À
CONVERSA COM
ADRIÃO
CUNHA
Armando Fernandes
Jornal
Arrifana - O que o levou a ser comunista?
Adrião
Cunha -
Nunca me integrei nos quadros do Partido Comunista. Faço parte de uma organização
onde existe uma série de pessoas independentes que têm actividade política
activa que é o caso da C.D.U.. Esta é uma coligação democrática onde o
Partido Comunista é preponderante, mas onde tem a Intervenção Democrática,
tem o partido ecologista Os Verdes, e onde fazem parte pessoas independentes.
J.A.
- Já alguma vez sentiu dificuldades ou perseguições por ser de esquerda?
A.C.
- Num meio
pequeno como Penafiel, traz alguns problemas e a pessoa é vista um pouco de
lado. Só que eu tenho um perfil e nunca alterei a minha maneira de ser. A minha
intervenção política não nasce em 25 de Abril de 1974 mas muito antes. A uma
determinada política de vida que me leva a identificar mais com os partidos que
estão à esquerda.
J.A.
- Tem tido muitas intervenções na Assembleia Municipal de Penafiel. Acha que
as suas intervenções incomodam?
A.C.
- Não sei se as minhas intervenções são boas ou más, têm um espírito crítico,
de intervir na vida pública, um espírito construtivo.
J.A.
- Considera que um representante de um partido se pode candidatar a Presidente
de Câmara, mesmo que não resida no concelho?
A.C.
- Isso não me choca. O que me choca é a explosão de pessoas que amam uma
determinada terra, que conhece os problemas da terra e são preteridos a favor
de. No meu caso, sendo de Penafiel e vivendo no Porto, eu já me candidatei a
Presidente da Câmara de Penafiel. Porque vivendo fora de Penafiel, vejo com
maior abertura os problemas que enferma a cidade de Penafiel e o concelho.
J.A.
- Como é que tem conhecimento dos problemas de Penafiel, para depois os
debater?
A.C.
- Andando
atento aos órgãos de comunicação que têm raízes no concelho de Penafiel,
aos amigos, aos encontros.
J.A.
- Que opinião tem sobre o mandato de 6 anos do Presidente Agostinho Gonçalves?
A.C.
- Se me perguntasse como foi a Câmara Socialista gerida pelo Agostinho Gonçalves,
eu diria que foi uma evolução negativa na continuidade. A Câmara Socialista há
muitos anos foi gerida por um patriarca, que um dia a cidade reconhecê-lo-á,
que foi Justino do Fundo. O Eng. Agostinho Gonçalves, um homem mais novo, podia
e deveria ter implementado, dentro de uma linha política já seguida, uma outra
dinâmica. E não, manterem-se as coisas rigorosamente como estavam,
optimizou-se a mediocridade. Penafiel tem vindo a crescer aos molhinhos, cresce
no interior e não alarga. Penafiel está cada vez mais na periferia e vai ser
tomada pela área metropolitana do Porto. E aí, Penafiel deveria ter a posição
de Capital do Vale do Sousa. E Agostinho Gonçalves teve a faca e o queijo na mão,
teve uma maioria absoluta. E não o fez por falta de vontade política, por
falta de visão, por falta de equipa. Penafiel parou no tempo. Há muitas
construções, mas isso é cultura nacional do parolismo.
J.A.
- Não aceita que os prédios na Quinta das Lages estejam bem localizados?
A.C.
- Bem
localizados não estão. Aí mataram a cidade. Da mesma maneira, foi um crime
aquele prédio que se construiu por cima do antigo mercado.
J.A.
- Ninguém se levantou contra isso. O senhor Adrião Cunha levantou-se?
A.C.
- É evidente que intervim. No programa que tinha na rádio chamado
"Controvérsias", fiz intervenções a propósito da Quinta das Lages.
Colegas meus intervieram na Assembleia Municipal. Num futuro próximo, o
problema da construção dos Paços do Concelho, na antiga serração, apenas vão
deslocar os Paços do Concelho cerca de 75 ou 100m para a direita. E o problema
que hoje existe, vai continuar amanhã, a apertar.
J.A.
- E o que diz da Via do Cavalum?
A.C.
- É outra
situação, em que põem uma via de cintura quando tem que ser uma avenida, que
tem que receber perpendiculares e criar zonas excelentes de residências. Quando
for a inauguração do Hospital Distrital e que vai ter uma população
residencial muito grande, o concelho mais beneficiado vai ser Paredes, porque os
médicos, pessoal auxiliar e outros não estão para atravessar a cidade para
chegar ao hospital e vão viver em Paredes, em prejuízo de Penafiel. Gerir bem
a causa pública, ser um bom presidente de Câmara é ter uma visão atempada de
todos estes problemas e aumentar o perímetro urbano da cidade.
J.A.
- Mas a Câmara tem lá os engenheiros e arquitectos. Não se serviram deles?
A.C.
- Os técnicos
de uma Câmara executam aquilo que lhes mandam fazer. São funcionários da Câmara
e executam as ordens recebidas. As Câmaras Municipais são entidades patronais,
o patrão é o Presidente da Câmara, os seus directores são os vereadores, os
engenheiros e gabinetes técnicos reportam-se hierarquicamente a isto.
J.A.
- Que pensa da reconstituição da Zona Histórica? E os dinheiros da PROCOM
foram bem investidos?
A.C.
- Pelo menos foram investidos. Estou a favor quando a obra nasce, e ali há obra
feita. O que está feito ainda é pouco.
J.A.
- Concorda com a substituição das partes em madeira, portas e janelas,
transformadas em alumínios?
A.C.
- Não posso concordar. Concordo na intervenção, discordo em todos os
atentados culturais que são cometidos. O maior atentado foi a alteração das
avenidas, deitar as árvores abaixo. As zonas históricas são preservadas com
carinho. É o nosso espelho, são os nossos avós, são os nossos pais. É a
nossa identidade.
J.A.
- No Largo da Ajuda e Rua do Paço, tiveram o cuidado de fazer os saneamentos?
A.C.
- Os
saneamentos em Penafiel é a coisa mais trágica que existe. É um problema de
visão atempada. Quando se vai levantar o piso da rua, deve-se criar um túnel técnico
que é onde o saneamento, o telefone, o gás, todas as condutas ficam ali.
J.A.
- Em Penafiel temos todas as condições para ter uma Escola Superior. Perdemos
o que tínhamos e unicamente criou-se o CAE. O que propõe para o concelho de
Penafiel, sugere alguma ideia?
A.C.
- Penafiel tem condições naturais para se criar uma Escola Superior Agrária.
Estamos ligados pela auto-estrada para a deslocação de alunos do exterior,
caso do Porto. O estágio e as sub-especializações eram possíveis tirá-las
aqui. E nunca ninguém lutou por uma escola deste tipo. Esta questão e outras
eu levantei-as e procurei debatê-las, mas o resultado eleitoral foi aquele que
eu tive. Não fui eleito Presidente da Câmara de Penafiel. Concluindo o 25 de
Abril, com todas as componentes, é necessário que exista um (25 de Abril) em
Penafiel. Não é comemorar o 25 de Abril, é viver o 25 de Abril.
|