ou o atalho, que já começava a ser trilhado, para o rancho dos Mendes
e Rodeio, na direção da Serra
dos Macacos, para se dirigirem, já na planície, rumo a Itaguai.”
(6) - História do Café no Brasil —
transcr. pág. 246.
“Vinham por êsse lado viajantes e tropas das zonas
mineiras, na direção das proximidades de Desengano,
para fazerem, rio acima, a travessia para a margem direita do Paraíba, indo ter às visinhanças do riacho das Mortes, na atual estação de Barão de Vassouras, evitando o
percurso mais longo que lhes oferecia o caminho do Comércio.
“A travessia de uma para outra margem do Paraíba, fazia-se lentamente, em improvisadas “barcas de
passagem”, espécie de balsas ou jangadas, carregadas de mercadorias e de
animais que não atravessavam a nado, e em canoas.
“Os tripulantes das balsas e canoas, escravos ou índios
domesticados, armados de compridas varas, que tocavam o fundo do rio,
dirigiam-se para um ponto sempre distante ao de desembarque, dando o preciso
desconto do rumo, segundo a maior ou menor correnteza do rio.
“Este vagaroso meio de travessia teve seu fim com a
construção de uma primeira ponte, que se arruinara exigindo a construção
de uma nova, pelo ano de 1821, e da qual se encarregou Custódio Ferreira Leite,
depois barão de Ayuruoca, já nessa época com raízes no arraial de
Vassouras.”
Mais tarde outros caminhos foram abertos, destacando-se o
que de Valença partia
para o arraial de Rio Preto, em Minas Gerais, passando pelo arraial das Cobras e São Sebastião do Rio Bonito (atual Pentagna), o qual,
muito contribuiu para o tráfego de tropas em favor do comércio — como se
depreende de Saint Hilaire que diz: — “Encontrei no caminho do Rio Preto poucas tropas de mulas carregadas de
mercadorias, mas em compensação grandes varas de porcos e boiadas. E’ por
êste caminho que fazem passar quase todas as boiadas destinadas ao Rio de
Janeiro, vindas da parte ocidental de Minas Gerais, onde se cria muito gado. Êstes animais não são tão exigentes como as mulas, e, conduzindo-os pelo
caminho do Rio Preto, há a dupla vantagem do encurtamento da viagem e da redução
de direitos”. (7)
(7) - Viagens pela Província do Rio de Janeeiro de José Matoso Maia Forte (trad.) pág. 109
Segundo nos revela Augusto de Saint-Hilaire (8), Caminho do rio Preto era, por
meio dêste rio, que conduzia da fazenda de Ubá a São João d’EI Rei e daí
à Goiás. De Ubá (fazenda) até ao arraial de Rio Preto (Minas), passando por
Valença, no rancho das Cobras, o
percurso era de 12 léguas e 3/4. Para percorre-lo, vindo do Rio de Janeiro,
seguia, primeiramente, pelo caminho de
terra que vai à fazenda Páu Grande, de José Rodrigues da Cruz, onde se
divide, indo um ramal, que é o prolongamento do caminho de terra, para a Encruzilhada; o outro, é o começo do
“caminho do Rio Preto”, o qual passava pelas proximidades da fazenda de Ubá.
Diz Saint Hilaire que — “Estava ainda em
obras, em 1819, quando segui o “caminho do Rio Preto”. “Só depois dessa
época é que deu passagem, sendo possível que fechassem o “caminho do Rio
Preto” para não multiplicar os pontos de pedágio”
— anota Matoso Maia Forte. (9).
(8)
Obr. citada (trad.) — pág. 107
(9) Obr. citada (trad.)
— pág. 108
E assim se intensificara a penetração do “vale fluminense do Paraíba”. O machado derrubara e o homem civilizado, que antes pensara para deliberar, estimula agora a ambição fluminense em favor de poderosa fôrça aristocrática que ergueria as suas “casas grandes”, com o futuro poderio dos luxuosos centros cafeeiros.
