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Alcova
Política |
Número 5 - 24/02/2000 |
Por Cuba |
O obscuro
adeus de Ieltsin
Pouco antes da entrada desse
novo ano, Boris Nicolaievitch Ieltsin, 68 anos, renunciou ao seu cargo
de Presidente da Rússia. Filho de camponeses, nascido na Sibéria
(1931), em Sverdlovsk, Boris formou-se em Engenharia Civil e exerceu a
profissão por 13 anos. Já na década de 60 iniciou
sua carreira política ingressando no Partido 'Pseudo' Comunista.
Dirigiu sua cidade natal entre 1976 e 1985. Acabado esse período,
foi, a chamado de Gorbatchov, dirigir o partido em Moscou. Mas, em 1987
criticou a mulher de Gorbachov, entrou em desacordo com ele e perdeu o
cargo. A partir de então passou a ser um duro crítico do
governo russo. Em 89 elegeu-se para o Congresso dos Deputados do Povo,
e em 91 sagrou-se presidente da Rússia. Foi reeleito em 1996. Ieltsin
é um reformista convicto, que tinha como sonho entrar para a história
russa como um grande líder, amado e venerado pelo seu povo. Bem,
constar nos livros de história ele até conseguiu. Mas pela
miséria do povo russo, pela crise econômica e colapso social
a que submeteu seu país.
Ieltsin sepultou definitivamente a URSS no começo da década
liderando a onda anticomunista que banhava a região. Não
dava mesmo para defender esse falso comunismo soviético. Começando
com Stalin, passando por Nikita e Gorbatchov, vimos sempre um Estado fortalecido
e burocratizado, o trabalhador sem poderes e a revolução
sendo assassinada. Boris assumiu, o Ocidente sorriu; o FMI entrou e o
povo se ferrou. Pregando a solução dos problemas russos
baseada em reformas, com a entrada de capital externo, não conseguiu
resolver os problemas econômicos, políticos e sociais da
Rússia. Hoje ela vive capenga, com fome, injustiçada e paralisada.
Os anos de Ieltsin terminaram sem pompa, sem deixar saudades. Mas, por
que, afinal, Boris renunciou. Para fazer seu sucessor e manter a doutrina
por ele pregada? Não. Para fazer seu sucessor e não ser
preso. O ex-presidente e sua família são acusados de vários
casos de corrupção acontecidos enquanto ele era presidente.
Precisa se livrar deles. Então bolou uma estratégia inteligente.
Seu sucessor desejado, Vladimir Putin, idealizou a guerra na Chechênia
e posa para o povo como um homem forte e decidido, capaz de reerguer a
Rússia. Sua popularidade cresceu de 3% em setembro para 40% atualmente.
Mas as eleições para presidente estavam marcadas para o
longínquo julho. Esses meses são ameaçadores, haja
vista a imprevisível e sobretudo instável política
da Rússia e também da guerra, alicerce de Putin. E em caso
de renúncia, a constituição rege que novas eleições
devem ser marcadas em noventa dias. Tempo suficiente para a máquina
de propaganda do governo manter Putin em alta e garanti-lo no Kremlin.
Desse modo evita que o neoczar seja processado, pois, ao entregar o cargo
ao seu apadrinhado, este concordou em assinar um decreto que estabelece
que: "O presidente, que deixou de exercer suas funções
públicas, tem direito a imunidade [...] Ele não pode ser
indiciado em processos penais ou administrativos, não pode ser
detido ou preso, suas propriedades não podem ser revistadas, ele
não pode ser interrogado ou submetido a uma revista." Além
disso, Ieltsin e sua família receberam, "por serviços
prestados ao povo russo", segurança e meios de transporte
24h por dia todos os dias, além de uma casa no campo. Boris está
salvo. Deixou o governo em baixa, mas não vai para a cadeia. Assinou
sua confissão de corrupção com esse ato, mas não
será importunado pela justiça. Caso a oposição
ganhasse as eleições, haveria uma devassa do governo e a
corrupção seria exposta. Agora ela pode até ganhar,
mas Ieltsin estará tranqüilo com sua vodca. Outra História
Por trás do violento ataque russo sobre a província separatista
Chechênia está mais do que uma país lutando contra
o terrorismo islâmico. E é muito mais complexa a comoção
estadunidense e da OTAN acerca desse episódio. Para termos uma
idéia da posição estratégica da região:
a bacia do Cáspio é formada por cinco países - Rússia,
Turcomenistão, Irã, Cazaquistão e Azerbaijão
- que, juntos, possuem reserva petrolífera de 200 bilhões
de barris e similar volume de gás. As cinco maiores empresas petrolíferas
dos EUA (Texaco, Mobil Oil, Unocal, Chevro, Conoco) estão concluindo
acordos bilionários com esses países (exceto Irã)
para a exploração de suas reservas (dados de José
Arbex). 75% da população do planeta vive na Eurásia,
60% do PIB mundial está lá, assim como 75% das reservas
conhecidas de energia. A Chechênia está situada sobre um
dos principais oleodutos que ligam a Rússia ao mar Mediterrâneeo.
Vê-se portanto como a região é palco da mesa de jogos
imperialista. Por trás de falsas e simplórias explicações
escondem-se motivos financeiros e políticos. Os EUA não
querem ver a Rússia crescer. Motivo da resolução
" Defense Planning Guidance" que o Pentágono editou em
1992 e que determina "neutralizar e "impedir o renascimento"
da antiga inimiga da Guerra Fria. Por isso os estadunidenses avançam
para cima dos países que formavam o bloco pseudocomunista do Leste
Europeu e da região dos Bálcãs (vide guerra nem Kosovo).
Questões políticas e econômicas. Dominação
cultural e econômica.
Putin, presidente russo em
exercício, gostou da guerra e conseqüente carnificina, já
que graças a ela postula como favorito nas próximas eleições
presidenciais. Ele está tentando criar no povo um sentimento nacionalista
para conseguir apoio e sustentar a guerra. A realidade é que ninguém
posa de mocinho nessa história. A Rússia, e os EUA com a
OTAN, jogam para ver quem ganha mais. Quem domina mais. Quem manda mais.
E os coitados dos 200 mil civis que já morreram só na Chechênia
que se danem, os civis presos e estuprados que sofram. É o imperialismo
mostrando os benefícios que traz à humanidade.
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