O
PROBLEMA DA TEORIA DO MÉTODO CIENTÍFICO
De
acordo com a proposta por mim feita anteriormente,
a Epistemologia ou a lógica da pesquisa científica,
deve ser identificada com a teoria do método
científico. A teoria do método, na medida
em que se projeta para além da análise
puramente lógica das relações
entre enunciados científicos, diz respeito
à escolha de métodos - a decisões
acerca da maneira de manipular enunciados científicos.
Naturalmente, tais decisões dependerão,
por seu turno, do objetivo que selecionemos dentre
os numerosos objetivos possíveis. A decisão
aqui proposta para chegar ao estabelecimento de regras
adequadas ao que denomino "método empírico"
está estreitamente a meu critério de
demarcação: proponho que se adotem as
regras que assegurem a possibilidade de submeter a
prova os enunciados científicos, o que equivale
a dizer a possibilidade de aferir sua falseabilidade.
Por
que são Indispensáveis as Decisões
Metodológicas
Que são regras de método científico
e por que necessitamos delas? Pode existir uma teoria
de tais regras, uma metodologia?
A maneira de se responder a essas indagações
dependerá amplamente da atitude que se tome
diante da Ciência. Aqueles que, à semelhança
dos positivistas, encaram a ciência empírica
em termos de um sistema de enunciados que satisfaz
certos critérios lógicos - tais como
significatividade ou verificabilidade - darão
uma resposta. Uma resposta muito diferente será
dada por aqueles que tendem a admitir (é o
meu caso) como característica distintiva dos
enunciados empíricos a circunstância
de estes serem suscetíveis de revisão:
o fato de poderem ser criticados e substituídos
por enunciados mais adequados; e aqueles que encaram
como tarefa que lhes é própria analisar
a capacidade característica de a Ciência
progredir e a maneira peculiar de decidir, em casos
cruciais, entre sistemas teóricos conflitantes.
Estou pronto a admitir que se impõe uma análise
puramente lógica das teorias. Análise
que não leve em conta a maneira como essas
teorias se alteram e se desenvolvem. Contudo, esse
tipo de análise não elucida aqueles
aspectos das ciências empíricas que eu
prezo muito. Um sistema como o da Mecânica clássica
poderá ser "científico" tanto
quanto se queira; mas os que o afirmam dogmaticamente
- acreditando, talvez, que lhes cabe defender da crítica
um sistema de tanto êxito, enquanto não
for ele refutado de modo conclusivo - estão
se colocando em atitude oposta à atitude crítica,
a meu ver adequada ao cientista. Em verdade, jamais
pode ser apresentada uma refutação conclusiva
de certa teoria, pois sempre será possível
afirmar que os resultados experimentais não
são dignos de crédito ou que as discrepâncias
que se afirma existirem entre os resultados experimentais
e a teoria são apenas aparentes e desaparecerão
com o avanço de nossa compreensão. (Na
luta contra Einstein, ambos esses argumentos foram
usados com freqüência, em defesa da mecânica
newtoniana, e argumentos similares são comuns
no campo das Ciências Sociais.) Caso alguém
insista em prova estrita (ou estrita refutação)
em ciências empíricas, esse alguém
jamais se beneficiará da experiência
e jamais saberá como está errado.
Conseqüentemente, se caracterizarmos a ciência
empírica tão-somente pela estrutura
lógica ou formal de seus enunciados, não
teremos como excluir dela aquela dominante forma de
Metafísica proveniente de se elevar uma teoria
científica obsoleta ao nível de verdade
incontestável.
Minhas razões para propor que a ciência
empírica seja caracterizada por seus métodos
são: nossa maneira de manipular sistemas científicos,
aquilo que fazemos com eles e aquilo que fazemos a
eles. Assim, tentarei estabelecer as regras ou, se
preferirem, as normas que orientam o cientista empenhado
na pesquisa ou na descoberta - nos termos aqui fixados.
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Citação em rodapé:
Karl R. Popper, Lógica da Pesquisa Científica,
p. 51-52.
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Referências Bibliográficas:
POPPER, Karl R. Lógica da Pesquisa Científica.
São Paulo: Cultrix, Ed. da Universidade de
São Paulo, 1975.
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Informações completas sobre a obra:
(Título original : "Logik der Forschung"
Título em inglês: "The Logic Scientific
Discovery"
Título em português: "A Lógica
da Pesquisa Científica", p. 51-52
Tradutor: Leônidas Hegenberg e Octanny Silveira
da Mota
(d)Editora Cultrix - São Paulo).
Atividade
de classe a ser desenvolvida pelos alunos de pós-graduação
em Direito Empresarial e Direito Processual Civil, individualmente (1)
e em grupo (2):
1.
fazer um fichamento do texto supra, destacando
as perguntas do autor e suas respectivas respostas,
e expor em classe.
Tempo para apresentação: cinco
minutos.
2.
discussão em classe, e trabalho em grupo,
sobre o raciocínio ínsito ao sistema
continental do direito escrito, conforme a tradição
romano-germanística do civil law,
do raciocínio referente ao sistema anglo-americano
do common-law. |
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