QUEM ERA INÁCIO DA SOUZA WERNECK
Dada a importância de sua atuação direta na formação histórica de Valença, Inácio de Souza Werneck merece destacado registro e dele reproduzimos os seguintes excertos, extraidos do conhecido Livro da Família Werneck, do dr. Belisário Vieira Ramos:
“Termos da certidão de nascimento de Inácio de Souza Werneck: — Aos 25 dias do mês de Julho de 1742, nasceu Inácio, filho legitimo de Manuel de Azevedo Matos, neto de Lourenço de Matos e de Maria Leal, da Freguezía de N. S. da Piedade da Ilha do Pico, e de sua mulher Antônia Ribeira, e neto de João Berneque e de sua mulher Izabel de Souza. do Recôncavo do Rio de Janeiro, dêste Bispado, e aos 12 dias do mês de Agosto do dito ano, eu Padre José de Freitas, na pia batismal desta Freguezia de N. S. da Piedade da Borda do Campo o batizei solenemente e pus os santos óleos.”
“O pai de Werneck, que vivia em Minas, nome dado, nessa época, a Ouro Preto, vinha constantemente ao Rio de Janeiro, afim de colocar seus produtos de mineração, ou adquirir outros em troca. Era mais negociante que mesmo garimpeiro. Em uma de suas viagens ao Rio, Azevedo Matos trouxe seu filho Inácio, que foi internado no Seminário São José, tendo como correspondente o negociante Chagas. Perturbações de ordem política dentro do país obrigaram o govêrno ao preparo de fôrças, organizando-se um batalhão de estudantes, ao qual se alistou Werneck. Daí a sua carreira militar. Ascendeu Werneck até o alto posto de Sargento-Mor, no qual se reformou em 20 de Outubro de 1809. A 26 de Setembro de 1769, o patriarca da família Werneck casa-se na igreja da Sé, no Rio de Janeiro, com Francisca das Chagas, filha do Ajudante de Campo, Francisco das Chagas Monteiro e Isabel Maria da Vizitação, natural do Rio de Janeiro, freguezia da Candelária (Arq. da Cãmara Eclesiástica do Rio, livro 9, fls. 146 v.) . Desse matrimônio vieram doze filhos; desses filhos, Isabel Maria da Vizitação casou-se, em 30 de Outubro de 1808, com o capitão João Pinheiro de Souza, de cujo consórcio nasceram oito filhos, dos quais o Visconde de Ipiabas e o Barão de Potengi. A 20 de Outubro de 1811, justamente dois anos depois de reformado, Inácio de Souza Werneck ficou viúvo, recebendo um golpe tão profundo que o levou a dedicar-se a uma vida puramente espiritual. Aproveitou seus estudos anteriores, e em 1813, ordenou-se padre já com, a respeitável idade de 71 anos. Só assim conseguiu dispensa das obrigações de Sargento-Mor, que o forçavam a construir estradas pelos sertões e a domesticar os índios. Retirou-se, então, para a sua fazenda da Piedade, em Conceição do Alferes de Serra Acima, onde, diariamente, rezava missa por alma de sua mulher, no belo altar que possuia naquela fazenda. O Sargento-Mor foi, na Côrte, um vulto de grande valimento. Êsse posto só o conseguiu Werneck por fôrça de suas atitudes de benemerência. Werneck, que também era fazendeiro e considerado, construiu a Estrada Werneck. A primeira estrada batida para o Sertão de Valença foi trabalho do grande desbravador. A grafia Verneck, conforme se vê nos documentos existentes nos arquivos da Biblioteca Nacional e do Instituto Histórico, foi, até 1850, conservada pelos descendentes de Inácio de Souza Werneck, a qual, mais tarde, foi mudada para Werneck. Há uma portaria, com relação à civilização dos índios de Valença, que está assim redigida:
“Tôda a pessoa a quem fôr apresentada prestará o auxilio que lhe requerer o Cap. das Ordenanças lnácio de Souza Werneck para a Aldeiação dos Índios Coroados, que por Ordem Régia se mandou estabelecer nas margens superiores do rio Paraíba. Rio, 2 de Abril de 1802. Com a rubrica de S. Ex.
