Que saia o sol na paisagem (i)



"A loucura é sagrada, a vista uma ilusão"
Heráclito, frag. 46








Não será o choro um filme?
Cenas pretéritas em transe
E as lágrimas o morrer?
Concretude em gotas...

Se morrer quisesse, morreria?

Tal poder não tendo
O arrepender-se
Faz-se presente na ausência querida do ser

Por que se deseja uma canção triste?

Cão Andaluz (ii)
Em surrealismo poético da vida
Timorense:

Tétum (iii) , montanhas, sândalo,
Ouro negro, mármore azul,
Catarata de sangue nos rios
Restos de ternura boiando
Florestas menstruadas
Corações nunca escravos
Para o amanhecer de primavera
Desiderato de uma nação
Plantada na copa sombria das árvores.
Que saia o sol na paisagem
Ensolarada de um país.


(i) O autor é colaborador nas causas timorenses e por sua luta de independência. Poema composto em 1999.
(ii) Primeiro filme de Luis Buñuel, "Un Chien Andalou", 1928.
(iii) Língua nacional (antiga) de Timor Leste.



Direitos reservados. Para citar este poema:

Mendes, Juscelino V. – Que saia o sol na paisagem. Página de Juscelino Vieira Mendes, seção "Poesia". Sítio http://planeta.terra.com.br/arte/juscelinomendes/, Internet, Campinas, 2003.














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