ANO III  Nº 26 MAIO 2000
Director : Armando Moreira Fernandes

 


 

 

À CONVERSA COM

ADRIÃO CUNHA
Armando Fernandes

 
 

Adrião CunhaJornal Arrifana - O que o levou a ser comunista?

 Adrião Cunha - Nunca me integrei nos quadros do Partido Comunista. Faço parte de uma organização onde existe uma série de pessoas independentes que têm actividade política activa que é o caso da C.D.U.. Esta é uma coligação democrática onde o Partido Comunista é preponderante, mas onde tem a Intervenção Democrática, tem o partido ecologista Os Verdes, e onde fazem parte pessoas independentes.

 J.A. - Já alguma vez sentiu dificuldades ou perseguições por ser de esquerda?

 A.C. - Num meio pequeno como Penafiel, traz alguns problemas e a pessoa é vista um pouco de lado. Só que eu tenho um perfil e nunca alterei a minha maneira de ser. A minha intervenção política não nasce em 25 de Abril de 1974 mas muito antes. A uma determinada política de vida que me leva a identificar mais com os partidos que estão à esquerda.

 J.A. - Tem tido muitas intervenções na Assembleia Municipal de Penafiel. Acha que as suas intervenções incomodam?

 A.C. - Não sei se as minhas intervenções são boas ou más, têm um espírito crítico, de intervir na vida pública, um espírito construtivo.

 J.A. - Considera que um representante de um partido se pode candidatar a Presidente de Câmara, mesmo que não resida no concelho?

 A.C. - Isso não me choca. O que me choca é a explosão de pessoas que amam uma determinada terra, que conhece os problemas da terra e são preteridos a favor de. No meu caso, sendo de Penafiel e vivendo no Porto, eu já me candidatei a Presidente da Câmara de Penafiel. Porque vivendo fora de Penafiel, vejo com maior abertura os problemas que enferma a cidade de Penafiel e o concelho.

 J.A. - Como é que tem conhecimento dos problemas de Penafiel, para depois os debater?

 A.C. - Andando atento aos órgãos de comunicação que têm raízes no concelho de Penafiel, aos amigos, aos encontros.

 J.A. - Que opinião tem sobre o mandato de 6 anos do Presidente Agostinho Gonçalves?

 A.C. - Se me perguntasse como foi a Câmara Socialista gerida pelo Agostinho Gonçalves, eu diria que foi uma evolução negativa na continuidade. A Câmara Socialista há muitos anos foi gerida por um patriarca, que um dia a cidade reconhecê-lo-á, que foi Justino do Fundo. O Eng. Agostinho Gonçalves, um homem mais novo, podia e deveria ter implementado, dentro de uma linha política já seguida, uma outra dinâmica. E não, manterem-se as coisas rigorosamente como estavam, optimizou-se a mediocridade. Penafiel tem vindo a crescer aos molhinhos, cresce no interior e não alarga. Penafiel está cada vez mais na periferia e vai ser tomada pela área metropolitana do Porto. E aí, Penafiel deveria ter a posição de Capital do Vale do Sousa. E Agostinho Gonçalves teve a faca e o queijo na mão, teve uma maioria absoluta. E não o fez por falta de vontade política, por falta de visão, por falta de equipa. Penafiel parou no tempo. Há muitas construções, mas isso é cultura nacional do parolismo.

 J.A. - Não aceita que os prédios na Quinta das Lages estejam bem localizados?

 A.C. - Bem localizados não estão. Aí mataram a cidade. Da mesma maneira, foi um crime aquele prédio que se construiu por cima do antigo mercado.

 J.A. - Ninguém se levantou contra isso. O senhor Adrião Cunha levantou-se?

 A.C. - É evidente que intervim. No programa que tinha na rádio chamado "Controvérsias", fiz intervenções a propósito da Quinta das Lages. Colegas meus intervieram na Assembleia Municipal. Num futuro próximo, o problema da construção dos Paços do Concelho, na antiga serração, apenas vão deslocar os Paços do Concelho cerca de 75 ou 100m para a direita. E o problema que hoje existe, vai continuar amanhã, a apertar.

 J.A. - E o que diz da Via do Cavalum?

 A.C. - É outra situação, em que põem uma via de cintura quando tem que ser uma avenida, que tem que receber perpendiculares e criar zonas excelentes de residências. Quando for a inauguração do Hospital Distrital e que vai ter uma população residencial muito grande, o concelho mais beneficiado vai ser Paredes, porque os médicos, pessoal auxiliar e outros não estão para atravessar a cidade para chegar ao hospital e vão viver em Paredes, em prejuízo de Penafiel. Gerir bem a causa pública, ser um bom presidente de Câmara é ter uma visão atempada de todos estes problemas e aumentar o perímetro urbano da cidade.

 J.A. - Mas a Câmara tem lá os engenheiros e arquitectos. Não se serviram deles?

 A.C. - Os técnicos de uma Câmara executam aquilo que lhes mandam fazer. São funcionários da Câmara e executam as ordens recebidas. As Câmaras Municipais são entidades patronais, o patrão é o Presidente da Câmara, os seus directores são os vereadores, os engenheiros e gabinetes técnicos reportam-se hierarquicamente a isto.

 J.A. - Que pensa da reconstituição da Zona Histórica? E os dinheiros da PROCOM foram bem investidos?

 A.C. - Pelo menos foram investidos. Estou a favor quando a obra nasce, e ali há obra feita. O que está feito ainda é pouco.

 J.A. - Concorda com a substituição das partes em madeira, portas e janelas, transformadas em alumínios?

 A.C. - Não posso concordar. Concordo na intervenção, discordo em todos os atentados culturais que são cometidos. O maior atentado foi a alteração das avenidas, deitar as árvores abaixo. As zonas históricas são preservadas com carinho. É o nosso espelho, são os nossos avós, são os nossos pais. É a nossa identidade.

 J.A. - No Largo da Ajuda e Rua do Paço, tiveram o cuidado de fazer os saneamentos?

 A.C. - Os saneamentos em Penafiel é a coisa mais trágica que existe. É um problema de visão atempada. Quando se vai levantar o piso da rua, deve-se criar um túnel técnico que é onde o saneamento, o telefone, o gás, todas as condutas ficam ali.

 J.A. - Em Penafiel temos todas as condições para ter uma Escola Superior. Perdemos o que tínhamos e unicamente criou-se o CAE. O que propõe para o concelho de Penafiel, sugere alguma ideia?

 A.C. - Penafiel tem condições naturais para se criar uma Escola Superior Agrária. Estamos ligados pela auto-estrada para a deslocação de alunos do exterior, caso do Porto. O estágio e as sub-especializações eram possíveis tirá-las aqui. E nunca ninguém lutou por uma escola deste tipo. Esta questão e outras eu levantei-as e procurei debatê-las, mas o resultado eleitoral foi aquele que eu tive. Não fui eleito Presidente da Câmara de Penafiel. Concluindo o 25 de Abril, com todas as componentes, é necessário que exista um (25 de Abril) em Penafiel. Não é comemorar o 25 de Abril, é viver o 25 de Abril.

   


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