(Arq. Público — Portarias do Vice-Reinado. vol. 27).
O Juiz da Sesmaria da Côrte, Alexandre José dos Passos Herculano, numa representação ao govêrno, escreveu, em 3 de novembro de 1820, sôbre êsse fundador da família Werneck, como se verifica na Caixa 26 dos Documentos do Arquivo Nacional: “... nos sertões de Valença, onde existiam alguns índios dispersos das tribos Buchamarís, Purús, Coroados etc, que todavia já trilhavam vantajosamente idéias de sociedade pelos bem patentes cuidados, ou antes, gênio, prudência e filantropia de um Major Werneck que hoje existe ordenado e velhinho.”
Há no “Livro da Família Werneck” o seguinte comentário com relação à família dêsse desbravador: — “No ano de 1879, mais ou menos, depois de instalada a fazenda do Guaritá, em 1875, estava Pedro de Moraes pintando prédios nas fazendas visinhas. quando os parentes da redondeza, Juca de Souza, da fazenda da Piedade, auxiliado pelo Barão e Visconde de Ipiabas e Barão de Potengi, além de outros que conheciam a família — ainda pequena nessa época — deram as notas ao pintor, sendo assim construída a árvore da Família Werneck. Uma cópia fiel, feita a óleo, possivelmente existe na sala de visitas dos descendentes da família Ipiabas, naturalmente copiada por algum artista do Rio”.
“Com o decreto da criação da Villa de Paty do Alferes, D. João VI amputou a Fazenda Nacional de Santa Cruz, que antes atravessava o rio Parahyba para o lado de Valença e limitou assim a Jurisdição Federal na cumiada da Serra do Mar, desde a data de 4 de Setembro de 1820".
"O Primeiro Juiz nomeado foi Francisco das Chagas Werneck, filho do padre Werneck. Isto demonstra seu grau de instrução, o que é confirmado pela missão que adotou de educar os sobrinhos, dentre os quais o futuro Visconde de Ipiabas, que ficou como professor na fazenda das Pindobas, enquanto seu pai se mudou para a nova sesmaria de São João, demarcada em 1816, por concessão imperial".
O valimento da família Werneck,
naquela época, pode ser ajuizado pela concessão dessa sesmaria, pois, a
primeira desse lado esquerdo do rio Paraíba
foi concedida ao Marquês de Baependí, com o nome de sesmaria Santa Mônica,
em homenagem à Marquesa de Baependí, sra. Francisca Mônica Carneiro da Costa
e Gama.
O entrelaçamento da família
Werneck com os Gomes Ribeiro de Avelar muito contribuiu para a fundação dos
municípios de Valença e Vassouras.
Escreve Alberto Lamego (10), ao comentar a aristocracia rural de Vassouras: —“Uma das mais afortunadas dessas famílias foi a dos Werneck, de numerosíssima descendência, por seu entrelaçamento com quase todos os grandes troncos vassourenses. um mineiro nascido na freguezia de N. S. da Piedade da Borda do Campo, Inácio de Souza Werneck, fôra o seu iniciador, como já vimos ao falarmos dêsse patriarca no aldeiamento dos índios de Marquês de Valença, e o seu nome já foi escrito com a apresentação de vários titulares da aristocracia valenciana.
(10) - O
Homem e a Serra — pág. 271.
“Os Souza Werneck, os Santos Werneck, os Lacerdas Werneck, os Chagas Werneck e os Rocha Werneck são todos ramos hereditários do patriarca, possuidor de um imenso latifúndio no município de Vassouras, hoje dividido em numerosos sítios e fazendas.
“Com a morte da esposa, em 1811, retorna ele à Minas
Gerais onde conclui o curso eclesiástico ali iniciado antes de sua vinda para o
Vale do Paraíba. “Em
1814, — segundo Matoso Maia — era presbítero e rezou a primeira missa na
capela de sua fazenda, com assistência de seus filhos, noras e netos e dos
fazendeiros e famílias das visinhanças.” (Memória
da fundação de Vassouras — pág. 63).
