O PRINCIPE DE MAQUIAVEL E SUAS LIÇÕES



Por George Bull
do Financial Times

Tradução (GM, 12-10-89)
e adaptação de Juscelino V. Mendes


As páginas incisivas de O Príncipe apresentam uma série de máximas que quem inicia um negócio faria bem em decorar. São normalmente reconhecidas como surpreendentemente válidas por guerreiros veteranos de empresas – em especial se sofreram desastres em suas carreiras por terem-nas desconsiderado.

Várias delas enquadram-se na categoria de conselhos estratégicos. Quando um conquistador assume o controle de um Estado (em termos modernos, quando alguém assume o controle de uma empresa), Maquiavel escreve que ele deve executar as tarefas mais difíceis de imediato.


Deve-se notar aqui, que, ao apoderar-se de um Estado, o conquistador tem de determinar as ofensas, que precisa executar, e faze-las todas de uma vez para não ter que repeti-las todos os dias. Assim, poderá incutir confiança nos homens e conquistar-lhes o apoio com benefícios.¹

 

Desde o começo, o novo líder deve estudar persistentemente seu território e planejar para contingências no caso de ataque. Acima de tudo, nunca deve desviar sua mente da guerra, mesmo quando está na paz:


Filopêmene, príncipe dos Aqueus, dentre as qualidades que os cronistas lhe deram, tinha a de, nos tempos de paz, jamais deixar de pensar em coisas de guerra. Passeando no campo, com amigos, detinha-se às vezes e os interpelava: - <Estando os inimigos sobre aquele monte e nós aqui com nossos exércitos, quem teria maiores vantagens? Como se poderia ir ao seu encontro, mantendo nossa formação? Se quiséssemos retirar, como faríamos? Se eles batessem em retirada, como os seguiríamos?> Enfim, formulava todas as hipóteses possíveis em campanha, escutava-lhes a opinião, dava a sua, firmava-a com razões e exemplos, de modo que, graças a essas contínuas cogitações, quando se achava à frente de seus exércitos, nunca topava acidente que não tivesse previsto e para o qual, assim, não tivesse remédio. ²


A melhor parte do conselho estratégico em todas as páginas de O Príncipe é a simplicidade em si e talvez, por isso, ignorada com surpreendente freqüência tanto nos negócios como na política de nossos dias. Ela complementa o conselho de que é preciso ter um plano de negócios e um grupo de estudos (mesmo se for um grupo de estudos de uma só pessoa). Ela é: nunca esquecer que os tempos mudam e que as diretrizes mudam com eles. Maquiavel argumenta sobre esse princípio da seguinte maneira:


Restringindo-me, porém, aos casos particulares, digo que hoje se vê o sucesso de um príncipe e amanhã a sua desgraça, sem que tivesse havido mudança na sua natureza, nem em algumas das suas qualidades. Julgo que a razão disso, como antes se disse, é que, quando um príncipe se baseia inteiramente na Fortuna, arruína-se conforme as variações dela. Também tenho por feliz o que combina o seu modo de agir com as particularidades dos tempos, e infeliz o que faz divergir dos tempos a sua maneira de agir. ³



Obviamente, é um conselho muito relevante para primeiro-ministro e presidentes de empresa. Mas também é vital para fundadores de novos negócios. Como os príncipes de Maquiavel, eles precisam aprender cedo nas suas carreiras de negócios a necessidade de adaptabilidade tática, determinação e ousadia.

A adaptabilidade já foi mencionada. A determinação, Maquiavel recomenda com a citação do mau exemplo do imperador Maximiliano, que era excessivamente fechado e se desviava facilmente de suas metas, de modo que “Resulta daí que as coisas que faz num dia destrói no outro e que nunca se saiba o que ele pretende e ninguém pode prever as suas decisões”. 4

A ousadia, por sua vez, é vital para o sucesso, já que metade dos atos dos homens é norteada por sua própria capacidade e agressividade e metade pela fortuna (como qualquer magnata bem-sucedido confirmará). E a fortuna, Maquiavel afirma no seu modo machista, é uma mulher que deve ser surrada para que dê o máximo de si.

Mais chocante ainda, Maquiavel aconselharia o principiante em negócios a aprender de sua experiência florentina do mundo perverso duas coisas ruins: que medidas brutais são freqüentemente exigidas para o sucesso e que estas devem ser adotadas tendo em vista as metas finais da pessoa; e que poucas pessoas são dignas de confiança. Pode-se fazer esta generalização sobre os seres humanos:


Porque os homens são em geral ingratos, volúveis, dissimulados, covardes e ambiciosos de dinheiro, e, simuladores; enquanto lhes fizerem benefícios, estão todos contigo (...). Quando, porém, a necessidade se aproxima, voltam-se para a outra parte (...), por ser o amor conservado por laço de obrigação, o qual é rompido por serem os homens pérfidos sempre que lhes aprouver, enquanto o medo que se infunde é alimentado pelo temor do castigo, que é sentimento que jamais se deixa.5



Milhões de palavras foram escritas para discutir se Maquiavel era um imoral ou amoral em seus conselhos, como freqüentemente parece. O Príncipe é um pequeno livro de idéias, complexo, compacto como uma barra de dinamite, com máximas políticas explosivas e, também, para os homens de negócios de hoje, com conselhos muito sensatos e práticos – inclusive como evitar bajuladores e depender dos seus próprios recursos.

Estudado cedo, pelo menos aguçará o raciocínio. Bem obedecido, ajudará a produzir sucesso.

 


¹ Niccoló MACHIAVELLI, O Príncipe (Comentado por Napoleão Bonaparte), p. 55. Tradução de Torrieri Guimarães. São Paulo: Hemus, 1977.
² Ibid. , p. 84.
³ Ibid. , p. 143/144.
4 Ibid. , p. 136/137.
5 Ibid. , p. 94/95





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