Valença de Ontem e de Hoje

 

LEONI IÓRIO

 

CAPÍTULO 2

 

 

 

VALENÇA ALDEIA

 

 

 

PARTE 5

 

 

 

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A Declaração de Guerra Indígena

Casamento Entre Coroados

Habitações Indígenas

Epidemias e o Abandono da Aldeia

 

 

A DECLARAÇÃO DE GUERRA INDÍGENA

 

Para a declaração de guerra, os índios obedeciam a uma junta organizada: numa choça de “cacique” o congresso deliberava. Aí, preparavam-se bebidas, as mais extravagantes, que eram distribuídas com o fim de embriagar os índios, perturbando-lhes a razão. Só depois de se acharem os índios totalmente tomados pela bebida é que os conselheiros de guerra deliberavam definitivamente.

 

Cacique Coroado e o sinal de combate - Des. de Debret

 

Ao decreto de guerra seguia-se a eleição do “general” em chefe, eleição que era sempre renhida, porque todos ambicionavam o posto de comando. Cada qual expunha os seus direitos, suas qualidades, seus feitos e suas façanhas. Uma vez eleito o chefe, todos, até mesmo o “cacique”, lhe obedeciam, e ele dava, então, ordens para os primeiros passos do embate a se travar.

 

Faziam os índios Coroados uso de muitos enfeites, em cores berrantes, e galas militares, nas maiores solenidades: plumagens na cintura, diversidade de cores com que se pintavam, imaginando que a pintura os tornaria formidáveis, surpreendentes e invencíveis ao inimigo, e, até mesmo, causavam espanto aos espíritos infernais. Começava e terminava o combate com tal algazarra que o ambiente se tornava insuportável e confuso, ensurdecedor... 

 

O início da luta era aturdindo o inimigo, por muitas maneiras, para entorpecer-lhe os sentidos, no momento da batalha. 

 

Era o que chamaríamos de guerra de nervos...        

 

Indios Coroados em retirada - Des. de Debret

 

  Uma lei invariável entre eles era retirar seus cadáveres imediatamente do campo da luta, para lhes dar sepultura, ou para ocultar, principalmente, as perdas ao inimigo — uso louvável por sua natureza, mas que, às vezes, redundava na desvantagem de perderem esplêndidas oportunidades de vitória, ao se entreterem, por muito tempo, nessa escrupulosa tática de guerra...  

 

O vencedor desfrutava os despojos. Os prisioneiros tinham suas cabeças decepadas, as quais eram conduzidas, como troféus, na ponta de uma lança.

 

 

 

Pote de barro em que era enterrado o cacique “Coroado”  - Des. de Debret

 

Era hábito dos Coroados enterrar — assim nos informa Saint Hilaire — os seus chefes, de uma maneira bastante original: os despojos mortais dos “caciques” venerados eram enfeixados dentro de um grande pote de barro, que era, então, enterrado profundamente, à sombra de uma frondosa árvore. Não era difícil encontrar-se, nas grandes derrubadas, muitos desses despojos. Eram múmias revestidas de suas insígnias, perfeitamente intactas, colocadas na sua urna funerária, de modo a conservar a atitude de um homem de cócoras, posição muito natural que se observa no índio que descansa.  

 

Certas cabeças de selvagens — relata-nos Debret — encontradas, aos montes, nas aldeias, apresentavam detalhes interessantes, no tocante à sua conservação - “São troféus militares que atestam o número de prisioneiros de guerra, tanto quanto a ferocidade dos vencedores. Todo prisioneiro de guerra se destinava a ser comido e facultava um dia de festas a seus inimigos, transformados, com a vitória, em canibais. No momento aprazado, a vítima era amarrada a um cepo, afim de ser abatida a flechadas ou a golpes de tacape; depois de morta, cortavam-lhe todas as partes carnudas, enquanto se acendia o fogo que ia servir para assá-las. Toda a população esfomeada se reunia em torno, e o festim começava com as mais turbulentas manifestações de uma alegria atroz. A cabeça cortada, que ficava intacta, era logo, suspensa ao cepo, por meio de cordas, que se enfiavam pelos orifícios das orelhas e saíam pela boca. O todo era arranjado de maneira que se pudesse, artificialmente, obrigar a cabeça a um movimento de aprovação, reiterado à vontade, enquanto o grupo alegre de índios dançava em redor, atirando-lhe flechas, e insultando, covardemente, sem piedade. Terminada a festa, o vencedor ficava com direito de se apropriar da cabeça ainda sangrando.        

