Estava lendo Martha Medeiros hoje. Um texto sobre Humilhação. A partir dessa leitura, escrevi as minhas impressões. Também pensando sobre os sentimentos, concordo que somos capazes de sentir e experimentar muitos deles, durante nossas vidas. São inúmeras as sensações que vivenciamos: paixão, amor, saudades, excitação, otimismo, esperança, desejo. Sabemos reconhecer cada uma destas alegrias, porque elas vêm, invadem o corpo, a alma, o coração e transbordam em contentamento. Outros sentimentos considero ruins. A tristeza, o ciúme, o remorso, a própria saudade, a solidão, a sensação de perda. Mas mesmo não sendo bons, acabamos aprendendo a lidar com eles, porque conseguimos sentí-los e suportá-los com dignidade, por percebermos que são simplesmente traduções das nossas ações e emoções e porque a maturidade nos faz compreender que nem só de alegrias a vida é feita. Concordo que há um sentimento (talvez eu o sinta na pele como o pior deles) que causa prostração, tristeza profunda e toda uma série de sensações que parecem nos adoecerem lentamente a alma. Derruba-nos o olhar, a vontade e a força. E nos coloca numa condição de impotência e inferioridade, nos tolhendo a esperança, a vontade e a confiança. É de humilhação que (também) falo. Há muitas maneiras de uma pessoa se sentir humilhada. A mais comum é aquela em que alguém nos menospreza diretamente, nos reduz, nos nega, nos coloca em um lugar no qual não gostaríamos de estar. Mas que lugar é este que não permite movimento, travessia? Que lugar é esse que nos retém, nos amarra, nos tira o brilho dos olhos, o sorriso? Tentamos nos erguer das quedas e demonstrar uma fortaleza que não possuímos. Tentamos superar uma dor antiga e não conseguimos. Procuramos ficar amigos de quem já amamos e caímos em velhas ciladas armadas pelo coração. Oferecemos nosso corpo e nosso carinho para quem já não precisa nem de um nem de outro. E o que fazer quando permitimos que isso nos aconteça? E o que fazer quando repetimos inadvertidamente as mesmas situações e nos colocamos, voluntariamente, na condição de sermos rejeitados, diminuídos em importância, necessidade e valor? Estivemos apenas enfrentando o desconhecido: nós mesmos, nossas fraquezas, nossas emoções mais escondidas, aquelas que julgávamos superadas, para sempre adormecidas, mas que de vez em quando acordam para, impiedosas, nos colocar em nosso devido lugar. O desconhecido, nosso maior inimigo, nós mesmos. Cedemos às nossas fraquezas. Nossas emoções nos traem, permitindo que voltem com força arrasadora os sentimentos que, por vezes, por já termos vivenciado situações semelhantes e por instinto de auto-proteção, tentamos manter adormecidos, mas que em algumas situações da vida e em nossa busca constante pela felicidade permitimos que sejam acordados e que nos coloquem no lugar mais alto de nossas expectativas e sonhos. Mas de repente, impiedosa e friamente, uma simples palavra ou a falta dela, nos derruba novamente ao nosso devido lugar. E a humilhação então, é essa angústia que nos faz sentir pequenos, envergonhados de nossos próprios sentimentos. E transforma-se, contra a nossa vontade, numa grande dor. E é um tipo de dor que não encontra e parece não querer encontrar alívio. É uma dor que vai substituindo os bons sentimentos pelos ruins, porque há uma necessidade de buscarmos uma pretensa compensação através do retorno que tentamos dar: se recebemos coisas ruins, acumularemos coisas ruins para dar em troca. E esse sentimento auto-compensatório que vai se instalando talvez não tenha cura, porque deixa o coração ferido, apertado e cada vez menor. O que fica de tudo isso? A sensação de fracasso, de impotência, de rejeição e de vergonha sendo substituída por uma outra, de confiança auto-imposta, que vai nos fazendo perceber e acreditar que podemos, por dever até, ser maiores, e que está apenas em nossas mãos aceitar ou não as situações, sofrer ou não com elas. E vamos aprendendo mesmo a duras penas, a nos desviar e até a criar uma “couraça emocional” para não permitir que, caso alguns dardos insistam em nos atingir novamente, que pelo menos possamos simplesmente “sacudir a poeira” sem ficarmos irremediavelmente feridos por eles. Mas, no final disso tudo, fica ainda certa tristeza por percebermos, a cada golpe desses da vida, nosso coração parecendo menor, enfraquecido. E perdendo, pouco a pouco, a vontade de compreender, de amar e de perdoar. (Estou pensando assim hoje. Tomara que amanhã eu pense diferente.) Dezembro/2007 |
Sobre os sentimentos... |
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As citações e frases em itálico são de Martha Medeiros, extraídas do texto “sobre humilhação”. Martha Medeiros é jornalista e escritora brasileira. É colunista do jornal Zero Hora de Porto Alegre, e de O Globo, do Rio de Janeiro. |