A Morte de Tony no Zôo de São Paulo
Que
estaria Tony a pensar com aquele ar de filósofo existencialista?
Não certamente que, em algum momento, um animal racional
estivesse tramando tirar a sua vida de forma tão cruel
e sórdida. Entretanto, seu olhar fixo, braços
cruzados, sentado conforme o seu costume, pressagiava que
algo estaria por vir e não seria prazeroso. Pouco tempo
depois de pensar, experimentaria ele a dor, um dos dois senhores
que, no dizer de Bentham, sujeitam os animais racionais. Mas
Tony era irracional!...
Tony não era humano, mas o seu assassino dizem que
sim. E estava prazerosamente envenenando Tony. Tudo começou
no dia 24 de janeiro de 2004. Dia fatídico para Tony
e alguns de seus iguais.
Trata-se de um problema que, talvez, deva ser resolvido pela
filosofia. Quem na verdade é humano nessa história,
Tony ou seu assassino? Tony de há muito vivia naquele
Zôo levando alegria para as pessoas que o visitavam,
ainda que não fosse a sua intenção, vez
que não entendia as razões pelas quais levavam
tanta gente a desejar olhar para ele, especialmente nos finais
de semana e feriados.
Estava preso naquele Zôo por ter praticado algum crime?
Quanto tempo passaria ali sem a sua permissão? Desejara
tantas vezes a liberdade! Sim, porque aquilo era tudo, menos
liberdade. Algo como uma liberdade relativa, como gostam de
dizer os humanos.
Sempre pensava se não seria atração por
se parecer um pouco com eles, seus visitantes. Seriam seres
de outro planeta? Por que eles andavam tão eretos e
falavam tanto? Inclusive seu nome encontrava semelhança
com alguns deles: Tony. Nancy, assim mesmo com Y, e seu igual
Felipe, também foram alvos da trama assassina perpetrada
por algum infeliz dos chamados humanos. Estes mesmos, aos
quais Darwin, e seu evolucionismo tresloucado, dizia descenderem
de Tony.
A notícia da morte de Tony, e de seus amigos, informa
que os corpos das vítimas vão para museus e
faculdades veterinárias para estudo ou empalhados para
exposição. Exposição? Sim, exposição.
Tony agora será alvo não mais da alegria dos
humanos, mas talvez da reflexão deles mesmos de quão
maldosos são. A diferença entre o que acontecia
antes, quando era visitado em vida, e hoje, estudado, empalhado,
é que não pode mais filosofar a sua existência
precária e triste, nem entender a enorme distância
que há entre os seus dessemelhantes assassinos e o
Criador de todas as coisas.
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