 

                                                     

Um troféu, cabeça de índio "Arari" - Des. de Debret

 

Ele começava retirando os olhos e o cérebro, com suficiente habilidade para não mutilar o crânio nem a pele. Depois dessa primeira operação, introduzia uma substância corrosiva, e fazia secá-la ao sol; em seguida, para substituir os olhos e dar a impressão de pálpebras fechadas, reunia duas pequenas fileiras de fragmentos de conchas brancas e fixava-as no centro de uma bola grande de resina, destinada a encher a cavidade da órbita do olho retirado.

 

Finalmente, acrescentava a esses preparativos uma cordinha de algodão trançado, cujas extremidades eram presas ao orifício da boca, igualmente cheia de resina, o que formava uma espécie de anel alongado de que o índio se servia, com  orgulho, para suspender a múmia, à cinta, durante os festejos guerreiros”.

 

 

CASAMENTO ENTRE COROADOS

 

O casamento entre os Coroados se fazia à vontade, sujeito a anulações. Por causa de uma índia, muitas vezes surgia séria rixa, bem como dissensões entre diversas famílias, e mesmo até entre as tribos. A pluralidade de mulheres era permitida. O número de mulheres era maior ou menor, segundo a possibilidade de poder sustentá-las ou comprá-las. Por um pouco de milho ou mandioca, o pai vendia sua filha, que, pessoalmente, entregava ao marido. Nos casamentos, fala-nos Debret —“deitavam-se os noivos cada qual em sua tipóia, ataviada de flôres e pintava-se-lhes o corpo com urucu”.

         

Os índios Coroados eram muito supersticiosos a respeito das mulheres em estado de gravidez. “Eram condenadas ao jejum severo enquanto se achavam nessa situação. Embora os índios fossem muito gulosos pela carne, elas eram proibidas de prová-la sob o receio de que a criança nascesse com o nariz disforme; nem podiam comer aves ainda pequenas, pára que a pequenez do alimento não se transmitisse aos filhos”. Temendo dar à luz filhos gêmeos, privavam-se de tocar e de provar duas espigas de milho.

 

Interessante é que — como nos relata Ribeyrolles — “as mulheres, depois do parto, corriam ao rio das Flores (lindo nome!) para se banhar em água fria, e ao recém-nascido”.

   

O rigor da lei se estendia, também, aos maridos, aos quais era proibido matar feras; e para não serem tentados a isso, eram desarmados durante o período de gravidez de sua companheira. Logo que a índia dava à luz, o marido jejuava quinze dias, sem sair de casa; e, em algumas tribos, o marido ficava de cama, enquanto a mulher se purificava nas águas fluviais.

 

Se adoecia a criança, todos os parentes tinham que se abster das comidas que pudessem fazer mal ao pequeno.

 

Por morte do indígena, era muito comum lamentar ou chorar o finado com lúgubres berreiros, lágrimas fingidas durante alguns meses e até anos. Isso praticavam os parentes e alguns estranhos com interesse sobre algumas alfaias do defunto. O cadáver, sentado sobre um mocho ou tamborete às vezes toscamente pintado, era coberto com penas, para que se apresentasse decentemente na outra vida. Algumas tribos abriam os olhos do morto para que este pudesse descobrir o caminho que o levaria à região dos mortos.

 

Em torno da sepultura, ou dentro dela, colocavam o arco, as flechas, as panelas, etc. Tudo ali tinha sua significação: o arco e a flecha, para brigar com o inimigo do Além, caçar e pescar...

 

Às primeiras notícias da morte do “cacique” ou do seu primogênito, muitos vassalos se matavam, em holocausto.

 

Afagando a idéia de um gracioso acolhimento na mansão da divindade, faziam as tribos dos Coroados a inumação de seus mortos em uma primorosa cabana ornada de armas venatórias do morto e dos troféus que conquistara nas lutas. Sobre esta mesma crença, fundava-se a tribo dos Purus, que dedicavam aos seus mortos o tributo de suas afeições por meio de cantos folgazões, e se sacrificavam, fazendo, em si mesmos, incisões profundas, e submetendo-se a jejuns expiatórios que realizavam, com a maior austeridade e simplicidade. Construíam os Coroados as sepulturas dentro das próprias choças em que viviam. Ao morto servia de féretro a própria rede, que ficava suspensa, dentro da cova, coberta de paus e ramagens, nela colocando terra o parente mais próximo. Se o defunto era o chefe, este ia trajado de penas, com todas as armas, e, na sepultura, deitavam gêneros para comer, beber e fumar, e mantinham fogo aceso por alguns dias. Outras vezes, metiam o defunto de cócoras, em posição análoga à dos fetos no ventre, com todos os seus trajes, dentro de uma grande talha de barro.

