Redes de economia solidária e sustentabilidade
Resumo e citações da Exposição realizada no II Fórum
Social Mundial
Porto Alegre, fevereiro de 2002, por Euclides André Mance
A Revolução das Redes
“...a colaboração solidária entre milhares de redes e organizações solidárias
que vem se multiplicando nos campos da economia, política e cultura, com o
objetivo de assegurar as liberdades públicas e pessoais, pode converter-se em
uma alternativa pós-capitalista à globalização atual, fazendo surgir uma nova
esfera de contrato social, o setor público não-estatal”.
“Essas alternativas podem superar a lógica capitalista de concentração de
riquezas e exclusão social, de destruição dos ecossistemas e de exploração dos
seres humanos, afirmando a construção de novas relações sociais, econômicas,
políticas e culturais. Organizadas em redes de colaboração solidária, elas têm o
potencial de dar origem a uma nova civilização, multicultural, que deseja a
liberdade de cada pessoa em sua valiosa diferença. A integração solidária dessas
redes coloca no horizonte de nossas possibilidades concretas a realização
planetária de uma nova revolução, capaz de subverter a lógica capitalista de
concentração de riquezas e de exclusão social e diversas formas de dominação nos
campos da política, da economia e da cultura”.
“O grande avanço nos anos 90 das práticas de economia solidária deveu-se à
colaboração em rede entre as organizações. E este é o caminho que devemos seguir
para continuar crescendo, para consolidar uma alternativa hegemônica ao
capitalismo. Entre estas práticas inclui-se: a Autogestão de Empresas pelos
Trabalhadores, Fair Trade ou Comércio Équo e Solidário, Organizações de Marca e
Credenciamento, Agricultura Ecológica, Consumo Crítico, Consumo Solidário,
Sistemas Locais de Emprego e Comércio (LETS), Sistemas Locais de Troca (SEL),
Sistemas Comunitários de Intercâmbio (SEC), Redes de Trocas, Economia de
Comunhão, Sistemas de Micro-Crédito e de Crédito Recíproco, Bancos do Povo,
Bancos Éticos, Grupos de Compras Solidárias, Movimentos de Boicote, Sistemas
Locais de Moedas Sociais, Cooperativismo e Associativismo Popular, difusão de
Softwares Livres, entre muitas outras práticas de economia solidária”.
“Nesta estratégia de colaboração solidária em rede, a difusão do consumo e do
trabalho solidários possibilita subverter os fluxos de valor do capitalismo e
promover a distribuição de riquezas e o bem viver do conjunto das sociedades”.
“Por sua vez, o trabalho solidário significa, além da autogestão e
corresponsabilidade social, que o excedente do processo produtivo seja
reinvestido solidariamente no financiamento de outros empreendimentos
produtivos. Isto permite: a) integrar às atividades de trabalho e consumo as
pessoas que estão sendo excluídas pelo capital, b) ampliar a oferta de bens e
serviços solidários, c) expandir as redes de produtores e consumidores, d)
melhorar as condições de vida de todos que aderem à produção e ao consumo
solidários”.
Atitude dos Partidos
“É importante que os partidos de esquerda atualizem suas agendas incluindo em
suas pautas uma reflexão sobre a economia solidária não apenas para a proposição
de políticas públicas e elaboração de novas leis, como também para uma
atualização das estratégias de transformação estrutural das relações de
produção, considerando a emergência - a olhos vistos - de uma classe social em
que os trabalhadores são donos dos meios de produção, e que somente cresce
enquanto classe na medida em que solidariamente se entreapoiam enfrentando as
corporações capitalistas e consolidando práticas solidárias de autogestão e
intercooperação”.
Ações Imediatas
“No contexto mais imediato indicamos, entre muitas outras prioridades aqui não
elencadas, algumas ações econômicas importantes que podem concentrar nossa
colaboração:
• A difusão do consumo solidário
• Organização de Fundos de Desenvolvimento Solidário
• Levantamento de Produtos, Serviços e Valores Movimentados
• Catálogos Mundiais de Economia Solidária e Remontagem de Cadeias Produtivas.
• Ampliação do Número de Contratos entre Empreendimentos de Economia Solidária.
Essas ações permitem alavancar as práticas de economia solidária em todo o mundo
e produzir documentos de referência sobre a expansão da economia solidária como
uma alternativa concreta à globalização capitalista. Não como uma promessa
futura, mas como uma nova forma de organizar a economia, centrada em novos
valores, que já está presente em inúmeros lugares, mostrando-se economicamente
viável, socialmente justa, ecologicamente sustentável”.
Nota:
O texto pode ser lido na íntegra em
http://www.milenio.com.br/mance/fsm3.htm