Como Avaliar uma Recepção

Nos primórdios da telegrafia sem fio, foram criadas abreviaturas para acelerar o processo de comunicação. Um dos tipos mais usados era o código Q, que era representado por três letras. Este código era usado para expressar com clareza e brevidade uma questão ou uma resposta. Por exemplo, o operador na estação transmissora enviava o prefixo "QRT?", que significa "deverei parar de enviar?". A resposta correspondente do operador na estação receptora era com o prefixo "QRT", que significa "pare de enviar".

Do código Q, os radioamadores criaram seu próprio código, chamado de código RST, um modo abreviado de indicar as principais características de um sinal recebido: R indica a "compreensão" ou "clareza de recepção" (Readability), S a "intensidade do sinal" (Signal Strength) e T o "tom" ou "timbre" (Tone). Cada letra assume um valor numérico, que varia de '1' a '5' para R, e de '1' a '9' para S e T. O significado de cada valor é indicado abaixo. É importante frisar que o tom é avaliado apenas para as transmisões de radiotelegrafia (CW - continuous wave, ou onda contínua), ou seja, transmissões em código Morse. Em radiotelefonia a tonalidade não é reportada. O código RST também é usado para a avaliação de emissões utilitárias.

No início dos anos 60, foi introduzido um novo código a partir do código SFL criado pela BBC, que foi chamado de código SINPO. Este código é composto de cinco critérios de estimação usados para avaliar a qualidade de uma recepção. O nome SINPO consiste na abreviação de cinco palavras, cada uma representando um critério variando de '1' a '5': "intensidade do sinal" (Signal strength), "interferência" (Interference), "ruído" (Noise), "oscilações da propagação" (Propagation conditions) e "avaliação geral" (Overall merit). Estes critérios possuem correspondentes no código Q, como poderá ser visto mais adiante. A informação sobre a qualidade de recepção mediante o uso deste código é feita usando a seguinte escala:

A informação relativa a esse código deve ser fornecida precedendo-se a classificação com a sigla SINPO (por exemplo: SINPO 35343). Abaixo, uma breve explicação de cada critério:

• S (intensidade do sinal): a referência para o valor de S deve ser em teoria a intensidade do sinal de uma emissora local. Se o sinal recebido da emissora de ondas curtas tem o mesmo volume da emissora local, o valor de S é '5'. Contudo, caso não se consiga ouvir a emissora de ondas curtas mesmo com o volume do receptor no máximo, o valor de S é '1'. O indicador conhecido como S-meter existente em muitos modelos de receptores de comunicações pode ser útil na atribuição deste critério. O código Q correspondente é o prefixo "QSA".
• I (interferência): os distúrbios causados por outras emissões, voluntária ou involutariamente. Quando a interferência é voluntária, sua motivação geralmente é de natureza política. Um exemplo é o chamado jamming, bastante freqüente na época da Guerra Fria. Interferências involutárias ocorrem quando o sinal de uma emissora encobre parcialmente o sinal de outra emissora. Neste caso, ou as emissoras estão transmitindo em uma mesma freqüência (interferência co-canal) ou transmitindo em freqüências próximas (interferência de canal adjacente). Caso haja interferência, é bom indicar no informe de recepção o nome da emissora que interfere. O valor '1' atribuído a I indica um nível de interferência que praticamente impossibilita a escuta da emissora desejada, enquanto o valor '5' indica ausência total de interferência. O código Q correspondente é o prefixo "QRM".
• N (ruído): o ruído pode ser natural (estático) ou artificial, provocado por equipamentos elétricos ou eletrônicos, linhas de transmissão, lámpadas fluorescentes, dentre outras fontes usuais de ruído. Caso o ruído seja desprezível, o valor '5' é atribuído a N; porém, se houver ruído extremo, o valor '1' é dado. O código Q correspondente é o prefixo "QRN".
• P (oscilações da propagação): Este critério refere-se a oscilações verificadas no sinal da emissora devido ao desvanecimento (fading). Caso as oscilações sejam imperceptíveis, o valor '5' deve ser atribuído a P. À medida que a influência do desvanecimento aumenta, o valor atribuído a P diminui proporcionalmente:
  • '5': sem desvanecimento.
  • '4': menos de cinco oslilações por minuto.
  • '3': de cinco a dez oscilações por minuto.
  • '2': de dez a vinte oscilações por minuto.
  • '1': mais de vinte oscilações por minuto.
  O código Q correspondente é o prefixo "QSB".
• O (avaliação geral): esta é uma avaliação geral da transmissão, que depende dos critérios anteriores. O código Q correspondente é o prefixo "QRK".

Apesar dos critérios expostos acima, o código SINPO é um tanto subjetivo. Por exemplo, um ouvinte pode avaliar uma emissão como "SINPO 32232", enquanto outro ouvinte, estando no mesmo local do primeiro, escutando a mesma emissão, pode avaliá-la como "SINPO 44333". Além do mais, o ouvinte de ondas curtas iniciante tem uma certa dificuldade na hora de atribuir os valores dos critérios N e P. Por isso, algumas emissoras optaram por utilizar uma variante simplificada do código SINPO, chamada de código SIO, onde os critérios N e P não são utilizados. Por exemplo, uma avaliação usando o código SIO seria dada por "SIO 333".

O código SINPO pode aparecer também indicado pela sigla SINFO; a única mudança é o uso da letra F (significando "Fading", ou desvanecimento) ao invés da letra P.