 

Em Valença, encontraram-se muitas dessas talhas, ao serem abertas estradas entre os rios Paraíba e Preto. Essas urnas funerárias se chamavam camucin, como também se chamavam outrora todas as talhas e potes pintados, de utilidade doméstica. A sepultura tinha o nome de tibi e ao cemitério era dada a denominação de tibiocara.

 

 

HABITAÇÕES INDÍGENAS

Abrigo das índias "Purus", também denominado "Cuari" - Des. de Debret  (Repr. por Joaquim Alves)

 

Em geral — afirma-o Debret — as choças dos índios Coroados não eram mais que uma espécie de caramanchão coberto de folhas de palmeira. Os abrigos indígenas tinham denominações especiais. Os dos Purus denominavam-se cuari. Estrutura simples, revestidos de uma camada interior de folhas de patioba (palmeira de folhas lisas), ou de heliconia (planta gigantesca), eram recobertos por espessas camadas de largas folhas de palmeira-coco.

 

A rede que lhes servia de leito, era feita de fibras de embira.

 

Tipo de cabana, comum aos 

Coroados e Purus - Des. de Debret

Outro tipo de abrigo, que os Coroados e Purus adotavam, era o de uma cabana solidamente construída, aproximando-se, na sua estrutura, ao tipo dos pequenos casebres usados pelos escravos dos cultivadores brasileiros. A única diferença era a ausência do barro nas suas paredes. Esse tipo de cabana era comum aos índios mais ou menos civilizados.

   

Cabana de paredes fechadas por folhas 

de palmeiras entrelaçadas, peculiar aos Coroados

(Des. de Debret)

 

Havia outros tipos de choças peculiares aos Coroados, cuja diferença consistia em terem as paredes fechadas por folhas de palmeira entrelaçadas.

 

 

Uma outra variedade de cabana, mais arejada, construída, também, pelos Coroados, foi mais tarde adotada, com ligeiras modificações, pelos portugueses, para depósito de mercadorias das caravanas, a que davam o nome de rancho.

 

Taba ou aldeia era ordinariamente formada de grandes casarões achatados ou abarracamentos, a que chamavam ocas, feitas de pau e barro, cobertas, sob forma convexa, com folhas de pindoba ou palmito. Junto ao teto, tinha cada oca giraus onde guardavam os utensílios e comestíveis. Às vezes, toda a povoação construía para si somente um “rancho”, com capacidade para duzentas pessoas. No seu interior não havia repartições de esteiras ou tabiques, e, sim, esteios para redes. No meio da oca acendiam uma fogueira para cozinhar ou para alumiar, à noite, e para aquecê-los ou livrá-los dos morcegos. Eram as ocas dispostas de tal modo que, no centro, havia uma área (ocara), apresentando três portais apenas, ordinariamente sem porta ou postigo. A taba era cercada por uma tranqueira de palancas, de forma pentagonal. Às vezes, esta cerca, a que davam o nome de caiçara, era feita de urna palmeira espinhosa, ou de taboca, e se tornava, por isso, quase inexpugnável: à sua entrada espetavam-se, no topo de mastros, de pequena altura, as caveiras dos inimigos vencidos.

                                                                    

As tabas abandonadas eram conhecidas pelo nome de taperas, nome hoje aplicado a sítios abandonados. Pelas notas colhidas por Saint Hilaire, sabe-se que os índios de Valença se escusavam a dar qualquer informação: tão depressa viam tomar-se de urna caneta ou lápis, para fugirem, espavoridos e receiosos de que quisessem levá-los, à força, para o Rio de Janeiro. Isto se explica: antes, viram os selvagens alguns soldados prenderem desertores, que viviam no meio deles...

