Não te amo
como se fosses a
rosa de sal,
topázio ou
flechas de
cravos que propagam
o fogo.
Te
amo como se
amam certas
coisas obscuras, secretamente, entre
a sombra e a alma.
Te
amo como
a planta que
não floresce
e leva dentro
de si,
oculta, a luz
daquelas
flores, e graças
a teu
amor vive
escuro
em meu
corpo
o apertado
aroma
que
ascendeu
da
terra.
Te
amo sem
saber como,
nem
quando,
nem
onde.
Te
amo
assim
diretamente
sem
problemas
nem orgulho:
Assim
te amo
porque
não sei
amar de
outra maneira,
senão
assim
deste
modo que
não sou
nem és,
tão
perto
que tua
mão sobre
o meu peito
é minha, tão
perto que se
fecham teus olhos com
meu sonho.
Antes
de amar-te,
amor, nada
era meu:
Vacilei
pelas ruas e
as coisas.
Nada
contava nem
tinha nome:
O
mundo era do
ar que esperava.
E
conheci salões
cinzentos, túneis
habitados pela
lua,
hangares
cruéis
que se dependiam,
perguntas
que
insistiam
na areia.
Tudo
estava
vazio, morto
e mudo,
caído,
abandonado,
decaído,
tudo
era inalienavelmente
alheio,
tudo
era dos
outros
e de
ninguém,
até
que
tua beleza
e
tua pobreza
de
dádivas
encheram
o outono.
Pablo Neruda
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