POESIA
É POR TI QUE
ESPERO / É PARA TI QUE CANTO
António Joaquim
Não
te conheço
e é por ti que espero
não te conheço
e eis que te quero
e canto
e enquanto
espero
escrevo de memória
nas verdes paredes do silêncio
e espero
não te conheço
e é por ti que espero
e canto
e percorro as
ruas da cidade
gritando no íntimo
contra os nós roxos do medo
teu rubro nome
não te conheço
e eis que te quero
LIBERDADE
A
UMA AMIGA
Jorge Nunes Pereira
Teus
olhos dois monges orando
São parecidos com a negra morte
Duas pérolas finíssimas rolando
Pelas vertentes dum rosto de fino recorte
Tuas pernas ao
princípio insignificantes
Depois de apreciadas ressurgem belíssimas
Dá a impressão de serem antes
Um complemento do próprio corpo
- Pois são elegantíssimas
Teu umbigo
nasce como um vale estreito e fundo
E não é para menosprezar por nada deste mundo
Ah! O teu ser
todo o teu ser está vivo
E depois o que eu quero de ti só de ti
-
É ser teu amigo.
PARTIDA
Angelino Pereira
Já
faço o que faço sem saber
Já sinto mesmo sem sentir
Já sofro mesmo sem querer
Nesta saudade de te ver partir
Já vejo o
horizonte no além
Já sinto o vento frio que vem do mar
E neste corropio sem parar
Vejo sem sentido o que nada tem
E na tua
partida fica o meu abraço
Em alma fria não sei mais que faço
Neste anoitecer tão rapidamente
No vento da mágoa que gera em mim
Vem este corroer eternamente
Já sinto que perto está o meu fim
AQUI
Fernando
Madureira
Aqui
com o tempo e o espaço
um rio dentro do corpo
o corpo dentro dum laço
faço desfaço
os dedos, as mãos, os olhos
o dia, o tempo a hora
e fica-me ainda espaço
margens a tocar o céu
para a pátria que me habita
mas não traço.
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