Visões da Arte
Maria da Graça Almeida
(primeira visão)
A arte é uma viga,
sustenta e desobriga,
não se impõe, pede licença,
é expressão de pura crença!
Perdoem-me os pintores de rua,
que rimam cenas tão nuas,
aos meus olhos se pintam de cinza,
se os versos carregam na tinta.
Ainda que muito se empenhem
é imprópria na rua sua dança,
atreve-se a arte imposta,
obriga-nos e desgosta!
A arte que pede licença,
com magia se compõe,
a arte que pede licença,
de muita arte dispõe.
(segunda visão)
A arte dispensa licença,
simples, apresenta-se,
vem chegando e afiança,
irrestrita, a confiança.
Reverencio os pintores de rua,
que pintam rimas tão cruas,
retratando o irreparável,
expõem sua força notável!
Ainda que nos embruteçam
e com eles os sonhos feneçam,
essa arte intensa e dura,
redimensiona loucuras.
A arte que crê em sua crença,
naturalmente se impõe,
a arte que pede licença,
à submissão se dispõe!