CONFISSÕES
Dão
Agastado Vaicondeus e Fastavida há-de ser homenageado
Armando Moreira Fernandes
Agastado
Vaicondeus e Fastavida era o nome
pelo qual todos o haviam de chamar quando fosse grande. Em pequeno sentia-se
complexado pelo nome que lhe fora dado. Uns tratavam-no por Agastado, outros por
Fastavida.
O pai do
Agastado Fastavida era de poucas palavras. Pacato, intuição para o negócio,
levava a todos de carrinho. Tinha no seu subconsciente perspectivado um futuro
para o seu filho a modos que no meio de gente fina e a bendizer,
rico. Tal como tinha projectado, assim acontecera.
Agastado
Fastavida cursou no Instituto. Hábil, sorrateiro, foi
deambulando pelos corredores da
vida. Começou por aprender as coisas mais elementares, como atacar os cordões
dos sapatos, dar graxa, vestir um fato ou dar um nó cego à gravata.
Ia crescendo em
graxa e sabedoria entupida e balofa. E tudo se encaminhava para o sucesso
tão desejado... Consegue conciliar Mestre Escola com funções no Reino. Os
Reis vão-se sucedendo e Agastado Fastavida vai prosseguindo a sua marcha
triunfal.
Alcança o
cume. E o Reino, pela sua astúcia e perspicácia reconhecida pelos subditos
faz-lhe uma homenagem e uma reconhecida distinção numa placa dentro de uma
qualquer Biblioteca, que ele próprio manda fazer com o cognome de Dão Agastado
Vaicondeus e Fastavida.
E assim
consegue fugir e ilibar-se de todas as enrascadas, como todos os vilões deste
planeta.
Confesso
ver invejosos com imbeija.
Confesso
ver o nosso dinheiro a agastar-se.
Confesso
ver os vendilhões a não ter mais nada para vender.
Confesso
ver homenagens sem qualquer justificação.
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