Volte pra mim

Maria da Graça Almeida

Volte pra mim, sorria, 
faça um esforço, tente essa via. 

Veja, o espelho envelheceu, 
olhe pra mim, reconheça-me, sou eu. 
Meus sapatos estão rotos demais, 
a saia que me cobria os tornozelos 
fez-se pequena, proibiu-a, o pai, 
disse-me que ora diminuta, 
exibe- me até os joelhos- 
os mesmos joelhos já ralados 
pelas travessuras meninas, 
que agora se queixam, calejados, 
das rezas e ladainhas-. 
Ainda assim trago firme 
a vontade e a tola vaidade 
de enredar-me feminina, 
mesmo sentindo a saudade 
das canelas fininhas 
que conduziam, brejeiras, 
a poeira vermelha 
das velhas botinas. 

Perceba, o vento inda é aquele 
e descabelado varre as ruas 
com a mesma euforia, 
porém o tempo, engravatado, 
nem mais tem tempo 
de acalentar-me as fantasias. 
Então venha, faça um esforço, 
tente essa via, volte pra mim, 
 sorria! 

                                     

 

LUIZ DELFINO DE BITTENCOURT MIRANDA

26082002

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