OS
BAILES
Fernando José de Oliveira
Com
a chegada do mês de Junho, apareciam os bailes populares. O primeiro era na
Garagem Egas Moniz. Aquele chão coberto de carros e salpicado de óleos durante
o ano, era limpo e transformado em pista de dança. Ao fundo num trono
improvisado Santo António e o Menino remoído pelas moscas sorria. Depois era o
rufar do toca discos, a dança, o engate e o namoro que muitas vezes desaguava
em casamento com a benção e cumplicidade de Santo António.
Mas baile de
se lhe tirar o chapéu era o S. João no Gravato. O homem um ano desapertou os
cordões à bolsa para o nosso contentamento e contratou o conjunto privativo do
Santoinho. Os músicos de carne e osso ali na Rua Mário de Oliveira do lado do
bairro dos índios ali mesmo a tocar peça atrás de peça. A malta mostrava os
seus dotes de bailarinos em plena rua enquanto nos prédios de frente na altura
em construção funcionava um bufete improvisado. Como a nível de bairrismo a
cidade está dividida em três zonas (
Senradelas, Carmo e Sameiro), mais tarde o Sameiro resolveu chamar a si tal
baile na noite Sanjoanina. Nestas coisas, os comes e bebes estão ligados ao
baile pelo que há sempre uma taberna a servir de suporte a tudo isto e no caso
do Sameiro era o Labarento.
Passando
dos populares para os particulares, vou falar dos organizados pela Assembleia
Penafidelense. Estes começavam com o da Pascoela e terminavam com o da Passagem
de Ano. Nestes só entravam familiares dos sócios ou os soldados
cadetes
que estavam no aquartelamento da cidade, isto até ao dia em que estes em pleno
baile se envolveram em zaragata. Sobre isto escreveu Jorge de Sena no seu livro
" Os Grão - Capitães" no capítulo "As Ites e o Regulamento
" o seguinte:
"As
famílias distintas reuniam-se na «Assembleia», cuja frequência nos era
vedada, desde que uma vez, no primeiro ano em que houvera um curso de cadetes na
cidade, o baile terminara em desordem. Os oficiais e as suas famílias faziam
parte da distinção da cidade; mas algumas senhoras preferiam manifestamente
passear no jardim, no meio daquele cheiro de virgindades duvidosas e de homens
em cio profissional, que fora, ao caçarem os maridos, a atmosfera da sua casta
militar."
Na
antiga Praça do Mercado de saudosa memória, debaixo do coberto que existia ao
centro se organizava o baile "Vindimas ao Luar". Este também chegou a
ser feito na Praça da República e mais tarde rebatizado com o nome de A TEIA.
Mas
o baile por excelência, a pedir meças a qualquer um era a "Festa do
Lago". A coqueluche dos conjuntos musicais da época como: "Quinteto
Académico + 2"; " Quarteto 1111"; "Segundo Galarza";
"Pop Five Music Incorpored" assinaram o livro de presenças entre
muitos outros.
Cada
ano vinham dois conjuntos abrilhantar o baile, havendo anos em que um deles era
da terra como foi o caso dos "Aftas" e do "Prólogo".
O
parque de Nossa Senhora da Piedade, popularmente conhecido por Sameiro, era
adornado com milhares de tijelas de cera espalhadas pelo jardim. No lago os
pares entrelaçavam-se na dança ao ritmo das notas musicais. Os bares
espalhados pelos canteiros não tinham mãos a medir para retemperar as energias
quando a fome apertava e o cansaço aparecia.
Ao
romper do dia ainda se viam alguns pares deitados sobre a relva a curar a
ressaca do baile.
Tudo
isto se perdeu com as modernices dos pubs, bares e discotecas importadas da
estranja para a nossa terra.
Confesso
ver homenagens sem qualquer justificação.
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