 

Não foi difícil àquele cientista colher dos índios de Valença alguns vocábulos do seu idioma. Assim é que, com o, aprendeu os seguintes:

 

Tupan Deus
motè fogo
cabeça
cuaiman homem
spona criança
iona mãe
juparé mão
tupiè dedo
murim olhos
chori bôca
bo árvore
nhuman água
copé sol
pergran lua
boiman mulher
selena pai
smeina filha
inhat braço
juparenan
nhim nariz
tão língua
proono pássaro

                                                         

“Os Coroados, — afirma Saint Hilaire — como quasi todos os índios, falavam com a boca semi-fechada, e tiravam os sons, com algum esfôrço, do fundo da garganta.”

  

EPIDEMIAS E O ABANDONO DA ALDEIA

“Os indígenas - escreve Afrânio Peixoto - eram, a princípio, numerosos, mais de milheiro e meio, mas, para logo, a Civilização operou neles a destruição, que o ferro e o fogo não fizeram nas entradas e na conquista. A varíola de um lado, do outro o alcoolismo, de mãos dadas, fizeram aqui, o mesmo que no resto do Brasil: apenas se salvaram aqueles que a preferência das índias, pelos brancos colonizadores, daria, numa mestiçagem escassa. O branco subsistiu, e com o negro importado para a lavoura, foi substituida a raça aborígene”.

 

A sorte da Aldeia de Valença foi a de todas as outras da Província do Rio de Janeiro: os índios foram, pouco e pouco, dizimados por epidemias diversas, ficando na paróquia apenas a população branca, que logo aumentou, atraída pela fertilidade do solo.

 

A varíola, as moléstias venéreas e o uso imoderado do álcool foram a causa primordial do desaparecimento rápido dos selvagens, e, os poucos que escaparam a esse flagelo foram aldear outras localidades mais ou menos próximas, como Pomba, S. Vicente Ferrer e Carangola, na Província de Minas Gerais.

 

Comenta Alberto Lamego:

 

“Das cidades fluminenses nascidas como aldeias indígenas, Valença, Itaocara e Santo Antonio de Pádua são as únicas a datarem do passado século. Quinhentista foi Niterói, seiscentistas Mangaratiba, São Pedro d’Aldeia e Macaé, e setecentistas Itaguaí e São Fidélis”.

 

“Com exceção de Pádua e Valença, cresceram as demais sob a orientação de jesuitas e capuchinhos”.

 

“Fazendo-se a ligação do Rio de Janeiro a Minas Gerais durante o seculo XVIII, através de espesso matagal, poucos desbravadores haviam se aventurado a estabelecer fazendas nos recessos montanhosos dominados pelos índios”.

 

“Nasce, desse modo, a Aldeia de Nossa Senhora da Glória de Valença, freguesia em 15 de agosto de 1813, batizada em homenagem ao então vice-rei D. Fer­nando José de Portugal, depois marquês de Aguiar e descendente dos nobres de Valença em Portugal”.

 

“Tão grande era a necessidade dêsse aldeamento pela ânsia dos imigrantes de se apossarem dessas terras que, em 1814, já conta Valença com 119 fogos e mais de 900 adultos, excluídos dêsse numero os índios aldeiados. Em 1820, havia em sua população mais de 1.000 portuguêses. O número de indígenas espalhados por toda a zona, em princípios do século XIX, era de cerca de 1.400 indivíduos”.

 

“Pela sua própria origem exigindo uma administração autônoma, Valença fora destinada a vila desde a sua fundação em 25 de agosto de 1801, sendo porém somente criada em 1819 e erecta em 1823. O novo município desmembrara-se dos distritos da Corte e das vilas de São João do Príncipe e de Resende”.

 

“Provaram as terras de Valença, em altitudes próximas ao optimum para o café, serem altamente produtivas. E com o crescente fluxo comercial entre o Rio de Janeiro e os sertões de Minas, através da zona municipal, em breve a sua evolução acelerar-se-ia”.

 

“Com sucessivas e intensificadas plantações, deixa de ser a primitiva estrada um corredor aberto em mata-virgem, onde espaçadamente se dilatavam as principais derrubadas. Ao longo dela, numerosos colonos tenazmente atacam a floresta. Filas, e a seguir exércitos de pés de café sobem pelos morros, avançam por todos os quadrantes do novo município”.

 

“Doravante a sua importância vai crescer durante o Império”.

 

“Portuguees, fluminenses, mineiros sobretudo afluem para Valença. disputam suas magníficas terras para café, conquistam apressadamente as suas selvagens matarias”

 

“Todo um escol mineiro, de excepcionais atributos de organização, atravessa o rio Prêto, vindo instalar-se nas selvas fluminenses”.

