O Mutualismo e a Cultura Hacker

Existem inegáveis afinidades entre o mutualismo e o princípio federativo defendidos por Proudhon e a cultura hacker, inseparável  do surgimento e das definições da Era da Informação.

 Procuramos acrescentar alguns subsídios a nossa tese de que a renovação dos ideais do socialismo libertário passa pela sua adaptação ao novo ambiente e a incorporação de novas idéias, surgidas dentro da mesma revolução tecnológica que deu origem ao capitalismo informacional.

 O Mutualismo:

 “Por “mutualismo”, Proudhon entende um vínculo fundado sobre a troca e a obrigação recíproca e equivalente de uns em relação a outros. Segundo Proudhon, “o princípio de mutualidade é  bem certamente o laço mais forte e o mais subtil que se possa formar entre os homens. Nem sistema de governo, nem comunidade ou associação, nem religião, nem sermão, não podem por sua vez unir tão intimamente os homens, e assegurar-lhes tal

liberdade”. Fazendo princípio sobre a liberdade, “o princípio de mutualidade” propõe um modo de permuta que ultrapassa o plano estritamente econômico”. (1)

 

A Atitude Hacker:

 

“Hackers resolvem problemas e constróem coisas, e acreditam na liberdade e na ajuda mútua voluntária. Para ser aceito como um hacker, você tem que se comportar de acordo com essa atitude. E para se comportar de acordo com essa atitude, você tem que realmente acreditar nessa atitude.

Mas se você acha que cultivar a atitude hacker é somente um meio para ganhar aceitação na cultura, está enganado. Tornar-se o tipo de pessoa que acredita nessas coisas é importante para você -- para ajudá-lo a aprender e manter-se motivado. Assim como em todas as artes criativas, o modo mais efetivo para se tornar um mestre é imitar a mentalidade dos mestres -- não só intelectualmente como emocionalmente também”. (2) 

 A cultura Hacker pode ser extendida:

 

“A mentalidade hacker não é confinada a esta cultura do hacker-de-software. Há pessoas que aplicam a atitude hacker em outras coisas, como eletrônica ou música -- na verdade, você pode encontrá-la nos níveis mais altos de qualquer ciência ou arte. Hackers de software reconhecem esses espíritos aparentados de outros lugares e podem chamá-los de "hackers" também -- e alguns alegam que a natureza hacker é realmente independente da mídia particular em que o hacker trabalha. Mas no restante deste documento, nos concentraremos”. (3)

 

“Liberdade é uma coisa boa”:

 

“Hacker são naturalmente anti-autoritários. Qualquer pessoa que lhe dê ordens pode impedi-lo de resolver qualquer que seja o problema pelo qual você está fascinado -- e, dado o modo em que a mente autoritária funciona, geralmente arranjará alguma desculpa espantosamente idiota para isso. Então, a atitude autoritária deve ser combatida onde quer que você a encontre, para que não sufoque a você e a outros hackers.

(Isso não é a mesma coisa que combater toda e qualquer autoridade. Crianças precisam ser orientadas, e criminosos, detidos. Um hacker pode aceitar alguns tipos de autoridade a fim de obter algo que ele quer mais que o tempo que ele gasta seguindo ordens. Mas isso é uma barganha restrita e consciente; não é o tipo de sujeição pessoal que os autoritários querem *.)

 Pessoas autoritárias prosperam na censura e no segredo. E desconfiam de cooperação voluntária e compartilhamento de informação -- só gostam de "cooperação" que eles possam controlar. Então, para se comportar como um hacker, você tem que desenvolver uma hostilidade instintiva à censura, ao segredo, e ao uso da força ou mentira para compelir adultos responsáveis. E você tem que estar disposto a agir de acordo com esta crença”. (4)

 Conclusões:

 A cultura hacker nasceu entre acadêmicos do MIT e da universidade de Berkley. Embora os primeiros hackers não fossem necessariamente hyppies nem membros destacados da contracultura, foram fortemente influenciados por ela. Ao contrário dos homens que formularam as idéias libertárias do passado, não tiveram de enfrentar um estado autoritário nem uma cultura marcada pela intolerância política ou religiosa.     

 É por isso que suas formulações políticas, apesar de claramente libertárias, não se estendem além da discussão sobre software e direitos autorais sobre obras artísticas e literárias. Por outro lado, as idéias socialistas não surgiram em função das novidades tecnológicas do século 19, mas como conseqüência e crítica de sua utilização.

 Em outras palavras, enquanto à cultura hacker falta uma dimensão política clara, aos novos movimentos libertários falta a visão dos desafios tecnológicos da era da informação. Todos tem muito que aprender, a começar pela percepção de que tem muito mais em comum do que costumam admitir.   

 Notas:

 (1) TRINDADE, Francisco - A Estrutura do título – Pág. 130 - (Adaptação)

(2) SANTOS, Rafael Caetano dos - Tradução de “Como se Tornar um Hacker” – do Editor do Jargon File.

(3) Idem.

(4) Idem.

 

 * Note a semelhança com o Principio Federativo, conforme Proudhon: "O que constitui a essência e o caracter do contrato federativo é que, neste sistema, os contraentes se reservam para si mesmos, mais direitos, autoridade e propriedade do que a que abandonam."

 

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