“Somente entre os varões, netos e bisnetos do patriarca iremos encontrar os seguintes titulares: Barão de Werneck - José Quirino da Rocha Werneck; 2o. Barão de Palmeiras - João Quirino da Rocha Werneck: Barão de Bemposta - Inácio Barbosa dos Santos Werneck; 2o. Barão de Ipiabas - Francisco Pinheiro de Souza Werneck e 2o. Barão de Patí do Alferes, com grandeza - Francisco Peixoto de Lacerda Werneck.
“Um dos membros dessa grande estirpe de cafezistas, José Pinheiro de Souza Werneck, emigrou de Valença para Muqui, no Estado do Espírito Santo, onde fundou Santa Tereza do Sumidouro no alto rio Muqui. Era um grande fazendeiro de café e sua vasta casa grande celebrizou-se por festas que duravam 15 dias. As suas fazendas de Providência e Alpes foram transferidas a outros colonos por êle atraidos de Valença.”
“Entre as suas netas, além das já mencionadas na aristocracia de Valença, anotaremos a viscondessa de Queluz e a baroneza de Pati do Alferes.”
Inácio de Souza Werneck era trisavô do grande e ilustre valenciano ministro Raul Fernandes.
E’ do seguinte teor a certidão de óbito do desbravador de Valença: — “Aos 2 dias do mês de Julho de 1822, nesta Freguesia de N S. da Conceição do Alferes, faleceu da vida presente, só com o sacramento da Extrema unção, o reverendo Inácio de Souza Werneck, com o seu solene testamento: foi encomendado solenemente por mim e sepultado dentro da Igreja, acima das regras, do que fiz este assento e assinei. O Vigário Manoel Felizardo Nogueira.” (Arquivo Público — Portarias do Vice-reinado, vol. 27)
SESMARIAS (*) E AS PRIMEIRAS FAZENDAS
(*)
SESMARIA — légua de sesmaria, medida itinerária equivalente a 3.000 braças
ou sejam 6.600 metros.
As
primeiras sesmarias, no sertão de Valença, datam de 1771, 1793 e 1797, doadas
a Francisco Nunes Fagundes, Garcia Rodrigues Paes Leme, construtor do Caminho
Novo, e Francisco Antônio de Paula Nogueira da Gama, respectivamente.
Como
já foi dito atrás, a primeira sesmaria do lado esquerdo do rio Paraíba,
foi a concedida ao Marquês de Baependí, com o nome de “Sesmaria de Santa
Mônica” , em homenagem à Marquesa Francisca Mônica Carneiro da Costa e
Gama, tia da Duquesa de Caxias, Ana Luiza Loreto de Carneiro Viana de Lima. A
grande testada dessa sesmaria descia pela margem do rio, envolvia a antiga
estação de Desengano, até poucos
metros da ponte da E. F. Central do Brasil.
A
segunda sesmaria foi concedida ao futuro conde de Baependí. Tinha meia légua
de testada desde a primeira até o lugar conhecido pelo nome de “Poço do
Rumo”.
A
terceira foi a sesmaria de S. João, com uma légua de testada, desde o “Poço
do Rumo” até em frente à antiga estação de Comércio (atual Sebastião
Lacerda), doada, em 1816, ao capitão João Pinheiro de Souza. E, pelo que se lê
no Livro da Familia Werneck, os índios
eram ali recebidos com carinho e hospitalizados, quando doentes, pelo capitão
Pinheiro de Souza e sua mulher Izabel Maria da Visitação - filha do padre
Werneck. As terras dessa margem do rio foram destinadas para o município de
Valença em alvará da Corôa. Nessa época já estava em exploração a
fazenda das Corôas, em sesmaria doada aos Rezende, mais tarde Barão e Marquês
de Valença.
