CONTO
O Imperador S
Fernando José de Oliveira
O
Imperador
"S", de cognome "O Botas ", acaba de vencer a guerra. Por
incrível que pareça, foi o único sobrevivente da contenda, figurando no
"Guiness Book" com tal proeza. Entrou com ar triunfante pela cidade
dentro. Subiu ao castelo e foi-se sentar no Terreiro do Paço. Aí é que se
apercebeu que ninguém o tinha vindo aclamar pelo que começou a ficar enervado.
Percorreu
todas as divisórias do palácio. Foi à dispensa do Reino e sacou uma garrafa
de aguardente "Aldeia Velha". Refastelou-se no cadeirão e lá fez o
seu discurso da praxe, algumas vezes interrompido para levar a garrafa aos
queixos. No final nem um viva.
Debruçou-se
sobre a secretária e adormeceu, não se sabe se pelo cansaço se por efeito do
álcool ou até pelas duas componentes.
Quando
acordou viu tudo na mesma. Apercebeu-se que logo por azar nem o cronista tinha
resistido.
-
E agora!... quem vai contar esta façanha aos meus sucessores?
-
Poder!... Poder!... para que é que o quero?
-
Exercê-lo sobre quê? E quem?
Foi
então que caiu numa destas depressões que não havia remédio para tal mal.
Procurar o feiticeiro da tribo, mas vê-lo?
Que
se lixe!... estou perdido e estou, também não me vou dar ao luxo de procurar a
morte, ela que venha cá ter comigo se quiser.
Não
sei que raio se lhe passou pela caixa dos pirolitos, que apenas se viu "O
Botas" tombar da cadeira ao chão.
Para
sua desgraça ou castigo dos deuses, a morte não o levou logo desta para melhor
ficando o "Imperador S "
a sofrer mais alguns dias, sem uma viva alma a poder valer-lhe.
Veio
a Primavera e ele lá deu a alma ao Criador. Os pássaros eram os únicos que
piavam, mas até para estes foi Sol de pouca dura, já que o Outono cinzentão não
tardou a bater à porta.
O
Reino, esse mergulhou de novo, NA LONGA NOITE DO FASCISMO.
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