Tragicomédia Amazônica ¹
A
corda do Círio
Rasga as mãos
E a fé
E a emoção
E a festa
Dos fiéis:
"Nossa Senhora de Nazaré!..."
Flores,
dança,
Lágrimas, esperança,
Crianças vestidas de anjo;
Promesseiros, carros de milagre,
Paroquianos, clero e romeiros
Caminham pelas ruas:
Em sacrifícios descalços.
(Des) obedientes.
Em
uma berlinda,
A imagem protegida,
Ornada com flores naturais:
Jazia inanimada,
sem saber dos agradecimentos,
Nem de aliança feita com o seu povo adotivo,
Solúvel no sangue derramado
Pelas mãos agarradas na corda,
Evaporados no calor da Amazônia.
Misericórdia!...
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¹
Eu não estava num teatro no dia 11/10/98. Pelo menos não
num teatro convencional, mas a sensação era a mesma,
conquanto não se tratasse de mera representação
ao ar livre. Na verdade, o ar estava mormacento e a todos sufocava,
e de livre mesmo não havia nada ali que pudesse justificar
este sentido. As pessoas se comprimiam em procissão, rezando,
clamando por uma santa que não sabia de seus poderes e de
suas virtudes tão decantadas e respeitadas. Alguns puxavam
uma corda enorme e se machucavam, sangrando, chorando; outros, mais
velhos, sentiam-se mal e desmaiavam naquele quadro dantesco em pleno
norte do Brasil. O Manual deixado pelo divino, a Bíblia,
a quem aquelas pessoas dizem seguir, através de santos de
barro, é clara sobre a idolatria. Diz: “Não
temerei outros deuses, nem vos inclinarei diante deles, nem os servireis,
nem lhes oferecei sacrifícios.”, 2 Reis, Capítulo
17, versículos 35 (Antigo Testamento). No Novo Testamento
há, também, referência explícita, pondo
a idolatria no mesmo patamar que outros atos das criaturas nada
agradáveis perante o Criador: Carta de Paulo aos
Gálatas, Capítulo 5, versículos 19-21.
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