Muitos
parentes de Inácio de Souza Werneck vieram partilhar da cultura dessas terras,
fundando aí as fazendas do Morro Redondo, do Braço Livre, da União, etc. A do
Oriente, fundada pelo filho mais velho, o Visconde de Ipiabas, pertence ainda
hoje a seus netos, filhos de sua filha Rita, casada com o primo dr. João Vieira
Machado da Cunha, que já tinha fundado a de Santa Rita. A de Santa Emília, em
frente à antiga estação de Teixeira Leite, foi fundada pelo Barão de
Palmeiras, que depois a passou ao comendador Luiz Vieira Machado da Cunha, ambos
genros do Visconde de Ipiabas. A sede da sesmaria ficou sendo fazenda à parte.
A
fazenda do Guaritá, fundada pelo Barão de Ipiabas, em 1875, logo abaixo da
sesmaria de S. João, embora adquirida por compra, pertence, também, ainda, à
família de uma descendente do cap. João Pinheiro de Souza.
O
apogeu da família Werneck, fundadora de Valença, coincidiu, enfim, com o da
cultura das terras e “se foi diluindo por outras profissões, salientando, de
quando em vez, um florão nas letras ou na política, com a baixa de nível nos
lucros que aquela cultura foi negando ao trabalho agrícola.”
“Com
relação aos aforamentos, há na “Memória Histórica e Documentada das
Aldeias de Indios da Provincia do Rio de Janeiro”, de Joaquim de Souza Silva
(11),
minudentes esclarecimentos acerca da situação em que se encontravam, em 1852,
as aldeias de Nossa Senhora da Glória de Valença e Santo Antônio, do Rio
Bonito. No tocante ao regime de concessões de sesmarias, são inúmeros os atos
da autoridade régia. Em papeis avulsos e nos classificados sob o título “Sesmarias”
— além das referências contidas nas “Publicações” do Arquivo Nacional,
figuram registros concedendo datas de
terras entre os rios Bonito, das Flores e
Preto, compreendendo os atuais territórios
das freguesias e distritos do atual município de Marquês de Valença.
(11) Revista do Instituto
Histórico - pág. 504 e seguintes. (Terceira Série - Tomo XV) - 1854.
A
respeito dessas concessões de terras, nessa parte do Estado do Rio de Janeiro,
tais documentos e traslados e outros papeis e livros do Arquivo Municipal do
Distrito Federal, grupados com os títulos — “Cartas de Ordem de Sesmarias”
e “Sesmarias na Capitania do Rio de Janeiro” — constituem valiosos
elementos para a história territorial fluminense. Num dos volumes encadernados
de tais manuscritos, catalogados com o número 318, estão os registros e cartas
de sesmarias concedidas no distrito de Valença e sertão do Rio Preto.
A
sesmaria dos índios Araris, confirmada
por D. João VI, compreendia uma légua em quadra
- das melhores do sertão denominado — Conservatória.”
DOCUMENTOS RELATIVOS AS SESMARIAS NO
TERRITÓRIO DE VALENÇA
Nome dos proprietários Ano
Antônio
Rodrigues Veloso de Oliveira |
1812 |
Antônio
Francisco Rodrigues Braga |
1818 |
Antônio
Valente de Vasconcelos
|
1823 |
Antônio
de Moura Quintanilha |
1812 |
Antônio
Joaquim Campos
|
1813 |
Antônio
Francisco de Araujo
|
1807 |
Antônio
Pereira de Azevedo
|
1811 |
Antônio
Tomaz da Silveira
|
1814 |
Antônio
José de Souza Lima |
1811 |
Antônio
Machado Botelho
|
1811 |
Antônio
Machado Botelho
|
1818 |
Antônio
Francisco Coelho
|
1817 |
Antônio
Ribeiro Coimbra
|
1811 |
Antônio
Luiz Machado |
1820 |
Antônio
José Machado |
1817 |
Antônio
Rosa Gomes
|
1810 |
Antônio
José Teixeira |
1811 |
Antônio
Lúcio
|
1812 |
Ana
Izabel Veloso de Oliveira
|
1812 |
Ana
Joaquina da Glória |
1813 |
Ana
Esméria de Pontes |
1809 |
Ana
Esméria de Pontes |
1814 |
Ana
Esméría de Pontes |
1816 |
Ana
Bárbara Carneiro
|
1814 |
Agostinho
Pereira Pinto de Azevedo |
1811 |
Agostinho
Pinheiro de Souza |
1812 |
Aurélia
Marcelina Vieira de Mesquita |
1811 |
Alexandre
Manoel Lemos
|
1813 |
Anacleto
Elias Ferreira de Noronha
|
1819 |
Baependi
(Marquês de) |
1827 |
Baependi
(Marquês de) e outros
|
1827 |
Baependí
(Marquês de) Povos e fazendeiros
do Curato de N. S. das Dores - Termo da Vila de Valença.
