O PROBLEMA DA TEORIA DO MÉTODO CIENTÍFICO

Karl R. Popper


De acordo com a proposta por mim feita anteriormente, a Epistemologia ou a lógica da pesquisa científica, deve ser identificada com a teoria do método científico. A teoria do método, na medida em que se projeta para além da análise puramente lógica das relações entre enunciados científicos, diz respeito à escolha de métodos - a decisões acerca da maneira de manipular enunciados científicos. Naturalmente, tais decisões dependerão, por seu turno, do objetivo que selecionemos dentre os numerosos objetivos possíveis. A decisão aqui proposta para chegar ao estabelecimento de regras adequadas ao que denomino "método empírico" está estreitamente a meu critério de demarcação: proponho que se adotem as regras que assegurem a possibilidade de submeter a prova os enunciados científicos, o que equivale a dizer a possibilidade de aferir sua falseabilidade.

Por que são Indispensáveis as Decisões Metodológicas




Que são regras de método científico e por que necessitamos delas? Pode existir uma teoria de tais regras, uma metodologia?
A maneira de se responder a essas indagações dependerá amplamente da atitude que se tome diante da Ciência. Aqueles que, à semelhança dos positivistas, encaram a ciência empírica em termos de um sistema de enunciados que satisfaz certos critérios lógicos - tais como significatividade ou verificabilidade - darão uma resposta. Uma resposta muito diferente será dada por aqueles que tendem a admitir (é o meu caso) como característica distintiva dos enunciados empíricos a circunstância de estes serem suscetíveis de revisão: o fato de poderem ser criticados e substituídos por enunciados mais adequados; e aqueles que encaram como tarefa que lhes é própria analisar a capacidade característica de a Ciência progredir e a maneira peculiar de decidir, em casos cruciais, entre sistemas teóricos conflitantes.
Estou pronto a admitir que se impõe uma análise puramente lógica das teorias. Análise que não leve em conta a maneira como essas teorias se alteram e se desenvolvem. Contudo, esse tipo de análise não elucida aqueles aspectos das ciências empíricas que eu prezo muito. Um sistema como o da Mecânica clássica poderá ser "científico" tanto quanto se queira; mas os que o afirmam dogmaticamente - acreditando, talvez, que lhes cabe defender da crítica um sistema de tanto êxito, enquanto não for ele refutado de modo conclusivo - estão se colocando em atitude oposta à atitude crítica, a meu ver adequada ao cientista. Em verdade, jamais pode ser apresentada uma refutação conclusiva de certa teoria, pois sempre será possível afirmar que os resultados experimentais não são dignos de crédito ou que as discrepâncias que se afirma existirem entre os resultados experimentais e a teoria são apenas aparentes e desaparecerão com o avanço de nossa compreensão. (Na luta contra Einstein, ambos esses argumentos foram usados com freqüência, em defesa da mecânica newtoniana, e argumentos similares são comuns no campo das Ciências Sociais.) Caso alguém insista em prova estrita (ou estrita refutação) em ciências empíricas, esse alguém jamais se beneficiará da experiência e jamais saberá como está errado.
Conseqüentemente, se caracterizarmos a ciência empírica tão-somente pela estrutura lógica ou formal de seus enunciados, não teremos como excluir dela aquela dominante forma de Metafísica proveniente de se elevar uma teoria científica obsoleta ao nível de verdade incontestável.
Minhas razões para propor que a ciência empírica seja caracterizada por seus métodos são: nossa maneira de manipular sistemas científicos, aquilo que fazemos com eles e aquilo que fazemos a eles. Assim, tentarei estabelecer as regras ou, se preferirem, as normas que orientam o cientista empenhado na pesquisa ou na descoberta - nos termos aqui fixados.

• Citação em rodapé:
Karl R. Popper, Lógica da Pesquisa Científica, p. 51-52.

• Referências Bibliográficas:
POPPER, Karl R. Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo: Cultrix, Ed. da Universidade de São Paulo, 1975.

• Informações completas sobre a obra:
(Título original : "Logik der Forschung"
Título em inglês: "The Logic Scientific Discovery"
Título em português: "A Lógica da Pesquisa Científica", p. 51-52
Tradutor: Leônidas Hegenberg e Octanny Silveira da Mota
(d)Editora Cultrix - São Paulo).


Atividade de classe a ser desenvolvida pelos alunos de pós-graduação em Direito Empresarial e Direito Processual Civil, individualmente (1) e em grupo (2):



1. fazer um fichamento do texto supra, destacando as perguntas do autor e suas respectivas respostas, e expor em classe. Tempo para apresentação: cinco minutos.

2. discussão em classe, e trabalho em grupo, sobre o raciocínio ínsito ao sistema continental do direito escrito, conforme a tradição romano-germanística do civil law, do raciocínio referente ao sistema anglo-americano do common-law.



 

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