O Nacionalismo do Século XIX
Texto retirado do livro "Uma Breve História da Música" de Roy Bennett.
Mais ou menos até a metade do
século XIX, toda a música fora praticamente dominada pelas influências
germânicas. Foi quando compositores de outros países, particularmente da
Rússia, da Boêmia (futura província da Tchecoslováquia) e da Noruega,
começaram a sentir necessidade de se libertar dessas influências e descobrir
um estilo musical que lhes fosse próprio. Isso deu origem a uma forma de
romantismo chamada nacionalismo .
Um compositor é considerado "nacionalista" quando visa
deliberadamente expressar, em sua música, fortes sentimentos por seu país, ou
quando, de certo modo, nela imprime um caráter distintivo através do qual sua
nacionalidade se torna facilmente identificável. Os principais meios por ele
utilizados para atingir tais objetivos são o uso de melodias e ritmos do
folclore de seu país e o emprego de cenas tiradas do dia-a-dia, das lendas e
histórias de sua terra, como base para obras como óperas e poemas sinfônicos.
Rússia:
O primeiro compositor russo a trazer o elemento
nacionalista para a música foi Glinka, na ópera Uma Vida pelo Czar (1836).
Sua liderança foi tomada, na década de 1860, pelo "Grupo dos Cinco"
ou "O Grupo Poderoso": Balakirev, Borodin, Cui, Mussorgsky e
Rimsky-Kotsakov. Seu objetivo era compor em um estilo que fosse de caráter
genuinamente russo. Trabalhavam juntos, freqüentemente se ajudando no
acabamento e orquestração das peças. Dentre suas obras mais conhecidas, as
que mostram mais fortemente o espírito nacionalista russo são o poema
sinfônico Rússia, de Balakirev; a ópera Prrncipe Igor, de Borodin (que inclui
as Danças Polovitsianas, com seus tons bárbaros e exuberantes); a ópera Boris
Codunov e o poema sinfônico Uma Noite no Monte Cálvo, de Mussorgsky; e
as óperas A Domela de Neve e o Galo de Ouro, juntamente com a suíte
sinfônica Sheherazade, todas de Rimsky-Korsakov.
Boêmia:
Na Boêmia, Smetana foi atingido pela febre nacionalista, manifestada sobretudo em sua ópera A Noiva Vendida, inspirada na vida campestre tcheca, e nos seis poemas sinfônicos intitulados Má Trlast [Meu País], baseados em cenas e lendas da Tchecoslováquia, bem como em sua história. Vltava (O Moldavia), o segundo poema, dá o trajeto do rio que passa pela cidade de Praga, desde as suas nascentes. Dvorák foi outro que escreveu poemas sinfônicos baseados em lendas tchecas (freqüentemente macabras) tais como O Espírito das Águas e A Roca de Ouro. Em suas pitorescas Danças Eslavas, ele se vale dos ritmos de danças tchecos, como a polca e a furiant, mas compondo melodias originais.
Noruega:
O compositor norueguês Grieg teve sua educação
musical na Alemanha, mas, de volta a seu país, decidiu-se por uma música
baseada em elementos do folclore da Noruega que estão nitidamente expressos em
suas Danças Norueguesas. em suas canções e na obra para piano intitulada Peças
Líricas.
O espírito nacionalista se estendeu a outros países, particularmente à
Espanha, onde Albeníz, Granados e de Falla absorveram em suas composições os
elementos característicos das danças e cantos espanhóis. Mas o estilo
exuberante do folclore espanhol não deixou de fascinar compositores de outras
terras, como se vê na ópera "espanhola" Carmen, do francês
Bizet, e no Capricho Espanhol, com soberba orquestração, do russo
Rimsky-Korsakov.