|
1827 |
Braz
Carneiro Nogueira da Costa
|
1814 |
Bernardo
Manoel da Silva
|
1819 |
Bernardo
Vieira Machado
|
1816 |
Bárbara
Joaquina |
1813 |
Bárbara
Joaquina |
1819 |
Bento
Fernandes
|
— |
Cristovão
Rodrigues de Andrade
|
1809 |
Camila
Guilhermina A. Duarte |
1812 |
Catarina
Maria da Encarnação |
1815 |
Custódio
Ferreira Leite |
1821 |
Câmara
de Valença (Informação prestada
pelo Ouvidor interino Francisco G. Campos, sobre a representação da
Câmara de Valença).
|
1819 |
Campos
(Informação prestada pelo Ouvidor Interino Francisco Gomes de Campos sobre a representação da Câmara de Valença)
|
1819 |
Domiciano
Ferreira de Sã Castro
|
1811 |
Domingos
Francisco de Souza
|
1824 |
Domingos
Francisco Pimentel |
1812 |
Domingos
Gomes da Cunha |
1811 |
Domingos
Alves de A. Rosa e outros |
1815 |
Domingos
Francisco
|
1817 |
Damaso
José de Carvalho
|
1817 |
Efigénia
H. Veloso de Oliveira |
1812 |
Francisco
Antônio de Paula Nogueira da Gama |
1797 |
Francisco
Alberto Robim
|
1813 |
Francisco
Dionisio Fortes de Bustamonte |
1824 |
Francisco
da Costa Pereira
|
1811 |
Francisco
da Costa Santiago |
1811 |
Francisco
Ferreira de Sá |
1811 |
Francisco
Ferreira de Sá |
1811 |
Francisco
Ferreira da Silva
|
1811 |
Francisco
Fortes |
1809 |
Francisco
Joaquim
|
1811 |
Francisco
Joaquim Delgado |
1814 |
Francisco
Joaquim Arêa |
1808 |
Francisco
José Alves |
1813 |
Francisco
José de Araujo
|
1811 |
Francisco
José Veloso Rabelo |
1809 |
Francisco
José Leite Guimarães
|
1809 |
Francisco
Maxímiano de Meio |
1811 |
Francisco
Nunes Fagundes
|
1771 |
Francisco
de Paula Rodrigues |
1811 |
Francisco
de Paula Nogueira de M. e Gama |
1811 |
Francisco
A. de Almeida e Gama
|
1822 |
Francisco
Rodrígues da Costa |
1811 |
Francisco
de Souza Lima
|
1811 |
Francisco
Tercziano Fortes
|
1824 |
Francisco
Veloso Carmo
|
1820 |
Francisco
Joaquim de Sta. Ana
|
1817 |
Francisco
Teodoro Silva |
1817 |
Francisco
Peixoto de Lacerda Werneck |
1814 |
Francisco
de Menezes Frazão |
1814 |
Francisco
Pereira de Mesquita |
1826 |
Francisco
Martins |
1814 |
Francisco
José da Mota |
1817 |
Francisca
Peregrina de S. e Melo e outros |
1818 |
Francisca
P. de Souza e Melo |
1820 |
Francisca Peregrina de Souza e Melo Antônío Luiz Machado, expondo os obstáculos que se encontraram na medição das terras de d. Francisca Melo |
1820 |
Francisco
Ramos |
1814 |
Francisca
Mônica Carneiro da. Costa |
1814 |
Garcia
Rodrigues Paes Leme |
1793 |
García
Rcdrigues Paes Leme |
1805 |
Geraldo
Carneiro Bellens
|
1815 |
Gabriel