 

“Os índios afugentados da crescente vila onde já predominava toda uma população de brancos, vão se estabelecer na nova aldeia de Santo Antônio do Rio Bonito, hoje Conservatória — com uma sesmaria de légua, em breve também a ser desapropriada por intrusos.” (27)

(27) O Homem e a Serra — pág. 126.

 

Lendo Luiz Palmier, encontrámos e destacamos os seguintes comentários:

 

“Eram assim estes chãos que pisamos, com orgulho de brasileiros e fluminenses, convencidos de, através de várias gerações, termos plantado aqui uma grandiosa e bem consolidada civilização, as máximas conquistas em terras dos trópicos”.

 

“Ainda ao findar do século XVIII, quando tantas agitações ideológicas conturbavam o mundo civilizado, inclusive as terras do Brasil, a zona marginal do rio Preto ou, mais propriamente, a vasta região de Além-Paraíba, acima da confluência do Paraibuna, era dominada pela mataria e habitada por diversas tribos nômades de brasilíndios. Eram os “sertoens” do rio Preto, assim ainda assinalados nas legendas dos mapas das primeiras décadas do século XIX”.

 

“A mata humosa, densa, frondosa, bela e multissecular, dominadora e quase insuperável, representava uma dessas barreiras, e era das melhores defesas de uma natureza assim encantadora e desconhecida da civilização e dos civilizadores, que jaziam, desde muito, com as suas tendas e incipientes explorações agrícolas chantadas, bem próximo, nas regiões meridionais do vale do Paraíba do Sul, ou aquém da Serra do Mar, nas baixadas infindas”.

 

“Os silvícolas, das várias tribos, mais ou menos indomesticáveis, constituiriam outros tantos entraves aos conquistadores, mantendo ainda por muito tempo afastados da civilização, impenetrável aos dominadores, todos esses “sertoens”, das mais cobiçadas presas, entre os que anteviam a fortuna fácil na multiplicidade dessas conquistas por terras outras ainda inexploradas”.

 

“Também em outras regiões, mais bem aquinhoadas, os caminhos das intercomunicações, entre os felizes remos, possuidores das capitanias hereditárias, eram marginais do litoral e bem pouco alteavam para alcançar os rios invadeáveis e essa mataria de proporções grandiosas, reduto precioso dos ciosos possuidores da terra”.

 

“Era assim todo esse vasto cenário brasileiro, limitado ao oriente pela majestade do Atlântico e para o oeste alcançando somente as linhas rígidas e consideradas imutáveis do Tratado de Tordesilhas”.

 

“Foi assim ainda durante os primeiros séculos. Não mais o seria após a constituição de núcleos civilizadores, aqui e além, todos convergindo para um nobilíssimo e comum objetivo, a formação de uma pátria também comum — Nação Brasileira”.

 

“As múltiplas agitações que precederam o movimento emancipador, que culminaria com o grito do Ypiranga, em 7 de setembro de 1822, bem pouco poderiam repercutir por estas paragens setentrionais do Paraíba do Sul”.

 

A magnanimidade dos delegados da Coroa, em terras do Brasil, muito menos teria preocupações de ordem administrativa com estas regiões, assim afastadas, na época, dominadas por hordas selvagens e ainda tendo a separá-las o caudal imenso e pouco vadeável do lendário Paraíba do Sul, mais tarde de tanto e justificável relevo na história econômico-social brasileira.

 

Coincidiram os memoráveis acontecimentos da Inconfidência Mineira e do declínio do “Ciclo do Ouro” com as primeiras incursões por esta magnífica mesopotâmia, localizada nas encostas da Mantiqueira e limitada pelas torrentes do Preto e do Paraíba do Sul. Coincidem, sim, e às datas históricas que marcam os mais assinalados fatos da História do Brasil, no século XVIII, estão também ligadas as que assinalaram o início da exploração das terras feracíssimas para além do grande rio e, fazem surgir, desde 1789, para a história regional da Capitania, da Província e do Estado do Rio de Janeiro, um novo topônimo, dos mais prestigiosos, revelando um novo centro civilizado e civilizador — aldeia, curato, freguesia, vila, cidade, termo, comarca, diocese, centro propulsor de progresso econômico, social e cultural — Nossa Senhora da Glória de Valença”. (28)

          (28) Marquês de Valença um estágio de grandeza da aristocracia rural fluminense -   

                  (Anuário Geográfico do Estado do Rio de Janeiro — pág. 79 — 1951).

 

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