Índio covardemente queimado no dia 21 de abril de 1997, enquanto dormia em ponto de ônibus de Brasília, por alguns jovens "civilizados" e abastados da Capital federal. Estes, por manobras várias, estarão livres em breve, aumentando o calor das chamas e de nosso clamor por Justiça.
O brasileiro morto era um "indivíduo dos pataxós, tribo indígena, cujos remancescentes vivem nas terras do posto índígena Paraguaçu, município de Itabuna (BA), e que outrora habitava as matas entre os rios Jequitinhonha, Mucuri e Araçuaí." In Dicionário Aurélio Eletrônico.
Poema composto em momento de profundo desapontamento com alguns membros da tribo do ser (des)humano.






Para Galdino Jesus dos Santos

In Memorian

 








As chamas de almas mortas
Se movem. Mais um índio cai inerte
Envolto pelas flamas ignotas
De um desdenhar que perverte.

Almas que se ocultam entre chamas
Para destilar ódio, amargura, desdém
E, surdas, em suas tramas,
Não escutam um ser considerado ninguém.

Em meio àquelas labaredas, terminal
De sonhos, esperanças, calor...
De madrugada seca e infernal
Tudo vira tocha em macabro ardor.

(Vislumbramos a solidão do deserto
Que há em todos nós, que navegamos
Em mar vermelho e incerto
De tubarões gélidos que encontramos.)

Era um Pataxó que quisera ser
Mendigo de suas próprias heranças
Destronado que fora dos sonhos de ter
Suas matas, habitadas de lembranças.

Recebeu sua parte comendo o pão
Buscado sob mesas fartas,
O seu pedaço de chão:
Em chamas, à semelhança de suas matas.






Direitos reservados. Para citar este poema:

Mendes, Juscelino V. – As Chamas de Almas Mortas. Página de Juscelino Vieira Mendes, seção "Poesia". Sítio http://planeta.terra.com.br/arte/juscelinomendes/, Internet, Campinas, 2003.















Imagem: Jornal do Brasil
Edição: Serena






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