José Pereira Bastos
|
1810 |
Guilherme Alen |
1812 |
Gabriel
Francisco
|
1812 |
Henrique
Veloso de Oliveira
|
1812 |
Inácia
Maria de Azevedo |
1811 |
Inácío
da Silva Nascimento
|
1817 |
Inácio
de Souza Werneck
|
1808 |
lnácio
Paz Sardinha
|
1809 |
Inácio
Paz Sardinha |
1814 |
Izabel
Helena Veloso de Oliveira
|
1812 |
José
de Oliveira Fagundes (*) |
1817 |
José
Inácio Nogueira da Gama |
1811 |
José
Inácio Nogueira da Gama |
1811 |
José
Basilio da França |
1813 |
José
Jerônimo Pereira de Mesquita
|
1823 |
José
Jerônimo Pereira de Mesquita
|
1826 |
José
Jerônimo
|
1822 |
José
da Costa Rodrigues
|
1812 |
José
Rodrigues da Cruz Silva
|
1814 |
José
da Silva Loureiro
|
1811 |
José
Tomaz da Silva
|
1814 |
José
Infante da Silva Loureiro
|
1825 |
José
Infante de Siqueira C. da Silva
|
1822 |
José
Coutinho da Silva Magalhães |
1820 |
José
Pedro Vieira Ferraz
|
1827 |
José
Pereira dos Santos Furtado
|
1814 |
José
Gomes da Rocha
|
1810 |
José
de Souza Freitas
|
1814 |
José
Maria Fraga
|
1814 |
José
Clemente Pereira — Oficio do Visconde de Congonhas do Campo, sobre sentença civel de apelação de que trata o requerimento
do Conselheiro José
Clemente Pereira, referente à sesmaria do Conselheiro Manoel Jacinto
Nogueira da Gama.
|
1818 |
José
Francisco de Meio
|
1808 |
José
de Rezende Costa
|
1811 |
José
Pereira de Azevedo
|
1811 |
José
Pereira dos Anjos
|
1814 |
José
Inácio de Souza e Meio
|
1821 |
José
Pereira Ribeiro Toscano
|
1811 |
José
Joaquim Monteiro de Barros |
1811 |
José
Luíz de São Boaventura
|
1823 |
José
da Silva Loureiro Borges
|
1822 |
João
Correia de Amorim
|
1814 |
João
Batista Bastos
|
1814 |
João
Domingues da Costa
|
1820 |
João
Soares de Pinho
|
1813 |
João
Rodrigues da Costa
|
1811 |
João
Rodrígues da Cruz
|
1815 |
João
Antônio Damasceno
|
1811 |
João
de Pontes Franco
|
1814 |
João
Pulquério A. Leme e irmãos
|
1805 |
João
Batista Soares de Meíreles
|
1812 |
João
Pedro Maynard d’ Afonseca e Sá
|
1823 |
João Pedro Maynard d’ Afonseca e Sá |
1810 |
João
de Castro e Silva
|
1812 |
João
Zacarias da Silva
|
1820 |
João
Pinheiro de Souza
|
1812 |
João
Fernandes Viana
|
1811 |
Joana
Maria da Conceição
|
1814 |
Joana
Emitia Veloso de Oliveira
|
1812 |
Joaquim
Lopes do Amaral
|
1811 |
Joaquim
Tavares do Amarai
|
1813 |
Joaquim
Rodrígues Bragança
|
1812 |
Joaquim
da Silva Carvalho
|
1809 |
Joaquim
da Costa
|
1819 |
Joaquim
José da Costa
|
1824 |
Joaquim
José Pereira de Faro (Povos e fazendeiros do Curato de N. S. das
Dores - Termo da Vila de Valença).
