Sobre (in) felicidade...
Helena C. de Araujo

Respeite os Direitos Autorais

*
home * alguma poesia * outras palavras * rascunhos *
               Pensei em escrever sobre a Felicidade, hoje.
                Não a minha, porque não a tenho completa. Não a guardo branca, pura, perfeita e desenhada sobre linhas retas e bem traçadas como a gostaria de guardar.
                Pensei em escrever sobra a Felicidade, hoje, apenas enquanto sentimento, apenas sobre como a vejo, sobre como a posso (às vezes) sentir e medir.
                E como sempre, além de buscar no coração as palavras com as quais pretendo expressar o que sinto, busquei também a sua raiz, o seu conceito, a sua definição, para não correr o risco de desviar inadvertidamente minhas intenções.

                Felicidade: 1 Estado de quem é feliz. 2 Ventura. 3 Bem-estar, contentamento. 4 Bom resultado, bom êxito. Felicidade eterna: bem-aventurança.  Termo que representa um sentimento humano de bem-estar, euforia, empolgação, paz interna.
        
                Essa definição de dicionário talvez justifique ainda mais o motivo desse texto. Porque penso que nenhum sentimento é digno de causar bem-estar, contentamento, euforia, empolgação e, principalmente paz interna, se estiver ancorado sobre bases fracas, forjadas em palavras e situações dúbias, não reais, ou cravado à força à custa do sofrimento e mal-estar alheios. Nenhum sentimento sobrevive quando gerado por caprichos, narcisismos ou egocentrismos.
                Não acredito que alguém possa ser feliz à custa da dor ou da tristeza dos outros. Não consigo pensar que alguém possa buscar seu bem-estar atirando para todas as direções com o objetivo de acertar tantos alvos quantos forem possíveis na tentativa de somar pontos em um jogo que, ao invés de proporcionar a satisfação de uma vitória justa e conquistada com dignidade, espalha incertezas, ressentimentos, divisões, silêncios e dores.
                Não posso falar por ninguém... Falo por mim mesma. Não consigo reter nas mãos como motivo de felicidade o resultado de um manipular de pessoas e de sentimentos. E muito menos exibi-lo como conquista.
                Penso que a Felicidade, essa com letra maiúscula, pode e deve ser buscada. E se conquistada, por valor e mérito, deve se fazer presente em toda a sua plenitude, apresentar-se recheada de certezas, de palavras claras, deve brilhar da limpeza de intenções. Deve trazer com ela a verdadeira satisfação e o mais sensato contentamento.
                A não ser assim, não há Felicidade. Não há Paz. Não pode haver. Eu não consigo ser feliz assim. E tenho minhas dúvidas de que alguém consiga.
                Hoje, pensando calmamente sobre algumas situações que a vida me proporcionou, analisando com cuidado cada momento, decantando minuciosamente cada palavra dita, cada gesto realizado, concluí que algumas coisas acabaram por se desviar daquilo que tenho como princípios.
                Não há porque perder a tranqüilidade e a paz diante do que não tem constância e solidez. Não há porque alimentar situações que não se sustentam por si próprias. Não há porque enganar-se diante de uma Felicidade momentânea, oferecida por ventos que ora sopram a Sul e a trazem, ora sopram a Norte e a levam.
                Sei que a Felicidade completa é utopia. Ninguém é feliz o tempo todo, nem eternamente. A vida é, essencialmente, feita de momentos felizes. A Felicidade é, antes de tudo, estar bem. E para que este “estar bem” seja alcançado, cabe reconhecer as parcelas de culpa e os saldos de erros nas situações vividas e que podem ter sido a causa da infelicidade, minha e de outros. Cabe avaliá-los e corrigi-los.
                Com a segurança que só a experiência é capaz de conferir, posso afirmar que não são palavras que consertam erros. São atitudes.
                Sabemos que algumas decisões e atitudes são difíceis, porque ao mesmo tempo que se fazem necessárias, poderão nos proporcionar vazios, sensações de perda e tristezas. Poderão nos calar a voz e nos tolher o sorriso. Mas nos acalentarão a alma, nos revigorarão o coração.
               São as atitudes transparentes e bem-intencionadas que nos devolverão o brilho do olhar e o sorriso do rosto. E nos permitirão abrir tranqüilamente as mãos para receber e segurar a tão desejada Felicidade, por tantas vezes, por nós mesmos afastada. Mas que sempre, em algum lugar, estará nos acenando e aguardando...
Hosted by www.Geocities.ws

1