|
1827 |
Joaquim
José Pereira de Faro
|
1835 |
Joaquim
Diofrídio Fortes
|
1825 |
Joaquim
Claudio de Mendonça
|
1811 |
Joaquim
da Silveira Rodrigues
|
1808 |
Joaquim
José de Sant’Ana
|
1819 |
Joaquim
José dos Santos
|
1808 |
Joaquim
Silvério
|
1820 |
Jacinto
José do Sacramento
|
|
Lourenço
Antonio Barbosa
|
1822 |
Lourenço
Antônio do Rego |
1825 |
Lourenço
Antônio do Rego
|
1826 |
Lourenço
Antônio do Rego (Testamenteiro de Francisco Pereira de Mesquita)
|
1826 |
Luiz
Rodrigues da Costa
|
1811 |
Luiz
Caetano Pinto
|
1820 |
Luiz
Gomes Ribeiro
|
1817 |
Luiz
Fernandes Carneiro Viana
|
1811 |
Lino
José da Rocha
|
1812 |
Manoel
do Vale Amado
|
1823 |
Manoel
Joaquim de Andrade
|
1814 |
Manoel
Luiz Aréa
|
1808 |
Manoel
de Campos e Azevedo
|
1813 |
Manoel
José Cardoso
|
1813 |
Manoel
José do Carmo
|
1810 |
Manoel
Gonçalves Coelho
|
1811 |
ManoeI
Joaquim Nunes Cordeiro
|
1810 |
Manoel
Joaquim
|
1822 |
Manoel
Joaquim Justiniano
|
1814 |
Manoel
Gomes Leal
|
1808 |
Manoel
José da Silva de Macedo
|
1811 |
Manoel
Antônio de Madureira
|
|
Manoel
Francisco de Melo
|
1810 |
Manoei
Jacinto Nogueira da Gama |
1811 |
Manoel
Jacinto Nogueira da Cama |
1813 |
Manoel
Jacinto Nogueira da Gama |
1814 |
Manoel
Jacinto Nogueira da Gama |
1816 |
Manoel
Jacinto Nogueira da Gama |
1818 |
Manoel
Pimentel
|
1815 |
Manoel
José da Silva
|
1812 |
Manoel
Pinheiro de Souza
|
1812 |
IModesto
Antônio Coelho Neto
|
1812 |
Imaria
de Meio Coitinho
|
1812 |
Maria
Bárbara Infante
|
1822 |
Maria
Teodora de Menezes
|
1815 |
Maria
José dc Sant Ana
|
1814 |
Maria
Valeriana
|
1814 |
Marcelino
de Rezende Costa |
1817 |
Mateus
Herculano Monteiro
|
1811 |
Miguel
Rodrigues da Costa
|
1811 |
Nicolau Masson (Informação pelo Ouvidor Nicolau de Sequeira Queiroz, sobre concessão de terras) |
1822 |
Nicolau
Masson
|
1822 |
Nicoláu
Antônio Nogueira de Abreu e Melo |
1811 |
Pedro
Gendre
|
1825 |
Paulo
Ferreira de Menezes
|
1815 |
Proprietiráos
e sesmeiros estabelecidos além
da margem do rio Paraíba. |
1818 |
Paulo
Fernandes Víana
|
1811 |
Sebastíão
Nicoláu Gachet
|
1825 |
Salvador
Pereira
|
1811 |
Tomaz
de Aquino Fernandes Quíntão
|
1814 |
Teodoro
Carlos da Silva
|
1817 |
Vicente
da Silva
|
1810 |
Visconde
de Congonha do Campo (Ofício sobre
sentença cível de apelação de que
trata o requerimento do Conselheiro José
Clemente Pereira, referente
à
sesmaria do Conselheiro Manoel Jacinto Nogueira da Gama)
|
|
Vitória
Joaquina da Silva Neves Linch
|
1828 |
Zacarias
Dias da Silva
|
1820 |
(*) Supõe-se tenha sido o advogado de Tiradentes (“Correio da Manhã” de 21-4-1942)